Zoe
Zoe estava debruçada sobre a janela do convento. O vidro frio tocava sua pele, enquanto o pátio lá embaixo parecia mais silencioso do que nunca, sempre havia gostado do silêncio e da paz do convento, mas agora, agora parecia tão triste aqueles muros, tão triste.
A nova madre superiora entrou sem fazer barulho. A batina clara, recém-passada, contrastava com o peso de seu olhar.
— Anda distante, Zoe… estou preocupada com você.
— Estou bem, madre — respondeu a jovem, com a voz baixa. — Eu só
___… Está em dúvida.
A madre se aproximou um pouco mais.
— E quando se tem dúvida é porque não se tem certeza de nada.. São as idas à Fazenda Parque Serrano, não é? Eu não devia ter permitido que você fosse.
— São, madre. São. — Zoe respirou fundo. — Seria um pecado enorme se eu mentisse para a senhora.
A madre curzou os braços , mas suavizou a expressão.
— Eu sei…
Zoe apertou os dedos no parapeito.
— Estela esteve aqui na porta com Corine, mas eu disse que era melhor irem embora. Que elas estavam atrapalhando a sua vocação como freira.
— O que disseram?
— Que Severus chama por você minha filha.. — Zoe levou a mão ao coração, como se as palavras pesassem ali, mas doeu nela, queria muito vê-lo.. mas ela era uma freira, e ele o homem que os soldados chamavam de a best@ fera, mas ao mesmo tempo que tinha medo dele, tinha um carinho tão grande.
A madre respirou fundo, controlando a própria expressão.
— Eu, como sua superiora, como madre deste lugar, devo encaminhar você para sua vocação de freira. Mas nem eu posso fingir que não vejo o seu olhar pesado em direção ao portão, que não vejo você suspirando como se sentisse dor, não posso..
Zoe baixou os olhos, sentindo as palavras caírem sobre ela como chuva fria em noite de inverno.
— Não vá hoje. Pense no que quer, minha filha. Porque Deus não quer ninguém servindo a Ele com o corpo ausente, mas sim de pé, inteira. Pense, reze, e então decida se vai até a fazenda ou se fica.
A madre deu um passo para trás, como se desse espaço à decisão da jovem.
— Mas se for, Zoe… vá com sua mala.
Zoe ergueu os olhos, assustada.
— Está me mandando embora, madre?
— Não, minha filha. — A madre sorriu com doçura, mas a voz saiu firme. — Estou ordenando que você faça aquilo que o seu coração tem vontade e não tem coragem de fazer, tem uma semana para se decidir, uma semana, e se decidir continuar como freira, vou pedir que transfiram você para outro estado, um estado bem longe..
A madre saiu e Zoe foi se sentar lá fora. O sol do fim da tarde caía sobre o jardim silencioso do convento. Ela se sentou em um dos bancos de madeira, os dedos nervosos entrelaçados no colo.
A irmã Dulce veio logo depois, sentando-se ao lado dela.
— Está pensativa.
— Estou… estou decidindo — respondeu Zoe, olhando para o chão.
— Vai embora, Zoe?
— Não sei, não sei ainda… — Zoe suspirou.
Dulce olhou para o horizonte, depois voltou os olhos para Zoe.
— Se for, me leva com você, Zoe. Me leva?
Zoe virou o rosto para ela, surpresa.
— Dulce…
— Eu nunca quis ser freira — disse Dulce, baixinho. — Mas meu pai é católico fervoroso, praticamente me obrigou. Ou eu vinha para o convento ou ia morar com minha avó no interior… e minha avó… morro de medo dela até hoje, era muito rígida.
Zoe estendeu a mão e tocou os dedos de Dulce.
— Eu levo. Se eu for, eu levo você. Te levo para a fazenda ou para o apartamento que minha amiga Nicole tem..Mas vou pensar primeiro, Dulce. Não posso decidir assim.
Dulce a olhou..
— Como é a fazenda, Zoe?
Zoe ergueu os olhos, um brilho diferente surgindo.
— A fazenda é bonita, Dulce. Muito bonita. Tem crianças, tem animais… e tem Severus, ele está lá... e eu..
— É um nome estranho, Zoe — murmurou Dulce.
— É isso… ele também é estranho. Mas eu… — Zoe hesitou.
— Gosta dele? — perguntou Dulce, sem rodeios.
— Acho… acho que sim — respondeu Zoe, a voz quase um sussurro. — Preciso pensar, Dulce. Estou morrendo de saudade da fazenda. Tenho amigos lá, minha amiga Olena já teve o bebê que esperava e eu não fui visitá-la…
Zoe respirou fundo, quase num soluço.
A irmã Dulce respirou fundo antes de falar:
— Sua mente está lá fora, Zoe… assim como a minha está fora dessa vocação. Não vamos ser felizes aqui dentro. Eu nunca saí porque não tenho para onde ir. Meu pai não me recebe em casa se eu não for freira, proibiu os outros familiares de me abrigarem. Eu não tenho pessoa alguma.
Os olhos de Dulce ficaram vermelhos, se esforçava para não chorar.
— Mas eu sempre quis, de verdade, me casar. Ter um bom marido, filhos, crianças correndo. Isso também é vocação, não é? Ser feliz com uma família. Acho que estas paredes são frias… frias demais. Eu quero ir embora daqui.
Zoe não conseguiu responder de imediato. Apenas estendeu os braços e abraçou Dulce. As duas se apertaram forte, até que as lágrimas vieram, silenciosas, e acabaram chorando juntas.