A Proposta - Anna Lara

1903 Words
Fui trabalhar como em um dia comum; é sábado, e certamente a casa estará cheia! O Pub não fica exatamente no centro da cidade. Casas de meninas precisam ser um pouco afastadas; não muito para não serem um lugar de risco, mas também não de tão fácil acesso — para que as esposas não encontrem os seus santos maridos facilmente! Tem muita mulher que coloca a culpa da destruição de um casamento nas garotas do JOB. Mas convenhamos: nenhuma delas foi buscar maridos algemados de ninguém! Infelizmente vivemos em uma sociedade hipócrita e machista, em que é mais fácil culpar uma terceira pessoa do que reconhecer que você mesma escolheu um traste para ser o pai dos seus filhos! Uma vez, ouvi no ponto de ônibus uma tagarela reclamando que "A polícia deveria acabar com os bordéis da cidade!". Imediatamente tive vontade de rir, mas me contive. Onde vocês acham que as autoridades ficam nas madrugadas, quando há uma ocorrência e os policiais levam horas pra chegar? Nem todos, mas alguns estão aqui, na área VIP. Bordéis, zonas, puteiros, ou como quiser chamar, rola muita propina! Autoridades usam nosso espaço para acertar acordos milionários. Sabemos que nosso Pub, além de ser um ótimo lugar para entretenimento, também já foi palco de muitos negócios. Pode ter certeza de que muitas leis de municípios — e até de estados — já foram criadas enquanto um indivíduo estava em um bordel, recebendo um boquete de uma de nós! Cheguei na rua e avistei o carro de André um pouco adiante. Meu coração se remexeu dentro do peito ao reconhecer seu rosto incrível, me esperando. André estava encostado na porta dianteira, com os braços cruzados sobre o peito. Ele usava uma camiseta branca e calça de sarja em tom marrom-claro. Meu Deus! Eu m*l conseguia respirar! O tecido estava extremamente colado às suas coxas e, mesmo sutilmente, marcava o seu pênis. Ele estava de óculos escuros, cabelos lisos e repicados num corte moderno e estiloso. Que homem gostoso! É só o que eu conseguia pensar! Quando me avistou, sua expressão facial se suavizou, e suas covinhas nas bochechas se destacaram. — Por que se arrisca vindo até aqui a essa hora? — falei, me aproximando dele. Mesmo André já tendo vindo outras vezes, eu sabia que era um risco aparecer por aqui sendo quem ele é! Apesar de ser extremamente humilde e simples, sabemos que ele é jornalista, e qualquer paparazzi de outra redação poderia usar esse descuido para destruir a sua carreira. — Preciso falar com você! — disse, me encarando. — Eu só atendo mais tarde! — respondi. — Eu não vim pra isso... — falou André, me desiludindo de qualquer fantasia que eu havia criado em dois minutos de conversa. — Ah!... Bem, eu não posso ir a nenhum lugar contigo agora. Tenho apenas uma hora para me arrumar! — expliquei. — Eu só preciso de cinco minutos! — disse, afastando-se do carro e se aproximando de mim, me fazendo prender o ar. — Eu vou viajar, Cindy! — Então veio se despedir? — esbocei um sorriso. — Pelo contrário, vim te convidar para ir comigo! — André tirou os óculos, e senti seu olhar fitar o meu. Eu odiava não estar com as minhas roupas e incorporada, pois, como Anna, eu ficava vulnerável! — Eu não posso! — falei, saindo de suas algemas invisíveis, que seriam o seu olhar. — Espera! — falou, puxando-me delicadamente pelo braço. — São só três dias! — Me virei, olhando-o. — Eu não posso faltar ao trabalho por três dias, André! — respondi. — Aah, então é isso? — disse, pensativo. O que ele achou que seria? Me virei de costas, fazendo menção de subir as escadas do Pub. — Eu te contrato! — disse alto. Parei de caminhar no mesmo instante. — Venha comigo como minha funcionária! Olhei-o de relance, achando aquilo uma loucura. — Vamos comigo? — pediu. Me aproximei dele e sussurrei: — André, você é maluco? Você não pode me levar para uma viagem! Além disso, você é casado! — É uma viagem a trabalho... — explicou. — Eu não quero ir sozinho! Até levaria a minha filha, mas ela se mudou recentemente e está se adaptando. — Olha pra você! — levantei a mão, apontando-o. — Pode levar a mulher que quiser! — Eu preciso de alguém profissional! Que saiba ser discreta e jamais exponha a nossa i********e por dinheiro! De fato, André tinha razão. Tantas coisas víamos e ouvíamos no Pub, e nunca contamos a ninguém! — Não vai sair barato! — falei, tentando fazê-lo desistir. Algumas meninas passavam pela calçada nesse momento, e Jasmine ficou me esperando na porta. — Eu pensei nisso! — André virou o celular, mostrando-me sua proposta em dinheiro. Ele foi discreto, falava baixo e m*l me olhava. — Eu quero mais um zero! — o sacaneei, segurando o riso. — Fechado! — ele nem hesitou. Isso me surpreendeu. — André, eu... — comecei a procurar desculpas. — Você tem o meu número. Eu saio amanhã de manhã! — me encarou. — Me liga! Ele entrou no carro e dirigiu rapidamente. Pela primeira vez, fiquei de pernas bambas sem ao menos ter transado! Caminhei até Jasmine, que estava olhando diretamente para mim. — Ô, coisinha gostosa, hein! — disse, com seu sorriso diabólico. — Esse daí não precisa nem de lubrificante! Eu sabia que se tratava de André. Jasmine não era a única que o achava lindo; De Neve e as outras também passaram com olhares maliciosos. Ao subirmos para os nossos quartos, Jasmine prosseguiu, sussurrando: — O bonitão vai voltar? — perguntou-me. — Hoje não! — respondi, desanimada. — Aah! — disse, descontente. — Eu também só vou ver o meu Ozzy na madrugada de quinta-feira. Eu sinto tantas saudades! — Ai, Jas... Por isso não devemos colocar nossos corações nisso! Lembre-se do que Gothel sempre fala... "Vendemos o nosso corpo por fora; por dentro, ele é totalmente nosso!" — frisei. — Porque o coração não se vende, amiga! — respondeu-me Jasmine. — E você consegue me dizer que não sente nada pelo André? — A única vez que me apaixonei por alguém, eu tinha quatorze anos. E prometi que isso nunca mais ia acontecer! Homens ricos não tiram prostitutas da zona e as tornam esposas, Jasmine! Isso são histórias contadas em bares ou em rodas de pescaria. Definitivamente, isso não existe! Jasmine se calou, pois sabia que, no fundo, eu dizia a verdade. Fomos cada uma para o seu quarto, nos transformar em personagens de entretenimento masculino! (...) A noite foi longa; como mencionei, a casa estava cheia. Apareceram clientes de todas as idades, cores e posições sociais. Até o grupinho sadomasoquista estava por ali. Esses, eu não quis nem de aproximação! Nem todo o dinheiro do mundo valia ser agredida por esses doentes da cabeça! No metrô, fiquei pensando na proposta de André. Olhei o seu número de telefone várias vezes em meu celular, mas não tive coragem de ligar. A oferta era tentadora! Era mais do que eu ganharia em uma semana no Castelo Club. E eu sabia que André não era um compulsivo por sexo; ele realmente queria uma acompanhante! Cheguei no prédio e notei um sorrisinho indecente nos lábios do porteiro. Será que ele ainda acredita que Carol e eu somos lésbicas? Quando adentrei o elevador, ouvi a voz de Max me chamando: — Anna, segura para mim?! — pediu. Segurei o elevador, e ele entrou. Max estava todo arrumado e cheirava a uísque. — Como vai? — disse, com um sorriso. — Vou bem, obrigada! — sorri. — Vejo que sua noite foi boa, amigo! — Foi só uma saideira com alguns amigos! — deu de ombros, sorrindo. — Ontem à noite, você já havia ido trabalhar, toquei a campainha do seu apartamento para chamar a sua amiga para comer uma pizza... — Caroline? — indaguei. — Não, a Gio. — suspirei, já imaginando a resposta da ruiva. — Ela praticamente bateu com a porta na minha cara! — disse Max, desolado. — Eu sinto muito, Max! — falei, ouvindo o elevador se abrir. — Mas ali você não arruma nada! Saí do elevador, indo em direção ao meu apartamento, com ele logo atrás. — Anna, fala com ela! — pediu. — Aaah, eu não vou ser cupido de ninguém! — levantei a mão em reprovação. — Além disso, combinamos não nos meter na vida uma da outra! Ele bufou. — Só pergunta pra ela... — insistiu. — Tenta descobrir por que ela não me dá nenhuma chance de aproximação? Revirei os olhos, procurando a minha chave. — É difícil pra vocês, homens, aceitarem que não causam o mesmo efeito em todas as mulheres, né? — arqueei as sobrancelhas. Ele ficou me olhando, como se esperasse uma resposta. — Tá! Eu vejo o que posso fazer! — dei de ombros. — Obrigado! — disse, beijando o meu rosto espontaneamente. — Mas não prometo nada! — falei, abrindo a minha porta. — Até mais! Ele acenou, sorridente. Abri o apartamento, e Christopher veio correndo na porta, miando. Ele parecia ter dormido a noite toda com a Carol. Ela estava no sofá, conversando em seu celular. Quando me viu, Carol sorriu e acenou. — "Sim, Pai, já estou indo..." — ouvi ela dizer e desligar em seguida. Coloquei minha bolsa no aparador e minhas chaves ao lado. — Bom dia! — falei. — Bom dia, Anna! — ela estava extremamente animada. — Você parece bem! Quer um café? — perguntei, indo até a máquina. — Não, obrigada... — disse, calçando seus coturnos. — Meu pai está me esperando na cafeteria aqui da rua. Assenti e continuei acariciando Christopher nos braços enquanto o meu café ficava pronto. — Anna, sei que você disse que não quer se envolver em nossas vidas, mas... — ela me olhou entusiasmada. — Eu beijei o Miguel hoje! Caroline vibrava. — Uau! — falei, feliz por ela. — E como foi? — perguntei. — Foi muito bom! Como se, com os meus pés, eu tocasse o céu! — respondeu, empolgada. — Você não havia beijado ele ainda? — questionei, pegando a minha xícara. — Não. — negou. — Foi bem em frente ao prédio! Agora entendo o sorrisinho sarcástico do porteiro. — E vocês estão juntos agora? — me atrevi a perguntar. — Não... Foi só um beijo! Nós dois sabemos que não pode haver mais nada além disso! — explicou. — Mas estou feliz que você esteja feliz! — respondi. — Independente da situação, a gente só se vive uma vez! — Posso te abraçar? — disse, abrindo os braços. — Claro! — coloquei minha xícara na mesa e a abracei. — Agora preciso ir ver o meu pai! — sinalizou. — Vai lá! — falei, sorrindo. — Aah! — disse, com a mão na maçaneta da porta. — Já dei ração para o Christopher... Meu gato miou rapidamente. — Obrigada por avisar, pois ele mente! — respondi, encarando o meliante. Carol saiu, e fui diretamente para o banheiro tomar uma ducha no meu incrível chuveiro. E as minhas próprias palavras não saíam da minha cabeça: "A gente só se vive uma vez!" E a proposta de André não saía da cabeça. Voltei para o quarto, pensativa, peguei a minha mala, que ficava embaixo da cama, e coloquei sobre o colchão. Será que eu deveria ir?
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