Amanhecer Melancólico

1748 Words
Como você bem sabe, estamos na França, Paris. Nossa trama se passa numa importante cidade europeia e quiçá, do Mundo. Paris também é um centro mundial da arte, moda, gastronomia e cultura. Sua paisagem urbana do século XIX é cortada por avenidas largas e pelo rio Sena. A cidade é conhecida por monumentos como a Torre Eiffel e a Catedral de Notre-Dame, uma construção gótica do século XII, sendo famosa também pela cultura dos cafés e por lojas de estilistas famosos na Rue du Faubourg Saint-Honoré. Se onde você mora, tem muita coisa para se fazer, imagina aqui? O inverno em Paris costuma ser bem frio e pode até nevar, contudo, temos chuvas cada vez menos frequentes que na primavera. Outro detalhe importante é que os dias são bem mais curtos nessa época. Amanhece mais tarde e escurece mais cedo, aqui, cinco horas da tarde já está noite. Quero abordar esse ponto importante pra dizer que não importa os jardins suspensos parisienses que você pode visitar e notar, pois se os seus jardins internos não estiverem em sintonia, de nada adianta. E para Franchesca e Marcel, infelizmente, todo o dia é noite! — Pelo menos você se divertiu pela manhã, não? — brigou Marcel enquanto se abaixava e pegava o consolo. — Vejo que eu não fui a única, não é mesmo? — rebateu Franchesca enquanto segurava o m****o de seu marido. A torta de climão do capítulo passado começava a ser servida na manhã melancólica de hoje. — Na minha cabeça, você não fala muito e não reclama quando eu quero dar uns tapinhas. — Não ligo para isso, pois nos meus pensamentos, você é mais bonito e ele também é maior. — Ao menos você pensa em mim, não? — confrontou ele. — E quem me garante que você faz o mesmo? — afrontou ela. O peso do relacionamento estagnado começa a bater na porta dos pensamentos de ambos. Franchesca recolheu suas coisas e foi para o quarto se trocar enquanto Marcel pegou a toalha e voltou para o banheiro, a fim de se aprontar para o trabalho. Pensamentos vazios, mas cheios de questionamentos afloram cérebro adentro quando menos nós queremos. “Mente vazia é a oficina do d***o”, e isso todos nós sabemos. Ver a contrastante realidade do casal de vizinhos mais novos e bem sucedidos na frente do apartamento naquele jantar, realmente os influenciou da pior maneira possível. “Se eu fosse solteira, poderia morar num lugar menos e mais barato com o pouco que ganho”. — imaginou Franchesca. “Se eu estivesse só, nada disso estaria acontecendo, dormiria com quem eu quisesse e levaria uma vida mais tranquila”. — imaginou Marcel. Em pouco tempo Franchesca se arrumou e fez aquela tradicional mesa de café que mencionei anteriormente, além de acordar as crianças e tomar para si todos os seus afazeres. O casal, m*l se olhou nos olhos, pois no exato momento em que Franchesca saiu do quarto, Marcel entrou para se arrumar. Na mesma hora em que ela notou que ele estava pronto, foi para a louça, fingir lavar alguma coisa enquanto ele aparecia na mesa para apanhar uma coisa ou outra para comer. É bem óbvio que o casal da frente não é o principal causador dessa briga, pois bem antes que qualquer crise matrimonial se manifeste, surgem alguns sinais de que algo não está bem na relação, colocando em alerta o casal em questão. Aborrecimentos, desentendimentos frequentes, discussões por pouca coisa, brigas, falta de contato físico, falta de alegria em casa são apenas alguns sinais de que há algo errado e que uma crise pode estar próxima. Os vizinhos da frente foram apenas o estopim para algo que já vinha sendo anunciado à muito tempo. Ao contrário do que muitos especialistas dizem, o m*l do século é a falta de diálogo. Nossas vidas se tornaram tão rápida e automáticas, conseguimos tantas coisas como carinho e atenção por de trás da tela de um smartphone que por muitas vezes nos esquecemos do ser humano real que convivemos. Se isso para os jovens de hoje é extremamente nocivo, imagina para um casal? Os problemas financeiros bem que ajudam a fazer o estrago, mas o afastamento e a falta de sexo, sem dúvida, põem em ‘check’ todo e qualquer relacionamento. — Estou indo para o trabalho. — gritou Marcel colocando os sapatos da porta do apartamento enquanto encara o amarronzado dela. — Bom trabalho querido. — esbravejou Franchesca tirando as mãos da água gelada daquela pia constrangedora que lhe encarava. “Como isso foi parar assim?” — pensaram. — BOM TRABALHO TIO! — gritaram as crianças. Franchesca abriu um sorriso forçado, mas verdadeiro. Marcel também deu o seu ao forçar um rosto um pouco mais alegre que o anterior. Os dois fizeram o mesmo ritual de quando ela não desce, pois mesmo que estivessem muito aborrecidos, ela ainda foi para a janela e o acompanhou com os olhos até o ponto de ônibus que ficava ali perto. Parece que o ‘felizes para sempre’ é somente algo que alguém inventou, não é mesmo? Ou será que não? Do lado de fora, o feliz casal apaixonado se despedia. Aquele vizinho rico estava em seu brilhante e luxuoso carro usando seus óculos escuros e seu sorriso brilhante ao lado de sua maravilhosa esposa que estufava s***s fartos, uma maquiagem impecável e um perfumo como nenhum outro. Porque existem casais e casais tão diferentes assim? Será mesmo que o dinheiro faz tanta diferença numa relação? — Bom dia vizinho! — disse ele encarando Marcel. — Dia! — respondeu Marcel erguendo um dos braços. “Será que o p*u dele é maior mesmo?” — pensou Marcel. A vizinha que também tinha um ritual parecido viu Franchesca na janela. — Bom dia vizinha! — disse ela gesticulando sua mão. — Dia! — respondeu Franchesca com um sorriso. “Será que ela não reclama na hora do sexo?” — pensou Franchesca. Não há dúvidas de que as crianças, Jaqueline e Jean, são a diferença, o ponto de paz e harmonia entre Marcel e Franchesca. Uma pena, pois a mãe deles está voltando de viagem em pouco tempo e este pequeno equilíbrio que as crianças trazem, começará a pesar na relação. Como bem já disse, Marcel, um apsotador em tudo, começou um trabalho perigoso na Bolsa de Valores. Quando o diretor-presidente da Euronext NV, que comanda bolsas de valores de Paris a Oslo, quis trazer as equipes de volta aos escritórios, muita gente se recusou, mas o mundo gira e a vida não pode parar. Foi assim que Marcel entrou no negócio. Claro que teve uma ajudinha de seu concunhado, mas o fato é que Marcel trabalha na poderosa Euronext NV (European New Exchange Technology), uma bolsa de valores europeia com sede em Amesterdão e sede corporativa em La Défense na Grande Paris, que opera mercados em Amesterdão, Bruxelas, Londres, Lisboa, Dublin, Oslo e Paris. La Défense é um local próximo do apartamento deles. Se situa ao norte de Paris, e além de ser um dos distritos de negócios mais importantes de toda a Europa, comparável à City de Londres, este é o maior centro financeiro da cidade de Paris. Com uma população de 20.000 habitantes aproximadamente, é centrado em um circuito oval de autoestradas no departamento de Altos do Sena, nas comunas de Nanterre, Courbevoie e Puteaux. Se você pensa que nossa protagonista feminina já pode descansar, está redondamente enganada, pois além de tentar arrumar um outro emprego para quando as crianças de forem, ela ainda tem que dar o café e arrumar seus sobrinhos para o longo dia que apenas começou. Muito embora a rotina de Franchesca seja um tanto mais maleável se comparamos com a de Marcel, ainda assim é grosseiramente rígida por conta das crianças. Visto que, Jaqueline e Jean, por influência de sua irmã, estudam e passar boa parte do tempo, compreendido do início da manhã até o final da tarde, com sede à Nursery Town Hall de Paris, uma famosa creche Municipal local. Logo, ela precisa comparecer, mesmo que seja a pé, à Rue de Longchamp de Segunda a Sexta. O local é lar de nada mais, nada menos, do que vinte e um lugares notáveis para a história francesa. A Nursery Town Hall é vizinha de nada menos do que três embaixadas, dois palácios antigos e do Ministério da Educação, sem contar as outras escolas primárias da região. Mas como bem mencionei, estamos em Paris, Europa, é extremamente comum vermos artistas de cinema, jogadores de futebol ou bilionários desconhecidos tomando um sorvete ou se deliciando com os cafés. Tudo aqui cheira a história. — Crianças? — Oi! — disse Jean. — Tô aqui! — respondeu Jaqueline. — Vamos nos aprontar para a creche, anda, anda, anda, eu não tenho a vida de vocês não! — brincou Franchesca. Jean, mesmo que seja extremamente preguiçoso em tudo, realmente ajuda sua tia no que puder fazer. Jaqueline, embora seja prestativa, gosta de fazer corpo mole para seu irmão trabalhar um pouco mais. Mas aos trancos e barrancos, a dupla de irmãos se arruma rapidamente enquanto Franchesca volta a lavar a louça. “Não é possível, isso se multiplica!” — imaginou ela. — Estamos prontos tia! — gritaram as crianças. Franchesca passou os olhos em seus sobrinhos e admirou a agilidade de ambos. “Me pergunto se a vizinha trabalha tanto assim”. — imaginou enquanto corria para levar as crianças. Enquanto isso, do lado de fora, Marcel se aborrecia mais uma vez com a sua própria rotina. Ele pegou o ônibus lotado, ainda não tinha o tempo de casa para ter o carro alugado e descontado do salário, logo, isso iria lhe assombrar por muitos dias adentro. — Hoje pegou o meu hem, até que enfim está no horário! — brincou o saudoso motorista. — Ontem eu tive alguns problemas. — respondeu Marcel. — E hoje? — Também! — rebateu nosso protagonista. Os ônibus coletivos, alias, os transportes públicos ao longo da Europa, não são muito cheios. Variando de país para país ou de região para capital, dependendo dos horários, você pode cruzar o continente inteirinho sem ninguém ao lado. Mas para o horário e a tentativa de voltar a normalidade, Paris anda um pouco mais movimentada que o normal. Nos próximos capítulos iremos ver os pontos de vista de Marcel e Franchesca, tanto para suas rotinas, quanto para seus problemas internos neste amanhecer melancólico.

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