Livia narrando
A Júlia veio pra minha casa atrás de mim me infernizando pra não ir visitar o dono daqui, mas não tinha nada que me fizesse mudar de ideia. O caíque ia me pagar cinco mil reais pra isso, aliás, ele já pagou. Fora que ele ia mandar a grana pra eu comprar a comida e todas as coisas que eu fosse levar, e ainda teria um motorista pra me levar e que ficaria lá me esperando enquanto eu estivesse lá dentro daquele inferno, e depois me traria de volta em segurança.
Eu não posso mentir dizendo que não estou nervosa ou com medo, seria uma grande loucura não admitir isso, mas acontece que a necessidade de faz presente e eu não vou e não posso deixar o medo me consumir, é pela saúde da única pessoa que eu tenho no mundo, e pela saúde da minha avó, e por ela eu faço tudo. Fora que o que sobrar eu vou marcar mais exames que preciso fazer e que se depender do sus eu não vou ter o resultado de nada, preciso marcar o pré natal, preciso aceitar que tem alguém crescendo dentro de mim. E, sendo filha de pais que me abandonaram, eu jamais teria a coragem de tirar essa criança, independente do que aconteceu, independente de tudo o que aconteceu se tem uma vítima maior que eu em toda essa história é esse bebê, e eu vou proteger ele e nunca deixar que ninguém faça m*l a essa criança
— pelo amor de Deus, Júlia! Eu não vou mudar de ideia — eu falo com ela entrando em casa e vejo a minha avó desmaiada caída no chão e eu entro em desespero — VÓ — eu grito e saio correndo na sua direção — vo, fala comigo, vo… pelo amor de deus, não me deixa sozinha também, vo, me responde, por favor….— eu entrei em desespero e na mesma hora a julia deu um grito da porta chamando os seguranças dela que vieram rápido e pegaram a minha avó no colo
— vamos levar ela pro hospital, amiga… vamos rápido…— ela fala e sai os correndo pro carro dela, e eu vou atrás.
O meu coração estava disparado, eu não sou nada sem a minha vozinha, eu estava em pânico, nada poderia acontecer com ela, já está tudo tão difícil na minha vida, todo esforço que eu estou fazendo é por ela, eu não posso perdê-la sem ela saber que terá um bisneto vindo… mesmo que sejam nessas circunstâncias…
— tá vendo amiga, como eu não vou, como ? — eu falo chorando com a Júlia e ainda tentava despertar a minha avó desmaiada no meu colo
Ela ficou em silêncio sobre a visita, e continuou tentando me ajudar a fazer a minha avó acordar, mas a minha avó ficava cada vez mais gelada, e isso ia me dando um desespero cada vez maior
— UM MÉDICO AQUI URGENTE, PELO AMOR DE DEUS — a Júlia saiu fazendo um escândalo junto com os seguranças dela e logo veio uma equipe e tirou a minha avó de dentro do carro apagada e assim que eles colocaram ela na maca ela começou a convulsionar
— vó, vozinha… — eu corro até ela mas os médicos entram na frente e a Júlia me segura me controlando
— lembra do bebê, você não pode passar m*l, calma, eles vão cuidar dela…— ela fala me contendo conforme vão levando a minha avó lá pra dentro gritando e falando um monte de coisas que eu não entendia nada
— sabe o que acontece, Ju ? — eu falo com ela secando as minhas lágrimas com o meu coração ainda muito angustiado — eu nunca me fiz de fraca, de vítima, de nada disso, mas você sabe o quanto ela deu o sangue pra me criar, o quanto ela fez de tudo por mim, e agora eu preciso retribuir, e além disso eu tenho um bebê pra por no mundo, e sou só eu pra dar conta de tudo…— eu falo com ela sem pesar na voz, apenas determinação pelos meus próximos passos
— eu sei amiga, eu também amo a sua avó, eu sei disso, eu só fico preocupada, o Gadernal é maluco, ele não é uma pessoa fácil, todas as minhas brigas com o caíque tem o Gadernal e suas missões no meio, esse homem não reza e não liga pra nada, eu tenho medo do que ele possa fazer com você, entende ? — ela fala e eu sorrio de lado
— eu entendo e por isso te amo, mas não se preocupa, eu vou dar conta, eu preciso desse dinheiro, eu preciso iniciar o tratamento da minha avó, eu não posso deixar as coisas continuarem assim seria loucura permitir que as coisas tomassem esse rumo, eu não posso ficar sem ela, amiga…— eu falo abraçada nela que suspira pesado e fica ali comigo rezando esperando por notícias
Eu to muito incomodada, mas eu não dou pra trás, eu vou ficar cara a cara com esse maluco e vamos ver se ele é tão louco assim mesmo, não é porque ele é dono daqui que ele vai ser meu dono. Eu estou indo para levar a comida e as drogas pra ele, com a garantia que qualquer merda eles me tiram de lá, e vai ser isso o que eu vou fazer…
As horas iam se arrastando e nenhuma notícia da minha avó, aquilo já estava começando a me dar nos nervos
— moça tem duas horas que nós estamos sentados ali, da pra você dar alguma notícia ? Pelo amor de Deus, como a minha avó tá ? — eu pergunto pra balconista pela décima vez
— amor, isso aqui não é hospital particular não, espera igual todo mundo ou paga um plano e vai pra pista…— ela fala como se fosse uma rainha mas foi com a pessoa errada…
Eu puxei ela pra fora do balcão pelo pescoço e descia a mão na cara dela com um ódio maior que eu
— tá achando que tá falando com lixo ? Tem ser humano aqui sua galinha, tá ficando maluca ? — eu grito sentando a mão na cara dela e sinto mãos me tirando de cima dela que eu nem vi quem era, e comecei a chutar ela todinha enquanto me tiravam de cima dela — queria ver se fosse tua família, sua arrogante, escrota…— eu falo revoltada tentando me soltar e vi que eram os seguranças da Júlia e do caíque me puxando
— o que aconteceu ? — o caíque chega nervoso abafado no hospital, com a mão toda machucada cheio de sangue
— eu que te pergunto…— a Júlia levanta num pulo e ele esconde a mão
— nada demais, cobrança da boca só… — ele sai pela tangente — o que rolou ? A tia tá bem ? Por que vocês estão aqui ? — ele pergunta nervoso
— Ainda não sabemos, estamos aqui a horas e nenhuma notícia, eles não respondem a gente, nós estamos sendo esquecidas aqui…— ela fala p**a e olha a recepcionista jogada no chão toda machucada com as colegas ao redor — essa p**a eu quero na rua hoje, ela ta tratando os moradores igual lixo, ta esquecendo que ela é funcionária e se achando dona dessa p***a, deve ser marmita de alguém, mas aqui se ela ficar eu mesmo mato essa vagabunda — a Júlia fala p**a e o caíque faz sinal para os seus seguranças que já saem arrastando a p*****a lá pra fora aos berros
— eu vou resolver isso — ele fala e foi entrando pelo hospital enquanto a Júlia veio na minha direção e eu bufa a igual boi bravo
— você não pode sair brigando assim, tá doida, esqueceu do bebê ? — ela fala e eu realmente havia esquecido, na hora eu nem pensei, eu só voei, quando vi já estava em cima da p**a…
— eu só preciso saber da minha avó…— eu falo é instintivamente eu passo a mão na barriga…
— vem…— o caíque chama a gente do corredor e nós saímos correndo na direção dele
— cadê ela ? — eu pergunto em desespero e vejo a minha avó ainda apagada aquilo me dá um desespero
— boa tarde — o médico jovem, bonito, se aproxima de nós três e aperta a mão do caíque — olha, a sua avó teve uma crise de hipoglicemia, e também diagnosticamos que ela tem um quadro de hipertensão, e a leucemia que já haviam nos registros dela do hospital, certo ? — ele pergunta e eu concordo chorosa — diagnóstico também que ela tem diabetes e o quadro dela é tipo 2, então o quadro da sua avó é muito delicado…— ele fala é meu chão parecia se abrir mais a cada palavra dita por aquele médico — eu vou fazer de tudo para estabilizar ela, mas ela precisa começar um tratamento mais rigoroso o quanto antes — ele fala é um no se forma no meu estômago subindo com uma ânsia — eu atendo num hospital oncológico, e lá conseguimos algumas vagas popular, eu vou te dar o meu cartão, e depois de tudo o que eu vi no prontuário dela, eu te dou minha palavra que farei de tudo para conseguir uma vaga pra ela lá, mas essa noite ela passa aqui, eu quero acompanhar o caso dela de perto…— ele fala firme e eu concordo arrasada
— eu vou ficar aqui com ela doutor…— eu falo com ele que concorda e coloca a mão no meu ombro acariciando de leve
— fica tranquila, eu vou fazer de tudo possível para ajudar sua avó, ela é muito querida por mim, quando eu ainda era estagiário e ela vinha aqui periodicamente ela sempre era uma querida com todos, então eu só vou retribuir o bem que ela já nos fez…— ele fala e se retira dando mais algumas orientações aos enfermeiros que se encontravam ali na porta esperando por ele
— você vai passar a noite aqui ? Mas e o bebê ? Como você vai dormir aqui ? — a Júlia fala preocupada e eu dou de ombros
— eu vou ficar, Ju… eu preciso pensar como vai ser daqui pra frente, cada hora é uma bomba nova, eu tô perdida, mas eu não vou sair do lado dela…— eu falo firme com ela
— fica aqui, eu vou mandar trazer cobertor e um colchão pra tu, melhor que esse sofá aí, e mando trazer comida também, já é? — o caíque oferece e eu agradeço — Mas não esquece que amanhã tu tem que preparar as coisas do Gadernal, vai avisando a gente sobre a vó, o que precisar tu liga pra Júlia que eu mando pra tu na hora — ele fala e eu agradeço os dois
A Júlia fica mais um tempo ali comigo, mas depois ela precisou subir, ela também tem as tarefas dela. Eu sentei ali do lado da minha avó, segurei a mão dela e prometi que eu ia dar meu jeito, não importava como, mas ela ia ficar bem, ela ia ser curada, eu não ia perder essa batalha, eu não podia perder…
Mesmo que para isso eu tivesse que enfrentar o temido Gadernal…