Eu fico assistindo a sua volta, lambendo meus lábios e tocando a pulseira, e uma lágrima desce pela minha face enquanto eu murmuro.
Feliz aniversário para mim.
Dois anos mais tarde
— Pai!
Eu desco as escadas e vou em direção a porta da frente.
Ao som da minha voz, ele para e se vira para mim com um olhar questionador e um sorriso.
Há sempre um sorriso no rosto do meu pai quando ele me olha. Mesmo quando ele está com raiva de mim, ele logo se esquece de tudo e sorri.
Nossa empregada, Marta, diz que eu sou a única que consegue tirar dele, um sorriso sincero. Então, eu estou orgulhosa de ter o super poder de fazer o "selvagem dia*bo", como a mídia chama ele, dar um sorriso sincero para mim.
Meu pai não envelheceu muito. Ele tem trinta e sete anos, faltando pouco tempo para completar trinta e oito, e ainda tem um corpo que causa muita inveja, em muito rapaz jovem. Ele é alto e largo e tem músculos muito bem definidos. Sem brincadeira. Ele é o homem mais saudável que eu conheço. Mas ele também tem algumas linhas de expressão que vieram com o tempo, dando ar de sábio para ele. Além disso, o seu olhar azul-acinzentado, os mesmos olhos que agora me olha com amor, podem matar.
Muitas pessoas acham ele, intimidante e absolutamente brutal.
Mas, mais uma vez, eu tenho o super poder de ser sua única de ser capaz de ver o outro lado dele.
— Você esqueceu o telefone. Eu corro na direção dele, enquanto tomo um gole do meu milkshake de baunilha. Que é a minha versão de um café da manhã.
O meu pai suspira quando ele pega o telefone. Ele não é do tipo que esquece as coisas, a sua memória é de um elefante, mas ele parece mais distraído do que o habitual.
Talvez seja um caso importante. Ou as suas intermináveis batalhas legais com a minha avó, Susan.
Eu juro, nenhum dos dois vai deixar isso para lá, e isso vai continuar para sempre no tribunal até que um deles morra.
Ele coloca o telefone no bolso, e aperta a minha bochecha. — O que seria de mim sem você, meu anjinho?
Eu tiro a mão dele. — Ei! Eu não sou mais um bebê. Comemoramos o meu aniversário de vinte anos a um mês atrás.
— Você sempre vai ser um bebê para mim. Além disso, um milkshake de baunilha é ainda a sua bebida favorita, o que prova a minha teoria.
— É a minha bebida para me deixar feliz, para começar o meu dia.
— Uh-huh.
— Eu realmente cresci. Você não vê como eu sou alta agora?
— A sua altura ou idade não importa. Você sempre vai ser uma garotinha para mim.
— Mesmo quando eu estiver velha e enrugada e cuidando de você?
— Até lá, eu vou ter lidado com isso.
— Você precisa aceitar que eu cresci, pai.
— Candy Catherine Kingsley, o que você quer dizer com isso?
Eu dou um sorriso torto, fingindo tristeza. — Um certo Kingsley está ficando velho, e se recusa a aceitar que está na hora de ele se permitir conhecer alguém.
— Eu tenho o meu anjinho e, portanto, eu preciso de mais ninguém.
— Eu vou casar um dia, pai.
— Não, até que eu diga.
— Você vai me manter solteira para sempre?
— Hmm. Ele olha para mim, pensativo, como se estivesse tentando descobrir o final para a miséria da humanidade.
— Hipoteticamente, não, porque eu quero netos, eventualmente. Mas eu não gosto do caminho que leva a esse resultado.
— E se eu surpreende-se você com uma gravidez? Você teria que aceitar o meu casamento.
Meu pai endurece e eu internamente me xingo por não manter a minha boca fechada. Este, de todos os assuntos, é o que deixa o meu pai extremamente furioso. Eu acho que é por causa da minha mãe, eu acho.
Ele escondeu isso de mim até que eu completar oito anos. Até aquele dia, ele costumava me dizer que ela tinha morrido, mas então eu ouvi ele falando sobre ela para Nate. Foi quando ele me contou a triste realidade.
Desde então, nós fizemos um pacto de nunca mais mentir um para o outro.
— Você está grávida? A sua voz perde o humor.
— O que? Não, claro que não, Pai.
Ele agarra meus ombros e se inclina para baixo para que os seus olhos fiquem no nível dos meus. — Docinho, se você está, eu quero que me diga.
— Não...
— É daquele garoto com a moto? Eu vou assassinar, aquele filho da pu*ta.
— Não, não tenho nada com o Chris. Eu estava apenas brincando. Eu sinto muito.
— Você tem certeza? Porque, que se não, aquele filho da pu*ta, vai ter uma visita surpresa, minha e da minha parceira de cano longo.
— Não, Pai. Eu realmente não estou grávida. Eu prometo.
Ele solta um suspiro, em seguida, cambaleia para trás como se tivesse sido perfurado.
O que eu disse deve ter lembrou de como eu cheguei até a sua porta. A minha misteriosa mãe, que é um assunto tabu por aqui, me abandonou na frente da casa do meu Avô, quando meu pai ainda estava na escola com uma merreca de nota que dizia:
Ela é sua, Kingsley. Faça o que quiser com ela.
E foi assim que eu cheguei na vida dele. Abandonada. Descartada.
Ela nem sequer disse a ele para tomar conta de mim. Ela foi bem clara, que ele poderia fazer, "o que ele quisesse."
— Não faça piadas sobre coisas como essa, docinho. O meu pai me diz com tristeza na voz.
— Eu sei. Me desculpe. Eu sorri para ele, em uma tentativa de mudar o humor.
—Você não está esquecendo alguma coisa?
Ele coloca sua mala no chão e abre seus braços. — Venha aqui.
Eu mergulho no seu peito, envolvendo meus braços em torno dele. — Eu amo você, Papai.
— Também te amo, Anjo. Você é o melhor presente que eu já recebi.
A umidade começa a brotar nos meus olhos, e desmorono, eu sempre acabo chorando, para segurar as coisas estupidas que eu digo, que sempre deixam o meu pai triste.
Tipo como dói não ter a minha mãe presente. Ou que ela me tratou como lixo a ser descartado. Que ela é uma covarde que abandonou nos dois.
Porque, de certa forma, eu sempre tive um palpite de que ele estava esperando por ela. Já se passaram vinte anos, e ele deve estar exausto. Ele deve estar no seu limite. Então, parei de dizer todas essas coisas.
Talvez eu esteja no meu limite, também. Apesar de ter todo o amor do meu pai, eu sempre senti que um pedaço de mim esta faltando, perdido em algum lugar.
Um lugar, que eu possa nunca chegar.
O que poderia ser a razão pela qual eu cresci desse jeito. Alguém doce por fora, mas totalmente vazia por dentro.
Alguém que precisa de listas e mecanismos de enfrentamento para se manter à tona.
— Você mudou o seuFez você mudou o seu shampoo, docinho? Ainda é de baunilha, mas tem o cheiro diferente.
Eu rolo meus olhos, e olho para ele. Ele tem um super nariz sensível, ele pode sentir o cheiro de alcool, até quando eu estou de costas, mesmo depois de escovar meus dentes e usar grandes quantidades de anti-séptico bucal. Ele sempre sabe.
— Eu misturei duas marcas. Sério, pai, você tem um estranho senso de cheiro.
— É ótimo, para quando o meu bebê, tenta me esconder coisas que não deveria estar fazendo.
Eu reviro os olhos. Ele quase descobriu o que tem no meu shake matinal.
— Você tem um olhar bonito.
— Você só está dizendo isso porque você é meu pai.
— Você tem o meu genes, docinho, é algo que não é comum. Qualquer pessoa acharia bonito.
Não o Nate.
Uma corrente eletrica corre através do meu corpo apenas por pensar no seu nome. Leva toda a minha determinação para dizer adeus ao meu Pai, sem deixar que ele perceba os meus vários tons de vermelho.
Depois que ele sai, eu me sento nos degraus, coloco o meu milkshake de lado, e pego a minha pulseira. A que ele me deu no meu aniversário a dois anos atrás.
O mesmo aniversário onde eu beijei ele.
E ele simplesmente me rejeitou. Foi tão c***l, eu ainda sinto como se uma flecha estivesse perfurando o meu coração quando me lembro.
Se eu achava que Nate era frio, até aquele dia. Agora ele é tão duro como o granito. Ele não fala mais comigo, a menos que seja absolutamente necessário. Raramente nos vemos, e quando eu vou até o escritório, na pretensão de pegar o meu pai, para o almoço, ele simplesmente me ignora.
Ele não faz isso de uma maneira rude. Ele é sutil, mas faz isso de forma eficiente. Agora posso contar o número de vezes que eu vi nos últimos anos.
Cerca de vinte vezes, e apenas por que cruzei o caminho dele.
Conversas, zero. Além dos vazios. —Como você está?
Não é como se ele sempre estivesse presente quando ele era Tio Nate. Mas ele pelo menos, era alcançável, e não tão distante como ele é agora.
Depois que eu beijei ele, eu estraguei o relacionamento agradável que tinhamos por dezoito anos.
Mas não me arrependo.
Porque eu queria, ser mais do que uma filha para ele. Eu esperava que ele enxergasse que eu era uma mulher.
Todas as minhas esperanças foram embora agora.
Mas eu tenho um plano para o aniversário do meu pai nas próximas semanas, o que significa que ele vai estar lá.
O meu coração bate forte no meu peito.
Por que eu tenhi alguma esperança de que tudo vai ser diferente agora.
Eu tenho vinte um anos agora.
Ele tem que ver isso.
Nate tem que perceber, que eu cresci.