Sam's POV
Depois de todas as provocações de Deena no parque, eu tinha que fazer alguma coisa, né? Não podia deixar ela fazer o que bem entendesse e que eu ficasse naquele estado deplorável, então dei o troco nela, mas de uma maneira... positiva, digamos assim.
Nós estávamos abraçadas no carro depois de tudo que aconteceu, eu ainda me recuperando das declarações e a Deena do "ocorrido". Quando ela sugeriu que queria fazer em mim também, fiquei super nervosa, com medo de que ela não quisesse mais ficar comigo, já que eu ainda não estou pronta, mas sua reação foi super compreensiva e fofa, o que me fez relaxar.
Ainda mais depois de ela dizer que estava apaixonada por mim, eu virei a pessoa mais feliz do mundo, será que ela vai me pedir em namoro algum dia, ou vai se cansar de mim?
Eu ainda estava sentada em seu colo, com meu rosto enterrado na curvatura de seu pescoço, quando ela disse, com um tom de voz suave:
- Sam, são 19h43, que horas você tem que ir pra casa?
Lembrei de que não avisei minha mãe o horário que ia voltar, então é melhor eu já ir daqui a pouco, mas o abraço da Deena é tão quentinho e nós estamos tão bem aqui! Só queria poder prolongar esse momento para sempre...
- Não sei, mas não muito tarde. - eu respondo, me encolhendo ainda mais em seus braços, que circulavam minha cintura.
De repente, eu ouço um som de galho quebrando logo atrás do carro, o que fez tanto eu como Deena levantarmos a cabeça em alerta.
- O que foi isso? - eu pergunto, olhando para ela, assustada.
Deena estava com uma feição não de medo, mas de alerta, como se estivesse meio brava ou atenta para ver se há outro som. Ela olha para a janela, em busca de algum movimento, mas como já está de noite e a floresta está muito escura, não conseguimos ver nada.
Alguns segundo passam desde que ouvimos o som, até que escutamos um grito agudo, que não parecia pertencer a alguém que está muito longe de nós. Eu me assusto e ela me segura, protetoramente, agora franzindo ainda mais as sobrancelhas.
Deena olha para mim, preocupada, e diz, ligando as luzes do carro:
- Eu vou ver se alguém se machucou, ok? Não saia do carro.
- Deena, não vai! Vamos embora! - digo, com medo que ela se machuque se tiver algum psicopata lá fora, até porque isso não seria tão estranho, já que moramos em Shadyside.
- Mas e se alguém precisa de ajuda? Eu preciso ir lá ver, mas eu já volto, não se preocupe.
- Então eu vou contigo. - falo, decidida de não deixar ela ir sozinha enfrentar um possível assassino.
- Nem fodendo, Sam. - ela diz, me olhando profundamente e segurando minhas mãos, com uma expressão desesperada quando disse que eu iria junto. - Por favor, espera aqui.
Me rendo quando percebo que ela não vai ceder, e falo, ainda receosa e com medo dela se machucar:
- Tudo bem, eu fico.
- Promete?
Eu hesito, olhando-a, mas acabo prometendo. Saio do seu colo, e quando ela faz menção de sair do carro, seguro sua mão e a beijo, segurando dos dois lados de seu rosto.
- Por favor, volte inteira. - digo, quase suplicando à ela.
- Vou tentar. - ela diz, com um sorrisinho, mas parecia bem assustada também.
Ela tira um canivete do bolso da calça, pega uma lanterna no porta luvas, e pisa pra fora do carro, o trancando logo depois e me olhando uma última vez antes de começar a andar. Quando a vejo contornar o veículo, andando bem devagar e em uma posição alerta, sigo todos os seus movimentos, tentando ver a frente se não tem ninguém ali perto.
Seguro o banco até meus dedos ficarem brancos, e a vejo começar a entrar dentro da floresta, com a lanterna ligada e o canivete apontado a sua frente. Começo a roer minhas unhas quando a perco de vista, imaginando o que pode acontecer a ela, e quase saio do carro, mas pelo jeito Deena foi mais esperta e colocou uma trava de criança em minha porta, droga!
Começo a hiperventilar quando alguns minutos passam e nem sinal de Deena. Com minhas unhas já sangrando e meu coração acelerado, dou um pulo quando ouço algo bater no carro, na parte do porta malas. Meu Deus, eu vou morrer! Fecho meus olhos, já com lágrimas escorrendo por todo o meu rosto, e sento embaixo do porta luvas, bem encolhida. Começo a rezar bem baixinho, tremendo, quando, de repente, ouço a porta do carro abrir e alguém falar:
- Sam?
Era a voz de Deena.
Tiro a minha cabeça para fora do buraco onde estava escondida, e a olho, procurando machucados ou algo do tipo, e vejo um grande corte em seu braço, que estava sangrando bastante. Quando ela me viu, mudou de sua expressão preocupada para uma aliviada na hora, entrando no carro logo depois, e me abraçando.
- O que aconteceu lá fora? - eu pergunto, a abraçando forte.
- Nada, eu não achei ninguém. - ela responde, ainda meio sem fôlego.
Saímos do abraço e analiso seu machucado, vendo o corte com uma feição preocupada. Ela com certeza vai precisar de pontos. Deena retira seu braço de minhas mãos, como se quisesse o escondê-lo.
- Ah, não foi nada. - diz, tirando sua camisa de flanela e a amarrando no local machucado.
Observo seu corpo coberto apenas por uma blusa de mangas curtas branca, com alguns botões abertos no começo, deixando visível o seu sutiã branco. Me perco na visão de seu corpo um pouco exposto, e esqueço da situação em que estamos, mas quem pode me culpar? Ela tem um corpo muito bonito!
- Sam? - ela diz, rindo quando vê onde estou olhando.
Droga. Desvio meu olhar até minhas mãos, envergonhada, quando lembro do corte em seu braço.
- Deena! Nós temos que ir para algum hospital! - falo, tentando esquecer do que acabou de acontecer, e também realmente preocupada com o sangramento que agora começa a manchar a camisa de flanela dela.
- Sam, é só um cortinho, eu arrumo quando chegar em casa. - ela diz, despreocupada.
- Inclusive, como você conseguiu isso? - eu falo, lembrando que ela disse que não tinha acontecido nada lá fora.
- Ah, eu caí.
Ela da de ombros, mas eu continuo preocupada. E se infeccionar?
- Deena, vamos no hospital, eu não quero que fique pior que isso.
- Sam, já são 20h56, eu te deixo em casa e vou para o hospital, já que você insiste tanto, ok? - ela fala, suspirando.
- Okay. - respondo, feliz que ela cedeu.
Deena liga o carro e começa a dirigir para fora da floresta. Eu percebo que ela está com apenas o braço não machucado dirigindo, dever estar doendo bastante. Quando ela percebe que estou olhando para seu machucado com uma expressão preocupada, coloca uma mão em minha coxa e faz um carinho, dizendo:
- Não esquenta, já já vou fazer um curativo.
- O médico vai fazer o curativo, né?
- Ah, é.
Olho para fora da janela, observando as ruas desertas de Shadyside e as casas já com as luzes apagadas, e lembro de o quão incrível foi o dia de hoje. Cada vez mais me apaixono por essa garota marrenta, mas que na verdade é um ursinho de pelúcia carente. Ela me faz tão feliz...
Sorrio ao lembrar de nossas declarações mais cedo, e seguro sua mão, entrelaçando nossos dedos.
-Eu amei hoje. - falo, olhando para ela.
- Eu também, Sammy. - ela diz, dando um apertãozinho em minha mão, já que não consegue olhar para mim.
Sorrio com o apelido fofo que ela disse, e fico relembrando todos os momentos do dia até chegarmos em minha casa. Quando ela para o carro na frente de minha varanda, tiro o cinto e me viro para olhá-la, que já está me observando.
- Eu acho que... até segunda? - ela diz, com um tom de dúvida.
- Até segunda. - digo, sorrindo para ela.
Infelizmente, amanhã vai ser chato, já que não vou vê-la, mas pelo menos segunda nos encontraremos.
- Não esqueça de ir no hospital agora, ok? - eu falo, fazendo um carinho em sua bochecha.
Ela pende a cabeça em minha mão, aproveitando o carinho, e diz:
- Eu não vou esquecer, Sam.
Dou um selinho em sua boca, e saio do carro, pegando minha mochila no banco de trás e indo em direção à minha casa. Atiro um último beijo quando chego na porta, ato que já virou costume, e entro em casa, ouvindo os gritos de meus pais vindo de seu quarto.
Por um momento tinha esquecido que minha vida é uma droga, mas agora pelo menos tenho uma luz no fim do túnel.