Capítulo 3

1081 Words
Estamos tão lentos, mas não podemos arriscar, ainda mais por causa de uma coisa que é pra me distrair, ou seja, nada de relevante. Se o papai souber que exploramos uma casa sem ele porque eu queria encontrar uns livros para ler, ele vai ficar muito chateado. Mas eu não posso mais suportar mais um dia nessa rotina, senão eu vou explodir. O andar de cima tem três quartos, no primeiro há alguns instrumentos musicais, parece até de um adolescente que queria montar uma banda. Melhor seria nem entrar, a música deixou de fazer parte das nossas vidas há muito tempo, música faz barulho e barulho atrai amareles, atrair amareles significa morte a qualquer momento. O segundo quarto era mais organizado, porém, bem simples, não tinha nada demais. Também não entramos. O bom é que nenhum de nós sofre de renite ou sinusite, talvez a gente tenha se adaptado ao mofo. O terceiro quarto está trancado, Adam olha para Túlio significativamente e arromba a porta com o pé-de-c***a. Túlio prepara a marreta caso encontre qualquer amarele, está pronto para acertá-lhe a cabeça, mas o quarto está vazio e quieto, então entramos sem qualquer preocupação. Aquele quarto é maior, há um guarda-roupa enorme e vários móveis e objetos espalhados. Decidimos começar a procurar por livros, com certeza deve ter aqui em algum lugar. Existe muita coisa aqui e a gente terá que ter paciência, eu suspiro e olho para o lado. No canto da parede há outra porta, é aí que sinto uma necessidade enorme de abrir e para a minha surpresa, está aberta, eu a abro com cautela e vejo que é um espaço de recreação, naquele ambiente tem várias prateleiras com vários objetos, como se fossem brinquedos, várias caixas. Ao meu lado direito no canto da parede perto da porta há uma pilha de lençóis, ao meu lado esquerdo, mais um pouco distante, encostado na parece há uma outra prateleira, porém, forrada, atrás de um divã branco, não mais branco já que está completamente tomado pela poeira. Eis que desconfio que tem vários livros ali. Antes que eu entre com tudo, Adam segura no meu braço e me faz pular de susto. — O que você está fazendo? — ele sussurra quase desesperado. — Calma, Adam, só vou olhar aquilo ali, tenho certeza quem tem livros. — Espera — Adam olha para todos os lados daquele quarto para se certificar de que está tudo seguro e me solta. — Vá, mas não demore e nem faça barulho. Ele volta e eu entro às pressas, eu sei que vou encontrar livros, eu sinto. Uma coisa que um amarele não tem, intuição. Se tivessem, com certeza a raça humana estava 100% extinta. Assim que me aproximo da prateleira, eu puxo o lençol para baixo e encontro o acervo mais lindo de livros que já vi, poucos estão deteriorados. Minha risada soa tão abafada, eu nem posso imaginar, nem consigo chamar os outros para verem o que eu achei, na verdade, se meu psicológico não estivesse tão acostumado, eu teria gritado horrores. Para mim, foi como encontrar uma mina de ouro, ou melhor, pois, o ouro já não tem mais tanto valor para as pessoas. Estou a admirar aqueles exemplares quando, de repente, algo acontece que me arranca o sorriso da face. Eu não vejo uma silhueta se por de pé atrás de mim, mas a minha intuição me diz. Quando me viro, um suspiro sai da minha boca tão silencioso quanto a minha felicidade. Eu vejo uma senhora amarele, parece ter uns oitenta anos, é tão magrinha e estava escondida debaixo da pilha de lençóis. Não dava para desconfiar. A senhora corre na minha direção como um jogador de futebol americano, se fosse uma pessoa normal não daria um passo sem parecer que tinha m*l de Patterson. Eu não resisto e solto um efêmero grito agudo de resquício de puberdade que ecoa por toda a casa. Só imagino o Estêvão e o Lucas lá embaixo ouvindo o grito e correndo para o ponto de partida. A senhora se joga em cima de mim, ela passa por cima do divã e ambos caímos no chão. Quando Adam entra naquele quarto, encontra a senhora amarele a morder o meu braço e eu a tentar separá-la de mim, mesmo com a faca na outra mão, não tenho coragem de acertá-lá. Adam se apressa em bater no rosto da amarele que me soltou no mesmo instante e cai no chão. A criatura deitada com um lado do rosto deformado sibila para o meu irmão como uma cobra, pois, não tinha consciência, nem falava, os sons que os amareles emitem são ruídos desidratados. Assim que Túlio entra no recinto, golpeia a amarele na cabeça a fazer cérebro, vísceras, pele e sangue se espalharam pelo chão como se estivesse esmagado um tomate de vários tons de amarelo. — Meu Deus, Prego, você está bem? — Adam apalpa o meu braço desesperadamente, ele procura a marca da mordida. — Não se preocupe, a velha não tinha dentes — tranquilizo o meu irmão, eu permaneci calmo, agora que tudo passou, não tenho mais medo. Na verdade, foi o susto que me fez gritar. Se a velha tivesse dentes, a sua saliva entraria na minha corrente sanguínea e aí já foi, estaria contaminado e pronto para ser deixado para trás. Em poucos segundos, Estêvão e Lucas aparecem no ambiente e pegam a cena. Lucas põe as mãos na boca. — Ah, não! — exclama Estêvão choroso. — Me diga que isso não aconteceu. — Era uma senhora — Túlio logo responde para evitar o desespero, sabe que Adam se abala muito fácil quando a questão sou eu e tenta acalmá-los. — Ela não tinha dentes, o Prego não sofreu um arranhão. — Ai, graças a Deus — diz Lucas com a mão no peito a olhar para o teto. — Ei, Adam, tá tudo bem — eu digo da maneira mais singela para mostrar de fato que nada aconteceu comigo. Adam para de examinar o meu braço e me olha com os olhos cheios de lágrimas, depois me abraça como se tivesse me perdido por uma fração de segundo. Em seguida, o Estêvão se aproxima e me abraça também. Realmente não precisa disso, mas eu entendo eles e me entrego ao aconchego dos braços dos meus irmãos mais velhos. Eles valorizam a família unida e viva mais do que tudo. — Olha, gente — diz Lucas —, ele encontrou livros.
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