João Santore
Que situação patética a minha, enxergo bem apenas de perto ou quando algo está bem próximo, mas não me refiro a isso como sendo minha situação patética, estou sem meus óculos nesse momento pois ele foi retirado do meu rosto, Edgar diz odiar quando estou com eles, ele gosta quando estou com a lentes, diz que assim não pareço defeituoso, enxergo apenas um borrão um pouco longe de mim na mesa de centro, o que deve ser meus óculos, enquanto sinto beijos sendo distribuídos em meu pescoço enquanto estou deitado sobre o sofá luxuoso e tem um corpo sobre o meu, eu poderia mentir em dizer que meu corpo não sente falta de um toque mais intimo depois de meses apenas com trocas de beijos frios, mas p***a, é a terceira vez, a p***a da terceira vez que ele repete essa merda comigo, mas ele sempre faz com que eu volte atrás em minhas decisões, suas palavras sempre me convencem a voltar.
Sinto que posso chorar nesse momento, meus irmãos mais velhos todos tem suas famílias formadas, seus filhos ou são adultos ou estão saindo da fase adolescente, eu praticamente cresci com a maioria dos meus sobrinhos, o que quando pequeno me gerou vários amigos entre eles, mas hoje mantemos aquele contato normal entre familiar, o único que realmente se transformou no meu melhor amigo foi o Tyler, um dos filhos do meu irmão Damien, ele fez faculdade comigo, na época em que eu pensava que seria um bom advogado, nos mudamos para Nova Iorque aos meus quatorze anos, com dezoito ingressei na faculdade, foi quando Tyler se mudou para nossa casa, por isso ficamos próximos, hoje ele exerce sua função de pedagogo no brasil, mas ainda mantemos contato como amigos.
No meu terceiro período da faculdade comecei a trabalhar com mamãe na nova cede de sua perfumaria, o que aos poucos eu fui gostando e me aperfeiçoando, mamãe falava que se eu não tivesse escolhido a carreira de advogado iria passar para mim o comando de sua cede aqui em Nova Iorque, e foi o que aconteceu quatro anos depois ao fim da minha faculdade, nunca cheguei exercer o que aprendi na faculdade, me apaixonei por fazer fragrâncias e hoje estou à frente dos negócios de mamãe enquanto ela curte sua aposentadoria com papai.
Na faculdade era apenas eu e Tyler, mas fomos nos enturmando fizemos alguns colegas em nossas salas, mas levei duas pessoas comigo da faculdade, são meus dois melhores amigos, Gilberto Barroso, ele tem doutorado em engenharia mecânica, tem sua própria oficina, que é o que ama fazer aos trinta anos, ele tem um amigo de infância, Ryder, que acabou se enturmando com a gente em nossas saídas para curtir a noite depois de uma semana longa de aulas e finalmente Marcos Villani, personal treiner, vinte e seis anos, ele é o nosso rato de academia, eles são meus melhores amigos, sempre posso contar com qualquer um deles, sem julgamentos eles apenas me abraçam e escutam tudo que tenho a dizer, nosso grupo é assim, sempre foi assim.
Mas voltando a minha situação patética, o cara sobre mim é meu namorado, Edgar, não sei o que fazer quanto a ele, nos conhecemos dois anos atrás, em uma balada, um caso de uma noite que acabou virando mais, no começo era bom, ele era apaixonante, então meu problema na visão foi piorando, mais tempo eu passava indo a médicos e trabalhando, até que peguei ele com a boca no p*u do cara que ele jurava ser apenas seu melhor amigo, mas ai ele correu atrás, jurou que era apenas por se sentir carente, eu o estava deixando de lado, eu não tinha tempo para ele, então era minha culpa, ele me amava, ninguém jamais me amaria como ele, como eu sou burro, pode dizer. Eu realmente cair nesse papo três vezes, nas três malditas vezes que ele me traiu. Ele diz ser o único capaz de me amar, quem amaria alguém defeituoso? Acho que ele tem razão, por isso eu sempre aceito suas migalhas, mas depois da terceira vez dele jurando que não faria mais, hoje quando cheguei em seu apartamento e ele estava no banho, eu vi seu celular aberto em uma mensagem em que ele mandava uma foto dele pelado avisando que estaria no banho, subi as mensagens, mais de dois meses de conversa, foi dois meses atrás a última traição.
Meus pais não gostam dele, eu deveria saber aí que estava entrando em uma cilada, nem mesmo meus amigos que nunca se importaram com meus exs agora na primeira oportunidade que tinham falavam m*l de Edgar.
Eu realmente mereço essas migalhas?
— Edgar. — Chamo seu nome, pedindo que pare, ele bufa, pois tentava tirar minha camisa, sua cabeça levanta e deixa um selinho em minha boca. — Eu não quero. Desculpe. — Falo, já temendo suas palavras. Ele sai de cima de mim e me sento sobre o sofá, ele busca seu cigarro sobre a mesa de centro e acende, pego meus óculos e o coloco de volta, mesmo sabendo que ele os odeia vim com eles hoje, talvez eu esteja começando a me desprender dele.
— É por causa disso que fiz o que fiz, p***a, faz meses que a gente não transa, desde aquela merda que eu já te pedi desculpas. — Mordo meus lábios. p***a, eu quero muito chorar agora. — Será que não entende que para isso dar certo precisamos manter uma relação?
— Relacionamentos não giram em torno de sexo, Edgar. — Ele solta a fumaça de seu cigarro, o fedor é repugnante da fumaça rondando todo o espaço, Ryder também fuma as fezes, mas não lembro de ser tão repugnante assim o cheiro, talvez seja porque ele sempre me respeita desde que eu disse que não gostava do fedor e fuma a quilômetros de distância de mim quando estamos juntos.
— Lá vem você com essa ladainha novamente? p***a, você é chato pra c*****o.
Sinto meu corpo tremer.
Por que estou fazendo isso comigo? Por que estou deixando que ele faça isso comigo?
Mordo meus lábios, eu tenho que acabar com isso, me curar desse homem doentio, essa relação não tem como continuar, não posso mais levar algo que sei não ter futuro. Estou morrendo de medo, medo de que ele realmente esteja falando a verdade, que vou ficar sozinho, que ninguém nunca irá querer alguém defeituoso. Mas não posso continuar pensando que só porque ninguém mais irá me querer que tenho que suportar esse relacionamento de merda.
— Estou terminando com você, Edgar, não quero mais continuar assim. — Meu corpo treme novamente quando seu olhar foca no meu, minhas mãos estão tremulas quando me levanto e seu olhar doentio está sobre mim. Então rapidamente ele está na minha frente, de pé, o cigarro cai apagado sobre o piso branco, suas mãos apertam meus braços com força e me chacoalham.
— Você está maluco p***a? Você não conseguiria viver sem mim. — Ele tem um sorriso de arrepiar, não de um modo bom, mas sim de medo. Quando eu me transformei nesse homem frágil e indefeso?
— Me solta, está me machucando. — Digo entre dentes, sentindo minha carne doer, com toda certeza ficará roxo onde ele me aperta.
— Estou dizendo João, você depende de mim para ser feliz, não enxerga amor? — Sua voz suave não pode me enganar agora.
— Por favor Edgar, acabou, não faz mais isso com a gente, eu tentei até onde deu, pensei que realmente teria sido apenas um deslize, mas quem ama não trai, não faz isso, não e não, por favor, para de usar essas palavras manipuladoras para me ter em suas mãos. Por favor, estou implorando, me deixe ir. — Meus olhos não seguram mais a dor, eu já chorei demais nesses últimos meses, ser traído por quem a gente confia doe e machuca, quebra algo dentro da gente que parece não ter concerto.
O tapa em meu rosto vem antes que eu possa me defender, sinto minha pele arder e dou passos para trás, chocado.
— O que?
— Você não vê, João? Eu lhe dediquei malditos dois anos da minha vida, te deixei entrar na minha vida, na minha casa, e agora você está me descartando como se eu não passasse de lixo? — Ele diz, como seu eu fosse o errado na história ao querer não ter mais em minha vida alguém que não posso confiar, alguém que me trai na primeira oportunidade, não posso deixar mais que suas palavras façam de mim o errado da história.
— Foi você quem me traiu, Edgar. Foi você quem me bateu, não consegue enxergar isso? não consegue ver que o errado aqui é você? — O encaro, seus olhos parecem inflamar de um fogo perigoso e mortal, eu fui tão burro, tão i****a. Como não vi antes esse olhar monstruoso?
Como num passe de mágica seus olhos se fecham e um brilhante e cheios de lágrimas se abrem.
— Me desculpe amor, eu devo estar estressado, deve ser o trabalho, eu ando perdendo a cabeça com facilidade. — Estou em choque com sua mudança, parece o homem que eu conheci anos atrás. Mas qual será sua verdadeira face? Durante dois malditos anos eu acreditei em uma fantasia? Era tudo fruto da minha cabeça aquele homem gentil e de sorriso doce? Acho que descobrir sobre a primeira traição, ver com meus malditos olhos defeituosos ele com outro finalmente foi como um balde de água fria sobre minha cabeça, foi quando o véu caiu de meus olhos e eu comecei a enxergar o verdadeiro Edgar nesses últimos dois meses.
— Eu vou embora, nunca mais me procure, está tudo acabado.
Saio dali sem olhar para trás, ele ainda tenta me segurar, mas felizmente sou mais rápido em entrar no elevador e seguir até o estacionamento, entro em meu carro e tudo passa por minha cabeça em câmera lenta, as traições, o tapa, as mentiras, as manipulações, eu vivi dois anos de minha vida acreditando em uma mentira, numa maldita mentira que estava diante dos meus olhos.
Começo a chorar, por tudo que permitir que ele fizesse comigo, cada palavra maldosa disfarçada com sua voz carinhosa e um eu te amo logo após. Deixo que tudo saia do meu peito em forma de lágrimas, deixo que tudo seja lavado de dentro para fora, retiro meus óculos e minha visão quase nula fica ainda mais borrada com as lágrimas, limpo meus olhos e volto a colocar a armação sobre meu rosto, voltando a enxergar melhor, meus olhos ardem, sei que não é apenas pelas lágrimas, e sim meus olhos que estão deixando de funcionar, outra coisa que estou perdendo, meu Deus, como seu cheguei até aqui? Como posso estar numa onda de sucessão de coisas ruins?
Pego meu celular no bolso de trás das minhas calças jeans e envio uma mensagem no grupo.
Onde estão?
Marcos
Ainda estou no trabalho.
Gilberto
Vim passar o fim de semana na casa da minha família.
Tyler
Estou do outro lado do mundo.
Ryder
Em casa.
As respostas chegam quase que ao mesmo tempo, era sexta-feira à tarde, lógico que eles estariam ocupados, menos Ryder, ele deveria ter saído cedo da agência.
Certo, aceita beber comigo Ryder? Estou precisando.
Marcos
Vish, foi o namorado babaca?
Sorrio, mesmo que meu coração esteja um pouco dolorido nesse momento, por mais que eu veja que ele sempre foi um i****a manipulador, ainda vivi dois anos da minha vida ao lado dele. Não dar para apagar assim do nada, por mais que eu queira que isso aconteça.
Somos ex-namorados, dessa vez foi para valer.
Gilberto
FINALMENTE p***a.
Espero que esteja falando sério.
Tyler
Se precisar conversar estamos aqui.
Marcos
Devo soltar fogos com essa notícia?
Um sorriso pequeno desponta em meus lábios, eles são muito diferentes, mas são as melhores pessoas que eu poderia ter ao meu lado. Segundos depois chega à mensagem de Ryder.
Ryder
Estou te esperando com aquele vinho aberto que você ama.
É, eu sempre posso contar com eles.
Nos falamos depois, vou afogar minhas magoas bebendo com Ryder.
Bloqueio a tela do celular, mas não antes de ir ao contato de Edgar, bloquear e apagar seu número, tinhas umas vinte mensagens, mas nem mesmo me dei o trabalho de prestar atenção em suas palavras vazias e manipuladoras. Jogo o celular no banco do passageiro ao responder uma mensagem de mamãe perguntando se estava tudo bem comigo, parece que ela sempre sente quando algo não corre bem com suas crias, a tranquilizei e parti em direção a casa de Ryder.