Caterina Gallo
Eu entrei no chuveiro, o vapor do banho quente subia ao meu redor, mas nem mesmo a água escaldante conseguia apagar o calor que as palavras de Rocco haviam deixado em mim. Fechei os olhos, tentando lavar a sensação de sua respiração contra minha pele, o tom provocador em sua voz, aquele sorriso que parecia me desafiar a cada segundo. “Estipule um valor mais realista para os seus serviços.” As palavras ecoam na minha mente como um tambor, me fazendo sentir um amargor humilhante na boca, mas ao mesmo tempo me deixando mais quente com a possibilidade de tê-lo.
Eu não era ingênua. Sabia o que ele estava insinuando, o que ele queria que eu pensasse. Uma parte de mim, pequena e traiçoeira, não conseguia parar de imaginar o que aconteceria se eu cedesse. Se eu realmente jogasse o jogo dele e fosse para a cama com ele. Sacudi a cabeça, esfregando o sabonete com mais força contra a pele, como se pudesse limpar esses pensamentos absurdos.
Ele era um monstro. Um mafioso c***l. Um homem que matava sem hesitar, que comandava um império de sangue e poder. E eu? Eu era apenas uma garota tentando salvar minha família que veio parar em suas mãos.
Mas então por que meu coração batia tão rápido quando ele se aproximava? Por que eu sentia aquele calor ridículo toda vez que ele me olhava com aqueles olhos castanhos que pareciam enxergar através de mim?
Saí do banheiro embrulhada em uma toalha, o cabelo molhado pingando no chão de mármore. O quarto que Rocco me dera era grande demais, luxuoso demais, um contraste gritante com a simplicidade da casa onde cresci. A cama king-size, os lençóis de seda, o lustre brilhando suavemente no teto... tudo parecia gritar que eu não pertencia ali..
Sentei-me na beira da cama, tentando organizar meus pensamentos. Eu precisava de um plano, algo concreto. Não podia continuar dependendo da boa vontade de Rocco, nem me permitir ser puxada para esse jogo perigoso que ele parecia adorar jogar. Ele disse que eu deveria estipular um valor, mas como eu faria isso? Como se coloca um preço em algo tão íntimo, tão pessoal? E, pior, como eu poderia usar isso a meu favor sem me perder no processo?
Um leve toque na porta me tirou dos meus pensamentos. Meu coração deu um salto, esperando que fosse ele novamente, mas a voz suave de Isabella atravessou a madeira. — Signorina Caterina, trouxe algo para você comer. Posso entrar?
Suspirei, aliviada e ao mesmo tempo desapontada. — Claro, Isabella. Entre.
Ela abriu a porta, carregando uma bandeja com um prato de frutas, pão fresco e uma xícara de chá fumegante. Seu sorriso era gentil, mas aqueles olhos astutos continuavam me observando, como se tentassem decifrar cada movimento meu. Colocou a bandeja na mesinha ao lado da cama e se endireitou, ajustando o lenço em suas mãos.
— Você parece preocupada, signorina — disse ela, com um tom que misturava preocupação e curiosidade. — Algo está incomodando você?
Eu hesitei. Isabella parecia ser a única pessoa nesta casa que não me tratava como uma ameaça ou uma posse, mas eu sabia que ela era leal a Rocco. Qualquer coisa que eu dissesse poderia chegar aos ouvidos dele. Ainda assim, eu precisava de respostas, de qualquer pista que me ajudasse a entender o que estava acontecendo.
— Isabella, você já... já viu outras pessoas como eu aqui? — perguntei, mantendo a voz baixa. — Outras... dívidas como eu?
Ela ergueu uma sobrancelha, claramente surpresa com a pergunta, mas sua expressão logo se suavizou. — O senhor DeLuca lida com muitas pessoas, signorina. Algumas vêm e vão, outras... ficam. Mas você é diferente. Ele não costuma trazer pessoas para a mansão assim. Não com todos os privilégios recebe.
— Diferente como? — As palavras saíram antes que eu pudesse segurá-las. Meu coração acelerou, esperando uma resposta que talvez eu não quisesse ouvir.
Isabella sorriu, mas havia algo enigmático em seu olhar. — Ele a observa, signorina. Mais do que observa os outros. E isso... isso não é comum dele.
Minha garganta secou. Eu queria perguntar mais, pressioná-la para me contar o que ela sabia, se é que ela sabia de qualquer coisa, mas o som de passos pesados ecoou no corredor, interrompendo nossa conversa. Isabella se virou rapidamente, o sorriso desaparecendo de seu rosto, — Com licença, signorina. Tenho coisas a fazer. — Ela saiu apressada, deixando a bandeja para trás.
Rocco abriu a porta sem bater, como se o quarto fosse dele — o que, tecnicamente, era verdade. Ele estava com uma expressão diferente hoje, mais tensa, os ombros rígidos e os olhos carregados de algo que eu não conseguia decifrar. Não era a provocação de antes, nem a arrogância. Era algo mais... perigoso.
— Está pronta para conversar agora? — disse ele, a voz cortante. — Porque temos muito apra conversar com você Bambina.
Engoli em seco, puxando a toalha mais apertada contra o corpo. — Sobre o quê? — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava, mas por dentro, eu estava tremendo. — Eu posso me vestir?
— Claro, mas se apresse. — Ele deu um passo à frente, fechando a porta atrás de si com um clique que ecoou no quarto silencioso. — Precisamos falar sobre sua dívida. E sobre o que você está disposta a fazer para pagá-la. — Seus olhos percorreram meu corpo por um breve segundo, e eu senti o calor subir novamente, traidor, contra minha vontade e aquecer minhas bochechas pálidas. — Mas, acima de tudo, Amore mio, falar sobre o que eu sei sobre você.
Meu coração parou. Ele sabia. Sobre meu plano de fuga? Ou era algo pior? Fiquei de pé, tentando manter a postura, mas minha mente estava em disparada em todas as possibilidades que me rodeavam.
— O que você sabe? — Eu perguntei, minha voz quase um sussurro. Sentindo a minha mão tremendo enquanto apertava a toalha.
Ele sorriu, aquele sorriso lento e perigoso que fazia o meu estômago revirar um pouco. — Está tudo, bambina. Vá se vestir é hora de você decidir de que lado está.