Alessandro Volkov
O silêncio de Sergei, após nosso último encontro nos corredores úmidos das catacumbas, era mais aterrador do que seus gritos. Eu sentia sua ausência como um predador que esperneia na escuridão, pronto para atacar quando menos esperávamos. No escritório, nos corredores de vidro e aço, em casa, a sensação se espalhava como fumaça: Sergei estava tramando algo ainda maior. E eu, como CEO e guardião de Olivia, precisava agir antes que a teia dele se fechasse em torno de nós.
Logo pela manhã, enviei um cronograma detalhado para Olivia, assinado digitalmente por mim:
“08:00 – Check-in diário no headquarter.
12:30 – Almoço na sala executiva.
17:45 – Deslocamento assistido até o carro blindado.
20:00 – Chegada confirmada em casa.
Confirmação obrigatória em cada etapa.
A proteção é por sua segurança.”
Não havia espaço para reclamações: o documento pairava em sua caixa de entrada, ríspido, mas velado em preocupação. Eu sabia que ela o entenderia como demonstração de cuidado – mas, na verdade, era possessão camuflada de proteção.
Ao buscar minha jaqueta na sala de reuniões, reparei no olhar de curiosidade que luminava os olhos de um funcionário júnior. Ele viu o horário que eu impunha a Olivia, e, num gesto quase inocente, sussurrou a um colega:
— O CEO virou controlador, hein?
A notícia correu pelos corredores como vírus. Eu sorri por dentro, deixando de lado a fúria que fervilhava em meu peito. Controlador? Sim. E ela se manteria a salvo, custasse o que custasse.
No fim da manhã, recebi a confirmação:
“08:00 registrado. Em breve, vou ao escritório.”
Suspirei aliviado — mas nem por isso menos vigilante.
Às 12h25, fui ao estacionamento interno para buscá-la, substituindo o seguro carro blindado por uma BMW discreta com placas trocadas. A vi atravessar o corredor cercado por monitores: os saltos ecoando, a bolsa suspensa num ombro, a postura graciosa ainda mostrava traços de tensão. Quando ela me percebeu, ergueu o olhar e apresentou aquele sorriso tímido que fazia meu sangue queimar.
— Alessandro — murmurou, ao se aproximar.
— Siga-me — ordenei, estendendo o braço. — O almoço está pronto na sala executiva.
Ela assentiu, mas suas mãos tremiam ao me entregar o crachá. A porta se fechou atrás de nós, e o corredor deixou de existir. Eu era o centro do mundo que importava — e queria que ela se sentisse assim.
No salão privativo, a mesa longa e os painéis de madeira escura foram preparados: pratos de porcelana, talheres de prata, vinho tinto encorpado. Olivia se sentou, olhos ainda marcados pela ansiedade.
— Foi tranquilo? — perguntei, a voz suave.
— Sim… — ela respondeu, ajeitando os cabelos. — Embora eu tivesse a impressão de estar sendo observada.
Meu estômago se contraiu. A sombra de Sergei ainda me espreitava, mas não podia deixar que isso afetasse meu controle.
— Ainda estamos sob observação — admiti, viajando na lembrança dos logs. — Por isso, defini cada horário. Mas agora, relaxe. Este momento é seu.
Ela ergueu o olhar, hesitante, mas sorriu pela primeira vez em horas.
— Obrigada, Alessandro.
Eu servi-lhe a taça de vinho, depositando-lhe o cálice com solenidade, e a vi apreciar o aroma antes de beber. Aquele gesto me deu confiança: eu era o protetor de sua alma tremulante.
No entanto, o trabalho não cessava. Às 14h, voltamos ao escritório, e eu a acompanhei até seu cubículo, garantindo que o vizinho de baia fosse liberado para que Arthur pudesse cumprimentá-la. Assim que ela passou pela curva do corredor, eu me escondi atrás de um pilar de concreto, observando de longe.
Arthur aproximou-se degrau a degrau, sorriso lisonjeiro.
— Olivia! — exclamou, erguendo a voz só o suficiente para chamar a atenção —, você me ajuda a conciliar aquelas colunas do relatório que combinamos ontem?
Olivia assentiu com gentileza, mas fez um gesto rápido, indicando que preferia não perder tempo. Arthur inclinou-se, aproximando tanto o rosto que pude ouvir a respiração dele. O cotovelo dele tocou levemente o quadril de Olivia.
Meu sangue se acendeu. Contei mentalmente até três e avancei, cabeça erguida e passos firmes. Quando me aproximei, Arthur recuou como quem pisa em água fervente:
— Senhor Volkov! — ele disse, sorrindo amarelo —, eu só estava…
— Eu não aprovo conversas informais no horário de trabalho — cortei, a voz firme. — Se tiver dúvidas, peça para ela marcar competência.
Olivia mordeu o lábio. Arthur desculpou-se, e eu o observei recuar, cabisbaixo. Ficamos a sós no corredor:
— Sinto muito — disse Olivia. — Mas eu precisava concluir as colunas.
— Entendo — respondi, suavizando o tom. — Mas prefiro que finalize conosco no headquarter.
Seus olhos brilharam, e eu percebi que ela compreendia meu ciúme: não era apenas sobre Arthur, mas sobre minha posse de sua atenção.
Na sequência, coordenei uma reunião de emergência com o CFO e o CIO para discutir a vulnerabilidade detectada nos sistemas. Enquanto eu falava, Olivia entrou na sala de maneira elegante, mas as pernas ainda tremiam.
— Peço desculpas pelo atraso — ela disse, puxando a cadeira ao lado da minha. — Tive um… contratempo.
Eu coloquei a mão sobre a dela, no tampo de vidro.
— Sem problemas — garanti, no tom de quem acalma e comanda. — O importante é que está aqui.
Ela me lançou um olhar cheio de gratidão contida. E ali, naquele instante, confirmei minha convicção de que, sem meu controle, ela estaria perdida no labirinto de intrigas de Sergei — e nas investidas de Arthur.
Quando a reunião terminou, caminhei até a sala de servidores contígua. Precisava checar pessoalmente o novo alerta de invasão. Pedi a “auxílio” de Olivia, mantendo-a oculta atrás de mim no corredor.
— Siga-me — falei em seu ouvido, quase um sussurro quente contra seu lobo.
Ela estremeceu, mas me acompanhou. A porta de metal se abriu e admiti-la. A sala escura, repleta de filas de servidores silentes, vibrava em pulsos de LED. Liguei a lanterna tática embutida no celular.
— Está tudo limpo por aqui — disse, entoando confiança. — Mas mantenha seus privilégios revistos a cada hora.
Ela assentiu, o corpo relaxando um pouco. Eu a envolvi num abraço protetor, as mãos deslizando por seus ombros.
— É para sua segurança — sussurrei.
Naquele momento, ela me olhou nos olhos, os lábios tremendo entre o medo e a sedução.
— Obrigada, Alessandro — murmurou.
A possessão que eu exercia, disfarçada de proteção, lhe arrancava sorriso e nervosismo. Cada toque meu era uma reafirmação de minha autoridade — e de meu amor doentio por ela.
Antes de deixarmos a sala, recebi uma mensagem enigmática no celular:
“Ela confia em você… por enquanto.”
Meu maxilar se apertou. Sergei brincava com nossas emoções, consciente do jogo. Mas, se hoje era meu papel de predador e guardião, eu o exerceria sem piedade. Enquanto conduzia Olivia de volta ao escritório, senti uma onda de fúria positiva: o silêncio de Sergei terminaria bem sob meus punhos.
O dia findou-se em relatórios e reuniões. À noite, ao voltar à cobertura, notei que cada relógio marcava um horário antecipado para nossos encontros: meu controle esticava-se por cada minuto de sua vida. Olivia abriu a porta com o bilhete em mãos:
“20:00 – avaliação dos logs de acesso.
21:30 – academia particular…
23:00 – aula de defesa pessoal.”
Sorri, satisfeito com minha posse latente. Sei que ela questiona, mas também sabe que, sem meu comando, sua vida se tornaria um caos de sombras. Enquanto preparava um café forte na kitchenette, imaginei a cena de amanhã: Arthur esgueirando-se pelos corredores, eu surgindo para intervir.
Controlador? Possessivo? Talvez. Mas, naquele jogo de poder e paixão, eu era o único capaz de mantê-la viva — seja de Sergei, seja de si mesma. E eu não deixaria meu amor escorregar entre dedos alheios.
No espelho do corredor, vi meu reflexo tenso, olhos de brasa e punhos cerrados. O silêncio mortal de Sergei era a isca — mas eu estava pronto para o ataque. E, no âmago daquele gráfico de emoções, uma certeza pulsava: sem meu comando, Olivia não sobreviveria ao veneno das mentiras.
E, assim, enquanto ela entrava para revisar o cronograma que eu impunha, senti o pulso de meu poder se expandir. Possessão latente, disfarçada de proteção: este seria o manto que me manteria a salvo de Sergei — e de mim mesmo.