Capítulo 1: Romeu e Julieta

1931 Words
— Baylee, acorda! Sua professora já está chegando — Patricia balançou a filha, que resmungou algumas palavras desconexas e colocou o travesseiro no rosto. — Eu não quero — falou contra o objeto, e por incrível que pareça, sua mãe foi capaz de entender o que ela falava mesmo assim. — Filha, já conversei com você, levante e vá colocar uma roupa decente - Baylee se levantou bufando e foi em direção ao banheiro tomar um banho. Quando foi para a sala, estava com uma feição nada boa, ela não gostava de estudar e ela não queria estudar. — A gente não pode fazer um bolo enquanto você me ensina fração? - ela reclamou mais uma vez seguindo a mãe até a cozinha. — Lee, você não tem mais treze anos, não está mais aprendendo fração. Agora vai aprender coisas mais complexas e precisa de uma professora — Antes que a adolescente pudesse responder, a campainha tocou e ela revirou os olhos azuis indo atender. Abriu a porta e a professora estava lá, de pé, com uma pasta na mão e uma bolsa de lado. Ela sorriu pra aluna que não retribuiu de início porque estava impressionada com o tanto que a filha da amiga de sua mãe havia mudado. Baylee e Margaret tinham cinco anos de diferença e costumavam se ver com muita frequência quando a mais velha se mudou para o bairro com sua mãe, mas as coisas mudaram, Margô completou seus quinze anos, entrou no ensino médio, terminou um pouco adiantada e logo entrou na faculdade, a menina vivia estudando e Baylee quase não a via. A última vez que se viram tinha sido há pouco mais de um ano, no aniversário de Patricia, Margô saiu da faculdade e passou lá, onde ficou por poucos minutos, depois disso, mesmo morando no mesmo bairro, as duas nunca se viam. — Bom dia — Margô disse sem graça. — Er... Bom dia, entre — Baylee deu espaço para a professora entrar e a mesma entrou indo em direção ao sofá — A gente pode estudar na mesa — apontou para o móvel, e a mas velha assentiu indo para direção onde a menina tinha apontado. Baylee sentou do lado dela, na mesa e as duas ficaram em silêncio, Margô mexia em sua pasta e a adolescente a observava. Ela estava tão diferente. Lee pensava — Oi, meninas — a mãe de Baylee se aproximou — Eu vou sair um minuto, já volto. O Danny está dormindo ainda e quando acordar não deve sair do quarto, então, vocês podem ficar bem a vontade — ambas sorriram e viram a moça sair pela porta. — Como eu devo te chamar? — Lee perguntou — Eu não quero te chamar de senhorita e também não quero te chamar de Margaret, porque é muito formal — ela fez uma careta fazendo a mais velha rir. — Pode me chamar de... Margô - ela ajeitou o óculos e olhou para Baylee, que estava fazendo uma feição pensativa. A adolescente assentiu, e sorriu. — Fofo. Gostei — — Okay, vamos começar — se virou para garota — Sua mãe me disse que você tem dificuldades em matemática e física, o que eu entendo. Mas, é nosso primeiro dia, eu não queria te assuntar - Margô riu — Vamos começar, então, com minha especialidade... Literatura — a professora sorriu. Quando Billie ia responder, fora interrompida por seu irmão, acordando e correndo em sua direção. — LEE! CEM PESSOAS OUVIRAM A NOSSA MÚSICA! — — O quê? Como? - a adolescente perguntou surpresa. Cantar era sua grande paixão, era o que ela se via fazendo no futuro, cantando e mostrando ao mundo sua voz. Danny, que também amava tocar instrumentos e cantar, ajudou a irmã a gravar uma música e juntos, eles colocaram em uma plataforma de música conhecida. — Eu não sei - Daniel foi sincero parou um pouco para pensar — Podem ser da sua antiga turma de dança — ele ponderou. — Danny... Não tem cem pessoas na minha aula de dança - Lee abriu um largo sorriso, ainda animada com a ideia de ter tantas pessoas ouvindo sua voz. — Você canta? - Margô perguntou, tirando os dois da pequena bolha. Daniel então se lembrou que a irmã estava no meio da aula e percebeu também que estava atrapalhando. — Meu Deus! Me desculpa — ele pediu — Acabei me empolgando, sinto muito — ele ao menos esperou elas responderem, correu para o quarto e foi verificar mais uma vez pra ver se não estava ficando maluco. Quando abriu o navegador do SoundCloud abriu um grande sorriso. Já eram cento e duas pessoas agora. — Então... Vamos voltar para a literatura — Baylee se recuperou e assim que falou o nome da matéria fez uma careta. — Por que essa careta? Você não gosta de literatura? — a professora perguntou curiosa. Como assim alguém não gostava de literatura? — Eu só não gosto — Lee moveu os ombros. — Mas, você gosta de música certo? — ela assentiu — Música é literatura — — Não é a mesma coisa. Eu só não gosto desse negócio de livros, romances e... — Ela pensou um pouco, sabendo que sua próxima fala afetaria a professora —... Romeu e Julieta — — Como? — Ela estava a ponto de surtar. Ela estava se segurando pra não pegar seu livro de literatura e passar na cara da aluna. — São duas pessoas que não podem ficar juntas e se matam por isso, é clichê de mais — — Duas pessoas, que estão apaixonadas e são impedidas de ficarem juntas por conta do contexto e das pessoas que vivem ao seu redor. É clichê? Sim, mas é o que a gente vive nos dias de hoje — Baylee prestava atenção no que a moça a sua frente falava, mas em uma fração de segundo, sem querer desceu o olhar para seus lábios. — Pensa comigo — a professora continuou - Imagine que você e eu estejamos apaixonadas, isso seria m*l visto pelas pessoas, por você ser um pouco mais nova e por sermos duas mulheres. Mas imagine que nosso amor seja tão forte a ponto de fazermos TUDO pra ficarmos juntas. Isso é Romeu e Julieta — — Você falando assim não me parece ser uma história tão r**m, mas mesmo assim não é o meu forte - Margô se sentiu frustada, mas decidiu não começar aquela discussão naquele momento. Ela apenas continuou com a aula. Explicou o início da literatura e o que ela considerava literatura, e quando acabou, já tinha chegado no fim da aula. A professora juntou seu material e olhou a menina mais uma vez. — Você é muito concentrada, Lee, gostei de dar aula pra você — Baylee mordeu os lábios com vergonha, ela só prestou atenção na aula por causa de quem a estava dando. — Obrigada — ela sorriu e acompanhou a professora até a porta. — Lee? — Danny voltou, agora com os cabelos arrumados e com outra roupa - Eu estou entrando no SoundCloud toda hora e já estamos com quase trezentos ouvintes — — Não acredito! — Billie abriu a boca em surpresa e abraçou o irmão. — Parabéns — Margô disse sorrindo. Ela sentia vontade de abraçar a menina mas, não sabia se ela ia se sentir confortável — Eu vou indo, até amanhã — — Até — Ela ouviu a voz de Baylee e foi andando pra casa, sorrindo. Tinha gostado da primeira aula e estava disposta a fazer Baylee gostar de literatura. — Mãe! Cheguei — gritou, jogando a pasta e a bolsa no sofá. — Oi, filha — a mãe veio da cozinha sorrindo — Tem uma pessoa lá em cima, esperando por você — Margô pensou bem e arregalou os olhos correndo para o quarto. Quando viu Logan praticamente se jogou nos braços dele. — Eu estava com tantas saudades — ela disse atacando seus lábios. — Eu também, pequena — respondeu quebrando o beijo e passou a mão em seus cabelos. — Quanto tempo até ir viajar de novo? — — Uma semana — ela fez uma feição diferente, já que não tinha gostado na notícia — Não faz essa cara é o meu trabalho — — Logan, você vive viajando, fazendo shows em bares de madrugada. Como acha que eu, sua namorada, me sinto? - Margô não queria brigar então apenas foi em direção ao banheiro — Eu preciso de um banho, quando acabar a gente conversa — Margô pegou o celular do bolso e pôs no aplicativo de música, pensou um pouco tentando lembrar o nome da música na qual Danny tinha mencionado antes e quando lembrou digitou, logo encontrando. 303 ouvintes - ela sorriu e colocou pra tocar. Depois entrou no banho. A voz de Baylee começou a soar pelo auto falante do celular fazendo toda a pele de Margô se arrepiar. Que voz era aquela. Margô sentiu alguém encostando em sua pele e suspirou, já deduzindo ser seu namorado. — Não quero ficar brigado com você — Logan disse e ela assentiu. Ele foi beijando seu ombro e subindo o beijo para seu pescoço — Não estou no clima, amor — ela respondeu se virando, dando um breve beijo em seus lábios. Logan saiu do box, ficando do lado de fora a observando. - Quem é? A música é meio chata - ele pegou o celular e trocou de música colocando uma de sua banda. — Baylee — ela pegou a toalha se enrolando — E a música é muito boa — — Irmã do Danny Owen? Não sabia que ela cantava — — Nem eu — ela trocou de roupa em sua frente e depois os dois deitaram na cama — Me surpreendi com sua voz — Eles conversaram bastante e no fim Margô aceitou a próxima viagem do namorado. Quando o mesmo a disse que ia largar a escola para tentar a carreira com a banda, ela tinha aceitado. Mas ela não imaginava que seu namorado tocaria em raves e bares. Era muito pra ela assimilar. Ela não costumava dormir a tarde, mas naquele dia ela colocou a música de Baylee para repetir e dormiu escutando sua doce. (...) — Pode parar em um lugar antes? — Baylee perguntou ao irmão. Eles decidiram ir à lanchonete para comer e estavam voltando, quando Baylee sentiu uma vontade enorme dentro de si. Danny aceitou o pedido da irmã, parando onde ela queria. A menina entrou na loja e arregalou os olhos vendo a quantidade de livros ali. — Com licença? — perguntou a recepcionista — Eu queria comprar Romeu e Julieta - — Está no corredor dois, clássicos da literatura — a moça apontou e depois deu um sorriso amigável. Lee andou até o corredor e logo achou. Pegou o livro, pagou e voltou para o carro. Danny olhou pra ela e depois para o livro. — Não me zoa, só... Anda logo — ele riu fraco, e deu partida, voltando finalmente para casa. Baylee leu o clássico durante todo o resto da tarde e a noite e quando se deu por si, estava chorando no quarto. Patty ouviu as fungadas da filha e correu para o quarto. — Filha, o que houve? — se aproximou. — É tudo culpa daquelas famílias idiotas — ela fungou — Não dava pra aceitar as desavenças pela felicidade dos filhos? Pelo menos eles sobreviveriam — Patricia não entendeu sobre o que a filha estava falando mas, se aproximou e a abraçou.
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