CAPITULO 4 apresentação do playboy

1391 Words
Alexandre “Playboy” Vieira: O Nascimento de um Rei Sem Coração Eu tenho vinte e oito anos. Vinte e oito e já virei lenda. Não dessas lendas românticas, não desses contos de rua que n**o aumenta pra parecer bravo. Eu virei lenda porque fiz o impossível: tomei um morro inteiro sozinho, sem padrinho, sem herança, sem sobrenome poderoso. Só com disciplina, ódio e precisão. Meu nome civil é Alexandre Vieira. Limpinho, polido, de gente que teria tudo pra viver numa cobertura em Ipanema. Mas quem manda no morro não é Alexandre. Quem manda é O Playboy. E o vulgo não veio de festa, nem de luxo, nem de futilidade. Veio de guerra. A PRIMEIRA IMPRESSÃO DO MEU REINADO Aos vinte e oito, eu sou o que n**o aqui chama de “o tipo de demônio que Deus esqueceu de vigiar”. Alto um metro e noventa bate fácil. Ombros largos, porte de lutador, postura de general. Cabelo loiro que parece propaganda de perfume importado. Olhos azuis daqueles que não piscam quando alguém implora por misericórdia. Eu não tenho misericórdia. Nunca tive. Meu corpo é um mural de tatuagens desenhos tribais finos, geométricos, fechando peito, braço, costas. Tudo feito em Milão, num estúdio privado, com artista que só atende milionário. Cada linha marca um evento, um corpo que ficou pelo caminho, um inimigo que eu derrubei, uma vitória que eu comprei com sangue. Tatuagem não é arte; tatuagem é arquivo. Eu ando sempre impecável: ou sem camisa mostrando o peito fechado e a marra da minha pele marcada, ou com camisa preta colada no corpo, ou de terno italiano que vale mais do que o carro de muito polícia que tenta me caçar. E a moto… ah, a moto. Uma RR preta fosca, motor ronronando como fera antes de atacar. Ela não é só transporte; é aviso. Quando eu passo, o morro inteiro cala. A SOBERANIA — O MORRO QUE EU REBATIZEI Antes de mim, esse lugar tinha nome de bicho, como qualquer morro comum. Depois que eu tomei, virou Soberania. Porque aqui, eu sou o soberano. E soberano não precisa pedir licença pra nada. Quem olha de longe vê favela. Quem olha de perto vê organização militar. Aqui não tem funk de madrugada. Não tem menino correndo com fuzil sem ordem. Não tem boca aberta sem autorização. Não tem gata-vagabunda trazendo ruído pra cima de mim. Aqui tem disciplina. E disciplina é minha religião. COMO EU TOMEI O MORRO — O PRIMEIRO CAPÍTULO DA MINHA CRUELDADE Eu tinha só vinte e três anos quando a chance apareceu. O morro era comandado por um tal de Djalma velho, arrogante, achava que liderança vinha de grito. Eu era só o “playboyzinho” que vendia peça importada, trazia arma europeia, fechava acordo com precisão de contador suíço. Ninguém me levava a sério. Até o dia em que Djalma tentou me passar a perna num carregamento. Ele achou que eu ia aceitar calado. Achou errado. Nesse dia, eu descobri uma coisa que mudou minha vida: não existe arma mais eficiente do que uma mente fria. Usei o que ele não tinha: cálculo. Mapeei o morro inteiro. Descobri rotas cegas. Analisei os horários dos soldados. Decorei a troca de turno. Tracei tudo como um engenheiro de guerra. E quando chegou a hora, fiz a tomada mais limpa que o crime já viu: Sem tiroteio desnecessário. Sem criança no meio. Sem barulho. Só silêncio, execução e matemática. Djalma caiu de joelhos na laje central. Me olhou como se finalmente entendesse quem eu era. “Tu quer o morro, né, Playboy?” “Não. Eu quero respeito.” Dei o tiro no meio da testa. Não por raiva. Por eficiência. E naquele segundo, eu aprendi a maior verdade da minha vida: liderança não se pede se toma. OS HOMENS QUE ME SERVEM Sombra — meu braço direito. Não é o mais inteligente. Mas é o mais leal. Sombra cumpre ordem sem perguntar o motivo. E homem que não questiona autoridade é raro. Pingo — tecnologia. Cara magro, óculos escuros, sabe quebrar qualquer frequência, qualquer rádio, qualquer sistema de monitoramento. Se a polícia mexe um dedo, ele já sabe antes de todos. Caveira — ação. O nome diz tudo. É o tipo de soldado que dispensa pergunta: aponta, atira, termina. Eles não são amigos. Eu não faço amizade. Eu faço lealdade. E lealdade é comprada com disciplina, não com abraço. A FILOSOFIA DO ZERO — O CÓDIGO QUE EU CRIEI Aqui no morro, eu implementei a regra que fez meu nome virar ferro quente: ZERO. Zero atraso. Zero explicação. Zero improviso. Zero hesitação. Zero caô. E pra quem quebra a regra? Também zero: Zero perdão. Rato meu ex-tesoureiro aprendeu isso da pior forma. Atrasou quinze minutos uma entrega porque parou pra comprar tênis caro. Eu perguntei: “Quanto vale quinze minutos, Rato?” Ele chorou. Implorou. Se ajoelhou. Não adiantou. Na Soberania, tempo é mais valioso que vida. E foi assim que meus homens aprenderam que aqui, a regra não é opinião: é sentença. A APRESENTAÇÃO DE UM CHEFE DE VERDADE “Playboy, tá suave aí?” Essa é a frase que ninguém ousa me perguntar. Quando eu passo, o povo abaixa a cabeça. As mães puxam os filhos. Os homens tiram o boné. Os motoqueiros param. E as mulheres olham mas olham com aquele medo curioso, aquela sensação de que eu sou o tipo de erro irresistível. Eu não sorrio. Não relaxo. Não faço gracinha. Eu sou o gelo dentro do fogo. Meu jeito de falar é seco, direto, sem rodeio. “Tu vai. Tu faz. Tu volta.” Simples assim. Quem vacila, cai. Quem tenta subir sem minha autorização, some. MEU QUARTEL — O QG MAIS ORGANIZADO DO ESTADO Paredes de concreto liso. Nenhuma pichação. Nenhuma marca de tiro. Câmeras por todos os lados. Em silêncio. Sempre em silêncio. Piso limpo. Cheiro de desinfetante caro, não suor barato. Nada de rádio gritando. Nada de funk ecoando. Aqui é ambiente corporativo, versão crime. Minha mesa é de aço escovado. Minhas armas ficam alinhadas, em ordem alfabética de calibre. Meu cofre tem scanner de retina. Eu transformei um território marginalizado em uma empresa criminal de alta performance. COMO EU GOVERNO Eu não grito. Não esbravejo. Não me descontrolo. Chefe que grita perdeu o controle. Chefe que fica com raiva mostra fraqueza. Chefe que hesita perde o respeito. Eu mando assim: “Resolve.” “Corta.” “Trás.” “Límpa.” “Fecha.” “Abre.” “Agora.” Simples. Cruel. Perfeito. O CONSELHO — A MAIOR AMEAÇA AO MEU IMPÉRIO Semana que vem tem reunião com os líderes dos outros morros. Os tubarões. Os olhos grandes. Os velhos que acham que eu sou só um “garoto de academia” que arrumou poder cedo demais. Eles me subestimam. E isso é ótimo. No Conselho não se atira. Se humilha. Se negocia. Se mede ego. E se arranca pedaço com palavra. Eu sempre chego de terno italiano, relógio suíço, arma escondida e olhar que já matou meia dúzia. Eu entro primeiro. Eles entram depois. E quando sentam, já perderam. Porque ninguém ali tem a frieza que eu carrego. O HOMEM POR TRÁS DO SOBERANO Eu não tive pai presente. Não tive mãe presente. Cresci no meio do nada, sem afeto, sem abraço. Aprendi tudo sozinho: lutar, negociar, mentir, vencer. Descobri cedo que emoção atrasa. Fui treinando meu peito até virar pedra. Quando criança, eu apanhava de três moleques maiores. Nunca chorei. Só contava quantos golpes eu aguentava pra ver até onde meu corpo ia. Quando cresci, procurei os mesmos moleques. Eles correram. Eu não. A vida não me deu carinho. Me deu propósito. O QUE O MORRO SUSPEITA — E NÃO FALA Dizem que eu não sou humano. Dizem que eu não durmo. Dizem que eu já matei sorrindo. É mentira. Eu nunca sorri matando. Eu nunca sorrio, ponto. Eu sou cálculo, não emoção. E quem vive de cálculo vive mais. O FUTURO Eu tô prestes a expandir. Tomar acesso da Barra. Fechar contrato com rota nova. Aumentar dez vezes meu lucro. Explodir minha influência no estado inteiro. O morro vai crescer comigo. Ou cair comigo. Eu sou o tipo de líder que só existe uma vez por geração: um homem que nunca erra. E se errar… O erro não sobrevive pra contar história.
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