Encontro

1227 Words
Keller demorou tempo demais pra chegar ao escritório. Bem sucedido, querido e respeitado. Era um dia de merda para um homem como ele. Nada pareceu ser muito bom naquele dia. O trânsito estava horrível e até as pessoas que ele viu pareciam estar com um mau humor do cão. Ele não era o tipo mau humorado, não, ele era o próprio mau humor quando queria. Tinha uma certa arrogância e até prepotência. O status, sobrenome e dinheiro deixava tudo ainda mais peculiar. Semana passada ele levou exatos três meses pra findar um acordo milionário e defender alguém que não tinha tanta inocência assim. Os tabus ficavam de lado e o nome dele prevalecia. Para um Keller isso era mais do que precisava. O direito era seu ofício. Nada mais o abalava depois de um tempo. Era quase imbatível em um tribunal. De outro ponto, na semana passada Alice Price vagou perdida sem saber o que fazer da sua vida. Acusada de um crime que ela não cometeu. Com um medo gigantesco de ir pra cadeia por conta disso. Sua vida havia virado de cabeça pra baixo mais uma vez. Mas ela não tinha culpa alguma. Acusada de uma fraude milionária, a jovem contadora de apenas vinte oito anos ia atrás da única pessoa que poderia de fato ajudar. Talvez fosse um erro. Mas não sabia de ninguém melhor em Nova York, ouvia falar do grande Keller, sabendo exatamente quem ele era. Tão intimamente, que se ela fechache os olhos poderia lembrar até do perfume dele. Algo que nunca esqueceu. Fazia mais de seis anos que não via ele ou nem mesmo escutava ou lia os jornais de Nova York, então não sabia nada mais que Keller era um advogado executivo, alguém que defendia pessoas de crimes como aqueles. Ela se lembrava da forma sagaz dele. Do temperamento difícil. Mas Alice não se lembrava só disso. Pensou muito se iria estar naquela sala de espera, esperando ele voltar de uma reunião fora. Talvez era Deus avisando que era errado fazer aquilo, que ela estava equivocada. A secretária dele era uma mulher de meia idade. Que pediu pra ela aguardar se fosse realmente urgente pra falar com ele, que a agenda dele aparentemente pro resto do dia estava vazia. Para Alice aquilo era urgente. Tão urgente que fez ela engolir as lembranças e cada gotinha de orgulho que ela ainda tinha. Não sobrou muita gente. Falar com ele era de urgência sem tamanho que deixava ela com a cabeça a milhão. Seria mesmo uma boa ideia procurar alguém que fazia anos que ela não via? Que terminou com ela e disse que seria melhor? Não que ela fosse egoísta e não entendesse. Ela até entendeu bem demais. Não era o tipo de amor vingativo. Não. Dependia de defesa pra sair daquilo livre e sem um peso no seu nome. Batalhou demais pra chegar onde chegou, não podia deixar ninguém difamar seu nome ou tentar colocá-la em um crime que ela claramente não cometeu. Ela era inocente. Podia sentir o gosto amargo de cada acusação. Seus bens estava bloqueados e advogado nenhum parecia querer se interessar pelo caso dela, além disso, não era só isso. Estavam sendo avisados pra não pegar o caso. Era perigoso até mesmo pra ela. Por isso estava ali. O único que parecia poder ajudá-la podia ser ele. "O que está fazendo, Alice?!" Sussurrou pra ela mesma, a secretária de Keller até olhou por cima dos óculos, se perguntando o motivo da jovem parecer tão nervosa ao esperar alguém. Era tão linda, seria um caso do chefe? Era bem complicado se fosse. Keller não era um homem fácil e possível agora. Distante, frio, até arrogante e meticuloso. Alice ergueu a cabeça e olhou para o lugar sofisticado e por um segundo sentiu o aperto no peito. Keller sempre esbanjou o sobrenome que carregava e segurou a família na honra. Ele não poderia ajudá-la. Era ainda pior quando ela se sentia humilhada por estar ali. Antes que pudesse se mexer e sair dali, viu o elevador se abrindo. Sei coração pareceu parar dentro do peito. A imagem a seguir foi do homem mais intenso que ela conheceu. O único que conseguiu tirar ela do seu casulo. Aquele que um dia já havia jurado o mundo ela. Mas depois arrancou. Keller. Aquele era ele. Observou o terno três peças de milhares de dólares e até o cabelo penteado, os olhos atentos e a boca carnuda. Ele parecia ainda mais forte do que ela se lembrava, mais bonito e mais viril. O homem era de uma beleza inigualável. Alice temei que não era a melhor saída. Seu rosto ganhou um rubor e ficou paralisada onde estava, abaixando o olhar, com medo, timidez e um rubor que tomou conta do rosto dela. Keller se aproximou da bancada de Norma e suspirou fundo, deixando algumas coisas especiais pra ela. "Você arquiva isso pra mim?" A mulher sorriu gentil. Como uma fiel assistente. Do tipo bom e útil. "Claro, o senhor tem uma moça que o espera. Ela disse que tem urgência pra falar com o senhor." Keller não esperou ela terminar, olhou por cima dos ombros e viu o corpo no sofá de couro. Os cabelos castanhos estavam caídos pra frente e a mulher estava de cabeça baixa. Ele teve a breve impressão de conhecê-la. Estava bem vestida, usava uma saia lápis e saltos médios, tinha belas pernas e então ele sentiu algo ao olhar para a pulseira que ela usava no braço fino e longo. Aquela pulseira. De onde raios ele se lembrava dela? "Senhorita?" Se virou, ficou de frente pra mulher, ela aos poucos foi tomando fôlego pra encarar o antigo amor do passado ou talvez o único que pudesse protegê-la de ir pra cadeia, defendê-la sem recusar o caso ou do tamanho do problema. O rosto se ergueu. Os olhares se encontraram. Seis anos afastados não prepararam eles para o encontro depois de anos. Eles não foram o casal que teve recaída. Não. Nenhuma. Nem mesmo o tipo que guardou raiva um do outro. Não. O rosto fino e bonito apareceu para Keller, ele abriu e fechou a boca, pensando ser uma miragem ou apenas alucinação depois de um dia longo e exaustivo. Sentiu o arrepio e depois a velha sensação de pertencimento. Até o frio na barriga. Algo que ele não sentia em anos. Estava deliriando? Não, os lábios dela ainda tinham o mesmo tom avermelhado e as bochechas eram rosadas quando estava com vergonha de alguma coisa. Os olhos castanhos tinha uma sombra r**m e ele percebeu que ainda olhava pra ela analisando cada detalhe. Norma até quis uma pipoca pra encarar a cena, mas colocou o óculos e desviou a atenção. Alice tomou coragem e ficou de pé. Deu dois passos na direção dele e parou na frente dele. Cara a cara. A camisa de mangas branca estava por dentro da saia lápis. Ela usava um relógio e uma pulseira que os pais deram, ainda antes de morrerem. Ele se lembrava disso. O cabelo estavam soltos, o castanho brilhoso, assim como os olhos dela. "Olá, Keller." A boca do homem ficou seca. Em anos nunca pensou ver a jovem de novo. Podia se lembrar da última vez que viu aquele rosto, estava chorando e pedindo pra ele ficar. Quase como... Implorando pra não machucá-la. "Alice."

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