Capítulo 4

1398 Words
Voltamos para casa em silêncio, no entanto, estou muito feliz, pois, cada um leva uma quantidade de livros que pode carregar, fica alguns livros para trás, falei antes para voltarmos para pegar mais, mas não deixaram. — Eh! — exclama Lucas. — Até que foi emocionante. Foi tudo o que se ouviu no caminho, depois, o silêncio de novo. O maldito silêncio. *** Jogamos todos os livros no tapete da casa, onde o Estêvão e o Lucas estavam. — Prego, eu espero que você não invente nunca mais de fazer um negócio desses — adverte Adam, ele está zangado. — Se algo te acontecesse eu nunca mais iria me perdoar, nem perdoar ninguém. — Desculpa, irmão — eu sei que Adam me trata como se eu fosse filho dele, e sei que ele não resiste quando eu peço desculpas. Sempre fui o mais educado dos três, e também julgado o mais frágil e delicado, além de ser o caçula, ou seja, atenção triplicada. Só nessas questões fraternais, porque eu perdia toda a atenção quando eles iam namorar. Eu sorrio para ele e ele desfaz a carranca, também sorri para mim e me abraça novamente. — Vá se aprontar, pegue alguns livros que você vai voltar comigo. — Urruh! — comemora Lucas. — s**o sem limites. — Não sei como vocês conseguem fazer isso sem água — digo a fazer os outros rirem, porém, de nervosismo. Eles sabem muito bem como. — Hei! — protesta Estêvão. — Ele só iria para a sua casa de noite, depois do jantar com o papai. — Amor, deixa — diz Lucas entre os dentes. — Hoje ele vem mais cedo — rebate Adam. Eu vou para o meu quarto pegar uma peça de roupa e uma mochila pra escolher uns livros para levar, baixo do papai, é o Adam quem manda, mas na verdade, eu fico atrás da porta esperando ouvir eles dizerem alguma coisa. Eu sei que eles não estão nada contentes com o que aconteceu. E como sempre, o Estêvão começa a discussão. — Você sabe que você não é o papai, não é? — diz ele. O som tá abafado, mas eu entendo tudo. — Mas eu estou no comando agora — responde meu irmão mais velho —, e você não é muito responsável. — Eu não sou responsável? Você que deixou ele entrar naquele quarto sozinho. — Não queira me culpar, você que incentivou ele a sair para procurar livros. — E você concordou. Eu não posso mais suportar nem mais uma frase daquela discussões e saio do quarto inesperadamente a dizer: — Por que vocês dois não me culpam? A culpa é toda minha, que saco. — Claro que não, Prego — diz Adam. — A culpa é do Estêvão por deixar você entediado e ficar se beijando na sua frente com o Lucas. — E eu adoro — diz Lucas. — E você não faz diferente, seu hipócrita — se irrita Estêvão. Começo a ficar com medo de eles partirem pra agressão. — O seu namorado Túlio fica urrando no s**o como se fosse um urso endiabrado. Não respeita ninguém. Daqui a pouco atrai os amareles para cá. Túlio fica envergonhado, ele não é de discutir, apesar de ser o maior e mais forte de todos. Se eu estivesse no lugar dele, ameaçaria meter a p*****a em todo mundo. — Já chega — eu grito como se fosse o responsável por todos ali. — Parem de brigar, por favor. Depois de um silêncio dramático, todos olharem para mim, Adam sai da sala e diz que estará me esperando do lado de fora. Eu não sei se fico feliz por eles terem encerrado aquela discussão que eu sei que acabaria em pancadaria, ou se fico triste pelo clima. Eu volto para o quarto e arrumo as minhas coisas para ir. Antes de sair, dou um abraço no Estêvão e ele retribui da maneira mais doce. Parece que vamos ficar sem se ver por anos. — Hei! — diz ele. — Não é uma despedida, você vai voltar e dessa vez, vou te dar mais atenção. — Eu juro que não vou nem competir — Lucas beija os dedos indicador e médio juntos, a frente e a trás, em sinal de que é uma promessa. Eu saio sem dizer nada e vou embora para a casa de Adam. Ao chegarmos lá, eu subo às escadas e vou diretamente para o quarto onde durmo. — Prego, vai querer comer? — pergunta Adam. — Não, vou ler — assim que entro no quarto, me jogo na cama e leio os meus livros. Pego um aleatoriamente para ter uma surpresa e, quando os vejo, por azar, são didáticos, apenas um é uma narrativa, Ubirajara, de José de Alencar. Outro é sobre biologia, o que poderia ser interessante. E os outros três são votados para o estudo de literatura e linguagem, aquela senhora deveria ser uma professora, imagino porque eu quero ser professor. Mas eu queria ler uma narrativa, então começo com Ubirajara. Eu nunca tinha lido um livro naturalista, e achei maravilhoso. Ubirajara foi guardado pra mim. Estava me esperando. Eu me senti o próprio índio, já que os ascendentes da minha mãe era n***a mestiça, e o meu pai é filho de índio com uma mulher branca. Meus irmãos e eu puxamos mais para a genética do nosso pai. Mas ainda assim somos muito mestiços. Depois de tanto ler, sinto fome, porém, o sono tá mais forte e me entrego. *** Eu sonhei que estava nas ruas da cidade, nem sei que cidade era, há muito tempo que eu parei de me importar, e de repente, na esquina, apareceram centenas, quem sabe milhares, de amareles. Eles estavam correndo em minha direção e eu não soube agir, simplesmente assisti ao momento. Com certeza ia morrer, mas aí, eu ouvi um som muito alto de um carro muito pesado a se aproximar, e quando olhei para trás uma luz muito forte me impediu de enxergar, mas percebi uma silhueta, alguém andava em minha direção e parecia destemido. "Acorda, Prego", diz a silhueta, e pelo andar, é um rapaz. "Vamos, acorde", insistir ele. *** Assim que abro os olhos, me deparo com o Adam com uma vela na mão. Eu me espreguiço na cama e digo: — O que foi? — analiso o ambiente ao redor. — Já está de noite? — Sim — Adam parece aflito. Eu levanto de súbito, pego os meus livros para arrumá-los dentro da mochila, tenho certeza que alguma coisa aconteceu. — O que foi? Cadê o papai? — questiono, estou preocupado, mas preciso me manter calmo, por que eu sei que os outros não se manterão, e um desespero coletivo só piorará tudo. — Ele ainda não voltou. Vamos descer e esperar por ele lá embaixo. Descemos para a cozinha, Estêvão, Lucas e Túlio já estão lá. — E aí, Prego? Cê tá bem? — pergunta Estêvão, ele parece tranquilo, mas ninguém me engana, sei o quanto estão preocupados, então pergunto: — Que horas são? — é aí que entendo, todos se olham de maneira significativa. — Gente? — insisto. — Eh... — diz Lucas a olha no relógio de pulso. — São, praticamente, sete e meia. — Sete e meia? — não consigo controlar meu tom de voz. É muito tarde para o que estamos acostumados. O papai volta sempre antes de escurecer, os amareles nunca dormem, e quando isso acontece é raridade, eles hibernam. — Shhh! — exclama Adam. — Fala mais baixo. — Sabem para onde eles foram? — digo mais baixo. — Sabemos. — Então, vamos procurar por eles. — Oh! Meu príncipe — diz Lucas, os seus olhos azuis brilham de uma maneira bela sob a luz das velas. — É nobre, mas é arriscado demais. — Vamos ficar aqui parados? — E esperar — conclui Adam. — O que você quer que a gente faça? — Estêvão parece irritado, eu sei que ele está se controlando a tarde inteira para não explodir, ele transpareceu isso desde cedo. — Estêvão, não — adverte Adam. — Já está na hora de ele crescer, Adam — Estêvão se levanta, penso que ele vai me dar uma surra. — A imprudência acabou, moleque. — Estêvão — diz Adam mais outra vez, porém, todos somos pegos de surpresa. Alguém bate na porta num ritmo frenético.
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