ISABELLA
...
Ao entrar em casa, fechei a porta atrás de mim e recostei-me nela, soltando um suspiro pesado. Pela primeira vez em meses, senti que o peso sobre meus ombros diminuía um pouco.
Uma nova oportunidade finalmente parecia surgir e, mesmo com toda a tensão daquele dia, um sorriso escapou dos meus lábios. Caminhei até o sofá e me joguei ali, abraçando a almofada como se fosse um símbolo de conforto.
— É isso, uma nova página na sua vida. Um recomeço. — falei para mim mesma, tentando afastar as lembranças amargas do passado.
Peguei o cartão que ele havia me dado, o papel um pouco amassado por eu tê-lo apertado demais entre os dedos. Respirei fundo antes de discar o número. A cada toque, meu coração batia mais rápido. Até que uma voz feminina atendeu:
— Assistente pessoal do senhor Kaio, boa noite.
Minha testa franziu automaticamente. Claro que ele teria uma assistente pessoal para intermediar até as ligações... Tão reservado, tão... egocêntrico. Minhas primeiras impressões sobre ele não tinham sido as melhores, e essa ligação apenas reforçava isso. Um homem que mantinha distância de todos, que provavelmente menosprezava seus próprios funcionários e ainda exigia que ninguém demonstrasse afeto pelas crianças. Era triste, para dizer o mínimo.
Sacudi a cabeça, afastando esses pensamentos antes que tomassem conta de mim, e finalmente respondi:
— Boa noite. Sou Isabella, a nova babá das crianças. Gostaria de saber o que preciso fazer.
A mulher do outro lado respondeu com eficiência, mas sem emoção na voz:
— Estávamos esperando o seu contato. Vou te passar o endereço. Amanhã mesmo você deve comparecer com todos os documentos necessários. Vou cuidar do restante.
A rapidez e a precisão dela me deixaram desconcertada, mas concordei.
— Certo. Estarei lá.
Desliguei o telefone e fiquei segurando o aparelho por alguns segundos, olhando para o vazio. Meu coração estava inquieto. Amanhã seria o início de algo novo, mas será que eu estava preparada para lidar com alguém tão fechado, tão metódico?
Sacudi a cabeça novamente e me levantei. Não podia deixar as dúvidas me consumirem. Ele era apenas mais um patrão e eu só precisava fazer meu trabalho, nada além disso. Repeti para mim mesma: sem envolvimentos, sem expectativas. Apenas o trabalho.
Depois de Renato, prometi nunca mais cruzar essa linha novamente. De qualquer forma, amanhã marcaria o início de um novo capítulo. E eu precisava estar pronta.
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Manhã Seguinte
Ao chegar ao endereço, precisei respirar fundo algumas vezes antes de sair do carro. A mansão era... imponente. Não, imponente não fazia justiça àquilo. Era monumental, luxuosa, como algo saído diretamente de um filme ou revista. Nada do que eu já tinha visto se comparava.
— Uau... nossa! — murmurei, impressionada.
Por um momento, lembrei de Renato e do ego inflado que ele exibia junto à sua casa "de rico". Mas aquela mansão... era outro nível. Caminhei até a entrada, hesitante. Como exatamente eu deveria entrar? Apertar a campainha? Bater na porta? Estava perdida nesses pensamentos quando uma mulher se aproximou. Era uma senhora, de aparência simpática e sorriso fácil.
— Isabella? — perguntou gentilmente.
— Oi, sou eu... — respondi, ainda me sentindo deslocada.
Ela acenou para que eu a seguisse.
— Prazer, sou Matilda. Governanta e responsável por tudo por aqui, até onde me é permitido.
Acenei com um sorriso amigável, o mesmo que ela me dava.
— Venha comigo, vou te levar até a assistente pessoal.
Segui-a por corredores amplos e impecáveis. Os tetos altos e os detalhes nos móveis eram impressionantes, mas não tive tempo para admirar. Logo estávamos em uma sala onde reconheci a mulher que havia atendido minha ligação no dia anterior. Era ela: a assistente pessoal.
O sorriso amigável da governanta desapareceu quando a mulher abriu a boca. Sua expressão era fria, seus olhos avaliavam cada movimento meu com suspeita.
— Então você é a nova babá. Isabella, certo? — perguntou, mas parecia mais uma acusação.
— Sim, senhora. — respondi, tentando parecer mais confiante do que realmente estava.
Ela se aproximou um pouco mais, estreitando os olhos.
— Deixe-me ser clara. A última babá foi despedida por a***o, e isso deveria servir como uma lição para você.
Meu estômago deu um nó.
— Eu compreendo. — murmurei, nervosa.
— O senhor Kaio não tolera comportamentos inadequados. Para ele, isso vai além do que é aceitável.
Havia algo estranho no jeito que ela falava. Parecia haver mais emoção do que o necessário, como se houvesse um ressentimento escondido em suas palavras. Ela deu um passo para trás e me avaliou de cima a baixo.
— Curioso... — murmurou, mais para si mesma do que para mim.
— A babá selecionada era outra. Eu a vi entrar na sala e ser escolhida. Então, por que você está aqui?
Ela ergueu as sobrancelhas.
— Ele fez uma entrevista comigo e me contratou.
A mulher pareceu ainda mais desconfiada.
— Ele nunca escolhe ninguém. Sempre deixa que as agências cuidem disso. Então, como exatamente você conseguiu a vaga?
Ela estava insinuando algo? Eu não estava entendendo. Será que estava sugerindo que minha contratação tinha outro motivo? Que eu havia sido contratada de forma errada? Que havia algo entre mim e Kaio?
Senti a indignação crescer dentro de mim. Eu não permitiria que me julgassem dessa forma.
Levantei o queixo, determinada.
— Eu consegui esse emprego porque sou qualificada. Apenas isso.
Ela me lançou um último olhar de desconfiança antes de cruzar os braços.
— Veremos.
E, assim, meu primeiro dia começou sob olhares atentos e desconfianças não ditas. Mas eu estava ali para trabalhar. E nada mudaria isso.