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1526 Words
Sua paixão é o combustível para as histórias! Vote, comente, compartilhe e juntos construiremos um futuro incrível para este livro. Estou ansiosa pelo feedback de vocês bjs Sofia Quando chegamos ao pequeno apartamento, a luz fraca da sala iluminava minha mãe. Ela estava sentada no sofá surrado, a cabeça levemente inclinada para o lado, cochilando. Uma manta fina cobria seus ombros, e seus cabelos, antes cheios de vida, agora pareciam mais ralos e brancos do que me lembrava. Achei estranho. Ela costumava me esperar acordada, ansiosa por saber como tinha sido meu dia, mesmo que eu evitasse os detalhes. "Mãe, está tudo certo?" Pergunto apreensiva, aproximando-me lentamente. Sua respiração era superficial, quase imperceptível. Ah sim, querida, está sim... só estou esperando o seu pai - aquilo me atingiu como um soco no estômago. Entre todas as coisas confusas em sua mente, essa lembrança dolorosa, essa figura ausente, ainda persistia. A demência precoce a havia alcançado cedo, aos cinquenta anos, roubando lentamente suas memórias, embaralhando o presente com um passado que eu tanto tentava deixar para trás. As meninas... eu percebi o olhar delas. Ella, com a testa franzida em uma tristeza compassiva, e Marina, com os olhos marejados, compartilhando a dor silenciosa daquela constatação. "Não, Mãe... Ele não faz parte das nossas vidas..." tento explicar, a voz embargada, sabendo que minhas palavras provavelmente se perderiam no labirinto de sua mente confusa. "Não, filha, ele sempre chega tarde... pode dormir, eu espero," disse decidida, um sorriso vago nos lábios, os olhos fixos em um ponto imaginário da sala, como se ele fosse realmente cruzar aquela porta a qualquer momento. "Tudo bem, mas eu espero, a senhora vai dormir, tá? Quando ele chegar, eu te acordo!" resolvo não contrariar. Era inútil discutir, e eu estava exausta demais para tentar trazê-la de volta à realidade. Muita coisa aconteceu hoje, e a fragilidade da minha mãe só aumentava o peso em meus ombros. "Tudo bem ..." ela se levantou com um pouco de dificuldade, apoiando-se nos braços do sofá, e caminhou lentamente em direção ao quarto, os passos arrastados e incertos. "Sofia..." chama Marina, a voz suave e carregada de preocupação. Mas eu não consegui responder com palavras. Apenas me joguei em seus braços, buscando naquele abraço apertado o conforto e a segurança que o mundo parecia ter me negado naquele dia. Era o que eu precisava... um porto seguro temporário, um lembrete silencioso de que, apesar de tudo, eu não estava completamente sozinha. "Ah, pequena Sofia, um dia ainda te converto," falou Marina, com um sorriso travesso e um brilho divertido nos olhos, enquanto vasculhava a geladeira. "Mas por enquanto... que tal um chá quente e muitos biscoitos... e um álcool 70 pra mim?" Ela completou a frase com uma piscadela maliciosa, erguendo uma garrafinha pequena e transparente. No mesmo instante, meu corpo reagiu antes que meu cérebro processasse a informação. A lembrança do cheiro forte e opressor do álcool no hálito do Patrone me invadiu, e eu corri instintivamente em direção a Marina, as mãos estendidas como se fosse arrancar a garrafa dela. "Não!" exclamei, a voz carregada de pânico, o coração acelerado. Marina arregalou os olhos, surpresa com minha reação repentina e intensa. Um sorriso divertido dançou em seus lábios enquanto ela levantava as mãos em sinal de rendição. "Calma, calma! Era brincadeira, sua assustada! Isso aqui é só para limpar a bancada, criatura!" Ela riu suavemente, mostrando a garrafinha mais de perto. "Eu sei que você não quer nem sentir o cheiro disso por um bom tempo." Senti o sangue subir ao meu rosto, a vergonha se misturando ao alívio. Soltei o ar que nem sabia estar prendendo, as mãos tremendo levemente. "Ah... desculpa... é que..." As palavras falharam, a imagem daquele homem ainda muito vívida em minha mente. Ella, que observava a cena em silêncio, se aproximou e colocou uma mão reconfortante no meu ombro. "Tudo bem, Sofi. A gente entende. Foi só uma brincadeira de mau gosto da nossa Marina." Ela lançou um olhar repreendedor para a amiga, que ainda sorria, um pouco sem graça agora. "Como um pedido de desculpas, que tal um doce?" Marina retirou de sua bolsa uma barra de chocolate meio amargo, minha favorita. A embalagem prateada brilhava sob a luz fraca da sala. "Me desculpa..." murmurou ela, estendendo a barra em minha direção, o sorriso travesso de antes substituído por uma expressão genuinamente arrependida. Seus olhos castanhos transmitiam um pedido silencioso de perdão. Olhei para o chocolate, depois para o rosto de Marina. Apesar do susto, eu sabia que sua intenção não era me magoar. Ela só tinha um jeito estabanado de tentar aliviar a tensão. Um pequeno sorriso curvou meus lábios. "Tudo bem," respondi, pegando a barra. "Mas da próxima vez, pegue mais leve com as brincadeiras, dona Marina." Ella soltou um suspiro aliviado e apertou meu ombro novamente. "Isso aí. Agora vamos esquecer um pouco esse pesadelo e aproveitar o chocolate." Ella pegou a barra da minha mão e a partiu ao meio, oferecendo um pedaço para mim e outro para Marina. Enquanto nos sentávamos juntas no chão da sala, dividindo o doce sabor amargo e reconfortante, o silêncio que pairava sobre nós era diferente daquele da rua. Era um silêncio de compreensão, de apoio mútuo, um lembrete de que, mesmo nos momentos mais sombrios, eu não estava sozinha. Ella logo deslizou os dedos pela tela do celular, seus olhos brilhando com antecipação. "Pronto! Meu mafioso predileto." Ela virou o aparelho para mim, mostrando a capa chamativa de um dorama. "Olha, sinceramente... pode ser um pouco... clichê... mas é engraçado e muito bom! E pensar que tudo começa com pacotinhos de doces e ele sendo algemado por ela..." Ella suspirou dramaticamente. "(Ps: realmente é legal o dorama, você vai ver!)" "Ahhh, Ella, nem vem! Eu quero o detetive!" murmurou Marina, com a boca cheia de pipoca, os olhos grudados na tela. "Se toca, Marina! Tá mais que na cara com quem ela vai terminar no final! Literalmente o nome é 'Meu Mafioso Predileto' e você acha que ela fica com o detetive?" perguntou Ella, revirando os olhos com uma exasperação divertida. "É mesmo..." Marina ponderou por um instante, mastigando a pipoca pensativamente. "...Não tem problema, eu fico com ele então..." respondeu, com um sorriso malicioso que nos arrancou gargalhadas, aliviando um pouco da tensão que ainda pairava no ar. Em algum momento da noite, o cansaço nos venceu, e adormecemos ali mesmo na sala, em nosso improvisado acampamento de solidariedade. Quando levantei, a luz fraca da manhã já entrava pela janela. Ella e Marina tinham partido, silenciosas como vieram, sem me acordar. Sabia que o trabalho as esperava, e sua presença na noite anterior já era um conforto inestimável. Minha mãe ainda dormia profundamente no quarto. Arrastei-me para fora do colchão, as costas doloridas, e comecei a arrumar a sala, tentando dissipar um pouco do caos da noite anterior. Tomei um banho rápido, a água quente lavando superficialmente a sensação de sujeira e medo. Preparei seu café com cuidado, o aroma suave preenchendo o pequeno apartamento, uma tentativa de normalidade em meio ao turbilhão. Até ouvir uma batida impaciente na porta. Quando abri, ali estava ele. O proprietário. "Bom dia, como vão?" disse, já invadindo meu espaço, entrando no apartamento sem sequer esperar por um convite. "Bom dia... achei que... fosse vir... semana que vem..." questionei sua presença, a surpresa e a apreensão misturando-se em minha voz. "Acho que deixei claro que havia mudado a data de pagamento junto com o reajuste do aluguel," disse, sentando-se no sofá com uma desenvoltura irritante, como se fosse o dono do lugar. "Não há nem um café?" Um ar de superioridade pairava sobre ele, como uma nuvem densa. Ele era aquele tipo de pessoa. Classe média baixa que ascendeu um degrau e agora se agarrava a essa mínima diferença social como se fosse um título de nobreza, olhando para todos abaixo com um desdém petulante. "A vontade é de jogar o café fervendo nessas calças imundas..." resmunguei mentalmente na cozinha, pegando uma xícara com raiva para o folgado. "Vejo que sua mãe ainda está doente... a quantidade de remédios aumentou..." disse, o olhar fixo na caixa de comprimidos que deixo no alto do armário, fora do alcance dela. "É a tendência dessa doença... não tem uma cura," suspirei cansada, não do peso do assunto em si, mas da invasão dele, da sua presença opressora em meu lar. "Sabe que... sempre me simpatizei por sua mãe..." levou a xícara à boca com uma lentidão calculada, como se saboreasse cada gole junto com minha crescente irritação. "Eu sei muito bem o tipo de 'simpatia' que o senhor tinha. Quando meu pai saiu, esse sem-vergonha aparecia, lhe prometendo rios e fundos, uma vida de 'rainha'. Mas ele também era, e ainda é, casado! Ela nunca caiu nessa sua lábia barata!" "Olha, eu já sei de tudo isso! E, por favor, deixe ela em paz!" detive-o de continuar, a fúria borbulhando em minhas veias. "Não... ela nunca me deu a chance..." um sorriso forçado, frio e calculista, surgiu em sua face. "Mas e você?" Velho nojento! vociferei em pensamento, sentindo o estômago se revirar.
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