Prólogo

800 Words
Isadora Olhei para todos os presentes na grande sala de reuniões da Meirelles e associados com uma sensação de incredulidade. Não conseguia acreditar estar pobre. Como isso poderia ter acontecido? Apesar do horror que estava sentindo ao imaginar mil e um cenários para o meu futuro próximo, consegui me conter e permaneci com a fachada de neutralidade que era minha característica desde que era apenas uma criança. Mas a sua irmã gêmea, não. Ela fez a pergunta diretamente para o homem que foi advogado do seu pai por décadas e recebeu a mesma resposta em tom monótono que havia recebido nas outras duas vezes que perguntara a mesma coisa. - Como falei há apenas alguns minutos, durante a leitura do testamento, seu pai tinha dívidas de milhões de dólares e os seus bens serão usados para pagar aos credores. - Mas isso é impossível! – Rebeca gritou, já sem nenhum controle de suas emoções. – Nós éramos milionários. Uma fortuna que vem de gerações. Meu pai não pode ter simplesmente feito dívidas tão gigantescas como as que os senhores estão alegando. Como ele pode ter perdido todo o dinheiro que tínhamos? - Você tem certa razão, Rebeca. – O advogado concordou e voltei toda a minha atenção às suas próximas palavras. – O seu pai vendeu grande parte de seus bens em vida e o que restou só será suficiente para sanar débitos ele possuía. - Ele vendeu? O senhor pode explicar isso melhor? Mesmo sendo uma pessoa que fazia o possível para não chamar a atenção de outras pessoas sobre mim, aquela informação foi além de qualquer coisa que eu poderia suportar e me manter em silêncio. - Essa empresa não é mais uma propriedade dos Meirelles. Seu pai a vendeu há alguns dias e agora ela pertence a um novo dono. - Eu não acredito! – Rebeca gritou. – Eu... não... acredito! - A senhorita é livre para contratar outro advogado para orientá-la sobre o assunto. Era visível para todos o quanto a minha irmã estava possessa de raiva. Mas eu conseguia entender a Rebeca, pois, se o que o senhor Gonçalves estava falando fosse mesmo verdade, e tudo indicava que sim, com qual dinheiro nós poderíamos contratar um advogado? - Eu me recuso a fazer parte deste circo dos horrores que os senhores criaram. – Rebeca disse de maneira altiva. – Estou saindo agora e logo, muito em breve mesmo, todos vocês terão notícias minhas. Saiu caminhando para fora da sala e ao chegar à porta, rebolando os quadris em cima dos saltos altíssimos que já era sua marca registrada, ela olhou para trás, provavelmente a espera que eu a seguisse, como sempre fazia, desde que nascemos. - Vamos sair daqui agora mesmo, Isadora! – Chamou em seu tom de comando. Ao contrário da sua irmã cheia de vontades, a qual tinha sempre seus desejos atendidos, eu era apenas uma sombra pálida, que fazia o que as outras pessoas ordenavam que fizesse. Eu não gostava de discussões, então sempre optava pelo caminho mais fácil. Sendo assim, me levantei rapidamente da cadeira em que estive sentada por mais de duas horas, enquanto ouvia a leitura do testamento de nosso pai e tomava conhecimento do quanto a nossa vida acabara de mudar e segui até onde estava a minha irmã. Saímos da sala de reuniões da até então empresa da família e caminhamos para o elevador, cada uma á sua maneira. Enquanto Rebeca vestia uma roupa que custava milhares de dólares e que se aderia ao seu corpo como uma segunda pele, evidenciando todas as curvas do seu corpo e valorizando aquilo que ela tinha de melhor, eu estava usando um jeans que havia me custado alguns dólares apenas, assim como também havia sido o moletom e o tênis que vestia. - Isso não vai ficar barato. Mas não vai mesmo! - Rebeca repetia de maneira incessante. Rebeca foi por todo o caminho, desde que entraram no elevador do edifício de trinta e cinco andares, resmungando e dizendo impropérios de fazer inveja a um peão. Quando Rebeca estacionou o seu conversível em frente a mansão em que morávamos desde que nascemos, sua pose altiva foi pelos ares e ela desabou em um pranto comovente, e entre soluços, me perguntou como o nosso pai poderia ter feito algo tão mesquinho, se enchendo de dívidas e acabando com a fortuna que era delas por direito, como se eu pudesse ter alguma resposta melhor que a do advogado para lhe oferecer. - Como nós... podemos... estar... pobres? Eu também não entendo, Rebeca. – Foi tudo o que eu poderia lhe falar. Nos abraçamos, ainda no carro, e eu fiquei pensando sobre o que faríamos agora, sem experiência alguma, sem outra família ou parente, além de nós mesmas, sem casa e sem dinheiro.
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