A promessa

788 Words
Cheguei a casa de meus pais no entardecer daquele dia. Enquanto meu motorista estacionava tirei os fones do ouvido e ajeitei diante do retrovisor minha gravata. Minha mãe foi enviada para morrer em casa, como era o desejo dela. De todas as partes da minha vida essa era a que mais me machucava. Já havia enterrado meu irmão caçula há dois anos, vítima de assassinato... Buscava por vingança desde então, mas a doença em estado terminal de minha mãe me fez adiar a minha ânsia por justiça. Ela me ligou aos prantos, dizendo que me queria ver com certa urgência. Meu pai também me ligou implorando dizendo que me arrependeria se não fosse vê-la o quanto antes. As únicas ordens que eu aceitava nessa vida eram vindas de meus pais. Eu era tudo que eles tinham após a morte prematura de Leandro aos dezoito anos... Aquela bala era para ter sido minha, lembro-me com tristeza e revolta quando o encontrei morto no seu apartamento... Meu pai passou os negócios da nossa família sob minha administração, éramos uma família de imigrantes italianos no Brasil, lutando para manter nossa cultura e nossa fé. Prosperamos depois de anos servindo, sendo tratados como escravos. Conquistamos nossas terras, nossa riqueza só crescia com o passar do tempo, como uma recompensa divina! Mas todo meu dinheiro e poder não podiam trazer Leandro de volta a vida... Nem curar o câncer maligno de minha mãe... Essa era minha maior impotência... ___ Luciano! (Ela me chamou com seu sotaque italiano) Minha mãe estava presa aquela cama se despedindo da vida...Meu coração bateu enfraquecido e meu peito foi se apertando, me faltava o ar... Fui para perto dela e sentei me ao seu lado. Antes da doença dona Maria era cheia de vigor, uma mulher bondosa que servia com suas mãos os necessitados. Os empregados da fazenda a amavam pela alma pura que era. Enquanto meu pai cuidava de tudo com mãos de "ferro" ela régia com mãos de amor... e aquelas mãos nunca nos machucou, era uma mãe amorosa, cheia de paciência mesmo nas minhas mais terríveis travessuras de moleque... ___ Meu filho amado... (Ela disse ao beijar meu rosto) Uma tímida lágrima escapou de meus olhos... me senti um covarde... meu pai me ensinou a nunca chorar... que na nossa família homem nenhum se rendia a qualquer fraqueza... Mas era impossível não enfraquecer diante da certeza de perder a mulher que te deu a vida... ___ O medico me disse que ainda tenho seis meses de vida! (Ela disse aquilo sorrindo, como se fosse uma boa notícia) Respirei fundo tentando evitar o choro que gritava em mim: ___ Em seis meses da tempo de vê-lo casado e com a notícia de um neto a caminho... Aquilo me pegou de surpresa... Não o fato dela me querer casado, mas por ter ainda esperança de que teria vida para me ver realizando seu maior sonho... ___ Mamãe a senhora precisa descansar.(Falei com a intenção de fazê-la esquecer aquele assunto) ___ Não Luciano meu filho... tenho pouco tempo... Vou partir em paz quando vê-lo no altar segurando a mão de sua esposa... Como poderia negar isso a ela? Ela me pedia com os olhos cheio de alegria, fazendo planos para meu futuro... escolhendo o nome dos netos... Ela já havia morrido no dia em que enterrou Leandro, eu não tinha o direito de mata-la de decepção mais uma vez... Eu fui casado... Porém, minha história com o casamento não foi muito agradável e muito menos o que minha mãe sonhou para mim... Minha vida eram os negócios da família...Além da fábrica de vinhos lidavamos com uma espécie de "Justiça n***a" Um nome clichê para denominar os negócios ilícitos... meus bisavós já trabalhavam com a máfia italiana antes de saírem do país. Tínhamos uma boa influência, bons contatos e muito dinheiro... Com a explosão da segunda guerra mundial foram forçados a fugir para o Brasil, onde recomeçamos do "zero". Meu pai me alertou sobre os riscos de entrar no "negócio" da família, mas por Leandro, para vingar sua morte eu estava disposto a enfrentar qualquer risco. Já possuía um nome de destaque na sociedade, tinha prestígio e poder. Porém, havia perdido uma parte de meu coração quando descobri que minha doce esposa italiana havia fugido com meu sócio. Gabriela foi escolhida a dedo por meu pai. Ela era filha de seu melhor amigo em Napoles. Meu pai dizia que um homem de negócios só teria respeito ao se casar. Eu obedecia meus pais cegamente! Aceitei o casamento arranjado, queria ter o respeito que meu pai tinha. Minha ambição pelo poder era grande e então me sujeitei aquele relacionamento em que muito só sabia o nome de minha futura esposa.
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