Ele se mostrou bastante educado e gentil. Não se parecia em nada com o racista reverso que Samara imaginou. Clara tinha dito que ele não era assim, e Samara zombou na hora:
— Então só os homens se salvam naquela família?
Mas percebeu que fez um pré julgamento sem conhecer de fato o Júnior, o que é tão r**m quanto um pré conceito em relação a cor dela.
Envergonhada da própria atitude, deu bastante atenção a ele durante a noite e conversaram sobre vários assuntos, discutiram coisas diversas, até política. Percebeu que ele ficou encantado com sua desenvoltura. Sam sempre soube que era muito madura para sua idade. E o fato de ler muito, estudar muito, a colocava em posição de poder mesmo conversar sobre qualquer tema. E sabia que isso era reconhecido como qualidade por homens mais velhos, enquanto era considerado irritante pelos meninos!
A mãe não se preocupou com o Júnior monopolizando a atenção de Samara durante a noite toda. Jones até ficou meio preocupado, mas ela disse com propriedade:
— Ela ainda não sabe distinguir, mas tem preferência por homens mais velhos. Quando chegar a idade de namorar, o sortudo terá pelo menos 5 anos na frente dela.
— Isso é normal, mas o Júnior já é homem feito, pai. Não são só 5 anos.
— Você vai conhecê-la melhor e então vai entender. Samara tem raciocínio, ideias e atitudes de mulher de 25 anos, portanto está de igual com ele. Mas como eu disse, quando chegar a hora de ela namorar. No momento, ela não pensa em nada disso.
— Quando chegar a hora? Aquela amiga dela não foi exposta recentemente por já estar fazendo sexo tão nova?
— Samara e Ana são bem diferentes. Ana é despojada e atirada. Samara é mais na dela, pé no chão. Não me preocupo nem um pouco com isso. Que tal deixar essa preocupação pra hora certa e ir apagar o incêndio ?
Jones se virou para a direção do olhar de Clara e pode ver Olga, sua irmã mais velha, se aproximando de Samara e Júnior.
Arregalou os olhos e comentou:
— Esse confronto vai ser épico
Clara deu uma risadinha e o seguiu apressada.
Nenhum dos dois percebeu a aproximação de Olga, então Júnior se assustou quando a ouviu, e imediatamente tentou se colocar entre as duas para proteger Samara
— Parece que os brancos resolveram visitar a senzala para escolher seus negros
Clara e Jones chegaram a tempo de ouvir a resposta de Samara, que emudeceu a todos e fez Júnior perceber que não precisava defender ninguém
— Você está falando de minha mãe com seu irmão?
— Também — Olga respondeu com desdém
— Olha, pra uma preta velha que cobra dívida histórica, eu esperava mais. Porque pelo que sei, os negros eram escolhidos como mercadoria contra a sua vontade. Quando chegavam na senzala, já haviam sido comprados e escravizados. O que vejo aqui, claramente, é um homem que escolheu uma mulher para formar uma família. Quem tá colocando cor na parada toda seria a senhora que não deve estar muito à vontade com seu tom de pele. Quando tiver qualquer dívida histórica realmente válida para cobrar, podemos conversar. Agora se a sua preocupação é comigo, esfrie sua cabeça, o tio Junior apenas estava me dando um pirulito.
Junior foi dormir naquela noite logo após se despedir da família de seu irmão. Estava irritado com o comportamento de suas irmãs. Elas deveriam ter ficado felizes por enfim ele formar uma família, ninguém merece estar sozinho na velhice. E Jones não foi feliz com sua primeira mulher. Era simplesmente um entojo. Mas elas não perdiam por esperar.
Ele olhou para a cama vazia sem nenhuma melancolia. Não queria Paula morando com ele, mas depois do nascimento de Lucas, ela foi ficando e tirou toda sua liberdade.
Na manhã seguinte, Paula voltou com o bebê. Passou primeiro na casa das irmãs como de costume. Quando entrou em casa, foi aos berros, completamente transtornada.
— Como você pôde? você está louco?
Junior ficou olhando pra ela sem entender absolutamente nada
— Quem te deu o direito de me humilhar dessa maneira? Como assim ficou flertando com uma pirralha a noite inteira?
Junior não tinha entendido bem. Mas quando percebeu que Olga tomou birra de Samara pela resposta e foi fazer fofoca para Paula, seu sangue ferveu.
Num tom ameaçadoramente calmo, ele lhe respondeu:
— Primeiro vc abaixe o tom de voz para falar comigo.
Paula rapidamente se calou. Ele estava estranho, melhor não provocar. Quando ameaçou falar, em tom calmo, ele levantou o dedo pedindo que ela se calasse.
— Não terminei. Deixei você esbravejar tudo o que quis. Agora é minha vez. — Paula cerrou os olhos e emudeceu. — Assim é melhor. Em segundo lugar, eu não flertei com ninguém. Apesar de não lhe dever satisfação dos meus atos, sempre te respeitei como a mãe do meu filho. E mesmo que fosse fazer algo do tipo me envolver com outra mulher, não seria em sua casa, por que nunca vou admitir que meu filho veja sua mãe humilhada, por quem quer que seja, menos ainda por mim
Paula ficou incomodada. Em nenhum momento ele mostrou cuidados como mulher dele, apenas como mãe.
— E por último, você faz tanta questão de fazer parte dessa família, mas no primeiro compromisso em família que tivemos, você se ausentou.
Mais uma vez Paula abriu a boca pra responder e se calou.
— Olha Paula, vou ser sincero com você e espero que você me entenda. Eu não te amo. — Paula olhou para ele chocada, e ele continuou. — Se eu te amasse e achasse que é a mulher certa pra mim, não precisaria de uma gravidez para forçar o pedido. E depois da gravidez, que tentou de todas as maneiras casar comigo e eu recusei, você simplesmente se aboletou em minha casa e foi ficando, como se fôssemos casados. Mas não somos nem amigados. Desde que você engravidou pra me forçar a casar, não temos relações sexuais.
Paula então falou antes que ele pudesse prosseguir
— Tentei várias vezes. Entendo que você está descontente com meu corpo depois que ganhei bebê. Olga disse que isso é normal...
— Pare agora mesmo. Não faça isso com a gente. Eu não quero que você saia dessa relação humilhada. Você sabe perfeitamente que seu corpo já voltou ao normal há muito tempo. Mas não é isso que me afasta de você. Você era uma menina bacana. Mas depois que pegou i********e com minhas irmãs, não tem mais personalidade e só faz o que elas querem. Pensando que ia me agradar, me afastou. Se algum dia tive o pensamento de me casar com você, não existe mais.
— Então você está me mandando embora da sua casa?
— De forma alguma. Jamais vou desamparar meu filho ou você. Independente de não haver mais sentimentos, há o respeito por você e pela nossa história. Eu vou sair.
— Como vai sair da casa dos seus pais? Isso não tem lógica nenhuma
— Paula. Você é a mãe do meu filho, e essa casa é dele. Você vai precisar de uma rede de apoio, minhas irmãs serão mais úteis a você do que a mim enquanto o Lucas cresce. Elas podem te auxiliar no cuidado e podem ficar com ele pra você sair, trabalhar, conhecer outras pessoas. E eu quero que tudo se mantenha na normalidade para nosso filho. Se mudar, não é uma opção pra ele agora.
— É mesmo? E você vai pra onde?
— Não se preocupe com isso. Tenho pra onde ir. Gostaria que você levasse suas coisas para o seu quarto e deixasse o meu trancado. Quando você precisar sair ou passar a noite fora, virei pra cá ficar com o Lucas.
— Você já pensou em tudo não foi?
— É óbvio. Não poderia tomar uma decisão dessas sem planejamento.
— Então se não tem mais nada a dizer, vou arrumar meu quarto
Paula saiu cabisbaixa, deixando Júnior triste com a situação.
Ele era muito grato a seus pais e a educação que recebeu. Quando eram vivos, deixaram tudo bem amarrado para os filhos terem conforto, mas não ser acomodados. O pai comprou o terreno e construiu 6 casas nele, todas exatamente iguais. A intenção da mamãe era que todos vivessem sempre juntos, próximos. Enquanto viva, vivia naquela casa, que seria do Júnior.
Ele não tinha nenhuma lembrança dos seus pais ou de alguma vivência ali. Então sair e deixar Paula vivendo confortável com seu filho, não lhe traria dor.
Seus pais também deixaram uma empresa, que deveria ser administrada por Olga e Jones. Os dois mais velhos. Mas os lucros eram divididos igualmente e eles tinham salário para desempenhar essa função.
Desde que os pais morreram, sua parte nos lucros era depositada em uma poupança que ele teve acesso aos 18 anos.
Os mais velhos tinham a obrigação de cuidar da empresa, os outros 4 poderiam escolher o que fariam.
E Junior trabalhava lá desde os 16 anos. começou debaixo como todo mundo. Hoje era assessor de Jones. Olga abandonou a empresa em suas mãos para se dedicar a ser dona de casa. Ele fazia o melhor que podia.
Estava preparando Júnior para assumir quando se aposentar, e Júnior se dedicava de verdade em aprender.
Há alguns meses, decidiu comprar uma casa simples, longe das irmãs. Jones já tinha abandonado elas lá desde que se casou pela primeira vez e seu sobrinho Renan, filho mais velho de Olga vivia nela com a esposa. Ninguém se importaria se ele abandonasse o barco. Vinha planejando sua saída, estava esperando o momento certo. Não gostaria de ter empregados, por isso deveria ser uma casa pequena, pra ele poder cuidar.