Serial Killers

1148 Words
Cheguei num grande castelo em ruínas, no meio do nada. O som estava bombando e havia um ótimo jogo de luzes. Corpos se misturavam em uma gostosa confusão, entre luz e sombras. Esdras estava dançando animado com um grupo de garotas, do outro lado do salão. Não havia um teto sobre nós. O castelo se resumia a paredes e restos de escadas que davam em lugar nenhum. O moreno me avistou e fez um gesto para eu me aproximar, mas uma garota veio dançar comigo e isso ficou para depois. Tinha um jeito sedutor, me passou uma pílula durante um beijo. Olhando ao redor notei que ninguém estava desacompanhado alí. Cada um recebia a sua pílula. Entrei no jogo. O efeito daquilo foi semelhante a algumas doses de whisky, um leve entorpecer. Parecia que aquela rave tinha um propósito oculto. Será que eles queriam novos viciados na sua conta, ou queriam deixar todos lentos para se aproveitar deles. Os cheiros se camuflavam na névoa produzida pelo gelo seco. A visão, também era dificultada, ou seria aquela inocente pílula? Senti a luz clarear a multidão e olhei para a sua pálida fonte, a lua. Estava cheia e acabava de ser libertada das expessas nuvens. Um céu quase limpo a emoldurava. Em baixo, no meio das luzes piscando, alguns homens e mulheres passavam pela dor da transformação. O pânico se espalhou e as pessoas que não faziam partes dos que morfavam, começaram a correr para fora. Agiam como bêbadas, lentas em tudo. A garota comigo e as garotas com o Esdras, também sofriam a transformação. Decidi me transformar quando ele começou. _ Isso é o que eu chamo de boca livre _ o Esdras brincou. Nos juntamos a porta para impedir que os lobos saíssem. A intenção não era matar. Talvez, por isso, não deu certo. Eles eram muitos e passaram por nós. O cenário externo era indescritível. Um lobisomem abocanhou uma mulher pelo cintura e a levantou no ar. Devorava a mulher que gritava aos prantos, enquanto o seu sangue jorrava para todos os lados. Outros eram mordidos, perdendo um pedaço da sua carne, mas fugiam. Ficamos no meio daquilo, tentando compreender. _ Estão recrutando _ constatei. _ Estão sendo racionais? _ o Esdras ficou surpreso. _ Parece que estão se preparando para uma guerra. _ Contra quem? _ Você deveria saber. Você era um deles. _ Nunca vi isso acontecer. Apenas corpos rasgados ficaram perto das ruínas. Todos se dispersaram. Nós também saímos de lá. Cada um foi para o seu lado. Quando não se sabe o que fazer, é melhor não fazer nada. Já perto do centro, avistei um ser abraçado a um homem. Estava em um beco que os italianos chamam de rua. Bebia o seu sangue, ouvia ele engulindo. Mas aquilo parecia poético, até romântico. Não era como um lobisomem caçando. Era como eu fazia, quando não queria matar. Parei distante, assistindo sem interromper. Quando ele parou de beber, o homem deslizou para o chão, estava morto. O ser me olhou nos olhos, com um olhar intenso e limpou o canto da boca com a língua. _ Por que o matou? _ Não devemos deixá-los vivos. _ Por que? Ele não sabia o que você é. _ Basta uma sombra da verdade para que os humanos se juntem e matem a todos nós. Você nunca leu sobre a história deles? Sobre suas guerras sangrentas em busca de nada? _ Mas se você mata-los, será um monstro. Gargalhou _ Eu me alimento de monstros. Desapareceu diante de mim. Foi tão rápido, que eu não soube para onde ele foi. Recebi uma mensagem do Esdras, no watts. _ Precisamos conversar sobre aquilo ontem. _ Claro. _ Eu tô estranho, sabia? Você come carne crua? _ Claro, quando caço. _ Não tenho caçado, mas o ponto preferido do meu bife é cru. O que você fez comigo? _ Não é como se eu tivesse escolhido. Não faço a menor ideia que fiz com você. Hesitei. _ O que você é? A resposta que eu não queria dar foi pedida. _ Não me lembro. _ Como assim? _ Perdi uma parte da minha memória. _ Que sinistro! _ É mesmo. Lembrei do ser que vi ontem. Continuei _ Esdras, você já viu um ser que bebe sangue humano? _ Apenas sangue? _ Acho que sim. Todo o sangue. _ Vampiro. _ O que é um vampiro? _ É um inimigo natural dos lobisomens. São muito rápidos e voam, mas morrem com uma única mordida. O difícil, é pegar um. Por que essa pergunta? _ Por nada. Nada em especial. Os muitos corpos mutilados amontoandos me davam uma breve noção do que eu havia feito. O gosto de sangue em minha boca. O sangue quente sobre meu pêlo. A lembrança de cada expressão no rosto das minhas vítimas. O último brilho do olhar antes do fim. A acusação no olhar sobre mim dizia "foi você!". Estava em um navio, em alto mar. Era noite, uma sombria noite sem luar. Exterminei a tripulação até o último homem. Um lampião de querosene caiu no casco. Observei o navio queimar, do bote onde entrara. Diante da lembrança daqueles olhares acusadores, respondi sem remorso "sim, fui eu". Acordei no meio da noite, diante dele. O vampiro que conheci na Itália, estava sentado na poltrona, me observando dormir. _ Sonho interessante _ zombou. _ O que está fazendo aqui? _ sentei com os pés no chão para encara-lo. _ Fiquei curioso. _ Sobre? _ O seu modo de vida. Levantei, segui até o bar na sala e, me servi de whisky. Ele já estava lá. Pegou o meu copo antes que eu o levasse a boca. Comecei a servi outro drink para mim. _ Você não foi convidado. _ Claro que fui. Você o fez quando esperou eu me alimentar, para conversar comigo. Bebi um gole do meu copo, surpreso com essa lembrança. Parece que realmente o convidei. Mas duvidei que ele precisasse de algum convite, de fato. _ Não sou nada muito diferente de você. _ Eu sei. Mas você tá ficando tempo demais com os lobos. Eles são muito humanos para nós, sabia? _ Você acha? _ Não percebeu? _ Mas eles matam humanos. _ Isso só evidência o quanto humano eles são. Humanos matam uns aos outros. São assassinos insanos. Que espécie mata os seus assim? _ Qual é o seu problema com os humanos? _ A sua complacência com eles, é o meu único problema com os humanos. Vai se matar e revelar a todos nós. _ O que essas pobres criaturas podem fazer contra nós? _ Exterminar a todos nós. Você esqueceu do passado? _ deixou o copo de lado e me encarou de perto. _ Que passado? _ achei que ele me conhecia. Gargalhou divertido _ Você realmente não se lembra! Isso vai ser divertido _ desapareceu em seguida.
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