Capítulo 10: A Chegada do Inimigo

1101 Words
Alessandro Volkov O silêncio daquela sala, uma vez refúgio do meu poder absoluto, agora era preenchido por sombras que rastejavam lentamente em minha direção. Minhas mãos tremiam discretamente ao segurar o bilhete ameaçador de Sergei. O homem que eu aprendera a temer desde cedo, o homem que havia transformado minha inocência em aço frio, estava de volta. — Alessandro, você parece inquieto — a voz rouca, carregada de sarcasmo, ecoou atrás de mim, fazendo meu sangue congelar. Virei-me lentamente, enfrentando a figura esguia e ameaçadora de Sergei Volkov. Sua presença invadiu o ambiente como uma praga indesejada, cada passo dado era uma afronta direta à minha autoridade. — Não me diga que sente saudades — continuei, forçando uma calma que não sentia. A ironia em minha voz era a única defesa contra o medo que lutava para emergir. — É decepcionante que precise de um joguinho de ameaças para chamar minha atenção. Sergei abriu um sorriso frio, quase divertido, aproximando-se lentamente, medindo-me com olhos impiedosos. — Ainda arrogante como sempre. Parece que minhas lições não foram suficientes. Talvez eu tenha falhado como mentor — comentou, com cinismo afiado. Minha mandíbula enrijeceu ao ouvir aquelas palavras. As lembranças da minha juventude sob seu comando emergiram com força, carregadas de violência e angústia. Cada cicatriz emocional que ele causara retornava à superfície, e precisei de toda minha força para permanecer firme. — Você não é meu mentor, Sergei. Você é apenas uma sombra do passado que insiste em me perseguir — rebati, estreitando o olhar em desafio. — Por que voltou? O que quer comigo? — Não com você, Alessandro — ele respondeu calmamente, aproximando-se ainda mais. Seu rosto, agora tão perto do meu, era uma lembrança viva de todas as dores que um dia suportei. — Quero destruir tudo que você construiu. E para isso, preciso atingir seu ponto fraco. Aquela adorável jovem que insiste em proteger… Olivia, não é? Senti minha garganta secar, um sentimento de desespero profundo tomando conta de mim. A simples menção ao nome dela me fez estremecer. Minha obsessão por Olivia havia se tornado minha vulnerabilidade mais perigosa. — Toque nela, Sergei, e eu juro que você implorará pela morte — rosnei, incapaz de conter minha raiva. O controle frio pelo qual eu era conhecido começava a desmoronar diante do perigo que cercava Olivia. Sergei sorriu amplamente, satisfeito por conseguir me desequilibrar. — E aqui está o verdadeiro Alessandro: violento, impetuoso, possessivo. Mas onde estava esse fervor quando sua mãe implorou por misericórdia? Foi como levar um golpe violento no peito. O ar me faltou por um instante, mas me recusei a demonstrar fraqueza diante dele. — Minha mãe morreu por sua causa! — cuspi as palavras com veneno, sentindo cada fibra do meu corpo vibrar de ódio. — Sua mãe morreu porque você foi fraco — ele retrucou cruelmente, dando um passo ameaçador em minha direção. — E agora, por causa dessa mesma fraqueza, Olivia terá o mesmo destino. Sem pensar, avancei contra ele, agarrando-o pela gola com violência. Meu corpo inteiro pulsava com uma ira cega, cada músculo gritando para que eu esmagasse aquele rosto odioso contra a parede. Sergei, porém, apenas gargalhou friamente, imperturbável diante da minha explosão. — Faça isso — desafiou, o sorriso diabólico nos lábios. — Mostre-me o monstro que eu criei. Mas saiba que, enquanto você está aqui comigo, Olivia está sendo levada para longe. E talvez você nunca mais a veja. Soltei-o bruscamente, meu coração disparado de pânico. Meus olhos procuraram imediatamente o celular sobre a mesa, e as ligações não atendidas para Olivia piscavam com um aviso assustador. Tentei retornar, mas apenas o sinal de caixa postal ecoava do outro lado. Sergei, recobrando a compostura, ajeitou o colarinho e caminhou até a porta, a expressão satisfeita. — Boa sorte, Alessandro. Espero que goste de jogar esse novo jogo que criei especialmente para você. Talvez dessa vez você aprenda o que acontece quando permite que alguém se torne sua fraqueza. — Sergei! — rugi, tomado por uma fúria primitiva. — Isso não terminou! — É claro que não — respondeu ele, abrindo a porta lentamente. — Está apenas começando. E com essas palavras finais, desapareceu pelo corredor, deixando apenas o silêncio devastador da ausência. Corri imediatamente para fora da sala, descendo as escadas em disparada. A adrenalina queimava minhas veias enquanto eu gritava o nome de Olivia pelos corredores desertos da empresa. O medo, tão raro em minha vida, agora se tornava um inimigo familiar e impiedoso. — Olivia! — Minha voz ecoava pelas paredes, desesperada e rouca. — Onde você está?! Vasculhei cada canto possível, cada sala vazia aumentando meu desespero. O suor escorria por minhas costas, a gravata já solta e desalinhada. Minhas mãos tremiam de impotência. Ao alcançar o estacionamento, senti o pânico atingir seu ápice. O carro de Olivia permanecia ali, vazio e com a porta entreaberta. Ao me aproximar, encontrei seu celular caído no chão, tela quebrada, ainda vibrando com as minhas últimas chamadas. Meus joelhos fraquejaram e precisei apoiar-me na lataria fria para não cair. O coração pesava em meu peito como uma âncora, o desespero tomando conta. — Não… — murmurei para o vazio ao meu redor, sentindo uma dor dilacerante percorrer meu peito. — Olivia, por favor… Não… Por um instante, lembrei-me do rosto dela, do seu sorriso tímido, de seus olhos brilhantes em momentos raros de felicidade. A ideia de perdê-la para sempre era insuportável, destrutiva, devastadora. Eu nunca havia permitido que alguém se aproximasse tanto, e agora estava pagando o preço alto daquela vulnerabilidade. Apenas um pensamento agora dominava minha mente: salvar Olivia a qualquer custo. Não importava o que precisasse fazer, quem eu precisasse destruir ou quanto sangue teria que derramar. Sergei não tiraria de mim aquilo que eu finalmente permitira amar. Levantei-me com firmeza renovada, engolindo a dor e a raiva, transformando-as em uma determinação sombria e feroz. Se Sergei queria uma guerra, ele teria uma. Eu não descansaria até encontrá-lo e trazê-lo para a justiça implacável que merecia. Com os punhos cerrados e olhos em chamas, ergui-me mais forte do que nunca, pronto para enfrentar meu passado e todas as ameaças que ele trouxesse. Ninguém tocaria em Olivia novamente. Eu garantiria isso com minha própria vida. Mas, enquanto eu caminhava determinado para o carro, disposto a lutar com tudo o que tinha, uma mensagem chegou ao meu celular com um bip agourento. "Se você quer vê-la viva, venha sozinho. Está na hora de você enfrentar seus demônios, Alessandro." Meu sangue gelou. O jogo sombrio de Sergei havia começado. E eu não tinha mais escolha senão aceitá-lo.
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