Episódio 12

1346 Words
Verifico o meu telefone e tenho uma mensagem de Mark. Eu te amo, pessego. Diz a sua mensagem, seguida por um emoticon de pêssego. A minha carinha feliz não escapa de Larissa. Estamos no balcão da pastelaria. Não quero contar os detalhes porque sinto muito pela maneira como fiz isso com Mark. Será que realmente fizemos isso? Pergunto a mim mesmo. Quero dizer, ele causou tudo isso. Não apenas o dispositivo telefônico, mas tudo. Um artefato sem o estímulo das suas palavras e da sua atitude não produz nada. Caso contrário, os telefones vibratórios seriam vendidos em lojas eróticas para adultos. O enorme prazer foi causado pelas suas aparições repentinas, pelo seu mistério, por me entregar o Theo, pela possível surra que ele deu ao Richard e que não quero saber por enquanto. — E quem foi o sortudo? Você pode ver a quilômetros de distância que gostou de um muito ontem à noite. Eu sorrio sedutoramente. — É o mesmo que deixou suas marcas na bancada? — Não, não foi ele. Digo a ela. É a verdade. Bem, o sortudo foi um telefone simples de velho: os que vibram mais alto, aliás. Nesse momento Stephen entra. Ele olha primeiro para mim do que para ela. Ela se sente ofendida. Eu teria sentido o mesmo. — Bem, vou para a cozinha preparar os pedidos de hoje. Digo, m*al olhando para Stephen. Sinto que deveria ter contado a Larissa que o prazer da noite passada me foi dado pelo Mark, pois agora vejo que ela tinha uma dúvida sobre quem estava comigo. Se eu não estivesse com Mark, ela poderia pensar que eu estava com outro pretendente, ou seja, o dela. Não sei do que eles estão falando, mas Stephen continua olhando para mim através da porta de vidro que dá acesso à cozinha. Ele nem esconde isso. Ele sai depois de um tempo. Larissa entra e começa a trabalhar. Ela está muito séria. Não falamos sobre nada que não seja trabalho. — Estou procurando Emma Wilson. Diz uma mulher alta vestida de terno preto, muito formal. O seu cabelo é curto e cuidadosamente penteado. Lilly diz a ela que não há ninguém aqui com esse nome. — Tenho certeza de que ela trabalha aqui. Insiste a mulher. — A única Emma que conheço é uma menina de doze anos que sobrenome Stuart, então deram a ele o endereço errado. Responde Lilly. Estremeço, mas tento manter a compostura. Eu me acalmo um pouco. Eu estava prestes a dizer a Lilly e a todos que o meu nome é Emma Wilson e não Olivia Turner. Larissa me olha com o canto do olho com conhecimento de causa, mas discretamente. Dada a nossa falta de respostas, a mulher volta a falar: sou a detetive Jean Janssen, do Departamento de Polícia de Denton. Ela diz, mostrando-nos o crachá que a identifica como representante da lei. O meu pulso está acelerado novamente e, embora o meu instinto seja não revelar a minha identidade a um estranho, sei que mentir para um policial só vai complicar as coisas. — Sim sou eu. Eu sou Emma Wilson. Respondo com voz firme, embora a preocupação se esconda sob a minha pele. Lilly olha para mim com uma cara de surpresa. — Olivia? Ela me diz. O rosto da policial faz um gesto vago que denota nojo, como se ela estivesse cansada de ouvir mentiras de todo tipo, grandes, pequenas, insípidas, significativas. A detetive Janssen revisa a suas anotações antes de falar comigo. — Há algumas perguntas que preciso fazer sobre um assunto no qual você está envolvida. Podemos conversar em particular? Suas palavras soam geladas. Concordo com a cabeça enquanto os olhares curiosos dos meus colegas e clientes parecem apunhalar as minhas costas como flechas enquanto sigo a detetive Janssen para fora da padaria. — O que aconteceu, detetive? Pergunto, tentando manter a calma. Suspeito que o assunto tenha a ver com Richard e as minhas antigas queixas de assédio, mas não entendo como o detetive soube que estou aqui em Denton. Então, primeiro me preparo para ouvir a suas perguntas antes de lhe contar qualquer coisa. — Encontramos o seu marido, Richard Hill, num quarto de motel perto de Denton. O meu rosto estava aliviado. — O meu ex-marido quer dizer. Ele não quis assinar os papéis do divórcio, mas, o meu pedido está em andamento. Então, tecnicamente, a separação é um fato. E que bom que vocês encontraram ele! Finalmente eles o pegaram, finalmente a polícia fez algo com aquela fera. — Richard conseguiu descobrir o meu paradeiro em Denton, e na porta da minha casa me deixou um... — Senhorita Wilson… Jane me interrompe bruscamente. — Você não está me entendendo. Quero dizer, encontramos o corpo dele. O seu marido está morto. O meu coração martela no peito e uma pressão crescente se instala na minha cabeça enquanto as palavras de Jane ecoam no ar. A minha mente se esforça para processar as informações que acabei de receber. — O que isso tem a ver comigo? Ou seja, entendo que você me informe, mas não entendo que queira me fazer perguntas. De repente me lembro da noite anterior, quando estava naquele mesmo lugar com Mark. O hematoma no rosto, o curativo na garganta e a gota de sangue no pescoço estão vividamente desenhados na minha memória, como se ele estivesse bem na minha frente. A minha mente se torna um turbilhão de pensamentos confusos e contraditório. A minha expressão é de raiva, surpresa, raiva... alívio. — Mas… mas era ele quem estava me perseguindo. Ele veio aqui. Eu não entendo por que vocês estão me perguntando sobre isso. As palavras saem apressadas e paradas. Acho que deveria ter ficado em silêncio. — Senhorita Wilson. Só estou informando que encontramos o corpo do seu marido. Ainda não perguntei nada sobre ele. Eu entendo que você está morando aqui há algumas semanas. O que não entendo é o nome de Olivia. Pelo que entendi, aqui você se chama Olivia Turner. — Foi culpa dele. Digo a ela. O meu breve esclarecimento não a satisfaz. — Essa seria minha primeira pergunta. O motivo da mudança de nome. Muito curioso. Ainda mais dadas as circunstâncias que me trouxeram até aqui. Então agora sou suspeita do que aconteceu com o homem que me atormentou durante anos e que me perseguiu até aqui? Digo em voz alta. Então eu mordo a minha língua. Eu não deveria ser tão expressiva. Talvez eu precise de um advogado para me aconselhar. — No momento você não é suspeita, Emma. Mas há muitas perguntas que gostaríamos que você respondesse. Acho que será mais confortável para nós duas se formos para a delegacia… Ela diz agora, me chamando pelo primeiro nome e apontando para o interior da padaria onde Lilly, Larissa, Alba, Mary e alguns clientes ficam parados no vidro da entrada assistindo tudo como se fosse um filme. Respiro fundo uma, duas, três vezes, percebendo que essa reviravolta nos acontecimentos tem consequências significativas para minha vida em Denton. Olho ao meu redor, buscando o apoio silencioso dos que estão na padaria, mas muitos evitam trocar olhares, como se quisessem esconder o fato de que não estão vendo o que estão vendo. — E tem que ser agora? Tenho muito trabalho agora. — Senhorita Wilson. Você entende o que acabei de te dizer? Estamos falando de cadáver, não de multa por não registrar o parquímetro. Afirma a detetive Janssen, entre irritada e desesperada. — Ok, eu vou com você. Mas deixe-me contar ao meu chefe. Eu não quero outro problema com ela. Jane me diz com um aceno de aprovação para fazer isso. Digo a Lilly que isso é uma questão de rotina e que não chegarei mais do que algumas horas atrasada. — Quando eu voltar, explicarei a você o meu nome, Lilly. Tenho certeza que você vai entender. Eu acrescentei. — Eu só não quero problemas, Olivia... ou Emma. Ou como você quiser ser chamada. Me ligue. Lilly me diz, virando as costas para mim e voltando às suas tarefas.
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