Capítulo III

3978 Words
Acordei bem antes de Frank e tomei um banho, coloquei calça legging, camiseta e tênis, preparei uma salada de frutas, um suco de abacaxi com hortelã, torradas e requeijão light. - Frank acorda ou te deixo aqui - disse cutucando ele ainda deitado. - Meu Deus, criei um monstro - ele disse com a voz rouca, enquanto coçava os olhos. - Vai, levanta. O café já está na mesa - falei dando um tapinha no pé dele. Ele levantou num pulo, lavou o rosto e foi para a mesa ainda bocejando. - Uau, que mesa linda! Ju, que horas levantou? - ele perguntou colocando o suco no copo. - Levantei às cinco horas, precisamos estar às seis da manhã na rua - respondi comendo a salada de frutas. - Estou gostando de ver, mocinha, se você está dizendo isso é porque se conscientizou - falou com orgulho. - Preciso chegar aqui um pouco antes, tenho de transcrever uma parte da reunião de ontem - disse bebendo o suco. - Você e sua mania de gravar tudo para não esquecer - constatou. - Não é nem isso, ontem teve uma reunião e precisei sair para pegar alguns documentos que pediram, então acabei perdendo algumas coisas - expliquei. - Mesmo que não tivesse perdido você teria gravado, eu te conheço, dona Juliana. - Agora vai ficar tirando com a minha cara? Tudo bem, pisa na pessoa que te faz feliz e que prepara um café desses para você - disse brincando. Levantamo-nos e saímos para correr. O céu estava lindo e o vento da manhã revigorante, bastava respirar da maneira correta para não cansar rápido. Coloquei o fone com uma música do The Cranberries. Cantava alto sem perceber, acompanhando a música. Quando dei minha última volta, na curva trombei com alguém e fui ao chão. - Meu Deus, não olha para frente não? - explodi com raiva. - Desculpe, estava no telefone e não vi você - ele respondeu virando a cabeça com surpresa. - Doutor? Desculpe, também não o vi - disse de maneira desconcertada. - Já está terminando? - ele perguntou me ajudando a levantar do chão. - Estou dando a última volta, preciso ir mais cedo para casa hoje, tenho alguns papéis para separar e levar para sua sala, sobre a reunião de ontem - expliquei. - Entendi - respondeu olhando para baixo. - Até daqui a pouco senhor, vou indo antes que eu esfrie - disse pulando. - Ok - respondeu arrumando o fone no ouvido para atender uma ligação. Saí correndo novamente e fui encontrar Frank, que me aguardava na saída do parque. Cheguei em casa e tomei um banho rápido, sequei o cabelo, me troquei e depois de pronta sentei na cozinha, enquanto Frank fazia a vitamina para bebermos. Liguei o gravador e fui marcando alguns itens na agenda. De repente ouvi algo diferente e Frank me olhou surpreso, se sentando na mesma hora. - Você ouviu isso? - perguntou franzindo a testa. - Não sei bem o que eu ouvi, vou voltar aqui - respondi voltando a gravação. Deixei no ponto e aumentei, olhando para Frank que se aproximou do gravador. - Essa sua secretária é gostosinha, hein Ricardo - disse um dos advogados. - Já comi melhores - Ricardo respondeu. - Você só pega modelos, mas essas mulheres mais gordinhas são um terror na cama, sabem o que fazer - retrucou o mesmo advogado enquanto os outros riam. - Acho melhor nós nos focarmos na reunião, minha secretária é uma boa profissional e para mim é só isso que conta. - Acho que você está com ciúmes - respondeu outro advogado. - Eu já disse que não gosto de mulheres rechonchudas, prefiro modelos - disse Ricardo sem muita paciência. - Ricardo, você já parou com aquela besteira de dar tornozeleiras de ouro com as iniciais do seu nome para quem você come? - perguntou outro advogado. - Por quê? - perguntou Ricardo. - Esses dias eu fui sair com uma mulher e ela tinha uma tornozeleira com as iniciais RB, quando perguntei ela disse que era de uma amiga, achou bonito e colocou. Achei que era loucura, porque essa moça é gordinha e nunca te vi com gordinhas - explicou o advogado. - Eu tenho esta mania e todos vocês sabem, só dou esta tornozeleira para alguém com quem mantenho relações e nunca de uma noite só. Com certeza era amiga dessa aí - Ricardo disse com desdém. - Prontinho doutor, aqui estão os documentos - eu disse entrando na sala. Parei a gravação e, atônita, olhei para Frank, que estava de boca aberta. - Esse seu chefe é um escroto - Frank falou com raiva. - Muito escroto, mas agora eu o quero mais do que nunca, vou pisar muito neste cretino. Vou fazê-lo engolir cada palavra, assim que ele me der uma tornozeleira desta eu vou usá-la perto de todo mundo, todos vão saber que ele correu atrás de mim. Ah! Ele me paga - disse entre os dentes com muita raiva. Levantei, peguei minha pasta com os documentos e fui andando em direção à porta. - Juliana, não vá deixar a raiva falar mais alto, temos que fazê-lo engolir isso de um jeito diferente, cuidado com o que fala hein? - Frank me avisou. - Pode deixar comigo, ele vai comer aqui na minha mão. Hoje vou começar algo que ele não esperava - respondi sorrindo e saindo pela porta. Cheguei na empresa e fui ao banheiro, passei um batom vermelho da Mac efeito mate que guardo na bolsa para ocasiões especiais, exagerei um pouco mais no rimel e fui para minha mesa. Quando Ricardo chegou, ele ficou nitidamente nervoso e tentou não me encarar, me deu bom dia e entrou em sua sala. Peguei os papéis que estavam em minha mesa, bati na porta e entrei. - Senhor, bom dia, aqui estão os documentos solicitados pelo senhor - disse me curvando na mesa em sua direção, meus s***s sobressaltados na camisa branca que vestia. Meu olhar penetrou o dele, eu estava com um ar desafiador e cheio de t***o, isso o fez engolir em seco, que, gaguejando respondeu. - O-obrigada, senhorita - respondeu sem jeito e molhando os lábios com a língua. - De nada senhor - disse mordendo o lábio inferior e em seguida sorrindo com o canto dos lábios e me levantando devagar, o encarando sem desviar o olhar. Saí da sala e sentei na cadeira com certo alivio, por mais raiva que eu tivesse, esse homem me faz perder o controle. Precisei ir ao banheiro, pois senti minha calcinha molhada. Ele não perde por esperar. Com o passar dos dias eu estava focada na dieta e nos exercícios, meu chefe deliciosamente i****a estava cada vez mais louco. Não ficava muito perto de mim, mas eu fazia questão de usar roupas mais provocantes. Comecei a ser mais gentil com todos os outros advogados e recebia olhares desejosos de muitos deles, isso fazia Ricardo pirar. Na sexta-feira entrei no elevador e dei de cara com Ricardo e mais dois advogados. - Bom dia - disse a todos no elevador assim que entrei. Estava vestindo uma saia lápis preta, uma camisa de seda verde decotada e o casaquinho preto. - Bom dia, senhorita - responderam a me ver. Percebi olhares entre eles. - Está bonita, Juliana - disse o doutor Bastos. Bastos é um dos advogados sócio da Boldrini, alto, loiro, cabelos lisos e um rosto uau, maravilhoso! Devia ter seus trinta e dois anos. Diziam que ele era galanteador e solteiro. - Obrigada, doutor Bastos - respondi sorrindo. Olhei para Ricardo que fechou a cara, nitidamente nervoso. Saí do elevador e fui direto para minha mesa, Ricardo passou por mim e fez sinal para que eu entrasse com ele na sala, peguei a agenda e a caneta e entrei em seguida. - Pois não, senhor - disse me sentando. - Juliana, eu não quero você conversando com os outros advogados, eles não sabem respeitar as mulheres. Se fosse outra pessoa eu não ficaria furioso com as investidas deles, mas sendo minha secretária eu não vou admitir esse tipo de situação, entendeu? - disse com tanto ódio nos olhos que cheguei a esboçar um sorriso sem querer. - Sim, senhor. - Você está rindo? - perguntou franzindo a testa. - Achei engraçado o senhor se preocupar com o galanteio dos advogados, o senhor não vê que sou gorda? Deve ser engano seu, eles devem estar brincando comigo. Aqui tem tanta mulher bonita, tipo modelos, porque olhariam para mim? - perguntei querendo uma reação dele. - Você realmente acha que só por ser gordinha não é atraente? Você não faz meu tipo, mas até eu fico desconfortável quando fico perto de você - disse afrouxando a gravata. - O que quer que eu faça, senhor? Quer que eu mantenha distância do senhor? perguntei olhando em seus olhos de modo provocativo. - Não precisa se distanciar de mim, não consigo mais viver aqui sem você, tem se mostrado muito competente. Quero você perto de mim, sempre - disse se aproximando. - Tudo bem, senhor - respondi me levantando. Ele me olhou e estava bem próximo de mim, eu fiquei ali o vendo se aproximar ainda mais e podia jurar que ele me beijaria, mas ele se distanciou novamente. - Pode ir agora, e cuidado com esses abutres. – advertiu-me. Saí da sala e tive vontade de bater nele, que ódio, porque ele resiste tanto assim? O dia foi longo, cheguei à academia e Frank não estava, fiz uma hora e meia de exercícios e fui para casa exausta. - Frank, por que não foi na academia? - perguntei ao vê-lo deitado no sofá. - Não estou muito bem hoje, gripe forte - respondeu com a voz anasalada. - Mas, não era hoje que precisava ir falar com o novo sócio da agência? - Sim, e por isso vou precisar de você - disse espirrando. - Saúde - disse me sentando no outro sofá - Como assim, precisar de mim? - Preciso que vá naquele bar que fomos aquele dia e leve meu book para ele em meu lugar, se eu desmarcar ele me tira do casting - explicou. - Está bem, vou tomar um banho, me troco e vou. Pode deixar, eu explico para ele que te mediquei e você acabou dormindo com os remédios, não vou deixar você perder este trabalho - disse me levantando. - Eu já disse que te amo? - perguntou tossindo. - Não, mas eu sei disso. Já tomou remédio? - perguntei preocupada. - Sim, tomei uma injeção e a médica disse que em dois dias estarei curado - respondeu assoando o nariz. - Descanse então e beba suco de laranja, vitamina C é sempre bom - falei saindo em seguida da sala. Tomei banho, sequei o cabelo, coloquei um vestido azul claro e justo, fiz uma maquiagem, peguei o book do Frank e fui para o bar. Assim que cheguei, sentei e avisei a recepcionista que aguardava o senhor Alcântara, que ela o levasse até minha mesa assim que chegasse. Pedi um cosmopolita e fiquei aguardando. Depois de alguns minutos, a recepcionista chegou com um homem maravilhoso, magro e que lembrava o Keanu Reeves, não conseguia parar de olhar para ele. - Boa noite, senhor Alcântara - disse me levantando e estendendo a mão. - Boa noite... senhorita? - perguntou me cumprimentando. - Juliana, senhor. Por favor, sente-se - respondi apontando o sofá em frente. - Obrigada, você é a agente de Frank? - perguntou desabotoando o terno e se sentando. - Hoje sou - respondi sorrindo. - Ele não pode vir? - perguntou me olhando de forma curiosa. - Ele foi medicado e não estava se sentindo muito bem, está com uma gripe forte e em dois dias estará novinho em folha - falei sorrindo. - Entendi, sem problemas. Você trouxe o book dele? - perguntou olhando para o álbum na mesa. - Sim, aqui está - respondi entregando-lhe o book de Frank. - Eu estou vindo da Europa com algumas novidades no mundo da moda, quanto mede Juliana? - perguntou olhando em meus olhos. - Tenho um metro e setenta e seis - respondi. - Já pensou em ser modelo? - indagou. - Modelo? Eu? Imagina, não tenho corpo para isso não senhor - respondi surpresa. - Aí é que você se engana, Juliana. Na Europa já virou febre modelos plus size, algumas modelos fotográficas mais gordinhas que fazem fotos de lingerie e roupas para mulheres reais e mais gordinhas. O mundo da moda está tendo que se adaptar a realidade, hoje, mais de cinquenta por cento das mulheres estão acima do peso. Adoraria fazer algumas fotos com você, o que acha? - perguntou sorrindo. - Meu Deus! Nunca imaginei ser modelo - respondi sorrindo. - Você pode tentar, não tem nada a perder, tem? - perguntou piscando pra mim. - Realmente, não tenho nada a perder - respondi me ajeitando no sofá. - Então podemos marcar? - perguntou decidido. - Eu aceito, com uma condição - respondi. - Condição? - indagou franzindo a testa. - Sim, se o senhor der o trabalho que está fazendo para o Frank, eu aceito - disse tentando ajudar Frank a conseguir o trabalho para uma grande marca que estava concorrendo. - Fechado, diga a Frank que começaremos a fotografar na próxima semana, que ele se cuide bem para estar inteiro para essa campanha - respondeu - Você realmente sabe o que quer. - Obrigada, senhor Alcântara - agradeci sorrindo. - Tem algum cartão? - ele perguntou. - Sim, só um minuto - respondi abrindo a bolsa - Aqui está. - Bem vinda à agência, senhorita Juliana, vou transformar você em uma modelo top, fique ciente disso. Assim que marcarmos as fotos, assinamos seu contrato. - Obrigada, eu acredito nisso - disse sorrindo e sem acreditar que tudo isso estava realmente acontecendo comigo. Ficamos mais alguns minutos conversando e depois fui embora, estava louca para contar as novidades para Frank. Cheguei em casa pulando de alegria e resolvi acordar Frank, que dormia no sofá enquanto passava Drop Dead Diva na TV. - Acorda Frank - disse cutucando os pés dele. - Caramba Ju, precisa fazer cócegas, sabe que tenho agonia quando mexem no meu pé - falou bocejando e irritado. - E aí, está melhor? - perguntei sentando-me ao seu lado. - Sim e não, uma dor de cabeça insuportável, mas e aí, como foi? - perguntou me olhando curioso. - Tenho duas notícias, uma boa e outra muito boa, qual você quer saber primeiro? - perguntei piscando. - Nossa! Fale a muito boa - respondeu ajeitando a almofada atrás dele. - A boa notícia é que você conseguiu o trabalho, não terá que disputar a vaga - disse batendo na perna dele. - Mentira! Como assim? - perguntou surpreso. - Eu sou f**a - respondi sorrindo. - Mas o que você fez? - perguntou chegando mais perto. - Aceitei um acordo dele com a condição de você ganhar o trabalho. - Que acordo é esse? Vai se prostituir depois de velha? - perguntou gargalhando. - Até parece Frank, você está louco? Não é nada disso, ele me fez uma proposta profissional, não vou dormir com ele e olha que isso não seria um sacrifício, que homem lindo! - disse me abanando. - Ouvi falar isso mesmo. Dizem que é um espetáculo e muito rico, mas o que ele propôs? Você ser secretária dele? - perguntou confuso. - Não, ele quer que eu seja modelo de algumas marcas plus size, acho que é assim que se fala - expliquei. - Já ouvi falar disso, mas nunca conheci ninguém que fizesse este tipo de trabalho. Você vai ser modelo Ju, agora sim aquele seu chefe enlouquece - disse sorrindo. - Estou apreensiva com isso, nunca tirei fotos assim e, tem mais, você sabe que nem de tirar fotos eu gosto, ainda mais do meu corpo - resmunguei. - Não pense assim, você é linda demais, só tem uns quilinhos a mais. - Quilinhos a mais, Frank, você só pode estar de brincadeira não é? Meu manequim é quarenta e oito, põe quilinhos aí - disse apontando para meu corpo. - Mas, pense bem, se fosse manequim quarenta e dois como tanto quer, não tinha chegado a ter uma proposta para fotografar. - De certo modo está certo. Você me ajuda? - perguntei deitando no colo dele. - Claro que ajudo, tenha certeza disso, você será a modelo mais conhecida no mundo Plus Size - disse alisando meu cabelo. - Bom, agora vamos dormir, preciso acordar muito cedo para minha corrida matinal - falei me levantando. Frank desligou a televisão e foi para o quarto dormir. Deitei exausta, sentindo uma emoção que não sabia como explicar. O dia nem bem amanheceu e fui preparar meu café. Estava morrendo de fome, comi torradas e tomei suco, logo depois saí para minha corrida. Enquanto corria no parque, eu ficava olhando o céu e como o sol estava lindo. Parei próximo a uma barraca e pedi uma água, estava morrendo de sede. Quando virei para recomeçar minha corrida, dei de cara com Ricardo. - Opa - disse quase esbarrando nele. - Você é muito desastrada, Juliana - falou sorrindo. Reparei nele e vi que estava despojado. Vestia uma bermuda azul e uma regata branca, cabelo desarrumado e uns lindos óculos de sol, estilo aviador. - Conta uma novidade, Ricardo - disse sorrindo. - Você fica ainda mais bonita suada - falou tirando os óculos para me olhar melhor. - Obrigada, senhor - respondi formalmente. Ele automaticamente mudou o jeito de me olhar. - Bom, doutor, eu vou indo. Preciso voltar e me arrumar para ir à empresa. Saí de perto dele e fui pra casa, tomei um banho rápido, comi um copinho de gelatina light de maracujá e fui trabalhar. Subi sozinha no elevador e recebi um e-mail de Ricardo. Ricardo Boldrini advricardoboldrini@boldriniassociados.com.br Hoje, 8:32 h. Bom dia, Juliana hoje eu não vou para o escritório, marque um coquetel para comemorar os quinze anos do escritório, reenvie os convites que estão em anexo para o e-mail desta lista também em anexo, ninguém além destes. Já estou te enviando todos os contatos do buffet para que entre em contato e confirme se está tudo certo para amanhã à noite. Não se esqueça de confirmar a presença de todos amanhã pela manhã. Qualquer coisa estarei no celular, não ligue, mande mensagem. Atenciosamente, Ricardo Boldrini Mensagem enviada via Blackberry. Anexo1 Anexo2 Fiquei lendo o e-mail com muita raiva, como assim ele não vem trabalhar? Passei a tarde enviando e-mails e confirmando tudo com o buffet. Quase fiquei louca, estavam querendo saber o tipo de bebida que seria mais usada, então para não errar, pedi uísque, champanhe e água, nisso a gente nunca erra. Afinal, quem vai a um coquetel normalmente bebe e quem não toma álcool, fica com água. Fiquei pensando o que a antiga secretária teria feito, a coordenadora do buffet estava perdida, acabei tendo que resolver tudo, até a decoração. No final da tarde recebi um telefonema. - Alô - disse conturbada entre muitos papéis. - Juliana? - alguém perguntou do outro lado da linha. - Sim, sou eu - respondi sem ter ideia de quem era. - É o Eduardo Alcântara, pode falar? - perguntou muito educado. - Claro, senhor Alcântara, sem problemas - respondi parando tudo que estava fazendo. - Pode fotografar hoje? - perguntou me pegando de surpresa. - Hoje? Que horas? - perguntei olhando no relógio. - Às cinco horas, preciso enviar algumas fotos para a revista ainda hoje e só temos ate as nove para isso. Consegui isso cobrando um favor, quero colocar esta marca na revista que sairá amanhã. - Tudo bem, eu posso sim. Onde preciso ir? - perguntei. - Marca aí, Avenida Paulista, 900 quarto andar sala 20B. - Tudo bem, anotei. Daqui a pouco eu estarei aí. - Seu manequim é quarenta e oito, certo? - perguntou. - Sim, como sabe? - perguntei surpresa. - O Frank me disse, falei com ele há pouco - explicou. - Nossa! Já achei que estava escrito na minha testa minha quantidade de gordura - falei brincando com meu peso. - Além de bonita, ainda tem bom humor, que ótimo. Estou aguardando você, até mais - ele disse desligando em seguida. Olhei novamente no relógio e vi que faltavam vinte minutos para as cinco, desliguei meu computador, peguei minha bolsa e saí. Ainda bem que já estava na Paulista, era razoavelmente perto o endereço que ele tinha passado. Estacionei na garagem do prédio comercial e respirei fundo quando entrei no elevador, eu estava muito nervosa. Ao me aproximar da porta, fiz uma oração mentalmente e apertei a campainha. Foi o próprio Eduardo quem abriu a porta. - Você é pontual - disse ao me cumprimentar com um beijo no rosto. Entrei e no local só estavam homens: maquiador, cabelereiro, um fotógrafo, auxiliar de fotógrafo, estilista e várias lingeries penduradas em cabides numa arara. Respirei fundo novamente, tentando não imaginar que estaria de lingerie com mais seis homens ao meu redor. Fizeram meu cabelo rapidamente e deixaram bem volumoso, com cachos maravilhosos e a maquiagem com um esfumaçado preto nos olhos, me deixando com ar de selvagem, nem eu mesma me reconheci. Um dos ajudantes do estilista me ajudava a tirar a roupa e colocar a primeira lingerie. Eu me senti violada, totalmente desconcertada. Ele colocou um roupão de seda branco em mim e me levou até a marcação. - Juliana, tudo bem? Sou seu fotógrafo hoje, me veja como um amigo. Faça de conta que está em frente ao espelho, se solte. Aqui você está atuando, como se fosse atriz, consegue visualizar isso? - perguntou me olhando com naturalidade. - Sim, consigo - respondi tentando atuar. Ele se afastou e pediu que eu levantasse o queixo e olhasse para cima, virando um pouquinho o rosto para a direita, com as mãos na nuca, como se estivesse pegando no cabelo. Fiz o que ele pediu e fui clicada várias vezes enquanto fazia poses, auxiliada por um dos seus ajudantes. Eduardo observava tudo atentamente. Quando vesti a última lingerie, Eduardo foi conversar com o fotógrafo. Logo depois, o fotógrafo se aproximou. - Juliana, o senhor Alcântara quer colocar você em um outdoor e me pediu uma foto para isso. Você confia em mim? - perguntou tentando me deixar tranquila. - Sim, confio - respondi. - Tire o sutiã - pediu. - Não vou tirar foto nua - respondi com raiva. - Não vou mostrar seus s***s, tire o sutiã, confie em mim - ele insistiu. Tirei o sutiã e percebi que corei na hora, estava exposta ali no meio de tantos homens. - Seus s***s são lindos, não fique com vergonha. Sente-se aqui e cubra os b***s dos s***s com este braço e com o outro braço segure uma das pontas do seu cabelo - explicou me deixando mais à vontade. Ele se distanciou e tirou algumas fotos, depois um dos seus ajudantes me entregou um roupão e me levou para que eu pudesse me trocar. Voltei para a sala e eles estavam de frente a um notebook, olhando as fotos. - Juliana, as fotos ficaram lindas, amanhã você estará estampando quatro páginas da revista feminina mais lida do Brasil a Marie Claire, conhece? - Eduardo perguntou. - Lógico que eu conheço, quem não conhece? - Já sobre o outdoor, vou conversar com o setor de marketing da agência para ver o que colocaremos nesta propaganda de outdoor, mas fique tranqüila, vai ficar lindo - ele explicou. Despedi-me deles e fui embora. Cheguei em casa já era quase nove da noite, nem conversei com Frank. Tomei um banho e fui dormir, precisava descansar. O dia tinha sido longo demais.
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