[NARRADO POR LEONARDO VERANO – APARTAMENTO, FINAL DE TARDE, CAMISA ABERTA E UMA TAÇA NA MÃO] O terno tava jogado no chão da sala. A calça, secando pendurada na varanda. E eu? De pé, camisa meio aberta, taça de vinho na mão, tentando processar o nível de insanidade que eu contratei. Literalmente. O apartamento tava silencioso — mas não aquele silêncio de paz. Era o silêncio pós-guerra. Silêncio de campo minado recém-explodido. Minha cabeça ainda girava no loop da entrevista: café, água, papel higiênico corporativo e a frase “parece que eu te mijei”. Respirei fundo. Bebi. E ri. Do nada. Sozinho. Porque não dava. A cena tava gravada na minha córnea com efeito HDR. Toque na porta. Nem buzina, nem mensagem antes. Só a campainha, seca. Fui abrir. Sem camisa. Sem filtro. Felipe. — “Tu?!

