JULIETTE

Capítulo Cinco

Minutos de silêncio foram feitos entre nós, os dois ali sabiam que eu precisava de tempo para digerir aquela informação, mas a minha necessidade de respostas era muito maior.

– Como podem saber que é Ele?

– Nós não sabemos, Juliette, apenas desconfiamos. _ A voz de Yasmim continuava meiga e receosa, o que era explicável, ela sabe que estou magoada.

– E por que vocês desconfiam? _ Raziel enfim se levantou, apesar de ainda estar no corpo do idoso indígena, ele parecia com o príncipe dos querubins, líder dos anjos querubins e cupidos.

– Jasmim, depois de Gabriel e Miguel, sendo que Lúcifer está preso, quem é que pode dispor daquele tipo de aura, aquele tipo de poder sem ser visto a olhos claros, que não pode ser visto diretamente uma face? _ Então eu entendo, era uma explicação lógica, essa que eu poderia aceitar ou não.

– Asmodeus descobriu de alguma forma que você é importante, ele está comandando o inferno há tempos, na verdade além desse ser que aparece em uma luz brilhante, ninguém mais sabe o porque de você ser importante.

As informações me penetravam com força, com rapidez, com desespero. Ele estava cuidando de mim, aguardando algum destino que ninguém sabia, e o pior, isso já faz anos, agora eu tenho apenas a pessoa que mais odeio na vida, com a que eu mais confiava a minha frente, preciso de mais respostas.

– Por que você está aqui? _ Pergunto ao homem.

– Eu já disse, proteger você.

– Não, não na Terra, aqui, nessa tribo, na Floresta, nesse corpo idoso.

Raziel olha para Yasmin, essa que não me encarou mais nos olhos, ainda resolveria a minha situação com ela, agora preciso encontrar um motivo para deixar que Raziel faça parte disso, ou então eu mesma terei o prazer de matá-lo.

– O corpo é idoso, mas a inteligência e conhecimentos desse lugar são extraordinários, mas o maior motivo é o esconderijo, não sei se sabe, Jasmim, mas essa tribo é desconhecida aos olhos de todos, até dos anjos.

– Quer dizer...

– Sim, estamos aqui agora e ninguém sabe disso, a partir do momento que você entrou na floresta, todos os seus rastros foram apagados, esse lugar é especial, cada canto dele tem algum tipo de magia que muitos desconhecem, estou aqui e Yasmin te trouxe para cá, porque aqui está segura. Vamos aguardar até que eu receba novas ordens. _ Olho diretamente nos olhos do homem, estava tão inerte que nem percebi o momento em que todos já estávamos de pé.

– Espera, você acha que eu vou ficar aqui esperando sei lá quem ou o que?

– Eu tenho certeza disso. _ Encaro Yasmin que no olhar dizia para eu aceitar, mas como poderia confiar nela de novo?

– Porque tem certeza que eu farei isso?

Então lá estava de novo o sorriso presunçoso daquele ser que tanto odeio, ele olha para Yasmim que abaixa rapidamente a cabeça.

– Porque aqui você está segura, te deixar em segurança é a missão de Yasmin, se você sair daqui ela será obrigada a ir atrás de você e se isso acontecer, a colocará em perigo de novo, assim como foi nos últimos dois anos. _ Então eu paraliso e encaro Yasmin, essa que se mantinha quieta e calada.

– Você... _ As palavras nem saíam da minha boca, imaginar Yasmin em perigo por minha causa era muito pior do que eu admitiria.

– Agora você entende? A escolha é sua, Jasmim, está livre para ir embora, mas mesmo que não queria, Yasmin é obrigada a ir atrás de você e te proteger nem que isso custe a própria vida.

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Depois daquelas palavras eu só queria pensar, pelo menos eles me deram isso, a pedido de Raziel, dois índios me levaram para outra oca, não diferente da anterior, aproveitando uma rede no meio do lugar deitei e fechei os olhos.

– Isso tudo é tão...

Falei baixo, mas nem conseguia encontrar a palavra certa, estava a mercê de um castigo, que por algum motivo maior era necessário, eu não poderia estar ligada a ninguém, eu não poderia saber o que estava acontecendo, e se fosse Ele, como eu poderia ser tão importante a uma causa Dele, se eu fui amaldiçoada por ter sido impura, pecadora?

– m***a, m***a, m***a.

Bato com a palma da minha mão na testa. Ainda tinham muitos mistérios para serem resolvidos, ainda tinham muitos problemas a caminho, ainda tinham muitas batalhas para lutarmos, mas quem era esse nós? Quem lutaria por uma causa que nem eu sei? Quem morreria por algo que ninguém sabe? E pior, quem de fato era o inimigo?

– Eu preciso... Respirar, eu preciso...

Desço da rede e calço minhas botas com uma rapidez surpreendente, logo me vejo correndo entre os homens de pele vermelha a caminho da floresta, preciso ficar sozinha, distante, preciso encontrar meu ponto de paz, isso só acontecia quando eu lembrava dela. Corri tanto que já estava dentro da floresta, perdida e sozinha, ou pelos menos eu achava que era assim. Meu coração estava acelerado e o corpo suado, cansado, ofegante.

– Laura, amor, onde estiver me ajuda, me ajuda a passar por isso, me ajuda e conseguir ter lucidez para decidir, me ajuda, por favor.

Eu falei baixo, sei que o céu particular dela deve ser um jardim cheio de flores lindas, cheirosas, ela sempre gostou de flores. Tal pensamento me fez sorrir, eu amava aquela mulher, eu ainda amo aquela mulher, acho que sempre amarei. Paro no meio da mata, escuto o som de passarinhos, alguns galhos quebrando, até que sinto uma mão tocar em meu ombro.

– O que está fazendo aqui? Já não me enganou o suficiente?

– Por favor, me deixa explicar.

– Não tem explicação, eu confiei em você, mas... _ Viro o corpo e encaro Yasmin. Ela me encarava com aquele olhar que tanto mexe comigo.

– Preste atenção no que está na sua frente...

Ela diz e eu passo a ficar mais confusa, as palavras se repetem em minha mente, assim como todos os acontecimentos das últimas horas, apesar de sentir a doçura na voz de Yasmin, eu não conseguia esquecer.

– É tão... Difícil, eu já perdi tanto, Yasmin, já perdi mais do que eu poderia suportar, você e Samandriel são as únicas pessoas que eu tenho, mas agora...

– Não, por favor, não diga isso. _ A morena se aproximou e me abraçou. – Por favor, por favor, nunca diga isso, por favor, veja, veja o que está na sua frente.

Sinto minha blusa azul molhar com as lágrimas de Yasmim, aquilo me parte o coração, impossível resistir, abraço-a de volta, aperto seu corpo contra o meu.

– O que está tentando me dizer? Porque não fala logo?

– Eu... Eu não posso, você tem que saber, você tem que...

Yasmin se afasta e me encara, seu olhar, seu lindo rosto, eu sei que são meros detalhes humanos, mas ainda assim é impossível não se sentir fascinada, afinal, eu sou uma simples humana.

– Por quê?

A morena se aproxima para perto de mim e coloca seus braços ao redor do meu pescoço e encosta nossas testas, sinto sua respiração bem próxima da minha, eu poderia fazer isso, eu quero fazer, eu iria fazer isso.

– Veja o que está na sua frente.

E antes que eu possa dizer ou fazer algo, Yasmin se afasta e vejo seu lindo corpo indo para longe de mim, sem olhar para trás, sem me dizer com todas as letras o que queria dizer. Apenas fico pensando em cada palavra da mulher, eu preciso mesmo chegar a uma decisão.

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– m***a, m***a, m***a, m***a.

Corro em direção à oca, pensando em como pude ser tão burra, era tão óbvio, tão claro. Chego até a tribo e vejo muitas mulheres sentadas ao redor de uma fogueira, já estava no início da noite, com certeza preparavam o jantar. Olho por todos os lados e nenhum sinal dela, iria a sua procura, mas sou parada por Raziel.

– Enfim, descobriu. _ Ainda não consigo suportar sua voz.

– Você sabe que ainda não te matei porque preciso saber tudo que você sabe, não é? Porque na hora que eu tiver uma oportunidade, não hesitarei, eu te matarei, faria isso sorrindo.

– Então estamos quites, você só está viva porque eu quero descobrir esse mistério ao teu redor. _ Sorri das suas palavras.

– Irônico, não é? O guardião dos segredos de Deus, não sabendo de um segredo Dele, ou não, vocês podem estar mentindo para mim, tentando me confundir, que seja, mas ainda assim é irônico. _ Raziel some com seu sorriso cínico e chega bem perto de mim.

– Não se ache muito importante, Jasmim, algo está destinado a você, mas não se iluda pensando que é algo bom, não pense que sua vida vai ficar boa, sua graça voltar e ser uma h*****a, você pode ser um reles sacrifício, uma simples mortal que não fará nenhuma falta.

– Eu vou conseguir a minha graça de volta. _ Raziel gargalha alto, sabendo do que eu falo, a quem me refiro.

– Ela? Não seja i****a, se você é pecadora, ela é muito pior, escolheu cair por isso, apesar de ser a missão dela, cairia de qualquer formar, isso nunca dará certo, faça isso e ela acordará morta, sabemos como funciona. Você já testou com um cupido e viu no que deu.

Fecho os olhos com força, foi pior ainda, pois o ser celeste teve uma morte à altura, pude ver a agonia de um companheiro.

– Você é... c***l.

– Eu sou eu, preciso ser eu. Você não pode fazer isso, ao menos uma vez na sua vida não seja egoísta, não faça disso mais um caso seu a ser resolvido, já cansei de limpar sua sujeira, confesso que não quero perder a minha melhor guerreira no momento.

Depois dessas palavras ele sai de perto, estava próxima a oca que Yasmin estava, respiro fundo e tiro forças de todos os lugares para ter coragem e encarar a morena, sei que seria difícil, mas ainda assim terei que enfrentá-la, pois ali estava em jogo os nossos futuros. Entro no local e a vejo de costas, sei que já me esperava.

– Porque não me disse nada? Por que ficou esse tempo todo sem dizer nada? _ Eram as perguntas mais urgentes do momento.