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Estou ansiosa pelo feedback de vocês bjs
"Percebi o quanto vocês gostaram dos russos Tiago e Guilherme, e isso me inspirou a preparar um presente especial!
Para matar a saudade dos nossos mafiosos, publicarei "Patrone" primeiro. Ainda estou trabalhando em 'Mil Faces', um livro que exige muita reflexão e cuidado na escrita, por ser um pouco mais profundo. Por isso, a publicação pode demorar um pouco.
Então, para matar a saudade dos nossos mafiosos, está aqui Sr. Patrone: Sofia!"
Terá temas fortes! Se não é seu tipo de leitura proponho que não leia! Boa leitura ❤️
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Sofia
A Sicília, um caleidoscópio de cores vibrantes, história sussurrada em cada pedra e uma arquitetura que desafia o céu. As paisagens de tirar o fôlego, praias douradas beijadas por um mar azul-turquesa, casas com fachadas que explodem em tons de amarelo ocre, vermelho carmim e azul cobalto. E os homens... ah, os homens sicilianos, com seus olhos escuros penetrantes e um charme que parece emanar da própria terra. Essa poderia ser a realidade pintada em postais e romances, a Sicília que muitos idealizam. Mas para mim, Sofia, a paleta era bem diferente.
Minha Sicília particular se restringia a Palermo, mas não a cidade ensolarada dos guias turísticos. Minha realidade era um bairro pobre, onde a tinta descascava das paredes como memórias desbotadas e o cheiro de esgoto competia com o aroma distante de limões. Longe da opulência dos palácios e da brisa perfumada dos laranjais, minha casa era um pequeno apartamento com paredes úmidas e janelas que tremiam com o vento.
E eu, Sofia, não era siciliana de sangue, apesar de ter aprendido a amar o som gutural do dialeto local e a saborear a arancina como se fosse um pedaço do paraíso. Minha história começava bem longe daqui, no Brasil, um país tropical vibrante que eu m*l me lembrava. Meu pai, se é que essa palavra não me rasgava a garganta, conseguiu um emprego qualquer na Itália que incrivelmente era muito bom ele mandava muito dinheiro pra nós duas. Uma promessa de vida melhor, sussurrava ele para minha mãe, com aquele brilho fugaz nos olhos que sempre me deixava desconfiada. A transferência para a Sicília veio depois, como uma consequência inevitável de suas escolhas. Eu tinha um pouco mais de oito anos na época, carregando na bagagem a saudade do sol quente e das brincadeiras na rua com meus primos minha avó que fazia um delicioso bolo de laranja e meu vô com seu queijo ele dizia que eu era uma ratinha. Esse tipo de coisa não dava para carregar em minha bagagem ou todas as minhas coisas como também a vida da minha mãe.
Os primeiros meses na Sicília foram uma névoa de adaptação. A língua nova, os costumes diferentes, a melancolia constante da minha mãe. Meu pai, no início, ainda tentava manter as aparências, mas logo a máscara escorregou, revelando a irresponsabilidade que sempre pairou sobre ele como uma sombra.
Naquele dia em particular, a luz da lua entrava pelas venezianas em listras douradas, iluminando o pó que flutuava no ar. Eu, com meus oito anos e a ingenuidade que teimava em resistir, estava sentada no chão do meu quarto minúsculo, penteando os cabelos macios e castanhos da minha boneca Lili. Lili era mais do que um brinquedo; era minha confidente silenciosa, testemunha das minhas pequenas alegrias e das minhas angústias infantis. Vovó, com suas mãos habilidosas e um amor que transbordava em cada ponto, havia costurado para ela um guarda-roupa inteiro de vestidinhos coloridos e minúsculos sapatos de feltro.
De repente, um som cortou o silêncio do apartamento, um choramingo baixo e contido que vinha da sala. Uma pontada de preocupação gelou meu pequeno coração. Deixei Lili jogada no chão, com seus cabelos cuidadosamente arrumados, e corri descalça até a sala, o chão frio sob meus pés.
A cena que encontrei me atingiu como um tapa. Minha mãe, minha rocha, meu porto seguro, estava encolhida no sofá surrado, os ombros tremendo convulsivamente enquanto lágrimas silenciosas escorriam pelo seu rosto. Seus olhos, geralmente tão vivos e cheios de calor, estavam vermelhos e inchados, carregando um peso que eu não conseguia compreender.
"Mamãe?" Minha voz saiu hesitante, embargada pela emoção. Meus próprios olhos começaram a arder, a garganta fechando com um nó apertado. Vê-la daquela forma era como se o chão sob meus pés tivesse se aberto, me deixando à deriva em um mar de incerteza.
Ela se assustou com minha voz, limpando o rosto rapidamente com as costas da mão, tentando em vão disfarçar o sofrimento. "Sofia... querida... chama... o seu pai... para entrar. Está tarde..." Sua voz falhou algumas vezes, embargada pelos soluços que ainda escapavam.
"Não chora, mamãe..." Murmurei, aproximando-me e pegando sua mão fria e trêmula entre as minhas. Sua pele estava áspera, marcada pelo trabalho duro e pelas noites m*l dormidas.
Ela tentou me dar um sorriso fraco, forçado. "A mamãe não está chorando, tá vendo? Agora faz o que eu pedi."
Mesmo com um turbilhão de perguntas e um pressentimento r**m apertando meu peito, eu obedeci. Saí do apartamento, o corredor escuro e m*l iluminado ecoando meus passos hesitantes. E lá estava ele, no mesmo lugar de tantas outras noites, na calçada em frente ao prédio, largado como um boneco de pano esquecido. Uma garrafa de vidro âmbar escorregava de sua mão frouxa, o cheiro forte de álcool pairando no ar como uma nuvem densa.
"Papai... Entra!" Chamei, a voz tremendo levemente. Ele estava ali parado, o olhar perdido em um ponto invisível no asfalto rachado, alheio ao meu chamado, ao meu medo, à minha presença.
Iria insistir, como fazia quase todas as noites? Implorar, puxar sua manga, sentir o cheiro repugnante de bebida impregnado em suas roupas? Não. Algo dentro de mim se recusou. Eu era a criança da casa, a que deveria ser protegida, não a responsável por arrastar um adulto bêbado para dentro de casa. Aquilo não estava certo.
Com o coração apertado e uma raiva infantil borbulhando dentro de mim, me virei e entrei no prédio. Bati a porta com mais força do que pretendia, o som seco ecoando no silêncio da noite, e girei a chave na fechadura. Minha mãe já estava deitada na cama, o rosto pálido e os olhos fechados. Sem dizer uma palavra, me deitei ao seu lado, buscando o calor do seu corpo e o conforto do seu cheiro familiar. Dormimos juntas naquela noite, mãe e filha, unidas em um silêncio carregado de mágoas e incertezas, enquanto o som distante da rua testemunhava a ausência de um pai que escolheu a garrafa em vez do lar
A rotina se instalou como uma sombra persistente em nossas vidas. As noites de espera angustiante pelo meu pai se transformaram em dias de tensão palpável dentro de casa.
As discussões acaloradas ecoavam pelas paredes finas do apartamento, sua voz áspera e impaciente preenchendo o ar com uma raiva fria. Ele agia como alguém desprovido de empatia, vasculhando a casa em busca de qualquer objeto de valor que pudesse vender ou trocar por bebida. Não perguntava se estávamos bem, se tínhamos comido, se precisávamos de algo. Para ele, nossa existência parecia ser a última das suas preocupações.
Uma vez, enquanto eu e minha mãe tínhamos um pequeno momento juntas, fazendo um bolo de chocolate e brigadeiro - momentos esses que eu queria que sempre fossem assim, felizes, pois estava cansada de vê-la preocupada ou chorando pelos cantos por alguém que não a merecia - fomos interrompidas por batidas insistentes na porta.
Os vizinhos, com seus rostos fechados e olhares acusadores, começaram a bater em nossa porta com uma frequência alarmante. A barreira do idioma era um muro invisível que nos impedia de entender completamente a situação, mas a raiva em seus gestos e o tom áspero de suas vozes eram inconfundíveis. Felizmente, ou talvez ironicamente, uma outra vizinha, uma senhora com um coração maior que seu pequeno apartamento, se ofereceu para nos ajudar com a tradução. Ela falava um português arranhado, aprendido em alguma viagem distante, e com paciência nos explicou o que temíamos: meu pai havia pedido dinheiro emprestado a vários moradores do prédio, usando promessas vazias e a nossa presença como garantia.
Aquilo destruiu minha mãe por dentro, eu podia ver a dor estampada em seu rosto, a esperança se esvaindo a cada palavra.
Foi naquele dia, enquanto minha mãe ouvia a tradução da vizinha, o rosto empalidecendo a cada palavra, que a tênue esperança de um retorno ao Brasil se esvaiu como fumaça. Vovô, sempre precavido e desconfiado das artimanhas do meu pai, havia nos dado uma quantia considerável em dinheiro antes da viagem, suficiente para comprarmos as passagens de volta caso as coisas desandassem. Era o seu plano B silencioso, uma rede de segurança que ele esperava nunca precisássemos usar, já que minha mãe, como sempre, acreditava cegamente no meu pai.
Vi minha mãe correr até o armário onde guardava seus poucos pertences e vasculhar freneticamente até encontrar um de seus sapatos surrados. De lá, ela retirou um maço de notas cuidadosamente escondido. Com as mãos tremendo, ela distribuiu o dinheiro entre os vizinhos, pedindo perdão em um italiano vacilante e cheio de lágrimas. A humilhação estampada em seu rosto era uma ferida aberta que sangrava em silêncio.
Naquele momento, enquanto observava minha mãe se desfazer da nossa última esperança, uma confusão de sentimentos me invadiu. Eu não conseguia entender a lógica por trás das ações do meu pai, a irresponsabilidade que o impulsionava a nos colocar naquela situação deplorável. E, acima de tudo, não compreendia a passividade da minha mãe, a razão pela qual ela permanecia ao lado de um homem que parecia nos afogar em sua própria miséria.
Gostou? tem mais kkkkk