Dia 1

2166 Words
Eu estava impaciente. Os meus olhos foram até o meu relógio de pulso pela décima vez. O sinal para o início das aulas iria tocar em cinco minutos e eu ainda estava ao lado de fora, bem longe de onde eu deveria realmente estar. Cadê Dean? Essa pergunta continua passando pela minha mente. Não pela primeira vez, comecei a questionar a minha escolha. Era muito tarde para desistir? Com certeza. Eu não iria dar para trás, Dean nunca me deixaria em paz se eu fizesse isso. A moto dele finalmente aparece no meu campo de visão. Solto um suspiro de alívio e espero até que ele estacione para correr ao seu encontro. — Você está atrasado! — começo dizendo, antes mesmo que o garoto desça da moto. — Vamos, Dean! Ele me lança um olhar entediado e balança a cabeça. Os seus olhos reviram enquanto Dean desce da moto o mais lento que consegue. Eu juro que ele está fazendo de propósito! — Bom dia para você também. — Nós dois estamos atrasados! — o sinal finalmente toca. — viu, só? — Eu não ligo de me atrasar. Não é o fim do mundo. — Mas eu ligo! — Então vá para a sala, ué. O que você ainda está fazendo aqui? Eu paraliso. Eu não acredito que Dean está prestes a me deixar na mão. Nós fizemos uma promessa de mindinho! — Você esqueceu do nosso... — Não esqueci de nada, Gabriella. Relaxa um pouco. Você vai ter rugas cedo com toda essa tensão. Levei a mão institivamente a testa, onde eu sabia que estava franzido. Rugas? Ele estava jogando uma praga em mim? Dean riu baixinho. — Você é um pouco pilhada, garota. — Ora... você está fazendo perguntas idiotas. O que acha que eu estou fazendo aqui? — Como eu vou saber? O meu melhor palpite é que está tentando perturbar a minha manhã. — Dean! — sibilei entredentes — Você quer fazer o favor de colaborar? — Eu não sei o que estou fazendo de errado. — ele agarrou a sua mochila e pendurou no ombro. — Quer dizer, eu literalmente acabei de chegar. Eu não entendo como posso não estar colaborando quando topei fingir ser o seu namorado. Dá para colaborar mais do que isso? — Bom, você pode chegar na hora. — Lá vem você com essa coisa de hora de novo. O que o nosso “relacionamento” tem a ver com você montando guarda no portão da escola? Honestamente, se você fosse a minha namorada de verdade, eu poderia ficar um pouco assustado. Eu decido que vou ignorar os comentários dele. — Nós temos que entrar juntos na escola. As pessoas precisam nos ver juntos. — Ninguém vai ver a gente agora, gênio. Todo mundo já está na sala. Ele não deixava de estar certo. Mas não é como se a culpa não fosse dele. — Isso é porque você chegou tarde! Ele suspira e coloca a mão na cabeça. É como se eu lhe causasse alguma dor física. Inacreditável! — Você pode ficar quieta um pouco? Ainda não deu nem oito horas da manhã. — Eu só quero acertas as coisas. Ninguém pode desconfiar. Na hora do intervalo, vou te encontrar na sua sala. Qual delas é? Eu sei qual é a sua sala, mas jamais admitiria que agi como uma stalker esquisita. — Não sou eu que deveria te buscar na sala? — Por que você é o homem? Que coisa machista. — Eu não sou machista. Ele podia estar ofendido. Mas eu não tinha muita certeza, a sua expressão era a de alguém com sono mais do que qualquer coisa. — Qual é a sua sala? — insisti. — 302 A — ele revirou os olhos. — Chata. — Ótimo. — respondo alegremente, nada abalada com o seu comentário. — eu te encontro lá. — Tanto faz. Depois disso, o silêncio toma lugar entre nós. Dean e eu caminhamos lado a lado para dentro da escola e nos separamos no corredor. Ele apenas balança a cabeça para mim antes de me dar as costas. * Quando o sinal do fim da aula tocou, praticamente voei da cadeira. Antes que eu pudesse escapar, porém, a minha melhor amiga, Clarke, estava me olhando desconfiada. — O que você está aprontando, Bibi? — Eu? O que? Nada! — Você ficou agitada a manhã toda. O que tá pegando? — Nada. Não tem nada pegando. Absolutamente nada. Não seja paranoica. — Bom... você sabe que eu sei que está mentido, não é? Mas vou deixar passar por enquanto porque preciso colocar alguma comida na minha boca.   — Eu... eu tenho que fazer uma...coisa. Pode ir na frente. Os seus olhos desconfiados se tornam acusatórios. — Você está tentando me dispensar? — É claro que não. Eu só preciso...hum, ir ao banheiro. Eu já te encontro. — Você não vai escapar dessa. Assim que eu estiver devidamente alimentada, nós duas vamos conversar sobre isso. Ela me lança um último olhar antes de marchar para fora da sala. Eu não sou uma boa mentirosa. Isso não vai dar certo. Ok. Sem pânico. Eu consigo fazer isso. Mais tarde vou pensar em uma desculpa perfeitamente aceitável para dar a Clarke, agora eu preciso encontrar Dean. Eu ando apressada até a sua sala e felizmente tenho um timing perfeito com o professor de Dean porque a porta abre assim que alcanço o corredor. Ele não sai imediatamente e eu balanço os pés inquieta. Quando finalmente cruza a porta, ele não está sozinho. Outros garotos que eu sei que também jogam no time estão ao seu redor. Dean me vê e seus ombros caem um pouco. Ele fala algo para os seus amigos e vem até mim. — Oi para você. — Oi. E aí está pronto? — Hum... não. Foi m*l. Na verdade, vou precisar furar com você. — O que? Você prometeu que ia ajudar. — Sim, e eu vou. Não começa a surtar, ok? — eu queria socar a cara dele. — Eu só não posso ir desfilar com você no refeitório agora. O treinador me convocou para uma reunião. — Ok... acho que não posso argumentar com isso. Mas é uma dr*ga, o que eu faço? — Vai comer. Eu vou dispensar o treinador o mais rápido que eu puder. Ele já está me dando as costas antes de terminar de falar. — Mas Dean, a gente precisa conversar para inventar a nossa história. — Eu vou deixar essa parte com você. Seja criativa. Me mande uma mensagem contando o que criou. Tchau. — Eu não tenho o seu número. Eu digo para o nada porque ele já se foi. * Eu conseguia sentir o olhar de Ben em mim. Ele estava sentado à duas mesas de distância, cercado por amigos e algumas garotas. Embora as pessoas na sua mesa estivessem conversando, ele continuava apenas a me olhar. Eu estava fazendo o meu melhor para ignorar. — Eu e o Ryan brigamos. Clarke despeja entre uma batata frita e outra. Ela e Ryan brigavam sempre então eu não fico muito impressionada. — O que aconteceu? — Amanhã a gente faz seis meses de namoro e queremos sair para comer alguma coisa. Para comemorar. — Parece divertido. — Sim, mas eu quero comida chinesa e ele quer mexicana! Outra coisa sobre Ryan e Clarke, eles estão sempre brigando e as brigas não fazem o menor sentido. — Vocês brigaram por comida? — Comida é importante, Bibi. Isso me faz rir. — Por que vocês não esquecem o restaurante e planejam uma coisa mais intima na casa de um de vocês? Então, vocês podem pedir a comida e cada um come o que quer. O rosto bonito da minha melhor amiga se ilumina. — Você é um gênio! Eu vou agora mesmo dizer isso para ele. Ela se levanta da mesa imediatamente. Ryan está sentado com os amigos, mas se afasta deles assim que vê a namorada. Ele não hesita um único segundo antes de segui-la. Eu sei o que vem a seguir, eles vão procurar algum lugar longe dos olhos dos professores para “fazerem as pazes”. Eu não posso deixar de sorrir vendo os dois. Acho que se encaixam perfeitamente. Distraída olhando para o casal, sou pega desprevenida quando Ben se senta na minha frente. — Oi, Gabi. — Hum, oi. — Como você está? — Ótima. — Isso é bom... Eu estava pensando... será que a gente pode se encontrar qualquer dia? Para conversar? — Não. — Gabi, não faz isso. Eu só quero falar... por favor. Pelos velhos tempos. Ben coloca a sua mão sobre a minha. Eu olho para ele e tento focar em todos os motivos que eu tenho ara odiá-lo. Não é tão simples. Parece obvio para a maioria das pessoas, certamente é para Dean. Ele me traiu então eu não devo querê-lo de volta. Mas nós tivemos coisas boas. Muitas delas. O meu coração já esteve louco por ele. — Por favor, Gabi. Eu sinto a sua falta. A minha convicção vacila por um momento. Mas antes que isso vá longe demais, a cadeira ao meu lado é puxada e um braço pousa ao meu redor. — Oi, linda. Desculpa a demora. Sabe como é o treinador, né? Ah... oi, Ben. Aquela proximidade toda estava me deixando tensa. O meu estomago faz essa coisa engraçada de dar uma cambalhota. É claro que não é Dean que está me causando isso, só estou nervosa com a mentira. Ben parecia em choque. Os seus olhos estão se alternando entre nós dois. — O que é isso? Dean estava perfeitamente calmo. Ele pegou uma batata do meu prato e bebeu um gole do meu suco, como se fizéssemos isso sempre. Como se fossemos íntimos. Eu, por outro lado, estava paralisada. — Isso o que, Ben? Acho que a pergunta deveria partir de mim, por que está aqui perturbando a minha namorada? Se os olhos de Ben se abrissem mais um pouquinho iriam saltar do seu rosto. — Namorada? Vocês dois estão namorando? Desde quando? — Desde ontem. — isso não faz sentido. — Sabe o que não faz sentido? Você estar segurando a mão da minha namorada. Eu e Ben olhamos para as nossas mãos ao mesmo tempo. Acho que nós dois estamos tão envolvidos nessa situação, por razões diferentes, que esquecemos disso. Eu puxo a minha. — Como isso aconteceu? Dr*ga! Eu sabia que tínhamos que ter inventado alguma coisa. Dean não se abala. — A gente não te deve explicações. Agora, se você fizer o favor de sair da mesa. Os dois se encaram e eu continuo em silencio porque sei que isso não tem nada a ver comigo agora. É esse lance entre eles. Ben levanta, o olhar ainda preso em Dean, mas é comigo que ele fala. — A gente conversa outra hora, Gabi. — Que babac*. Dean fala quando ele se vira. Ele não diz em voz baixa e imagino que Ben tenha escutado, mas ele não se volta para nós de novo. — Isso foi... estranho. Dean tira o braço do meu ombro. — Isso não vai dar certo se você agir assim todas as vezes. Ele rouba mais uma batata. — Assim como? — Você ficou completamente calada. Isso não é normal. Porque você sabe, você fala como uma vitrola. Eu puxo o meu copo antes que ele o pegue. — Você não precisa ser grosso. — Eu não estava sendo. Reviro os olhos. Talvez ele tenha dificuldade em agir com educação. — Que seja. Eu e você precisamos combinar isso direito. Antes que a gente dê furo com alguém. Quer passar lá em casa mais tarde? Ele sorri. — Olha só, a primeira visita a casa da minha namorada. É uma data importante. — Me leva a sério. — Tá, tanto faz. Posso passar lá. — ótimo! Eu vou estar na sala 102B na hora da saída. Vá me buscar na porta. Um namorado me acompanharia até o ponto de ônibus, não é? — Não. Um namorado te levaria para casa. — Eu não quero andar de moto com você. Ele franze a testa. — Por que não? — Porque não. — Tá, tanto faz. — A gente se vê mais tarde? — Uhum, tanto faz. Me dê paciência! — Vou esperar você aparecer na sala. — Tanto... — Se você disser tanto faz de novo, eu juro que passo com um carro por cima de você. — Você não dirige. — Farei questão de aprender só para te atropelar. Dean faz aquilo de novo. Ele joga a cabeça para trás e rir. Detesto admitir, mas ele fica bonito fazendo isso. Mais do que ele já é normalmente. — Não precisa arriscar ir para a cadeia, eu vou aparecer. Ele levanta da cadeira e estende a mão para mim. Eu lembro que estamos no refeitório cercados de gente. Pego a sua mão. O show tem que continuar  
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