CAPÍTULO 05

880 Words
|SETH DONSON| - AGORA - Sem dormir a noite inteira com a cabeça rodando em círculos, tento entender o motivo de Breeze ter aparecido quando eu menos esperava, e não posso ficar na cama justamente quando meu corpo me vence de cansaço e implora por um descanso. Hoje é o dia em que mais preciso estar presente na Willou Glen High School e mesmo com fundas olheiras e cabeça latejando em uma enxaqueca aguda, tomo meu banho habitual, tiro a barba e saio do banheiro vinte minutos depois, cheirando a sabonete líquido e loção pós-barba. Escolho uma camisa azul bebê, que combina com minha calça social azul-marinho, coloco o cinto de couro preto e os sapatos. No escritório, pego a bolsa transversal que Dess acha a coisa mais brega do mundo e desço as escadas abotoando os pulsos da camisa. Dess já está terminando o café e ao me ver, se levanta rapidamente e vai para a garagem onde eu a encontro no banco do passageiro da Volvo preta. — Qual o nome da pessoa que te chamou para ir, seja lá para onde você tenha ido ontem? — pergunto, sem conseguir me conter pelo que houve a noite passada. Em Willou Glen ninguém quebra regras, exceto um grupinho e eu sei muito bem o nome dele. — Pai! — Dess resmunga como se quisesse dizer que não precisa disso tudo. — Conheceu um garoto? Eu quero o nome dele. — Dou uma breve olhada para ela que revira os olhos. — Não revire os olhos, me dê logo o nome e talvez eu até pense em menos dias de suspensão para ele. — Você não pode fazer isso, não aconteceu no colégio — Dess retruca. — Eu só quero saber o nome do cara que está chamando minha filha para sair. Minha filha de 13 anos. Uma criança — friso. — Por favor, pai. Sabe o que vão falar de mim? Ninguém vai me querer por perto, porque eu sou a droga da sua filha — ela choraminga num pedido, mas não vou ceder, se é o que ela pensa. — E sabe o que vão falar de mim? Que você está andando com quem não deveria, indo a lugares em Willou Glen que não deveria, e eu não posso deixar isso acontecer, porque você é minha filha — rebato. — Vamos, me dê o nome ou corto sua mesada pelo resto do ano e talvez assim você dê valor, quando precisar trabalhar para bancar suas fugidinhas enquanto eu durmo achando que você está segura na sua cama! Dess sai pela porta, assim que estaciono o carro, apressando os passos para o mais longe possível. — Dess! — chamo, mas ela coloca os fones de ouvido me ignorando. Soco o volante e encosto a testa nele tentando acalmar a respiração. Essa fase chegou rápido demais. Achei que teria tempo suficiente para me preparar e lidar com ela quando chegasse à adolescência, mas o tempo passou, Dess cresceu e me odeia. Venho tentando fazer de tudo para me aproximar, protegê-la, mas parece que sou a última pessoa do mundo que ela quer por perto. Dess está sempre na defensiva e é completamente fechada comigo. Após manobrar o carro em minha vaga reservada, caminho para dentro do portão que liga ao corredor da sala dos professores. Chegando quinze minutos antes do horário, vou até à sala que fica ao lado da minha, para me certificar se tudo está no lugar. Tínhamos uma orientadora como todo o colégio tem, mas uma Psicóloga Criminal vindo diretamente do FBI, é algo que nunca vi acontecer antes. No cenário em que estamos, depois do suicídio de uma aluna em pleno ambiente escolar, o conselho sugeriu, a pedido do Prefeito, que eu trouxesse uma para acompanhar a jornada dos alunos e investigar o caso mais a fundo. Recebi a indicação da melhor que havia na Divisão de Homicídios do FBI. Ainda me sinto nervoso pela chegada dela, sem saber ao certo como ela irá trabalhar. Jamais passou pela minha cabeça o suicídio ter sido um assassinato, levando o colégio para os holofotes de todo o estado do Colorado, porque nada acontece em Willou Glen, e agora o nada havia se tornado tudo em volta dos portões desse lugar. Ela estava sendo ameaçada? Estava envolvida com pessoas da pesada? Com dívidas de drogas? Tinha problemas em casa? Ela andava com quem? O que sabiam sobre ela? Eu não sabia nada sobre Emery Tisdale, só o que comentavam aqui ou ali, e pelo que parece, a família também não sabia muito sobre ela, porque quando Emery se matou naquele banheiro, todos os dedos apontaram para dentro do colégio. Volto para minha sala e encosto a porta, soltando um longo suspiro. Dess Donson começou a dar problema e essa não é nem a ponta do iceberg no qual eu estou prestes a bater, penso assim que duas batidas me trazem de volta. Abro a porta e dou de cara com a última pessoa que queria ver nesse momento. Breeze Wills. É como se eu retornasse há treze anos. Nos mesmos corredores, no mesmo colégio, na mesma cidade. Breeze bem à minha frente após treze anos. Só que agora, é tarde demais para eu me sentir feliz com isso.
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