CAPÍTULO 2 FALECIMENTO DE ENRICO

876 Words
****CAPÍTULO 2: O FALECIMENTO DE ENRICO **** A visão do meu pai, já sem vida, diante de mim provocou uma profunda dor. Abracei seu corpo e não consegui conter as lágrimas; era certo que um dia o grande Enrico Fernandez partiria, mas eu ainda não estava preparada para enfrentar essa realidade. Carolina: Eu juro, pai, que seu legado jamais será esquecido. Assumirei minhas responsabilidades com a mesma determinação que você sempre demonstrou. Daniele, nossa empregada, chegou trazendo os remédios dele e se deparou com a cena de eu o segurando em meus braços, já sem vida. Daniele: Meu Deus, Carolina, sinto muito. Carolina: Meu pai, Daniela, faleceu. Eu estava em lágrimas, abraçada ao seu corpo. Permaneci ao seu lado durante toda a tarde, abraçada a ele, relutando em me afastar até a chegada dos médicos, que viriam realizar os procedimentos necessários para o velório. Assim que os médicos chegaram, conduziram o corpo do meu pai, afastando-o dos meus braços. Eu perdi minha mãe quando era pequena e, agora, perder meu pai foi devastador. Antes, contava com minha tia na cidade, mas ela também faleceu. Agora, sinto-me sozinha neste mundo. Daniela se aproxima e me abraça com força. Daniela: Querida, não fique assim. Seu pai estava muito debilitado; ele já não era mais o Sr. Enrico de antes. Ele estava sofrendo muito e só aguardava a sua chegada para enfim encontrar a paz. O desejo dele era que você assumisse o morro em seu lugar, para que pudesse partir em tranquilidade. Carolina: Eu entendo, Daniela, e isso me traz consolo por saber que consegui chegar a tempo de me despedir dele. Assim que anunciarem o horário do velório, por favor, me avise; irei para meu quarto. O velório será realizado aqui na capela do morro e o sepultamento no centro, no cemitério. Ele sempre expressou o desejo de ser enterrado ao lado da cova da minha mãe, e é isso que faremos. Daniela: Descanse, menina! Assim que chegar, eu te aviso. Fui para meu quarto, que permanecia exatamente como o deixei ao sair daqui, anos atrás. Foi nesse espaço que se iniciaram os episódios de abuso que marcaram minha infância. Ao relembrar esses momentos, não consegui permanecer ali e optei por me instalar nos quartos de hóspedes disponíveis. Decidi que, a partir de agora, irei providenciar o fechamento daquele quarto, pois não desejo manter nenhuma recordação que me remeta ao meu passado doloroso. Deitei-me e comecei a recordar os momentos que vivi com meu pai. Ele sempre foi um excelente pai, apesar de ser o chefe da comunidade e eu ter que compartilhar sua atenção com todo o morro. Nunca me deixou sem seu carinho, mas as circunstâncias acabaram me afastando dele. Sentia vergonha de mim mesma, acreditando que era culpada pelo abuso que havia sofrido. Contudo, era apenas uma criança, sem consciência do que estava acontecendo. Deixei-me levar por esse pensamento e acabei adormecendo. Quando acordei, já estava anoitecendo. Foi quando Daniela entrou no meu quarto e me chamou, informando que tudo estava preparado para o velório. Levantei-me, tomei um banho, vesti um vestido preto e coloquei um salto preto antes de me dirigir à capela, onde todos já estavam prestando suas últimas homenagens ao querido Enrico, dono do morro Alemão. Fui para a frente, onde estava o caixão, e percebi que todos me observavam. Ninguém ali sabia quem eu era, a filha de Enrico; afinal, eu havia partido há muitos anos, ainda era apenas uma adolescente na época. Ignorando os olhares, meu único desejo era passar as últimas horas com meu pai. Os murmúrios começaram, mencionando que eu era a filha do Enrico, aquela que havia deixado o lar anos atrás. A maioria dos vapores com as famílias veio me cumprimentar, mas alguns me olharam com desprezo, especialmente aqueles que haviam me barrado na entrada. Sabia que, assim que descobrissem quem ficaria no comando, enfrentaria uma batalha. Afinal, a ideia de uma mulher à frente do comando de um morro certamente não será bem recebida por todos. As horas foram se passando, e eu não me afastei dele nem um único minuto. Era manhã quando Daniela veio me perguntar se eu gostaria de ir para casa descansar, mas eu não tinha a intenção de sair daqui. Quando chegou a hora de levá-lo ao cemitério, ao sairmos da capela, começaram a ecoar os disparos em homenagem a ele; uma última manifestação de carinho. Eu me emocionei, pois ele merecia essa despedida.Os vapores começaram a gritar seu nome enquanto os tiros eram disparados para o alto. Colocaram o caixão no carro, e eu o segui à distância. Ao chegarmos ao cemitério, passei por uma floricultura e comprei dois buquês de flores vermelhas. Assim que o caixão do meu pai foi colocado na sepultura, peguei um punhado de terra que estava ao chão e a derramei sobre o caixão. Carolina: Pai, aqui com o senhor, a Carolina se despede, dando uma nova vida à BANDIDA PERIGOSA do Morro do Alemão. Joguei a terra e fecharam a tumba, e em seguida, coloquei flores sobre o sepulcro do meu pai, depois da minha mãe. Em meio aos dois, me despeço e deixo o cemitério sem olhar para trás. Hoje marco o início de uma nova vida no morro do Alemão.
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