Episódio 3

1007 Words
Manoela precisava de mais uma funcionária para dar conta do casarão. O lugar era imenso e, mesmo que os rapazes não passassem o dia inteiro por lá, ela tinha de arrumá-lo, mantê-lo arejado, limpo e organizado. Um dia chegou para Montoya e disse: — Sei que não gosta de gente estranha pela fazenda, mas preciso de alguém para me ajudar. A Kaila já ofereceu ajuda, sabe como ela é, toda solícita. Acontece que ela tá ajudando bastante o Keid com os animais, não quero sobrecarregá-la. Ele assentiu com um movimento de cabeça, parecendo analisar a questão por um ou dois minutos, depois declarou: — Devia ter me dito isso há mais tempo, não quero que você também se sobrecarregue. De fato, esse lugar é grande pra c****e, precisa de mais gente trabalhando aqui. Verei o que posso fazer. — Os rapazes não vão gostar. — Não mesmo. — disse ele, sorrindo. — Mas aí é que a coisa fica divertida. E foi assim que ela conseguiu mais uma ajudante, além do seu marido. ∞     Rhys entrou na hospedaria de Cindi decidido a encontrar uma nova funcionária para o casarão. Sabia, antecipadamente, que a mulherada que trabalhava no Beijo da Samara não aceitaria limpar e arrumar um lugar imenso daqueles, tampouco limpar e arrumar qualquer cômodo que fosse, pois elas só se interessavam em papear, beber, atirar e trepar. A tarefa, então, não seria fácil. Malpasso era um lugar de gente que trabalhava, tinha uma função a desempenhar, portanto, não encontraria pela frente nenhuma desocupada confiável para tal empreitada. Mesmo assim, ele resolveu sentar, pedir uma bebida e conversar com Cindi. E foi ela mesma quem trouxe a sua cerveja. — E aí, grandão? Veio se divertir com suas amigas? — brincou ela, depositando a jarra de bebida diante dele. — Vim a trabalho, o que é um c****e. — resmungou. — Preciso de alguém para ajudar a Manoela. A pobrezinha não tá aguentando limpar tudo aquilo sozinha. — Vocês precisam de uma governanta. — É ela a governanta. — Bom, então tá na hora de contratar uma pessoa para fazer a limpeza. Rhys olhou bem nos olhos da mulher e falou: — Mas, c*****o, é por isso que tô aqui. Cindi riu. — Ai, desculpa, tô com a cabeça longe. — Espero que não esteja com a cabeça na Borderline. Viu-a arregalar os olhos e, depois, baixando o tom da voz, perguntou: — Por quê? Descobriram algo sobre a namoradinha do Keid? Notou o rastro de amargor na voz dela. A verdade era que todo mundo sabia que Cindi era apaixonada por Keid, até mesmo o caubói em questão. Por outro lado, ninguém sabia era o que ele fazia da sua vida s****l. — O único que tem “namoradinha” é o Montoya. Esse tá ferrado de vez. — Ferrados estão vocês, que não têm um amor para cuidar e proteger. — rebateu ela, meio que ralhando com ele. — O nosso amigo pelo menos dorme a noite inteira, encontrou o amor de uma mulher maravilhosa e também recuperou a paz perdida. — E agora fica cantarolando pela casa, p**a que pariu. — reclamou, ouvindo-a rir com vontade. Em seguida, resolveu entrar no assunto em questão, já que ele não era muito fã de ficar tagarelando: — Onde arranjo essa pessoa para trabalhar lá no casarão? — Hum, terá que falar com o pessoal do comércio, vê se alguém cede uma funcionária ou parente, sei lá. Ele bufou, resignado. — E como estão as coisas por aqui? Não queria perguntar especificamente sobre como elas estavam lidando com a perda de Virgin e Lou-lu. Por aquelas bandas, o modo de pensar era diferente. Ninguém valorizava por muito tempo um acontecimento negativo e trágico. Era preciso se manter intacta a estrutura psicológica para poder enfrentar a realidade difícil do deserto. Não era uma boa filosofia, como Montoya bem o dizia, analisar a fundo a questão, esmiuçar o problema até ele se dissolver. Porém, às vezes, vivendo do jeito errado dava certo. E quem podia negar? — Sentimos falta delas, da risada louca da Virgin e das reclamações da Lou. — foi tudo que ela disse, fincando seus olhos tristonhos na mesa. — Agora é só uma questão de reconstruir parte do vilarejo e ajudá-los com o muro. — Não precisamos de ajuda. — Para de ser machão! — riu-se, batendo no ombro dele. — Tô falando sério. — Vocês são fortes, todo mundo sabe, mas são apenas cinco. Esse muro tem que ficar pronto o quanto antes. Ele terminou de beber a cerveja. — A gente dará conta do recado, moça. — assegurou, forçando-se a sorrir. Ele realmente não era bom na figura do “cara legal”. Rhys deu uma andada pelo vilarejo, cumprimentando o pessoal bem do seu jeito, bruto e amigável. Tirava o chapéu para as “damas”, fossem jovens ou idosas, e falava palavrões aos homens num cumprimento rude, algo como: “ E, aí, Toledo, seu cuzão, a pança tá saudável ou cheia de vermes?” E o tal Toledo respondia com uma risada gostosa e o chamava para se aproximar a fim de ver como andava a reconstrução da barbearia do finado Leopoldo. — Serei o novo barbeiro da cidade. — E você sabe cortar cabelo e fazer a barba, ô pançudo de merda? — perguntou Rhys, olhando-o com ar de divertimento. — Minha mulher me ensinou ontem à tarde, agora eu sei. — respondeu, no mesmo tom, caindo em seguida na gargalhada. Ele era casado com uma cabelereira. Na verdade, a única de Malpasso. A mulher deixava qualquer uma bonita. Talvez não lograsse sucesso com apenas uma, a que não se enfeitava. A moça trabalhava na padaria, limpava o lugar, usava um lenço na cabeça que escondia um lado do rosto queimado e nunca deixava qualquer parte do seu corpo à mostra, mesmo sob intenso calor. Hum, será que ela não gostaria de se esconder numa fazenda? Foi o que ele pensou ao se dirigir para a tal padaria.
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