Zoe estava sentada, rezando em silêncio, quando Dulce entrou apressada.
— Suas amigas estão no portão, Zoe… venha, venha.
— Dulce… — Zoe ergueu os olhos, no fundo sabia que a decisão estava tomada, mas ainda precisa firmar sua cabeça... Era uma mudança gingatesca, mas a madre tinha razão, não podia mais mentir para ele e para Deus, seria um pecado ainda maior.
— Venha, quero conhecê-las.
Zoe se levantou, ajeitou o vestido recatado que usava e caminhou ao lado da irmã até o portão. Assim que abriu, lançou-se nos braços de Corine e Estela, abraçando-as com força, sentia tanta falta da fazenda e de Severus, dos olhos dele . era como sentir saudade de alguém que a completava, mas era tudo tão recente que ainda sentia medo.
— Severus passou a noite gritando o seu nome — disse Corine. — Ele praticamente não fala nem mesmo com os irmãos, mas gritava o seu nome…não vai mais vê-lo?
Zoe levou a mão ao coração, doeu saber que ele gritava por ela.
— Estou pensando, Corine. Estou pensando. Se eu for… fico por lá de vez. Porque a madre disse que preciso tomar uma decisão.
— Então tome, Zoe… tome. — A voz de Estela soava como um chamado.
Dulce foi apresentada a Corine e Estela, e logo se apressou em falar:
— Podiam arrumar um quarto para mim também. Zoe disse que, se ela for, me leva com ela. Mas eu não quero mais ficar aqui. Não quero. Quero conhecer o mundo lá fora, ter uma família. Só estou aqui porque meu pai me obrigou.
Corine olhou para Dulce com espanto e tristeza. Nos olhos da jovem se via a mágoa, e a pergunta que queimava: como um pai podia obrigar uma filha a se fechar num convento? Como?
— Arrumamos um lugar para você na fazenda, Dulce — respondeu Estela — Se a madre superiora questionar, conversaremos com ela, ela pode ir até lá conhecer também.
— Não… ela vai notificar a minha família, mas não vai me impedir. A atual madre é boa, muito boa, bem diferente da última. A última era…
Zoe rapidamente tapou a boca de Dulce.
— Não fale isso, Dulce. Deixe que ela acerte as contas dela com Deus.
— Mas eu só ia dizer que a última madre era muito brava… — tentou disfarçar, mesmo que no fundo quisesse dizer outra coisa: era o próprio demô.nio e sempre morreu de medo dela, sempre.
— Saia daqui, Dulce. — Estela a segurou pelos ombros. — Pode sair que abrigo, você vai ter..
Dulce não conteve a emoção e abraçou Estela e Corine novamente.
Zoe, então, tirou o lenço que usava no cabelo e o entregou a Corine.
— Entregue a Severus. Diga a ele que eu vou… só preciso me despedir deste lugar. Não posso continuar vivendo em dúvida.
— Vamos dizer, Zoe — respondeu Estela. — E voltaremos para buscar você.
Dulce sorriu, esperançosa, enquanto Zoe observava o portão as amigas partindo, sentindo que sua escolha estava prestes a se tornar definitiva.
— Tem homens solteiros na fazenda, Zoe? — perguntou de repente.
— Dulce… — Zoe olhou para ela, surpresa com a pergunta.
— Quero ser mãe. Não quero viver meus dias presa nesse lugar, sem poder sair para um almoço, um cinema, ver gente… ser abraçada por um homem, ser beijada e tocada.
A voz dela tremeu.
— Meu pai disse que minha vida era ser a esposa de Cristo. Mas eu nunca quis ser a esposa de Cristo. Quero ser a esposa de um homem de carne e osso.
Dulce parecia uma menina, e ao mesmo tempo uma mulher sufocada por anos de imposição.
__ Vamos embora, Dulce, logo, logo.. Vamos embora..
Dulce sorriu, o que mais queria era sair dali, assim como Nicole saiu..