Encontrando uma Saída

1594 Words
Isadora Alguns dias depois, a realidade se abateu sobre nós, dado que o prazo para sair da nossa casa estava chegando ao fim e sem sabermos o que poderíamos fazer. Até aquele momento eu ainda não conseguia entender como o meu próprio pai pode ter sido tão egoísta, ao ponto de dilapidar todo o patrimônio da família com seus vícios. Nós tínhamos conseguido descobrir que Alfredo Meirelles, nosso pai, era viciado em jogos e estava perdendo muito dinheiro há anos. Fazendo empréstimos e os renovando, até que chegou ao ponto em que precisou se desfazer da empresa para quitar as dívidas com pessoas perigosas e que o estavam ameaçando. - Eu não me conformo de jeito algum. Não aceito o fato de termos que sair da nossa casa, onde vivemos desde sempre, devido à burrice do nosso pai. – Rebeca falava de maneira exaltada durante um dos últimos café da manhã na casa que foi sempre nossa. - Você não pode falar assim do nosso próprio pai, Rebeca. Ele está morto. - Tanto posso, como estou falando. Como ele pode ter perdido milhões e milhões em dívidas de jogo? - Também houve alguns empreendimentos que foram m*l sucedidos... - Isso só piora tudo! Um homem experiente, não deveria cair na conversa de aproveitadores inescrupulosos. E olha só como isso nos deixou. Nós éramos suas filhas, não merecemos esse destino. Fiquei pensando sobre o acidente de carro que tirou a vida do nosso pai e me questionando se poderia ter sido provocado, talvez por vingança ou algo do tipo. Mas afastei aqueles pensamentos, pois aquilo só poderia piorar ainda mais a nossa já complicada situação e voltei ao momento presente. - Temos que sair da casa até a segunda-feira. – Comentei, tentando trazer a Rebeca para o que importava de fato, naquele momento. - E para aonde vamos? – Ela questionou em tom de lamento. De fato, nós não tínhamos bens em nosso nome, apenas alguns poucos dólares em nossas contas pessoais, que seria suficiente para pagar aluguel e todas as nossas despesas por apenas algumas semanas, pensando de maneira bastante otimista. Era necessário encontrar algum emprego o mais rápido possível. - Já estou procurando um emprego. - E você pensa ser fácil assim? – Só agora estava percebendo o quanto a Rebeca era pessimista. – E mesmo que consiga, será como uma funçãozinha qualquer e como poderemos viver de seu salário? - Você também deve encontrar um emprego, Rebeca. – Apontei para o óbvio. – Se todos conseguem vivem dessa forma, nós também vamos conseguir. Ela me olhou chateada e se levantou, jogando o guardanapo sobre a mesa de qualquer jeito e saindo da sala de jantar batendo o pé, sem falar mais nenhuma palavra comigo. Para ela ter saído de um lugar sem ter a última palavra, era porque ela estava realmente fora de si. Eu apenas terminei de comer e fui para o meu quarto em busca do meu notebook, procurar vagas de emprego e enviar o meu currículo para qualquer função que se apresentasse. Sabia que não conseguiria encontrar algo de forma tão rápida, ainda mais quando eu não tinha experiência alguma. Mas também não conseguiria nada sem tentar. Sem um curso superior, pois mesmo tendo pretendido iniciar uma faculdade desde que concluí o ensino médio, eu acabei apenas seguindo as demandas da Rebeca e a acompanhando em uma viagem atrás da outra, durante os últimos quatro anos. Não conseguia nem acreditar haver se passado todo esse tempo sem eu fazer nada mais da vida além de gastar dinheiro. Só agora eu estava me dando conta de como deixei as coisas seguirem um fluxo próprio e totalmente fora da realidade. Agora estava com vinte e dois anos, sem dinheiro, estudo e muito menos experiência e seria bastante complicado uma colocação no mercado de trabalho, eu tinha conhecimento disto. Mas eu precisava correr atrás e era exatamente isso que eu estava fazendo quando a Rebeca entrou em meu quarto apressada, algumas horas depois. - Encontrei um jeito de conseguir um valor excelente, o suficiente para podermos comprar um apartamento e nos manter até encontrar um emprego a nossa altura. - Mas como!? – Perguntei animada. Eu estava sentada em minha escrivaninha, em frente ao computador e Rebeca foi até mim, segurando em meu braço e me levando até a cama, aonde nos sentamos e ela me olhou com um enorme sorriso em seus lábios, o mesmo que ela mostrava em todas às vezes que pretendia fazer algo que eu não aprovaria. - Vou leiloar a minha virgindade. Fiquei agradecida por estar sentada, pois, teria caído dura no chão se estivesse de pé naquele momento. - Isso só pode ser uma piada de m*l gosto, Rebeca. – Falei em tom m*l-humorado, quando por fim me recuperei da surpresa. – Não pode ser verdade que exista algo assim nos dias de hoje. - Acredite quando eu digo que existe e também que eu farei isso! - Ela usou o mesmo tom de voz que eu já reconhecia e que me alertava para não tentar dissuadi-la de algo que ela estava prestes a fazer. - Você não pode simplesmente leiloar a sua virgindade dessa forma. É uma loucura! A Rebeca sempre foi muito ousada e já havia tido vários namorados, mas a lembrança de que ela sempre insistiu em afirmar que só perderia a virgindade se fosse algo que lhe trouxesse benefícios, como, por exemplo, um casamento de fortunas, me fez acreditar realmente em suas palavras, mesmo aquilo que ela estava cogitando em fazer fosse algo abominável, não seria muito diferente do que ela pretendia antes. - É uma solução, pelo menos temporária, Isadora. – Rebeca falou com tranquilidade, como se aquilo fosse algo corriqueiro. – A Cíntia me garantiu que uma amiga dela conseguiu um milhão de dólares dessa forma. - Eu sei que o fato de você ainda ser virgem, a essa altura do campeonato, não tem nada a ver com a ideia de encontrar seu verdadeiro amor, como eu sempre desejei para mim. Mas você já está indo longe demais, Rebeca! Ela não se importou com minhas palavras e foi até a minha escrivaninha, aonde pegou o notebook que lá estava e digitou um endereço na barra de pesquisa, me olhando sorridente, como quando ela queria fazer suas armações durante nossa infância. - Você me ajuda a criar o perfil nesse aplicativo e selecionar as minhas melhores fotos para esse projeto? - Eu não concordo com essa insanidade que está pretendendo fazer. Falei ficando de pé e elevando o tom de voz para a minha irmã pela primeira vez em toda a minha vida. - Não precisa se preocupar tanto, Isadora. Eu estou procurando a melhor forma de resolver os nossos problemas. - Tenho certeza de que essa não é a melhor forma, Rebeca. Nós podemos fazer como tantas outras pessoas e apenas trabalhar para viver. - Trabalhar para sobreviver, você quer dizer. - Ela teimou. - Mas não deve ficar tão preocupada, irmã. É um aplicativo seguro, e eu não vou precisar nem mesmo revelar a minha identidade, apenas colocar fotos reais do meu corpo e o rosto eu posso optar por usar uma máscara. Os homens estarão pagando exatamente para ter o privilégio de serem os primeiros a conhecer os meus atributos físicos. Após tentar de todas as formas de dissuadir a Rebeca daquela ideia maluca, eu acabei cedendo, pois, preferi estar com ela naquela loucura e tentar colocar um pouco de juízo na cabeça da pessoa mais importante da minha vida. - Quero que me explique melhor como funciona esse leilão. Pensei então que o melhor a ser feito, naquele momento, era aderir ao ditado que dizia que “ Se não pode vencê-los, junte-se a eles”. - A amiga da Cíntia participou, como já te falei. Depois que eu me cadastrar, vou estar em leilão durante vinte e quatro horas e após esse período, quem tiver dado o maior lance, será o vencedor e levará o extraordinário prêmio, sendo este a minha virgindade. - Fico pasma com você fala de forma tão calma sobre isso. Eu estava realmente muito admirada com a maneira que a minha irmã estava decidida a perder a virgindade com um estranho, por dinheiro, apenas na tentativa de manter um padrão de vida que não nos pertencia mais e ela não aceitava aquilo. Continuei ouvindo a explicação, ainda me sentindo estarrecida. Ela então contou que após ser determinado quem levaria o prêmio, este precisava depositar o valor do "lance" e o aplicativo ficaria responsável por fazer o pagamento, cabendo a este ainda um percentual do valor. Após a confirmação da “entrega do prêmio”, que aconteceria durante um passeio de lancha, assim como as outras mulheres que também tinham sido "arrematadas" naquele mesmo dia, o valor seria transferido para a conta de quem vendeu sua virgindade em troca de dinheiro. A realidade dura e fria era que seria exatamente isso que a Rebeca estaria fazendo e ela estava tratando aquilo de uma maneira tão cínica, que eu me questionei sobre até onde a minha irmã seria capaz de ir, apenas por dinheiro. Decidida a ajudar a Rebeca mais uma vez em algo que eu considerava completamente errado, eu passei toda a tarde com a minha irmã, montando o seu perfil para o aplicativo e selecionando fotos que mostrassem o que ela tinha de melhor, mas que onde não fosse possível descobrir a sua identidade ao olhar para elas, e quando a noite chegou, Rebeca havia colocado a sua virgindade a leilão.
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