Lyandra
Depois de tudo que eu vivi no passado, depois de ter que fugir com um filho nos meus braços, eu ainda tive que parar em um abrigo para que ele não viesse atrás de mim, porque eu sei que ele vai me matar. Eu sei que ele vai fazer comigo a mesma coisa que fez com a minha irmã e que ele vai acabar matando o Eduardo também. Eu só tenho 20 anos e muitas responsabilidades nas minhas costas, e uma delas é proteger o meu filho daquele homem mau. Eu não sei como um pai pode ter coragem de querer matar o próprio filho, mas ele tem. E se ele souber que meu filho está vivo, ele vai acabar com a minha vida.
Eu praticamente não durmo à noite porque fico com medo de algum viciado fazer alguma coisa com o meu menino. Os dias aqui estão sendo difíceis e, quando chove, molha tudo. Mas eu não tenho para onde ir e nem tenho escolha. Desde que eu fugi daquele desgraçado, minha vida deu um giro de 360 graus. Mas eu prometi para mim mesma e para a Lúcia que eu iria proteger o Eduardo de tudo e de todos, e é isso que estou fazendo. Estou passando necessidade porque não consegui um emprego com uma criança pequena, mas eu sei que Deus vai me ajudar e que, uma hora ou outra, eu vou sair daqui.
Olhei o relógio; eram 3 horas da manhã. Todos já estavam dormindo e eu continuava acordada. Eu não confio nas pessoas daqui, mas não tenho o que fazer. Isso aqui se tornou a minha casa. Me sentei na cama, respirando fundo, quando meu filho começou a chorar. Encostei nele e ele estava muito quente; ele estava com febre.
Peguei ele no colo e saí correndo até o posto, entrei desesperada e gritando que meu filho estava passando muito m*l. Eles levaram ele para dentro e me pediram para aguardar, que o médico viria falar comigo. Fiquei ali durante horas, sem notícias do meu bebê, e quando o médico veio, ele não estava com a melhor cara do mundo, o que já me fez ficar com vontade de chorar. Mas eu tenho que ser forte; pelo menos eu preciso me fazer de forte.
José: A senhora é a mãe do Eduardo, né? Bom, nós precisamos conversar. O assunto é um pouco sério, então vou pedir para você me acompanhar. Eu sou o médico responsável pela ala pediátrica e também sou diretor do hospital. Como o assunto é sério, eu prefiro que a gente converse em um local privado. Eu me chamo José. Qual é o seu nome? - ele me perguntou, andando, e eu fui acompanhando.
Lyandra: Eu me chamo Lyandra. O que o meu filho tem?
José: Entre, por favor - ele falou, abrindo a porta de uma sala.
Me sentei na cadeira e ele se sentou de frente para mim.
José: Seu filho está com dois tumores no fígado e ele precisa de uma operação urgente que não é feita aqui no posto. Eu não sei quanto tempo demora para ele conseguir pelo SUS, mas já colocamos ele na fila. Mas pode ser que seja rápido ou que demore muito tempo. Nós não podemos garantir que a operação vai ser daqui a uma semana ou daqui a um mês, e eu não sei se ele tem todo esse tempo. Sinceramente, eu tenho que ser bem claro com você.
Lyandra: Pelo amor de Deus, tem que ter um jeito.
José: Claro que tem. Você é uma mulher muito bonita e essa cirurgia deve custar uns R$ 40.000. Eu posso te dar esse dinheiro se você aceitar se relacionar comigo em troca dele.
Lyandra: O que?
José: Eu sei que parece muito estranho um médico te oferecendo isso, mas eu te achei uma mulher muito bonita e eu adoraria te ter na minha cama. Sendo claro, você é muito nova e deve ter sido mãe cedo. Eu sei que você não tem esse dinheiro e esse é o jeito mais rápido e mais fácil de você conseguir. Vão ser só algumas noites e depois eu juro que vou te deixar em paz com o seu filho. Eu posso conseguir um hospital muito bom para ele ser operado e 80% das crianças ficam boas depois que fazem a operação, e ele vai estar dentro dessa porcentagem.
Lyandra: Eu não estou à venda, seu velho nojento.
José: Todos nós estamos, mas eu vou deixar você pensar melhor. Você tem certeza que quer deixar seu filho morrer na fila do SUS? Tem certeza que isso é melhor do que ter algumas noites comigo? Você é uma menina tão bonita, eu fico com t***o só de olhar. Pensa bem na minha proposta, só que você não tem muito tempo. Dois meses pode ser muita coisa para o seu filho na situação que ele está no momento.
Me levantei e saí correndo daquela sala. Fui para o local onde meu filho estava e comecei a chorar desesperada, sabendo que eu não tenho muitas opções.