Ana
— Pegou tudo minha filha? Está levando casaco? Colocou os remédios na bolsa?
Dona Ruth sempre foi uma mãe muito zelosa e preocupada e está apavorada com a minha ida para o Rio de Janeiro.
— Peguei tudo mãezinha. Fica tranquila, tà! — Ela fez um beicinho, não pude deixar de rir.
— Vou sentir sua falta minha filha, vai com Deus e não se esquece de ligar está bem?
— Claro mãe! — O táxi chegou. Olhei em volta mais uma vez e suspirei, um misto de insegurança e coragem, os sentimentos estavam todos embolados dentro de mim. Beijei minha mãe e segui até o taxi.
A cidade do Rio Novo-RS era uma cidade pacata com moradores que sabiam da vida um do outros gostava dali e das outras mil casas para qual nos mudamos ao longo da nossa vida. Eu não via a hora de chegar na faculdade , no fundo sabia que sentiria falta daquele lugar, mas ao mesmo tempo sabia que estava seguindo rumo aos meus sonhos. Juntamos cada centavo que conseguimos ,eu fazendo b***s e vendendo algumas coisas e minha mãe como diarista para colocar dinheiro naquela poupança para seguir para outro estado. Depois de uma abraço apertado e algumas lágrimas , passei pelo lugares que sempre ia com Bruno enquanto ia em direção ao aeroporto e meu coração doeu novamente por todas as promessas que foram quebradas por aquele traste . Faço uma promessa silenciosa de nunca mais deixar a minha felicidade nas mãos de homem nenhum.
Depois de algumas horas de vôo e mais um táxi cheguei ao apartamento de Lívia, minha prima que morava no centro do Rio. Cansada, subi as escadas com as malas pesadas e bati na porta.
Lívia abriu a porta com um sorriso no rosto e me abraçou. Ela tinha cabeços lisos castanho claro e longos e olhos castanhos, tinha uma carinha de anjo que enganava a todos a nossa volta . Mas não a mim. sorrio enquanto vejo ela com os olhos arregalados, ela havia se esquecido de me buscar no aeroporto . E nesse exato momento ela está se dando conta disso .
— Olha quem chegou ! Caramba Ana me desculpe não ter ido te buscar, eu me enrolei e esqueci completamente. —Sorriu sem graça
— Eu meio que já sabia disso Liv, tudo bem o importante é que consegui chegar aqui.
Lhe dou um abraço apertado , havia um tempo que não a via . Nós não éramos primas realmente de sangue , porém crescemos juntos pois nossas mães sempre foram muito amigas .
— Entra aí, fica à vontade, deixa as malas aí no canto.
O apartamento de Liv não era muito grande, mas claro tinha uns toques de decoração e o melhor: uma prateleira cheia de livros, sorri internamente com isso.
Ela mostrou os quartos, eram no total três e o meu era pequeno, mas tinha tudo o que eu precisava e logo arrumaria uma forma de colocar ele com a minha cara.
Lívia encosta no batente da porta e me sorri
— Me diz como você está amiga. — Ela me dá um olhar preocupado e eu bufo .
— Não foi fácil Liv , ainda tem dias que é difícil aceitar que alguém tenha me enrolado dessa forma , mas estou tentando ficar bem .
— Ah meu amor, eu imagino ! Tenho vontade de arrancar as bolas desse i****a !
— Relaxa Livia , estamos bem longe dele agora e eu quero seguir em frente. Vamos deixar o passado no lugar dele .
— Você tem toda razão. Você deve estar com fome não é ? — Ela muda de assunto pois sabe que aquilo tudo ainda me doi muito e aceno que sim .
— Vou pedir comida para nós , fique a vontade.
— Valeu, Liv vou tomar um banho e já volto para te ajudar com as coisas.
— Tudo bem. — Liv sorriu me jogou um beijo , saindo em direção a cozinha.
Fui para meu quarto, tomei um banho aproveitei para lavar os meus cabelos e tirar aquela poeira de rua. Coloquei meus shorts jeans de ficar em casa que não eram tão curtos e uma blusinha de alcinha preta. Me olhei no espelho e tratei logo de arrumar o ninho que estava meu cabelo. Eu não era o exemplo de corpo perfeito, era gordinha e nem sempre me aceitei tanto, mas hoje eu vejo que isso não importa, ou importa?
Tento afastar esses pensamentos da minha cabeça e saio do quarto com o pensamento longe quando esbarro em mais o que parece um muro. Ele me segurou para não cair e acabei espalmando minhas mãos em seu peito, senti seu perfume amadeirado. Era moreno, tinha seus cabelos lisos e curtos, e seus olhos verdes me olhavam divertido.
Respira Ana. respira ...
Tiro minhas mãos dele e desvio meus olhos de seus olhar quente . Ele se afasta mas não tanto e continua a me encarar .
— Eita Liv! Não disse que a priminha chegava hoje!
Mas que abusado. Olhei para dentro da fuça dele e tive que falar:
— A priminha tem nome.
— Calma baixinha.
O quê? Mas que abusado!
Saio pisando duro para a sala.
Que legal Ana! Não faz nem 24 horas que você chegou e já tem um i****a no teu pé.
Chegando à sala encontro Lívia sentada com mais dois caras e uma menina.
— Ana quero que você conheça a nossa galera. Esse é o Marcelo, ele era alto, moreno, usava óculos e sorriu quando falou comigo. Felipe tinha uma barba grande, cabelo penteado para o lado, era branco e diferente de Marcelo me deu um pequeno aceno e voltou a olhar no celular. Fernanda era uma garota de cabelos rosa, piercing no nariz e extrovertida. Levantou com um sorrisão para falar comigo.
— Hey Ana! Prazer viu? Garota, você é linda hein.
— Está deixando a garota sem graça — disse o moreno olhando para mim
— Que isso Nanda, vou te comprar um óculo viu — sorri sem graça.
Bonita onde?
Mesmo que as pessoas às vezes falassem isso eu não conseguia acreditar, porque não me via dessa forma. Sempre fui gordinha e minha infância toda eu fui afastada dos grupinhos e quando não era isso era a minha própria família por parte de pai de que sempre dizia isso.
Eu estava tão entretida na conversa que não percebi a presença daquele debochado na sala. Pois é,ele estava lá me olhando.
— Acho que já conheceu o Gustavo — falou Nanda apontando para ele.
— E aí priminha — disse em tom cínico e eu me controlo para não revirar os meus olhos .
— Você só sabe fazer gracinhas ou saber conversar como alguém civilizado também ? — Olho dentro de seus olhos como se estivesse o desafiando e vejo suas sobrancelhas se levantando como sem acreditar que eu realmente estivesse falado aquilo , todos soltam uma gargalhada alta .
— Não liga não Ana. Gustavo tem essa cara de marrento, mas é um amorzinho. — Gustavo revirou os olhos sorrindo e joga uma almofada em Lívia.
— Ai! Seu ogro doeu!
A pizza chegou e comemos vendo um filme. Certos momentos sentia que estava sendo observada e quando olhava em direção onde estava Gustavo via que ele não disfarçava nem um pouco em olhar para mim.
O que significava aquilo? Eu não sabia ,e na verdade tinha preguiça de tentar saber.