Allie Stuart
Tudo é tão rápido que só tenho tempo de entrar no elevador com ele e apertar para descer e nisso, a voz começa na ligação.
— Oi, amor, já saiu da clínica? — Eu fecho os meus olhos bem forte e mordo os lábios movida pela incredulidade. — Ricardo? Amor? — Continuo calada e eu coloco no auto falante. — Amor, fala comigo... aconteceu alguma coisa? Está tudo bem?
— Sabrina... eu te amo tanto. — Eu olho para ele sem acreditar nisso e para completar, ele começa a chorar aqui. Sim, ele está chorando enquanto está apoiado na parede.
Isso está mesmo acontecendo? Há quanto tempo eu sou corna?
— Amor, o que houve? O que você tem? — A mulher insiste e mesmo chocada aqui, eu tento saber se eu conheço a voz e não, eu nunca ouvi.
Eu nem sei o que pensar, porque o choque é grande. Eu imaginei que tinha algo estranho, mas não que ele estava me traindo nesse nível.
— V-você deveria... estar aqui comigo... por que não está aqui? — Ele pega o celular da minha mão e quase vai ao chão, mas se apoia em mim. — Cadê você?
— Ricardo, eu não podia... você ainda não resolveu a sua situação. — Eu encaro o painel aqui sem saber o que dizer e observo a cena deprimente. — Espera... cadê ela? Quem está com você aí?
— E-eu vou terminar com ela... só... me espera. Por favor... — Nisso, ele deixa o celular cair com tudo no chão e pelo jeito quebrou alguma coisa. — Sabrina.
— Você é um filho da putä, Ricardo... — Rosno já enfurecida e eu pego o aparelho.
A minha maior vontade é de largar ele aqui sem mais nem menos, mas ele está tão desorientado que nem percebe que sou eu aqui. Vontade eu tenho de ir embora do nada, mas posso ter problemas. Tem câmeras aqui por todos os lados e por isso, eu tento levá-lo ao carro.
É aqui que fica quase impossível.
Ele não para de chamar por ela, não para de choramingar e ele não tem noção de como ele é pesado e chorão. Caramba, chorão! Nunca pensei que fosse vê-lo desse jeito como uma criança. Ele me paga por isso e depois de hoje, eu não quero mais olhar na cara dele.
Quando chegamos no carro, eu tento ver se dá para mexer no celular dele e por sorte, quebrou, mas dá para olhar. Eu vou direto nas mensagens e vou olhando as datas. Eles conversam e tem um caso há meses. Há meses! Como ele teve coragem de fazer isso comigo?
Por que não terminou logo?
Nós sempre falávamos de planos e hoje mesmo eu perguntei se ele queria terminar, mas ele negöu e disse que me ama.
Filho duma putä!
Ainda olhando aqui, eles já passaram dias juntos e tem fotos de um lugar que nem conheço. Ricardo tinha uma vida dupla completa e estou vendo bem o canalhä que ele é. Aproveitando aqui, eu começo a bloquear o meu número de tudo nesse aparelho dele e tudo que tem meu aqui. Fotos, vídeos, e-mails e nesse tempo, ele apagou aqui no banco de trás. Eu passo uns minutos aqui e a tal da Sabrina, liga várias vezes e eu desvio a chamada.
É outra vagabundä!
Quando eu vejo que não tem mais nada meu aqui, eu largo o celular contra o chão e piso em cima para quebrar de vez. Depois eu pego e largo dentro do carro e fecho a porta. Dou a volta para entrar e dou a partida saindo daqui para me livrar dele o quanto antes. Eu passo o trajeto todo segurando forte o volante e ele vai resmungando alguma coisa ali atrás.
Ele está acordando.
Depois dessa, eu quero esquecer que eu perdi a porcaria de dois anos com ele.
FORAM DOIS ANOS!!!
— Porrä... — Ouço a voz dele lá trás, mas ignoro.
As lembranças vêm com tudo na minha cabeça. Tivemos muitos momentos juntos e ele foi o meu primeiro. Eu me entreguei a um canalhä babacä e a um moleque. O ódio em mim só aumenta ao lembrar das mentiras e da minha ingenuidade. Ele me enganou direitinho e por muito tempo.
Mas isso acaba hoje!
Ao chegar na rua da casa dele, eu acelero para a sua cara e subo a calçada para estacionar. Eu pressiono a buzina várias vezes como uma louca mesmo e só paro ao ver a mãe dele saindo de casa atordoada.
— O que é isso? Allie? — Vládia vem toda confusa e eu desço do carro.
— Vim deixar o canalhä do seu filho e só vim para não correr o risco de ser presa... — Ela me olha toda perdida. — Porque por mim, ele estaria no chão do elevador daquela clínica.
— O que aconteceu? — Eu vou pegando as minhas coisas e Ricardo consegue abrir a porta do carro.
— O seu filho é um traidor de merdä e um sem caráter... — Digo em ódio que faz o meu sangue arder. — É isso que ele é e o que houve, é que ele estava me traindo há meses.
— Oh... você descobriu! — Ela faz uma expressão de pena que me deixa mais furiosa ainda.
— Você sabia? Protegia ele? — Essa mulher é maluca!
— Allie, querida... é coisa de homem... não tem como evitar. — Isso só pode ser piada.
— Nossa... você é ainda pior. Não me admira estar se separando do marido agora... merece os chifres que tem. — Isso a deixa em alerta de raiva, mas nem ligo.
— Olha como fala comigo, sua louca... mais respeito! — Sorrio sem humor na cara dela e ela corre para o filho que tenta sair do carro.
— Você não teve por mim, então... eu não ligo! Agradeça ao menos por eu ter vindo trazer essa coisa aí, porque faltou pouco para ele ficar largado no chão... dá licença! — Eu jogo as chaves do carro deles no chão e dou meia volta para ir embora.
Eu ouço alguns resmungos em palavrões dela, mas ignoro e continuo o meu caminho.
Eu que não vou debater com uma sem noçãö que apoia esse tipo de coisa. Já posso até ver que ela também ajudava pela cara que fez e isso me dá mais nojö e raiva.
No caminho aqui, eu consigo pedir um táxi e vou para casa sem olhar para trás. O ódio aqui chega ao nível de querer me fazer chorar e tento engolir o máximo possível. Eu me recuso a chorar por causa dele. Eu não quero usar as minhas lágrimas para isso.
V-você deveria... estar aqui comigo... por que não está aqui? Cadê você?.... E-eu vou terminar com ela... só... me espera. Por favor...
Ricardo não tem caráter algum.
A minha mente começa a lembrar das vezes que ele chegava mais tarde para me ver em casa e aposto que estava com a outra.
Que nojö!
Como ele teve coragem disso? Ele simplesmente não terminou comigo por falta de coragem e achou que me enganar era mais fácil. E foi por um tempo!
— Desgraçadö... canalhä... — Não consigo evitar o rosnado enquanto fecho as mãos em punhos.
— Disse alguma coisa, moça? — O motorista me olha pelo retrovisor e negö daqui.
— Não, desculpa... não é nada! — Respiro fundo e encaro a vista da janela.
A partir de hoje, ele morreu pra mim!
No caminho aqui, eu começo a imaginar que os meus pais vão ficar malucos com isso. O meu pai principalmente, porque no começo, ele sempre perguntava se eu queria mesmo esse namoro e agora, eu quebrei a cara lindamente. Nunca mais ignoro uma viso dele ou da minha mãe.
Nunca mais mesmo!