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1700 Words
Allie Stuart Eu chego em casa ainda fervilhando, mas eu paro bem aqui na porta e respiro fundo. Eu não quero demonstrar muita coisa aos meus pais, porque eu não os quero irritados e nem pensando na possibilidade de ir tirar satisfação com o Ricardo. Eu quero esquecer que eu perdi dois anos da minha vida e esquecer que eu um dia me apaixonei por ele. Ao olhar para a garagem aberta, eu vejo o carro do meu pai e pelo jeito, eu vou ter que usar uma bela máscara para eles dois de uma vez. Por enquanto, eu vou ter que dizer que tudo está bem e esperar uns três dias para contar. Eles vão desconfiar se eu contar logo já que eu fui com ele à clínica e nem mortä eu vou contar a humilhação de hoje. — Respira, Allie... você consegue! Você se livrou de uma grande e por mais que tenha demorado, finalmente acabou. — Falo comigo mesma. — É... acabou! — Eu estico a mão para abrir a porta, mas ela é aberta na velocidade da luz e dou de cara com a minha mãe. — Nossa, eu achei que teria que chamar a polícia... — A minha mãe como sempre é dramática. — Desculpa, mãe... lá demorou um pouco mais do que eu esperava e eu fiquei sem bateria. Mas já cheguei! — Eu entro e começo a retirar os sapatos. — Que cheiro bom! — Comento tentando mudar o assunto, mas não dá certo. — Você sabe que eu fico preocupada e o seu pai mais ainda. — Ela ainda fica nisso. — E quero conversar com você... quero aproveitar que ele está no banho. — Mãe, eu já cheguei! — Falo não vendo necessidade disso tudo. — Eu já sou adulta, sabia? — Eu vou lhe seguindo até à cozinha. — Eu sei o caminho de casa e nada aconteceu... eu não tinha como prever que... — A minha fala é interrompida, porque eu vejo a Nayra sentada perto do balcão devorando uma tigela de cereais e leite. — Oi, amiga. — Oi! Eu vim te ver, mas você não tinha chegado e eu precisava contar tudo logo... — Fico confusa. — Ah, a sua mãe já sabe. — Sabe do quê? — O meu sangue gela aqui e a cara dela é de cínica. — Não ia me contar que o Ricardo estava te traindo? — Abro a boca chocada aqui e fico até nervosa. — O que? Como souberam disso? — Eu já estou perdida. Eu acabei de descobrir e elas já sabem? Onde é esse canal de informação? — Desculpa, amiga! Eu vim para te contar e quando cheguei aqui, a sua mãe me recebeu e arrancou as informações... você sabe, não dá para mentir para ela. — Eu vou mantär a Nayra. — Mas, como soube? — Não ia contar para mim? — A minha mãe fica visivelmente chateada e nem sei o que pensar. — Claro que eu ia, mãe, mas... não agora. Eu fiquei e estou com vergonha! — Eu vou até a cadeira e me sento ao lado da Nayra. — Como você soube? — Eu participo de um grupo geral das festas da cidade e através desse grupo, eu fui sendo adicionada em outros, enfim. De repente, começou a rolar umas fotos e vídeos de uns casais e acidentalmente, enviaram do Ricardo com uma garota lá. — Nossa, pelo jeito eu fui mesmo a última a saber. — Só pra constar, ela é ridícula! Eu duvido muito disso e para matär a curiosidade, eu tento ver pelo celular dela, mas ela não deixa. Insisto até onde eu posso e quando pego o celular dela, eu saio correndo pela cozinha e a gritaria é grande. Com certeza ela não quer me deixar mäl, mas eu quero saber. — Allie, me devolve sua p*****a! — Ela fica louca e com um medo visível. — Você está na minha casa e eu tenho direito de ver... — Vou procurando bem rápido e fico chocada no tanto de grupos que ela participa. — Caramba, você não tem vida? — Meninas, dá para parar? — A minha mãe pede já enlouquecendo junto. — Tia, manda ela me devolver! — Nisso, eu faço uma pesquisa no app com o nome da Sabrina e consigo o vídeo. — Que drogä, Allie! O vídeo em si, é deles numa festa longe aqui da cidade e eles estão numa mesa rodeados de pessoas. Ela é bonita. Linda, na verdade! Loira com cabelos longos e lisos, magra dos peitös fartos, boca carnuda e pelo jeito é bem alta. Eles conversam entre si e bem no final, ele sorrir para ela enquanto bebe e a beija bem ali como se fossem mesmo um casal. A sensação que sinto é tão rüim que é como se eu fosse a amante da situação. Como pode? Ele nunca quis me levar em festas, fazia tempo que não saíamos porque ele não queria e agora eu sei o motivo. Era para eu não descobrir nada já que ele saia com ela. — Eu disse que ela era feia. — Nayra diz querendo me consolar, mas mostro que não dá certo. — Tá legal, ela é bonita... mas tem cara de putä que não vale nada. — Eu sinto muito, minha filha. — A minha mãe me abraça e engulo o choro. — O pior foi como eu descobri. — Comento vendo que não tenho escapatória. — Descobriu o quê? — O meu pai aparece aqui e eu praticamente jogo o celular dela nos braços dela. — O que houve? — Nada, pai. É assunto de mulher... coisas íntimas. — Respondo o vendo dar de ombros. O clima pesa aqui na cozinha e é por nossa causa. Nem sabemos disfarçar e a Nayra é a principal. Nayra sempre foi maluca assim e somos amigas há anos. Eu já conheço bem o jeito dela. Ela é de extrema confiança, defende os seus que, no caso, estou no meio e tem um coração enorme. Nós estudamos juntas, sempre saímos juntas e temos até um código de lealdade. “Nunca um homem vai ficar entre nós duas.” O meu pai pega uma latinha de cerveja na geladeira e sai da cozinha nos deixando. Todos os dias a essa hora, ele bebe uma cerveja e assiste aos jogos dele quando chega do trabalho. É como ele relaxa e depois, jantamos à mesa e ele vai para o quarto com a minha mãe. Temos uma rotina boa. — Então, como descobriu? — Nayra pergunta voltando à sua tigela de cereais e leite. A minha mãe insiste na conversa e não tem jeito. Eu vou ter que contar! Lembrar daqueles minutos me deixa numa fúria enorme e numa vergonha maior. Eu me sinto uma tapada por não ter percebido. Eu não faço ideia do que pode ter o motivado a isso, porque não foi uma vez. Não foi aquele tipo de traição que ele ficou com alguém e acabou. Ele tinha uma vida dupla. Literalmente! Só falta eu saber que ele é casado, tem três filhos e todos estão numa outra cidade. Aí, credo! — Um canalhä... — Nayra rosna furiosa e bate as mãos na bancada. — Ah, que desgraçadö! Eu tinha dado uns belos tapas nele já que nem podia se defender e ia embora deixando-o largado lá... ele, nem ia lembrar mesmo. — Eu sinto muito, Allie... você não merece isso. — A minha mãe vem e me abraça outra vez e ela já se mostra indignada. — Nem imagino como você está, mas você se livrou. Se eu o ver, um tapa ele leva para criar vergonha. — Veio aqui só pra contar tudo, inclusive para a minha mãe? — Eu questiono a Nayra. — Vim para contar e para isso aqui... — Ela pega a sua bolsa e abre mostrando uns ingressos. — Eu tenho duas entradas vips para uma festa enorme na cidade e quero ir com você. — Eu fico chocada. — A festa é mais tarde e está tudo pago. É área vip, temos direito a petiscos e bebidas a noite toda e não é longe daqui. Vamos? — Ah, eu não estou a fim... o meu dia foi péssimo. — Digo logo sem ter animação para nada. — Por isso mesmo! Vamos dançar, ver gente nova e não vamos gastar nada. — Ela insiste desesperada. — Por favor, eu quero sair com você e a festa é de alto nível... não sei quando teremos uma chance dessa. — Nisso, ela olha para a minha mãe. — Por favor, tia Grace... ela precisa se divertir depois de tudo e eu garanto que vamos para a minha casa logo depois. A minha mãe pensa um pouco e a Nayra continua insistindo. Eu sei que eu poderia muito bem dizer que vou e ponto final já que sou maior de idade, mas, a minha mãe é brasileira e me criou de um jeito típico de lá. Posso ser maior de idade, mas as regras da casa são dela e do meu pai e eu tenho que seguir na linha. Como é que ela diz? Ah: meu teto, minhas regras! — Já que não trabalha amanhã, nada te impede de dançar um pouco... vamos aproveitar, Allie. — Ela implora sem parar. — Tudo bem, mas de beber ao ponto de ir ao chão. — A minha mãe já começa. — Nada de drogäs, não aceite nada de estranhos, cuidado com quem chega perto de você e quero você em casa bem cedo. — Eu aceno já sabendo das regras. — Ah, obrigada, tia Grace! — Nayra comemora mais que eu. — Vamos! Temos que nos arrumar e eu trouxe tudo no carro para não perdermos tempo. — Ela me puxa para subir em desespero e ela não para de falar. É, ela veio preparada. Preparada ainda é pouco. É isso que eu vejo quando entro no meu quarto e vejo uma bolsa enorme e roupas por todos os lados. A safada até separou a minha roupa e salto, adiantando tudo para eu não dar desculpa de nada. Ela é maluca!
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