Capitulo 1: PRÓLOGO

951 Words
MESES DEPOIS Acordo com o despertador tocando e a mesma sensação de vazio no peito. Mais um dia comum. Nada de especial, nada de diferente. Me levanto, tomo banho, escovo os dentes, visto jeans e uma camiseta simples. Enquanto penteio o cabelo em frente ao espelho, flashes da noite em que estive com ele invadem minha mente como uma avalanche. O calor do seu corpo no meu. A forma como seus lábios encontravam cada pedaço da minha pele como se decorasse um mapa secreto. Como ele dizia meu nome entre beijos, como se eu fosse a única mulher no mundo. Eu ainda o amo. Mais do que jamais amei alguém. E o pior... tenho um segredo preso na garganta há dois anos. Dois anos de silêncio. Dois anos de distância. E agora, a verdade ameaça me engolir viva. Assim que a última aula termina, jogo os cadernos na mochila e saio apressada. Preciso de ar. Mas antes mesmo de alcançar o portão da faculdade, escuto vozes familiares me chamando: — JESSY! ESPERA AÍ! — grita Abigail, esbaforida, ao lado de Charlotte. — Pra que a pressa toda, garota? — Charlotte aparece na minha frente rindo, com os cabelos desgrenhados pelo vento. — Oi, meninas... — Sorvete? — pergunta Abigail, com aquele sorrisinho maroto que já entrega a armação. — Agora? — Sim. A menos que tenha um compromisso importante... — Não... nenhum. — Ótimo. Vambora então! — Abigail já me puxa pelo braço. — Quem vai estar lá? — pergunto desconfiada. Toda vez que ela quer “só um sorvete”, tem treta. — Só nós... — ela diz, mas Charlotte a entrega: — É o Jhonny. — Charlotte! — Abigail se desespera. — O quê? Ela ia descobrir de qualquer jeito! — O Jhonny não é amigo do seu irmão? — pergunto, incrédula. — É... Mas ele não pode saber ainda. Por favor, finge que não viu nada. — Ai, Bi... Tá, vamos logo. Abigail solta um gritinho animado. Entramos no carro de Charlotte e seguimos para a sorveteria. Enquanto Abigail desaparece com o tal Jhonny, eu e Charlotte ficamos nos empanturrando de sorvete, comentando as loucuras da vida. — Valeu, migas! — diz Abigail, ao me deixar na frente da casa do meu tio, com um sorriso travesso. — Disponha — respondo com ironia. — Até amanhã, Jessy! — Charlotte acena. Desço do carro, coloco a mochila nos ombros e sigo até o portão. Vasculho minha bolsa em busca da chave, xingando mentalmente a minha desorganização. — Merda... — murmuro. Até que a encontro no bolsinho menor. No exato momento em que coloco a chave na fechadura, braços fortes me envolvem por trás com brutalidade. Meu grito morre quando um pano úmido cobre minha boca e nariz. Tento lutar, me debato, mas meus membros ficam pesados. Meu corpo cede. Apago. Acordo com a cabeça latejando. O ambiente ao redor é escuro, abafado. Há apenas uma janela pequena, por onde entra um feixe de luz. Um homem encapuzado está parado ali. — Q-quem é você? — minha voz sai fraca, trêmula, embargada de medo. — Que bom que você acordou... — ele diz, a voz distorcida. — Onde eu tô?! Me solta! — puxo a perna e percebo: estou acorrentada. Uma corrente grossa prende meu tornozelo ao chão de cimento. — Não vai a lugar nenhum, minha princesa. Ainda estamos só começando... e falta o convidado especial da noite. — Q-que convidado? — Logo você vai ver. Agora, fique quietinha. Ele some pela porta. Grito, imploro, esperneio... mas ninguém ouve. Me encolho no canto, abraçando os joelhos, até ouvir passos novamente. A porta se abre com um rangido macabro. O homem mascarado entra. E atrás dele... Gabi. — GABI?! — grito, o coração batendo descontrolado. Ele tenta correr até mim, mas é empurrado com violência. — Desgraçado! Se você encostar um dedo nela... — Gabi rosna. — Você não manda em nada aqui! — o sequestrador grita e acerta uma coronhada brutal na cabeça de Gabi, que cai. — NÃOOOOO! — meu grito ecoa pelas paredes. Tudo gira. A tontura me domina. Caio. Desmaio. (***) A vida e a morte… tão próximas, tão distantes. Nunca imaginei que a morte viria por mãos tão familiares. Nunca pensei que o amor me colocaria diante da escolha mais c***l: eu ou ele. Não dá pra descrever a dor de ter uma faca nas mãos, sabendo que o próximo movimento vai mudar tudo. O gosto do sangue, o cheiro de ferro, o coração em ruínas. As mãos tremem. As lágrimas caem como chuva. Mas não tem volta. — Eu te amo. — digo entre soluços. — Mais do que a vida. — NÃO, MEU AMOR! NÃO FAZ ISSO! — ouço a voz dele, desesperada. — Mata logo esse desgraçado! — grita o monstro atrás de mim. — Por quê? Por que você tá fazendo isso comigo? — pergunto, olhando nos olhos daquele que um dia eu confiei. — Já chega de drama! — ele berra, o rosto deformado pelo ódio. — EU TE AMO! — Gabi grita, tentando alcançar minha mão mesmo ensanguentado no chão. Eu fecho os olhos. Respiro fundo. E enterro a faca em meu peito. A dor vem como uma onda. Mas o que realmente dói é saber que não vou vê-lo de novo. Que nunca vou contar a ele sobre nossa filha. Que nunca vou ver seus olhos descobrindo que nosso amor deixou um pedacinho dele no mundo. Tudo escurece. O som dos tiros ao longe. Passos correndo. Gabi gritando. E minha alma… se apagando. — Fica comigo… Olha pra mim… Não fecha os olhos… — ele suplica, mas minha visão já é só escuridão. Será esse… o fim?
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