— Baylee, acorda! Sua professora já está chegando — Patricia balançou a filha, que resmungou algumas palavras desconexas e colocou o travesseiro no rosto.
— Eu não quero — falou contra o objeto, e por incrível que pareça, sua mãe foi capaz de entender o que ela falava mesmo assim.
— Filha, já conversei com você, levante e vá colocar uma roupa decente - Baylee se levantou bufando e foi em direção ao banheiro tomar um banho.
Quando foi para a sala, estava com uma feição nada boa, ela não gostava de estudar e ela não queria estudar.
— A gente não pode fazer um bolo enquanto você me ensina fração? - ela reclamou mais uma vez seguindo a mãe até a cozinha.
— Lee, você não tem mais treze anos, não está mais aprendendo fração. Agora vai aprender coisas mais complexas e precisa de uma professora —
Antes que a adolescente pudesse responder, a campainha tocou e ela revirou os olhos azuis indo atender. Abriu a porta e a professora estava lá, de pé, com uma pasta na mão e uma bolsa de lado.
Ela sorriu pra aluna que não retribuiu de início porque estava impressionada com o tanto que a filha da amiga de sua mãe havia mudado.
Baylee e Margaret tinham cinco anos de diferença e costumavam se ver com muita frequência quando a mais velha se mudou para o bairro com sua mãe, mas as coisas mudaram, Margô completou seus quinze anos, entrou no ensino médio, terminou um pouco adiantada e logo entrou na faculdade, a menina vivia estudando e Baylee quase não a via. A última vez que se viram tinha sido há pouco mais de um ano, no aniversário de Patricia, Margô saiu da faculdade e passou lá, onde ficou por poucos minutos, depois disso, mesmo morando no mesmo bairro, as duas nunca se viam.
— Bom dia — Margô disse sem graça.
— Er... Bom dia, entre — Baylee deu espaço para a professora entrar e a mesma entrou indo em direção ao sofá — A gente pode estudar na mesa — apontou para o móvel, e a mas velha assentiu indo para direção onde a menina tinha apontado.
Baylee sentou do lado dela, na mesa e as duas ficaram em silêncio, Margô mexia em sua pasta e a adolescente a observava.
Ela estava tão diferente. Lee pensava
— Oi, meninas — a mãe de Baylee se aproximou — Eu vou sair um minuto, já volto. O Danny está dormindo ainda e quando acordar não deve sair do quarto, então, vocês podem ficar bem a vontade — ambas sorriram e viram a moça sair pela porta.
— Como eu devo te chamar? — Lee perguntou — Eu não quero te chamar de senhorita e também não quero te chamar de Margaret, porque é muito formal — ela fez uma careta fazendo a mais velha rir.
— Pode me chamar de... Margô - ela ajeitou o óculos e olhou para Baylee, que estava fazendo uma feição pensativa. A adolescente assentiu, e sorriu.
— Fofo. Gostei —
— Okay, vamos começar — se virou para garota — Sua mãe me disse que você tem dificuldades em matemática e física, o que eu entendo. Mas, é nosso primeiro dia, eu não queria te assuntar - Margô riu — Vamos começar, então, com minha especialidade... Literatura — a professora sorriu.
Quando Billie ia responder, fora interrompida por seu irmão, acordando e correndo em sua direção.
— LEE! CEM PESSOAS OUVIRAM A NOSSA MÚSICA! —
— O quê? Como? - a adolescente perguntou surpresa.
Cantar era sua grande paixão, era o que ela se via fazendo no futuro, cantando e mostrando ao mundo sua voz. Danny, que também amava tocar instrumentos e cantar, ajudou a irmã a gravar uma música e juntos, eles colocaram em uma plataforma de música conhecida.
— Eu não sei - Daniel foi sincero parou um pouco para pensar — Podem ser da sua antiga turma de dança — ele ponderou.
— Danny... Não tem cem pessoas na minha aula de dança - Lee abriu um largo sorriso, ainda animada com a ideia de ter tantas pessoas ouvindo sua voz.
— Você canta? - Margô perguntou, tirando os dois da pequena bolha.
Daniel então se lembrou que a irmã estava no meio da aula e percebeu também que estava atrapalhando.
— Meu Deus! Me desculpa — ele pediu — Acabei me empolgando, sinto muito — ele ao menos esperou elas responderem, correu para o quarto e foi verificar mais uma vez pra ver se não estava ficando maluco.
Quando abriu o navegador do SoundCloud abriu um grande sorriso.
Já eram cento e duas pessoas agora.
— Então... Vamos voltar para a literatura — Baylee se recuperou e assim que falou o nome da matéria fez uma careta.
— Por que essa careta? Você não gosta de literatura? — a professora perguntou curiosa.
Como assim alguém não gostava de literatura?
— Eu só não gosto — Lee moveu os ombros.
— Mas, você gosta de música certo? — ela assentiu — Música é literatura —
— Não é a mesma coisa. Eu só não gosto desse negócio de livros, romances e... — Ela pensou um pouco, sabendo que sua próxima fala afetaria a professora —... Romeu e Julieta —
— Como? — Ela estava a ponto de surtar. Ela estava se segurando pra não pegar seu livro de literatura e passar na cara da aluna.
— São duas pessoas que não podem ficar juntas e se matam por isso, é clichê de mais —
— Duas pessoas, que estão apaixonadas e são impedidas de ficarem juntas por conta do contexto e das pessoas que vivem ao seu redor. É clichê? Sim, mas é o que a gente vive nos dias de hoje —
Baylee prestava atenção no que a moça a sua frente falava, mas em uma fração de segundo, sem querer desceu o olhar para seus lábios.
— Pensa comigo — a professora continuou - Imagine que você e eu estejamos apaixonadas, isso seria m*l visto pelas pessoas, por você ser um pouco mais nova e por sermos duas mulheres. Mas imagine que nosso amor seja tão forte a ponto de fazermos TUDO pra ficarmos juntas. Isso é Romeu e Julieta —
— Você falando assim não me parece ser uma história tão r**m, mas mesmo assim não é o meu forte - Margô se sentiu frustada, mas decidiu não começar aquela discussão naquele momento. Ela apenas continuou com a aula.
Explicou o início da literatura e o que ela considerava literatura, e quando acabou, já tinha chegado no fim da aula. A professora juntou seu material e olhou a menina mais uma vez.
— Você é muito concentrada, Lee, gostei de dar aula pra você — Baylee mordeu os lábios com vergonha, ela só prestou atenção na aula por causa de quem a estava dando.
— Obrigada — ela sorriu e acompanhou a professora até a porta.
— Lee? — Danny voltou, agora com os cabelos arrumados e com outra roupa - Eu estou entrando no SoundCloud toda hora e já estamos com quase trezentos ouvintes —
— Não acredito! — Billie abriu a boca em surpresa e abraçou o irmão.
— Parabéns — Margô disse sorrindo. Ela sentia vontade de abraçar a menina mas, não sabia se ela ia se sentir confortável — Eu vou indo, até amanhã —
— Até — Ela ouviu a voz de Baylee e foi andando pra casa, sorrindo.
Tinha gostado da primeira aula e estava disposta a fazer Baylee gostar de literatura.
— Mãe! Cheguei — gritou, jogando a pasta e a bolsa no sofá.
— Oi, filha — a mãe veio da cozinha sorrindo — Tem uma pessoa lá em cima, esperando por você — Margô pensou bem e arregalou os olhos correndo para o quarto. Quando viu Logan praticamente se jogou nos braços dele.
— Eu estava com tantas saudades — ela disse atacando seus lábios.
— Eu também, pequena — respondeu quebrando o beijo e passou a mão em seus cabelos.
— Quanto tempo até ir viajar de novo? —
— Uma semana — ela fez uma feição diferente, já que não tinha gostado na notícia — Não faz essa cara é o meu trabalho —
— Logan, você vive viajando, fazendo shows em bares de madrugada. Como acha que eu, sua namorada, me sinto? - Margô não queria brigar então apenas foi em direção ao banheiro — Eu preciso de um banho, quando acabar a gente conversa —
Margô pegou o celular do bolso e pôs no aplicativo de música, pensou um pouco tentando lembrar o nome da música na qual Danny tinha mencionado antes e quando lembrou digitou, logo encontrando.
303 ouvintes - ela sorriu e colocou pra tocar. Depois entrou no banho.
A voz de Baylee começou a soar pelo auto falante do celular fazendo toda a pele de Margô se arrepiar.
Que voz era aquela.
Margô sentiu alguém encostando em sua pele e suspirou, já deduzindo ser seu namorado.
— Não quero ficar brigado com você — Logan disse e ela assentiu. Ele foi beijando seu ombro e subindo o beijo para seu pescoço
— Não estou no clima, amor — ela respondeu se virando, dando um breve beijo em seus lábios. Logan saiu do box, ficando do lado de fora a observando.
- Quem é? A música é meio chata - ele pegou o celular e trocou de música colocando uma de sua banda.
— Baylee — ela pegou a toalha se enrolando — E a música é muito boa —
— Irmã do Danny Owen? Não sabia que ela cantava —
— Nem eu — ela trocou de roupa em sua frente e depois os dois deitaram na cama — Me surpreendi com sua voz —
Eles conversaram bastante e no fim Margô aceitou a próxima viagem do namorado.
Quando o mesmo a disse que ia largar a escola para tentar a carreira com a banda, ela tinha aceitado. Mas ela não imaginava que seu namorado tocaria em raves e bares. Era muito pra ela assimilar.
Ela não costumava dormir a tarde, mas naquele dia ela colocou a música de Baylee para repetir e dormiu escutando sua doce.
(...)
— Pode parar em um lugar antes? — Baylee perguntou ao irmão.
Eles decidiram ir à lanchonete para comer e estavam voltando, quando Baylee sentiu uma vontade enorme dentro de si.
Danny aceitou o pedido da irmã, parando onde ela queria.
A menina entrou na loja e arregalou os olhos vendo a quantidade de livros ali.
— Com licença? — perguntou a recepcionista — Eu queria comprar Romeu e Julieta -
— Está no corredor dois, clássicos da literatura — a moça apontou e depois deu um sorriso amigável.
Lee andou até o corredor e logo achou. Pegou o livro, pagou e voltou para o carro. Danny olhou pra ela e depois para o livro.
— Não me zoa, só... Anda logo — ele riu fraco, e deu partida, voltando finalmente para casa.
Baylee leu o clássico durante todo o resto da tarde e a noite e quando se deu por si, estava chorando no quarto. Patty ouviu as fungadas da filha e correu para o quarto.
— Filha, o que houve? — se aproximou.
— É tudo culpa daquelas famílias idiotas — ela fungou — Não dava pra aceitar as desavenças pela felicidade dos filhos? Pelo menos eles sobreviveriam — Patricia não entendeu sobre o que a filha estava falando mas, se aproximou e a abraçou.