Pov Lorena Duarte
Desde criança passei anos da minha vida dedicando todo meu tempo a observar cada detalhe dos muitos casamentos que via minha mãe organizar com alegria e empolgação. Ela era uma das melhores cerimonialistas que já vi, sempre tinha em sua agenda muitos eventos para organizar, sendo esses dos mais variados, mas o que realmente prendia minha atenção eram os casamentos. Ela fazia seu trabalho com tanta paixão, que me deixava enfeitiçada por tudo que via sendo produzido. Eu assistia tudo aquilo criando vida diante dos meus olhos e imaginava que os noivos estavam vivendo um verdadeiro conto de fadas. Aqueles lindos vestidos brancos, o tapete vermelho, o noivo impaciente e nervoso, enquanto esperava por sua amada no altar, os convidados emocionados, mas não tão emocionados quanto à noiva ao entrar e se deparar com seu amado, então vinha o momento mais mágico... Os dois se olhavam com emoção, um sorria para o outro, e compartilhavam um brilho no olhar do qual o significado podia ser compreendido apenas por eles.
Bom, eu não entendia nada do que de fato significava um casamento, mas de uma coisa eu tinha certeza: no meu casamento a festa seria linda. Teria muitas flores espalhadas por todos os lados. Meu vestido teria uma imensa cauda que seria arrastada pelo tapete vermelho, enquanto eu caminhava de encontro ao meu príncipe encantado. Eu estaria com uma linda tiara de brilhante sobre meu penteado, meu véu cobriria meu rosto e somente quando meu noivo fosse me beijar aí sim ele seria retirado pelas mãos do lindo rapaz com quem eu fosse passar o resto da minha vida. E principalmente, meu noivo iria admirar minha entrada sem sequer piscar os olhos, de tão encantado que ele estaria ao me ver ir ao seu encontro. Seria a nossa vez de nos olhar e compartilhar a sensação da felicidade que nos preencheria. Seus lábios desenhariam um lindo sorriso que logo seria retribuído por mim, seus olhos faiscariam de felicidade e ansiedade, e no final diríamos “sim” com a certeza do primeiro passado a um futuro lindo que estaria a nossa espera.
Foi assim que eu cresci idealizando meu casamento perfeito com o príncipe encantado que em algum momento nos encontraríamos. Seria tudo igual às lindas histórias da Disney, onde as princesas encontram seus príncipes e juntos vivem um “Felizes para sempre!”. O único problema é que eu tinha esquecido que contos de fadas não existem.
Tudo começou quando conheci Humberto pelos corredores da faculdade. Eu cursava medicina veterinária e ele cursava enfermagem. Assim que nossos olhos cruzaram me encantei com sua beleza e seu charme inquestionável. Humberto era pouco mais velho que eu, mas rapaz que se mostrava sempre muito educado e simpático, depois que trocamos as primeiras palavras não foi realmente uma tarefa difícil para ele me conquistar. Contudo, não senti as famosas borboletas no estômago, do qual por tantas vezes li e ouvi falar, porém ignorei esse fato importante e quando percebi ele já havia se tornado meu príncipe encantado.
Logo que formalizamos nosso namoro meus pais foram contra o relacionamento, minha mãe dizia que ele não era o homem que me faria feliz. Por sua vez, meu pai era categórico quando apenas dizia que não ia com a cara dele, e ponto final, eu que lutasse para entender sua falta de argumento. Meu irmão não costumava se meter na minha vida, mas sempre deixava claro que acabaria com Humberto, caso ele me fizesse sofrer, o que me fazia temer pelo meu namorado, afinal, Mário não era um garoto violento, ao contrário disso, ele era muito palhaço e tranquilo, mas era extremamente sem paciência e protetor quando minha felicidade era o assunto em questão.
O fato é que mesmo minha família sendo contra meu namoro, resolvi dar sequência à nossa relação. Eu estava completamente apaixonada por Humberto, ou pelo menos era isso que minha inexperiência me fez acreditar, afinal, eu me sentia feliz ao lado dele, e chegava a sentir uma leve sensação de proteção e acolhimento que me levou até uma zona de conforto absoluta. Não posso negar também que meu ego feminino chegou as alturas ao perceber que todas as garotas na faculdade pareciam sentir inveja de mim, quando eu passava pelos corredores de mãos dadas com o rapaz que era tão cobiçado.
Os anos foram passando e meus pais ao perceber que não tinha outra solução, tornaram-se mais maleáveis com a implicância que tinham com meu namorado, afinal, por mais que os dois apontassem Humberto como o cara errado, ele nunca tinha dado motivos que confirmassem as muitas teorias criadas diariamente com a intenção de nos afastar, ao contrário disso, ele respeitava até demais as regras estabelecidas, os horários estipulados, as opiniões jamais pedidas, enfim... Em resumo eu diria que Humberto era um verdadeiro puxa-saco dos meus pais.
Cinco anos haviam se passado, e se antes meu mundo ao lado do rapaz parecia azul como o céu, no presente as coisas andavam meio desbotadas como se o tempo nublado em nossa relação tivesse se tornado constante. Meu namoro com Humberto já não parecia o mesmo de antes, tão pouco permanecíamos com as chamas acessas como no início. Nós havíamos nos formamos, e nossa rotina havia mudado completamente, assim como nossas personalidades também. Nos tornamos não apenas pessoas ocupadas, mas também adultos mais maduros, profissionais sérios, e pessoas que defendiam seus pontos de vidas como se estivemos dispostos a duelar se necessário fosse. Brigas constantes começaram a surgir, a maioria delas por bobagens. Nós m*l trocávamos carinho, tão pouco nos tocávamos, ou seja, relações sexuais eram raras. A verdade, é que sempre era eu quem tinha que ter iniciativa para tudo naquela relação. Se brigávamos era eu quem tinha que pedir desculpas e buscar fazer as pazes, eu quem precisava dar sinais de que desejava uma noite de sexo... Eu, eu, eu... Sempre eu! E esse era um dos principais motivos das nossas brigas, pois já começava me sentir cansada do constante, para mim, não fazia sentido nenhum, aquela situação. Chegava a ser incomodo a forma machista como Humberto argumentava sua falta de atitude e demonstração de amor.
Contudo, não partiu de mim, o inesperado pedido de casamento, para ser bem sincera até fui pega de surpresa quando isso foi feito, afinal, fazia dois dias que nós tínhamos brigado feio. O motivo? Mais uma vez eu questionava sobre o distanciamento do meu namorado, que diga-se de passagem, estava ainda mais intenso que o normal. Eu sentia falta de atenção, carinho, companhia... Mas não esperava por aquele pedido, principalmente considerando a crise que estávamos vivendo em nossa relação. Contudo, em uma noite fria, Humberto chegou em meu apartamento sem avisar e me surpreendeu com o pedido de casamento mais inesperado. A princípio eu não acreditei, pensei que o pedido tratava-se de uma brincadeira ou coisa do tipo visto que meu namorado sabia o sonho que eu tinha por esse momento, e foi justamente por isso que logo fiquei séria... Humberto não brincaria com aquilo, ele sabia o quanto casamento era algo importante para mim. A sensação de felicidade entrou em conflito com as dúvidas... Eu estaria preparada para um passo tão grande em minha vida? Aliás, nós estávamos prontos para isso? Naquele momento minha relação não parecia estar tão estável como deveria. Então, mais uma vez o sonho falou mais alto, mais uma vez eu ignorei o óbvio, mais uma vez eu fechei os olhos e deixei o coração agir. Quis acreditar que talvez fosse isso que estivesse faltando para nós. Uma vida estável e conjunta. Na dúvida, eu deixei de pensar e ponderar, apenas me joguei nos braços do homem que esperava por uma resposta. Aceitei o pedido sem pensar duas vezes, afinal, eu o amava e não tinha porque pensar, não tinha porque negar. Tinha? Eu de fato o amava? Era o momento? Ele era minha pessoa? Não sei, como eu disse, não pensei a respeito.
De repente meu mundo tornou-se rosa, e nada mais parecia importar a não ser o caminho que me levaria ao sonho por tantas vezes idealizado, mas que logo seria realizado.
...
Finalmente o grande dia havia chegado. Na noite anterior do dia do meu casamento, eu tinha ido dormir na casa dos meus pais. Ainda eram seis horas da manhã e eu já estava de pé acordando todos da casa, o que obviamente me rendeu algumas broncas vindas do meu irmão, que em seguida jogou-se no sofá voltando a dormir. Meus pais pareciam estar em um verdadeiro estado de choque, enquanto me via andando de um lado para o outro com uma energia jamais vista pela manhã. Por que o espanto? Simples! Meu apelido na família e para amigos mais íntimos, era bebê preguiça, o que me encantava durante meu período infantil, já que eu não tinha consciência do quanto aquele apelido soava ridículo, mas que a essa altura da minha vida era um verdadeiro insulto, um motivo para me fazer passar vergonha, principalmente quando minha mãe me chamava assim na frente do meu noivo. Mas vamos aos fatos, eu sou do signo de peixes, ou seja, dormir é o que sei fazer de melhor nessa vida, para me, acordar cedo era um verdadeiro sacrifício, uma missão impossível para ser sincera.
Claro que tinha sido minha mãe a ficar responsável por organizar todo meu casamento, assim eu teria certeza que iria sair tudo do jeito que eu sempre sonhei. Me surpreendi quando Humberto negou-se a participar das decisões do nosso casamento, com o argumento que era um homem ocupado demais, e que aquele era o meu sonho, então nada mais justo que saísse como sempre desejei. Além de ser um trabalho para mulher, então se tudo acontecesse do jeito que eu sempre quis já o deixaria feliz.
Após longas horas de preparação, eu me olhava pela milésima vez no espelho m*l conseguindo acreditar na felicidade que estava sentindo por finalmente estar realizando meu sonho de infância. O vestido era lindo, todo bordado a mão, tinha algumas pedrinhas brilhantes que faiscavam com cada movimento que eu fazia, tinha também uma imensa cauda como sempre foi meu desejo. A maquiagem estava perfeita, o cabelo impecável... É, eu estava realmente linda.
– Então é isso mesmo? Sem risco de fugas? – Meu pai perguntou esperançoso quando escorou-se na porta do meu quarto.
– Papai, você é um homem impossível. – Brinquei com ele que sorrio sem humor. – Não percebe como estou feliz?
Ele caminhou em minha direção em passos curtos.
– Você está linda! – Segurou minhas mãos com carinho levando-as até os lábios para beijá-las com carinho. – Mas eu sou seu pai, então a esperança de não ter que entregar minha princesinha aquele lá, é a última que morre.
– Sem risco de fugas sr. Afonso. – Rimos juntos.
– Lorena, você tem certeza que é isso que deseja? – Dessa vez seu tom de voz tornou-se sério. – Tem certeza que esse rapaz é a pessoa certa? Que vocês estão prontos? Casamento é algo que deve ser levado a sério, é para sempre, filha, ou pelo menos deveria ser, mas vocês jovens tratam como uma casualidade.
– Eu o amo, papai.
Sempre acreditei nisso, mas às vezes acho que nunca me questionei os motivos que me fazia amá-lo. Meu coração estranhamente não palpitava descompensado como deveria palpitar ao dizer aquelas palavras, e por mais que eu quisesse explicar com mais detalhes, simplesmente não conseguia.
Vi meu pai baixar o olhar, mas depois de alguns segundos voltou a me olhar com carinho.
– Quero que se lembre que qualquer coisa que acontecer, você sempre terá para onde voltar. Você vai construir uma família e muitos problemas vão surgir, mas você jamais estará sozinha, minha filha.
– Eu sei papai. – Abracei meu pai que me apertou contra seu peito. – Eu te amo!
– Eu também, minha filha.
...
A limusine alugada pelo meu pai estacionou na frente da igreja e nesse instante meu coração acelerou. Minha mãe e meu irmão seguiram na frente como manda o ritual, Mário estaria no altar ocupando seu lugar de padrinho e minha mãe seguraria meu buquê assim que meu pai entregasse minha mão ao noivo. Ali fora, enquanto aguardava o momento da minha entrada, pela primeira vez me questionei se de fato estava pronta para realizar meu sonho, mas não tive muito tempo para encontrar respostas, pois logo aquela melodia típica de casamento real iniciou, os organizadores de eventos que trabalhavam na empresa da minha mãe corriam apressados de um lado para o outro como se estivesse prestes a acontecer um tornado, tudo tinha que sair impecável, mas não seria hoje, não seria ali, nem para mim.
Meu pai estendeu a mão para que eu segurasse e descesse do carro, nos posicionamos e então passei meu braço pelo dele. Juntos assistimos a porta da igreja abrir lentamente, meu pai suspirou derrotado, porém permaneceu firme em seu papel. Olhei brevemente para ele que não tinha uma expressão feliz. Aquela foi a primeira vez naquele dia que me senti destruída... Não era para o meu herói estar feliz por mim?
Assim que chegou o meu momento para desfilar pelo tapete vermelho uma sensação de ansiedade surgiu. Observei que a decoração da igreja estava linda, todos os convidados pareciam felizes por estarem ali, e eu me senti radiante quando vi Verônica na primeira fila me admirando com um sorriso sincero. Vero era minha melhor amiga desde a infância, foi uma tristeza quando ela precisou mudar de cidade para poder realizar seu sonho de dar aula na universidade federal de Minas Gerais, mas se aquele era o caminho da sua felicidade isso me bastava.
Estava tudo perfeito até que finalmente meus olhos percorreram para o altar onde meu noivo me aguardava, vestindo um belo terno preto com a tradicional gravata borboleta. Fazia dois dias que eu não via ou tinha noticias dele, imaginei que ele também estava correndo para organizar suas próprias coisas em relação ao casamento, mas agora Humberto estava ali a minha espera, mas ao contrário do que sempre sonhei ele não sorriu ao me ver entrando e caminhando em sua direção. Sua expressão era gélida, seus olhos não faiscavam de encantamento, ele não parecia feliz, porém estava nervoso, mas nem de longe ansioso. Pela segunda vez naquele dia a tristeza golpeava meu coração. Senti uma imensa vontade de chorar invadir meu peito, um nó formou-se em minha garganta e isso piorou ainda mais quando busquei minha mãe e meu irmão com os olhos, mas também não encontrei felicidade em nenhum deles, ao contrário disso, o sentimento de reprovação era gritante nos olhos de ambos. Ninguém parecia feliz com meu casamento, nem mesmo eu me sentia feliz como deveria estar. De repente, o sonho estava aos poucos tornando-se pesadelo.
O caminho até o altar era curto, mas para mim, tornou-se uma eternidade. Quando finalmente chegamos lá meu coração quase parou com o golpe que veio em seguida. Humberto não me recebeu com a alegria que sempre sonhei, ele apenas cumprimentou meu pai sem animo, e virou-se para o padre que celebraria o casamento.
O padre falava e eu não prestava atenção em nenhuma palavra que era dita. Tudo o que se passava em minha cabeça, era a lástima que estava sendo não ver ninguém feliz com aquela união. Droga, era o meu sonho e nem eu mesma conseguia me sentir feliz depois de ver que todos ali pareciam mais estar em um enterro.
– Se existe alguém aqui presente que seja contra esse casamento que fale agora ou cale-se para sempre.
Eu queria entupir a boca do padre com as pétalas do meu buquê para impedi-lo de fazer aquela pergunta desnecessária. Claro que não teria ninguém ali que teria a ousadia de interromper meu casamento, por mim, o padre até teria pulado aquela parte, afinal, nas novelas aquela pergunta é sempre algo que costuma dar errado para as mocinhas... E de fato deu!
– Eu!
Olhei bestificada para Humberto.
– Querido, o padre não referiu-se a você. Você é o noivo.
É eu sei, eu sempre fui meio lerda, ou talvez eu só achava mais fácil fugir de momentos complicados agindo como tal.
– Me desculpe Lorena. – Ele estava nervoso, tremulo, porém convicto. – Eu simplesmente não posso dar sequência a isso. Não posso mais casar com você, não posso seguir adiante. – Apesar de demonstrar tristeza na voz a expressão de Humberto não apresentava nem um pingo de remorso com o que estava fazendo. Ouvi aquele sonoro “ôoooooooo” por parte dos convidados que já davam início a burburinhos dos infernos. – Eu sei que cheguei a essa conclusão meio tarde. Eu realmente deveria ter parado com antes, mas não sabia como fazer sem magoá-la. – Alguém deveria dizer a esse infeliz que ele estava fazendo mais que isso naquele momento, ele estava me quebrando por inteira. – A verdade é que existiu outra mulher. No início não era nada sério, mas nós dois fomos nos perdendo e quando percebi ela já estava em minha vida. Porém quando te pedi em casamento foi com a intenção de reparar meu erro com você, porque te olhar me fazia sentir culpa, mas ontem eu descobri que ela estava grávida. – A essa altura meus olhos já estavam em lágrimas. – Perdoe-me, Lorena. Mas eu não posso abandonar meu filho.
Ouvi novamente aquele “ôoooooooo” insuportável, deixando claro o quanto todos ali presentes pareciam eufóricos. Ao contrário da minha família, a de Humberto não demonstrava surpresa com o que ouviram, E eu? Bem, estava chocada e paralisada. Por sua vez, o padre parecia um tremendo fofoqueiro, pois sua reação era digna daquelas vizinhas que passam o dia na calçada ouvindo fofoca para repassar mais tarde de uma forma completamente desproporcional ao que ouviu, mas quando Humberto terminou de falar, vi o velho fazer o sinal da cruz, enquanto tinha os olhos mais arregalados do que o meu, parecia até que ele era a noiva que estava sendo abandonada no altar, e não o padre que celebrava o casamento.
Ao contrário do que era esperado, eu não consegui formular nenhuma palavra. Estava desnorteada demais para saber o que dizer, apesar de mentalmente xingar Humberto com todas as ofensas já inventadas. No entanto, quem tinha Mário como irmão não precisava fazer nada a respeito. Meu irmão segurou Humberto pelo terno e não pensou duas vezes em causar um verdadeiro fuzuê ali mesmo dentro da igreja. Mário golpeou meu noivo, ou melhor, ex noivo, com socos muito bem aplicados. Pisquei incontáveis vezes quando vi o outro rodar e perder o equilíbrio antes de cair ali mesmo diante do altar onde deveríamos estar trocando alianças.
– Eu vou te matar seu desgraçado.
Ouvi Mário falando antes de jogar-se em cima de Humberto, desferindo socos em seu rosto.
– Pelo amor de Deus moleque, essa não foi à educação que lhe dei. Você está dentro da igreja. – Pelo menos minha mãe parecia sensata. – Leve esse infeliz para fora e mata ele lá.
Ok, esquece a parte “sensata”.
– Te dou mil conto se você der uma boa surra nesse filho da mãe.
Certo, meu pai também não era sensato, mas isso não me surpreendia, eu sempre desconfiei que ele nutrisse aquele desejo durante anos.
O casamento dos meus sonhos transformou-se no meu pior pesadelo. As lágrimas escorriam pelo meu rosto e eu não sabia como contê-las, eu sequer sabia como correr para longe dali, meus pés pareciam que tinham sido pregados ali no altar que tinha virado um ringue de mma, meu mundo perdeu a cor, agora tudo estava cinza.
– Vem comigo! Vamos sair daqui.
Ouvi a voz de Verônica soar em meu ouvido como nos velhos tempos ela fazia depois de me defender dos bully que sofria na escola quando eu ainda era uma criança considerada horrenda e estranha, pelo o simples fato de usar aparelho e preferir jogar xadrez do que suar durante as aulas de educação física, mas cara, ninguém podia me julgar, eu era o tipo de criança que tropeçava nos próprios pés, como conseguiria jogar queimada? De qualquer forma, assim como no passado, no presente também entre lágrimas e soluços, me deixei ser levada para qualquer lugar, não importava para onde iriamos contando que fosse para longe daquela igreja.