Yuri Narrando
Estou ligado que Dimitri e Andrey estão armando alguma coisa contra a minha cobra preferida. Sei que estava para chegar um dos conselheiros que nunca apareceu na cúpula; a cadeira dele sempre esteve lá, mas nunca vimos. Herdeiro legítimo, só que estava no Brasil. Vai retornar e tomar o seu lugar entre nós. O que me preocupa é que esse cara apareceu logo agora que Cascavel está concorrendo à cadeira da Previdência. Está me cheirando a armação das grandes, estão tentando passar a perna nela. A única coisa que eles esquecem é que Cascavel é cobra criada. Se eles realmente conhecessem o Mendes, saberiam: aqui, com eles, não se mexem. Mas eu não vou falar nada, não vou deixar ele descobrir sozinho...
Estava meio preocupado com o resgate. Tanto tempo que não usamos nem a máfia nem os homens para recuperar algo que foi levado, assim como a nossa honra. Quando aqueles 150 homens, todos de preto, de touca ninja, pararam na minha frente, não tive outra reação a não ser aplaudir de pé. Kiara pensa que eu não percebi as trocas de olhares entre ela e o Rodovic. Essa minha irmã gosta do perigo. p**a que pariu, mano...
Eu sou Yuri Bratva, pele clara, cabelo claro, corpo malhado, algumas tatuagens pelo corpo, 1,85 de altura. Sou irmão de Kiara e primo de Dimitri, um arrombado que fica tentando se dar bem em cima das pessoas. Achava que, por ter o mesmo sangue que o meu, eu e Kiara ficaríamos do lado dele. Se depender de mim, ele vai tomar no c*, porque um traíra como ele não merece nem meu respeito, imagina voto. A raiva dele é que eu e Kiara fechamos com Cascavel desde o primeiro dia. Cansei de quem não faz nada pela máfia nem pelo meu país. Eu fechei com ela porque prefiro recomeçar do zero do que me arriscar em algo que já deu errado.
Tudo preparado para o resgate da Cris. Estou pilhado porque essa mulher mexe comigo de um tanto que nem sei explicar. Já foi difícil para mim saber que ela estava nas mãos dele, que ele tinha tocado nela. Quando eu invadi o meio de comunicação deles, vi as câmeras e descobri que ela estava praticamente desacordada. Ele aproveitou dela. Doeu como uma facada, uma por ser mulher e outra por ter sido ela. Tô de olho nela desde o dia que ela veio à Rússia pela primeira vez. Nem Kiara nem Cascavel sabem de nada, mas essa mulher ainda vai ser minha...
Yuri – Tudo certo. Já estou dentro do sistema deles há uma semana. Precisa ser hoje, porque, pelo jeito, ele vai sair do país. Se ele sair, dificultará o resgate. Então, vamos que é hoje – falo, terminando de me trajar. Kiara, com a touca enrolada até a testa, se aproxima com sorriso debochado.
Kiara – Coração tá a mil, né, irmãozinho? Espero que você não perca muito tempo e assuma logo ela, antes que chegue outro e tome de assalto o coração dela. Aí você vai ficar chupando o dedo, porque só eu sei o que você sofreu esses dois meses – ela fala, dando dois tapinhas nas minhas costas, coloca a touca e entra no carro. Ela tá certa, não posso esperar mais. A vida é curta. Se ela for embora e não voltar mais à Rússia, aí eu tô fudido.
Paramos o carro, nos dividimos em pequenos grupos, fechamos o quarteirão inteirinho. O bom é que os ninjas conseguem se camuflar, bando de raça escorregadia. Mais fácil a nossa entrada e saída. Eu preciso daquele desgraçado morto, porque, se ele está obcecado por ela, ele vai voltar. Eu pretendo resgatar e não perder ela de novo.
Cascavel – Estamos dentro? – ela pergunta, e eu balanço a cabeça, concordando, fazendo sinal do perigo do local onde Crislaine está logo abaixo da gente. Os caras abrem um buraco na parede. Entramos em silêncio, derrubando quem estava na frente. Foi moleza, nem precisamos de muitos esforços, porque, como é uma fortaleza e ninguém sabe desse lugar, o i*****l acha que o lugar é impenetrável. Vacilão do carälho... Quando entramos, ela estava sozinha, e ele havia saído por uma passagem secreta. O bom do desgraçado ter ficado obcecado por ela é que ele não machucou fisicamente, mas eu tenho certeza de que sentimentalmente ela deve estar fudida. Só que, sendo o lixo que ele é, ele pode ter deixado ela para morrer. Como estávamos todos de touca ninja, não tinha como saber quem éramos.
Saímos todos no telhado, e o desgraçado do Pablo estava fugindo. Tentei interferir no comando do helicóptero, mas não consegui. Cascavel, louca como sempre, não queria deixar ele escapar. Corre e pula, se pendurando no helicóptero. Eu atiro tanto da nossa parte quanto da deles. Eles saíram dali, levantando o helicóptero. Quanto mais alto, mais perigoso ficou para Cascavel.
– Rodovic, pega as meninas e vão encontrar com ela. Eu fico daqui, dando suporte. Logo eu encontro com vocês – falo com ele, sem tirar os olhos do helicóptero. Kiara me abraça. Senti uma coisa estranha, como se fosse despedida.
Kiara – Se cuida, irmão, e volta para mim – ela fala, e eu desvio o olhar, olhando para Crislaine, que me olha e abaixa a cabeça. Elas vão descendo, Kiara na frente abrindo o caminho, Crislaine no meio, e Rodovic atrás, dando cobertura. Do nada, o telhado encheu de homens do desgraçado do Pablo. Coloquei o tablet no suporte da mochila, na pilastra, e comecei a trocar tiro com eles. Senti meu abdômen queimar em vários lugares. Passei a mão na barriga e vi que estava sangrando. Foi aí que eu percebi que estava sem o maldito colete, que eu tinha dado para a morena quando entrei na casa. Foi aí que um dos caras chegou me puxando.
XXX – Porrä, Yuri, vamos. Preciso te tirar daqui, não era para ter acontecido, cara. Você ficou muito exposto, vi que aconteceu alguma coisa com você. Isso pode custar minha vida – ele fala, subindo na moto e me ajudando a subir. Ele desce a milhão. Meus olhos querem fechar, a cada pancada é como se enfiasse uma faca no meu abdômen. Quase meia hora de estrada em alta velocidade. Chegamos na casa da Cascavel.
– Agora vai, vai. Ninguém precisa saber que foi você que estava comigo. Eu vou ficar bem, e você não precisa perder o seu emprego – falo, e ele sai na linha, em alta velocidade. Não vou deixar o cara perder o seu cargo nem o emprego por causa de um descuido meu. Foi escolha minha tirar o colete e dar para ela. Eu faria mil vezes se fosse preciso. Bato na porta já sem forças. Quando Kiara abre, eu caio nos pés dela...
Escuto a morena dizer que eu preciso ir para o hospital. Kiara chorando, a morena toda agoniada, escuta a voz deles longe. O corpo querendo desligar. Eles me colocam dentro do carro e começo a tremer, como se estivesse dando uma parada.
Crislaine – Yuri, não faz isso com a gente, não faz isso comigo. Era para ter sido eu no seu lugar. Você não tinha nada que ter me dado aquele colete – ela fala, com a minha cabeça no seu colo, pressionando o ferimento no meu abdômen...