PRÓLOGO
Minha Entrada Triunfal no Caos Alheio (Com Queda de Telhado)
Eu não sou uma pessoa desorganizada. Eu sou uma pessoa com prioridades dinâmicas. Se a vida me apresenta um obstáculo, eu o trato como um teste de agilidade e criatividade, não como um sinal para eu voltar para a cama e reconsiderar minhas escolhas de vida. E no meu mundo, falhar é apenas o passo zero para um sucesso ainda mais ridículo. Minha história com O Playboy o homem mais perigoso, gélido e, francamente, mais bem esculpido que já vi começou exatamente porque o meu “teste de agilidade” deu muito, mas muito, errado.
Ato I: A Derrota na Civilização (O Dia em que o Currículo Virou Gesso)
Tudo começou com o café. E o currículo. E os Oitenta e Cinco Reais.
Eu precisava urgentemente de um emprego de babysitter. A conta de luz estava entrando na fase de "aviso de corte com figurinha ameaçadora", e eu não podia arriscar perder a única fonte de luz que me permitia chorar no escuro. O currículo, por sinal, estava anexado a um porta-retratos de coração. Por quê? Porque eu li em um blog de desenvolvimento pessoal que a "primeira impressão visual é tudo", e o porta-retratos, mesmo que brega, dava um ar de "família, mas profissional" ao meu documento. Uma jogada de mestre, na minha cabeça.
Cheguei na porta de vidro do prédio de luxo na Zona Sul. Eu estava segurando o meu latte triplo porque cafeína é o meu único plano de contingência , a bolsa e o porta-retratos. Mãos ocupadas. Lógica ativada. Decidi usar a técnica do "chute elegante" para abrir a porta. Eu visualizei um salto suave, um toque de sapato e a porta se abrindo com um whoosh dramático.
O universo, sempre me sabotando, fez com que a porta fosse de empurrar, e não de puxar. O impacto me jogou para trás. O café, obedecendo à Terceira Lei de Suzana (ainda não escrita, mas muito real), voou para cima. Foi uma parábola perfeita. A cena, vista de fora, deve ter sido a de uma mulher sendo batizada por um líquido marrom quente, que escorreu pela minha testa e pelo meu casaco de veludo verde. Meu casaco, agora, tinha a textura e o aroma de um tapete de pântano.
"Ótimo. Batismo. A vida me preparando para o caos da maternidade," eu murmurei para o porteiro, que observava com a resignação de quem já tinha visto a elite falhar miseravelmente.
Não desisti. Limpei o casaco com lenços de papel, o que só garantiu que eu parecesse uma sobrevivente de um acidente de tricô. Peguei o elevador.
A moça da entrevista estava no décimo andar, mas eu, na minha mente otimista, pensei: "Por que parar no décimo? O décimo quinto pode ter a vaga de babysitter bilionária! É preciso mirar alto!" Apertei o 15, o 12 e o 10, garantindo que não perderia nenhuma oportunidade vertical.
E aí, o desastre se aprofundou.
No andar 12, o elevador parou por um minuto misterioso. Eu, impaciente, decidi que era um bom momento para verificar o estado do meu porta-retratos. Bati ele de leve na maçaneta. O "de leve" resultou na quebra do vidro e o currículo (com a minha foto de biquinho) escorreu por uma fresta da porta de serviço.
"Não! Meu futuro!" eu gritei, enfiando a cabeça na fresta para tentar resgatá-lo. Foi nesse momento que a mola da porta de serviço agiu, prendendo minha cabeça como um picles em conserva.
"Moça! O que a senhora está fazendo aí?" perguntou uma vizinha, voltando das compras. Ela parecia estar carregando um chihuahua, chamado Pipo, e uma aura de julgamento.
"Estou... investigando a arquitetura da sustentabilidade! E preciso do meu futuro de volta," eu respondi, a voz distorcida pela pressão.
"Sustentabilidade?" a vizinha franziu o cenho. Pipo latiu como se tivesse acabado de descobrir o sentido da vida. "Se isso é sustentabilidade, eu sou a Rainha da Inglaterra!"
Demorou cinco minutos. A vizinha tirou duas fotos com o celular (tenho certeza que viralizei no grupo do condomínio como 'A Nova Louca do 12'), e eu perdi o brinco que me restava. Fui libertada. O currículo estava perdido, o casaco estava manchado, e a vaga de babysitter bilionária? Esquece. Desci as escadas, derrotada.
Ato II: A Fuga de Josenildo e a Lógica do Convento
Eu estava indo para a casa da minha tia para tomar um banho e chorar, e chamei um carro de aplicativo. Para economizar, usei um cupom de 50% de desconto. Qual o problema? Ele havia expirado em 2018.
Josenildo, o motorista, parou o carro no meio da Avenida Brasil, vermelho de raiva. "Minha senhora, eu não sou uma ONG! O cupom está vencido! São Oitenta e Cinco Reais! Se não pagar, eu paro o carro!"
Eu tentei argumentar: "Josenildo, o cupom é digital! Tem que ser válido! Eu só tenho Quatro Reais e Cinquenta Centavos em espécie e um pedaço de chiclete! Leva o chiclete! É sabor menta!"
A discussão escalou. Josenildo parou o carro na primeira rua lateral que encontrou, uma ladeira escura e ingrata, e ameaçou chamar a polícia.
E foi aí que a minha mente gritou: "A Polícia! Eles vão me prender por fraude de cupom e falta de perspectiva de vida! FUGIR!"
Eu abri a porta do carro e corri, sem olhar para trás, com Josenildo gritando sobre o cupom de 2018 e o chiclete de menta.
Na minha frente, vi o que parecia ser a salvação: um muro alto, com uma cerca de arame farpado. Na minha lógica apavorada: "Muro alto? Cerca? Só pode ser um jardim botânico secreto ou um convento abandonado. Ninguém vai me procurar entre flores e votos de silêncio!"
Eu comecei a escalar. Perdi o brinco que me restava, rasguei a calça e, no topo do muro, soltei um grito silencioso de vitória. Vi o chão do outro lado, parecia seguro. Me soltei.
Eu não fazia ideia de que a cerca não protegia flores, mas sim a fronteira de um território de crime. O prédio à minha frente não era um convento, mas o QG de O Playboy. E o chão seguro era, na verdade, a laje de entrada.
Ato III: A Queda e o Milagre Loiro de Olhos Azuis
Eu pisei na laje. E vi o Telhado. Não era um telhado normal. Era uma estrutura de madeira velha e telhas que pareciam ter sido remendadas com fita adesiva de papel e, talvez, promessas vazias. Eu não liguei. Corri.
E me esqueci de que, se você coloca peso em uma estrutura podre, ela quebra.
Meu pé acertou em cheio a telha principal. O som foi um CRACK! digno de cinema mudo, seguido por um SPLASH estranho, como se eu tivesse quebrado uma piscina secreta no telhado. O telhado cedeu. Meu corpo passou pelo buraco (que, claro, tinha o formato do meu corpo, o que me fez pensar que eu tinha um destino muito dramático, talvez até com CGI r**m).
Eu estava em queda livre.
Eu não gritei. Eu protestei, pensando no Josenildo: "JOSENILDO! EU TE PAGO AGORA! SÓ ME DÊ O RECIBO! VOU ME JOGAR AGORA!" O motorista, eu tinha certeza, não teria dado o recibo.
O mundo girou. Eu vi lá embaixo. Uma sala de reunião. Homens sérios. E eu ia cair bem no meio de um encontro importante.
Meu corpo atingiu o ápice da comédia física. Eu não caí perto da mesa. Eu caí nela. A mesa de mogno gritou, estalou e se partiu em duas. Fui impulsionada para a frente, em um arco desorganizado, atravessando os restos de um mapa de rotas (o tesouro do morro, provavelmente, que agora estava picotado) e uma bandeja de charutos caríssimos que se esfarelaram como biscoito.
E foi no final desse voo que o meu corpo encontrou uma parada. Não foi no chão. Foi no peito... e no colo de um homem.
Eu caí de bruços, meio sentada no colo dele, e bati de cara no ombro dele. Eu estava coberta de gesso, poeira de telhado, pedaços de madeira e, provavelmente, tabaco cubano. A garrafa d'água de metal da minha mochila ricocheteou na cabeça de um capanga e aterrissou, ironicamente, em um balde vazio.
Eu levantei a cabeça para ver quem era o meu novo para-quedas.
E foi aí que o meu cérebro explodiu em purpurina.
Lindo. Lindo, lindo. Ele era Loiro. Não loiro de praia, mas loiro de revista de grife, cabelo cortado com uma precisão que beirava a neurose. E os olhos. Ah, os olhos! Olhos de um azul tão intenso, tão penetrante, que parecia a bandeira do Brasil em dia de céu limpo. A beleza dele era um insulto à minha existência desastrada. Ele era alto, tinha uma expressão de tédio eterno que a minha queda acabou de apagar, e o terno... Ah, o terno! Impecável. Devia valer mais do que o meu cupom de desconto de 2018 multiplicado por cem.
Ele era O Playboy. E ele me olhava com uma fúria tão fria que fazia o Ártico parecer a Praia de Copacabana. Sua mão estava levemente pousada na minha cintura, e eu sentia o calor do seu corpo, o cheiro de perfume caro e o aroma sutil de dinheiro sujo.
O silêncio na sala era ensurdecedor. Os capangas, cobertos de gesso, estavam congelados. Um deles, com um pedaço de mapa na orelha, parecia ter esquecido como respirar.
O meu único pensamento honesto, aquele que anula o instinto de sobrevivência, veio em letras maiúsculas:
Puta que pariu. Eu sou uma i****a. Eu destruí o QG de um homem que parece um deus nórdico do crime. Eu vou morrer, mas pelo menos eu morri com a cara no Prada. Que desperdício de potencial genético se ele me matar! Eu devia ter pelo menos passado um batom antes de me jogar do telhado!
Minha boca, é claro, decidiu falar o pensamento em voz alta. A comédia não espera.
"Meu Deus! Moço! Que queda! Você está bem? Eu juro que o telhado era podre, não foi minha culpa! E... oh, céus! Seus olhos! Eles são maravilhosos! Tipo céu de brigadeiro! Eu sou Suzana, a propósito. E você, qual o seu i********:? Eu posso te seguir!"
O Playboy não se mexeu. Não piscou. Ele apenas me encarou, e a sua voz, quando finalmente saiu, era baixa, fria e polida, o som de gelo triturado. Ele parecia estar lendo um relatório de falência.
"Sombra," ele disse, sem tirar os olhos azuis de mim, o rosto totalmente inexpressivo. "Me expliquem. Exatamente. O que. É. Essa. Coisa. No. Meu. Colo. E onde está o meu mapa de rotas. O mapa é o mais importante."
Um dos capangas, o Sombra, que tinha a expressão de quem engoliu uma chave de roda, deu um passo à frente, tentando limpar o terno.
"Chefe... ela... ela veio do teto, chefe. Achamos que é... um desastre natural. Ou a concorrência mandou. Uma distração, talvez. Ela quebrou o mogno, chefe."
"Desastre natural? Não seja ridículo. Desastres naturais não perguntam o i********:," Playboy rebateu, o sarcasmo congelado na voz. Ele me empurrou levemente para que eu me movesse.
Eu saí do colo dele com a elegância de um pinguim.
"Não sou desastre natural! Eu sou desastre induzido! E, falando em logística, sua segurança é terrível! Se eu consegui entrar aqui, qualquer um consegue! Seu terno é maravilhoso, mas a sua estrutura está falida! E a propósito, você está com um pedaço de gesso no ombro. Deixa eu tirar."
Estiquei a mão e tentei tirar o gesso do ombro dele. Ele se afastou com a velocidade de um raio. Seus olhos azuis eram puro fogo.
"Não me toque," ele sibilou.
"Certo, certo. Sem toque. Entendi. Mas olha, eu resolvo a faxina! Eu limpo o gesso, eu compro outro mapa (se você me der um adiantamento para os Oitenta e Cinco Reais do Josenildo) e eu dou um feedback sobre a segurança do telhado. Eu sou uma resolvedora de problemas!"
A aventura, pelo jeito, não ia ter votos de silêncio, mas sim gritos de desespero e muitas, muitas promessas falsas de faxina. E eu tinha que sobreviver a isso. Ou pelo menos, conseguir o número dele antes de ser jogada de volta no telhado, porque aquele loiro de olhos azuis era a coisa mais linda que já tinha ameaçado minha vida.
“E aí, meninas? Prontas pra rir, surtar e se apaixonar no meio do morro comigo? Então adiciona na biblioteca, porque dia 07 começa a mistura boa: caos, perigo, um loiro gelado perdendo a sanidade… e a Suzana caindo do telhado. Depois disso? Atualização diária. Vem que essa bagunça tá imperdível.”