postura
⬆️ @NewsPenha
Viral da Noite
E QUEM É O CASAL DO BAILE? 😳🔥
Ontem na Penha rolou flagra do tal ‘Revoltado’ com a mulher dele.
Ele protegendo ela, dançando abraçado, não soltava por nada.
As meninas surtaram.
A galera jura que ele é fielzona à mina.
Comentários:
💬 @moradora24
“Que homem, minha gente… se esse me olhasse UM segundo eu caía dura 😂🔥”
💬 @penhafeelings
“E a mulher dele é LINDA, viu? Deus me livre mexer com ela kkkkk”
💬 @danidapvh
“Ele é daquele que bota a mulher no colo e o morro no bolso 😳🔥”
💬 @surtadaspenha
“Se fidelidade tem nome, é esse aí. Pqp.”
💬 @lajefofoca
“A postura dele com ela? Queria pra mim 😭”
O sol nem tinha ganhado força quando o celular começou a vibrar debaixo do travesseiro, insistente, barulhento, quase desesperado pra chamar minha atenção. Abri os olhos com aquele peso de quem dormiu m*l e já acorda pronto pro pior: operação, batida, aviso do radinho, toque da base… qualquer coisa r**m.
Mas não.
Era Twitter.
Mais especificamente, meu vulgo rodando como se alguém tivesse jogado gasolina em cima e acendido um fósforo. Eu cliquei ainda meio zonzo, vendo a página se atualizar em turbilhão: vídeos, fotos, montagem, meme, comentário, print de comentário, gente surtando porque me viu com a Navylla.
“Revoltado sendo fofo com a mulher.” “c*****o, que postura.” “Queria um desses.”
Mistura de delírio, susto, t***o e perigo. Tudo junto.
Eu deslizei o dedo pela tela devagar, absorvendo cada palavra como se fossem murros no estômago e, ao mesmo tempo, aplausos.
A porta do quarto rangeu. Navylla apareceu sonolenta, cabelo bagunçado, pijama torto, me olhando com uma sobrancelha arqueada.
— Thayan… que inferno é esse vibrando igual abelha?
Eu só virei a tela pra ela, sem dizer nada.
Em segundos, ela arregalou os olhos, cobriu a boca, riu, riu de novo, e tornou a ler como se não acreditasse.
— Você tá… viral. Tipo… viral de verdade — ela disse, chocada.
— Pois é. Tô descobrindo agora — respondi.
Ela se aproximou, sentou no meu colo, apoiou o queixo no meu ombro e continuou rolando o feed, lendo tudo em silêncio, enquanto eu sentia o calor dela colado no meu peito.
— Eles tão te chamando de fiel, sabia? — ela disse, dando um sorriso pequeno que entregava mais do que queria mostrar.
— Eu sou — respondi direto.
Ela ergueu o rosto, me encarou por uns segundos, como se estivesse checando dentro dos meus olhos se aquilo era mesmo verdade. E encontrou. Porque era.
Então ela beijou meu maxilar devagar, com carinho, com orgulho — e com aquele medo escondido que ela achava que conseguia disfarçar.
Foi quando o rádio chiou, cortando o momento em dois.
Era missão.
Fora do morro.
Eu senti o corpo inteiro mudar de temperatura na hora. Missão fora do morro não era brincadeira. Eram ruas que eu não conhecia, gente que não respeitava nada, barulho diferente, terreno estranho. Ali, qualquer erro podia custar tudo.
Me levantei do sofá, e Navylla me seguiu com os olhos sem falar. Ela sabia que discutir não adiantava. Só me observava enquanto eu vestia o colete, prendia o pente extra, conferia a arma, ajeitava a calça.
— Vai ser rápido? — perguntou, voz baixa.
— Missão nunca é rápida. Só dizem que é.
Ela fechou os olhos por dois segundos, respirou fundo, segurou minha mão com força de quem tinha medo de soltar.
— Só volta. Eu não quero nada além disso. Só volta.
Beijei a testa dela, o nariz, a boca. E saí.
O ponto de encontro parecia cena de filme de ação: motos enfileiradas, carros aderidos de poeira, homens mascarados, olhos atentos, dedos inquietos no gatilho. Quando me viram, alguns assentiram com respeito. Meu vulgo tinha viajado rápido depois das últimas trocas de tiro. Respeito e medo andam de mãos dadas.
Paulista me chamou pro canto, direto ao ponto:
— Revoltado, tu vem comigo no carro principal. A gente vai pegar uma SUV de luxo que passa sempre na mesma hora. A vítima é limpa, não reage. A gente fecha, pega e vaza. Sem gracinha.
Assenti, firme. Missão limpa não existe, mas deixei ele acreditar no próprio discurso.
Fomos para o ponto. O ar parecia vibrar. A rua estava vazia, como se soubesse o que ia acontecer e estivesse se afastando pra não ser cúmplice. O som das motos ao longe avisou: era hora.
A SUV apareceu, bonita, brilhando, motorista distraído no celular — mais fácil que esperava.
As motos avançaram, agressivas, rápidas, cortando o caminho. O motorista freou no susto. Paulista jogou o carro na frente. Eu desci com a arma já apontada.
— Desce. Não pensa. Só desce — falei, voz afiada.
O cara era executivo: camisa social, gravata afrouxada, cara de quem ganha bem demais pra andar sozinho por ali. Ele tremia tanto que parecia que o corpo ia desmontar.
— Calma… por favor… eu tenho família…
— Então desce pra não dar m***a — respondi, frio.
Ele desceu. Largou carteira, bolsa, chave — tudo.
Entramos na SUV e saímos dali em segundos. Dirigimos até um beco alto, escondido, onde ninguém passava. A adrenalina pulsava tão forte que eu m*l percebia a respiração acelerada.
Abrimos tudo. Cartão. Dinheiro. Dois relógios caros. Um anel. E um cordão grosso de ouro que chamou minha atenção na mesma hora.
Passei o dedo nele. Pesado. Brilhante. Quente da mão do cara.
— Esse vai pra tua mulher, né? — Paulista riu.
— Claro que vai.
E foi isso.
Voltei pra laje com o coração ainda batendo acelerado por dentro do peito. A adrenalina não tinha passado. Nunca passa rápido. Nunca.
Navylla estava sentada no chão, pernas cruzadas, celular na mão, camiseta larga que deixava o ombro descoberto. O vento batia no cabelo dela, bagunçando de um jeito que só deixava ela mais bonita.
Quando ela levantou a cabeça e me viu, abriu um sorriso suave, pequeno, mas real.
Eu tirei o cordão do bolso.
Ele brilhou.
Ela congelou.
— Pra você — falei, simples assim.
Navylla levantou devagar, como se estivesse com medo de que o momento quebrasse se ela se movesse rápido demais. Pegou o cordão com as duas mãos, passando o dedo pelas correntes, analisando cada detalhe.
Ela engoliu seco, os olhos marejando sem choro cair.
— Thayan… isso é… isso é ouro. Ouro de verdade.
— E você acha que eu ia te dar o quê? Bijuteria?
Ela riu, emocionada, e colocou o cordão no pescoço. Ficou perfeito, destacando a pele dela, brilhando contra a luz do fim da tarde.
Ela veio até mim devagar, segurou meu rosto e disse, baixinho:
— Você é doido… completamente doido… mas é meu.
Puxei a cintura dela, encostei a testa na dela.
— Só seu.
De noite, o Twitter ainda fervia. Perfis de fofoca, gente do asfalto, meninas inventando teorias absurdas sobre mim, vídeos editados com música sensual, gente dizendo que queria “um Revoltado pra chamar de seu”.
Era engraçado. E perigoso.
Vulgo viral demais atrai polícia. Atrai delator. Atrai problema.
E, principalmente, atrai inveja.
Desviei o olhar do celular e encarei o morro lá embaixo. O barulho das motos subindo, a música tocando em alguma laje distante, crianças correndo no beco iluminado por lâmpadas fracas. Meu território. Meu mundo.
Pensei em dona Ana.
Ela já sabia de tudo. Ela fingia não saber pra não me perder por completo, mas sabia. Sabia pelo jeito que eu chegava. Pelos silêncios. Pelas roupas sujas. Pelos olhares dos vizinhos. Pelos boatos. Pelo medo.
E o amor dela não diminuía. Só doía mais.
Subi pra laje. Navylla dormia encostada no meu peito, respiração calma, cordão brilhando sobre o decote. Eu fiquei ali, acordado, olhando pro reflexo no pedaço de espelho quebrado.
Não era mais um garoto.
O que eu vi no reflexo não tinha nada de moleque traumatizado.
Era um homem.
Frio.
Calculista.
Respeitado.
Temido.
Marcado.
Um homem que, em um mês, tinha mudado completamente.
Senti o peso do fuzil apoiado ao lado. Minha nova extensão. Meu novo nome. Minha nova vida.
Respirei fundo.
Eu já não era Thayan há muito tempo.
Eu era Revoltado.
E, gostando ou não…
o morro inteiro sabia disso.
E agora…
o mundo inteiro também.