MALIA:
Depois de algum tempo, minha mão começa a suar, mas não a retiro da sua. Deixo que ele a segure, me dando esse conforto que eu necessito. Sofia dorme na sua cadeirinha e mesmo estando sol lá fora, aqui dentro está fresco por conta do ar.
Me permito encostar minha cabeça no banco e fechar os olhos por um instante. Estou tão cansada, tinha medo de não conseguir pegar Sofia, tenho medo dos meus pais, com medo de me rejeitarem e de tudo que pode acontecer caso esse casamento de errado.
Mal dormi a noite por conta dos meus pensamentos, então ao deixar minha cabeça recostar no banco e fechar meus olhos, me sinto ficar leve como uma pluma.
Ainda sinto o balançar do carro, mas isso não me incomoda. É como se eu estivesse dormindo, mas consciente do que acontece a minha volta.
Meu corpo e mente estão relaxados, mas eu sei onde estou. É normal isso acontecer depois que você vira mãe. Você nunca dorme completamente, está sempre atenta, mesmo dormindo, para qualquer sinal que seu bebê dá. Uma leve mexida, um resmungo e você acorda imediatamente.
É nesse estado que eu estou, mas eu me sinto relaxar. Ainda mais quando eu sinto sua mão ainda na minha.
Eduardo é... como posso dizer? Em todo o significado da palavra homem.
Ele me deixa bem perto dele, é gentil e bondoso. Não sei por que esse negócio do casamento, mas de algum modo sei que ele não pode me fazer m*l.
Apenas se fosse um casamento de verdade...
- Malia? – ouço a voz de Eduardo me chamando e eu abro os olhos.
Ele está sorrindo e eu pisco esfregando meus olhos.
- Você fala dormindo. – Ele diz e imediatamente eu entro em alerta.
Eu sei, e o que eu disse? Por favor senhor, que não seja nenhuma bobagem.
- Falo? – pergunto, optando por me fazer de sonsa. Ele apenas da mais um sorriso e confirma com a cabeça. – E o que eu disse? – não sei se quero mesmo saber.
- Sobre o... – Ele começa a falar e ouço Sofia querer começara a chorar.
Só então eu percebo que estamos parados e logo reconheço a rodoviária da minha antiga cidade.
- Já chegamos, nossa, foi rápido. – Digo e olho para Eduardo.
- Foi rápido mesmo, me diverti muito com você o caminho todo. – Ele diz divertido e eu resmungo.
- Esquece que eu perguntei sobre o que eu falei, prefiro não saber. – Falo e ele ri um pouco. É uma risada bonita.
- Tudo bem então, mas não vou esquecer o que disse. Mas não vou mesmo. – Ele fala e tenho vontade de me m***r, espero que não tenha sido nada vergonhoso. – Me explique onde é a casa dos seus pais.
Concordo e assim que ele volta a ligar o carro vou explicando o caminho todo. A cidade é pequena, então em menos de 5 minutos vamos entrando na rua da casa dos meus pais.
Mas assim que o carro vira a esquina, me arrependo de chegarmos no meio da tarde. Não quando está fresco e todas as vizinhas da rua estão sentadas na calçada conversando e rindo, não quando estão na porta da casa dos meus pais e minha mãe está entre elas.
- Você conhece a história da chapeuzinho vermelho Eduardo? – pergunto enquanto ele desce a rua lentamente, cada vez mais próximo.
- é claro. – Ele responde e vejo que estranha a minha pergunta.
- Então se prepara e pode parar ao lado daquela alcateia de lobos vestidos de senhorinhas bem ali no portão preto. – Digo e ele ri. – Não ria, elas vão te devorar assim que sair do carro.
Ele ri ainda mais e para o carro ao lado de todas elas, mesmo dentro do carro posso perceber o silencio em que elas ficam olhando para o carro luxuoso que estaciona na porta da casa da dona Vilma, com certeza achando que é para pedir informação, já que o vidro é fume e duvido que haja um carro assim nessa cidade perdida, pode até se chamar eldorado e é assim que vou chamar esse lugar daqui para a frente.
- Eu não ligo de ser devorado, a não ser que minha namorada e futura noiva seja ciumenta. – Ele diz rindo e abre a porta. – Vamos Malia.
Ele sai do carro fechando a porta atras de si e eu tomo coragem para sair em seguida.
- Olá senhoras. – Ouço ele dizer e vejo as "senhoras" cochicharem entre si, até que olham para mim e a primeira a se pronunciar é a minha mãe.
- Minha nossa senhora, Malia minha filha. – Ela diz e vem até mim me abraçando.
- Oi mãe. – Digo e devolvo o seu abraço apertado. – Me ajuda a pegar Sofia? Ela está dentro do carro. – Falo e ela animada depois do abraço me ajuda com as sacolas e eu pego Sofia na cadeira.
- Me diz menina, quem é esse moço bonito? – dona maria, a vizinha do lado pergunta.
Veia s****a isso sim. Nem me cumprimentou, como ela mesmo diz. Prioridades menina, prioridades.
- Meu namorado tia. – Falo um pouco envergonhada e vejo Eduardo sorrir para mim.
Minha mãe que tinha deixado as sacolas no chão, do lado daqueles lobos fofoqueiro, me olha com os olhos arregalados.
- Namorado? Sério? Mas e o Henrique?... quer dizer, eu não estou perguntando por m*l menino, só estou surpresa. – Ela questiona e depois se explica com Eduardo.
- Está tudo bem. – Eduardo diz educado.
- Mãe vamos levar essas coisas para dentro e conversamos lá, tudo bem? – pergunto e ela acena rapidamente.
Ouço dona maria resmungar junto com as outras senhoras e minha mãe olha f**o para elas.
- Parem de ser fuxiqueiras, eu vou entrar porque minha filha está aqui e faz tempo que eu não a vejo, então vão fofocar sobre ela e o namorado novo na porta da casa de vocês. – Minha mãe fala e entra em casa.
Não me importo de segui-las, todas elas estão sempre se xingando, mas nunca se desgrudam. A única coisa que acho bonito nelas é a amizade, nunca falam m*l uma das outras se a falada não estiver presente. Mas é claro que essa regra não se refere aos outros, ou sejam, vão falar muito de mim e do Eduardo e supor mil e uma teorias sobre o porquê de eu não estar com Henrique, sobre quem é bonitão e seu carro luxuoso.
Entramos na grande casa dos meus pais e eu sorrio. Lembro quando nos mudamos para essa casa. Esse bairro todo estava passando por uma urbanização, a prefeitura queria povoar essa área e começou a vender os terrenos aqui muito barato, na época meus pais tinha suas economias e compraram 4 terrenos, um do lado do outro e construiu uma grande casa, com um quarto para cada filho e mais dois extras.
Antes morávamos em uma casa apertada, então eles quiserem construir um lugar espaçoso.
Somos em quatro filhos e eu fui a única que saiu de casa. A filha mais nova de 4 irmãos, todos engenheiros e arquitetos, todos trabalham com meu pai na firma dele e ainda moram aqui.
- Aqui vamos deixar as coisas aqui na bancada e vamos tomar um café, acabei de passar. Seu pai e seus irmãos estão para chegar, aceita um pouco querido? – ela pergunta para Eduardo já trazendo a garrafa de café.
- Sim senhora, obrigada.
- Menina, como pode ficar todo esse tempo longe? Me diz? Você não sabe a preocupação que me causa. – Minha mãe diz me olhando brava.
- Eu sinto muito mãe, mas aconteceu tanta coisa... – falo e já sinto lagrimas quererem sair dos meus olhos.
- Ei não chore, está tudo bem meu amor. – Eduardo diz se aproximando mais de mim e colocando a mão em minhas costas, a esfregando.
Sei que ele já começou com o teatro, mas isso me traz certo conforto.
- O que aconteceu Malia? Você está me deixando muito preocupada. – Minha mãe fala e vejo isso em seu olhar.
- Podemos esperar o papai e os meninos chegarem? Quero falar com todos de uma vez, não vou gostar de ter que ficar repetindo.
- é claro querida, vou pegar um suquinho e o bolachas para a minha princesinha. – Ela fala e sai preocupada levando Sofia consigo.
- Calma. – Eduardo diz em um sussurro e tira meu cabelo do rosto. – Eles são seus pais, tem direito de saber o que você passou Malia.
- Eu sei, só que eu já disse, não quero magoa-los. – Falo e deixo que uma lagrima escape.
Eduardo a seca e na mesma hora o portão se abre e meu pai e irmãos entra rindo na casa.
Meu pai é o primeiro a me ver e me olha surpreso, tanto para mim quanto para Eduardo.
- Malia... – meu pai fala e se aproxima muito rápido para me abraçar, e eu me levanto fazendo o mesmo.
- Garota, o que você tem na cabeça? Por que não ligou? – Bryan pergunta.
- Ou mandou uma mensagem... – Breno fala.
- Ou sei lá, um e-mail ou carta? – Bruno continua com o decoro e eu sorrio.
- Também senti falta de vocês, seus paspalhos. – Falo e os abraço também.
- Sentiu nada, ou teria ligado.
- Mandado uma mensagem.
- Um e-mail ou carta. – Eles falam e eu sorrio.
- Tem sido complicado, mas antes deixa eu apresentar a vocês meu namorado. – Falo e todos os olhares se voltam para Eduardo. – Esse é Eduardo, Eduardo esse é o meu pai David santos e meus irmãos trigêmeos, Bryan, Breno e Bruno.
- Muito prazer. – Eduardo diz os cumprimentando educadamente.
- Finalmente largou daquele i****a.
- Nunca gostei dele.
- Esse é mais bonito. – E novamente os três vem com essa mania de terminar ou completar tudo o que o outro diz.
- Estão juntos a quanto tempo? – meu pai pergunta e eu reviro os olhos, sei o que ele vai fazer, foi o mesmo com Henrique.
- 2 meses senhor. – Eduardo fala e acho que ele entendeu também.
Eduardo já é um homem, assim como eu sou uma mulher, mas me sinto uma garotinha.
- Pouco tempo para já estar apresentando para a família. – Meu pai fala.
- Pouco tempo mesmo.
- Muito pouco.
- Pouquíssimo tempo. – Os gêmeos falam e cruzam os braços e cerram os olhos, os três.
- Vocês não vão começar não é mesmo? Viemos aqui porque eu queria que vocês conhecessem o Eduardo e também contar as coisas que aconteceram desde que a gente se viu. – Falo me aproximando dele e pegando em sua mão.
Sinto um leve apertão em resposta e sei que ele me diz para continuar.
- Tudo bem, mas eu preciso saber mais do seu namorado. – Meu pai retruca.
- Saber se ele te merece.
- Se ele é digno.
- Se vai cuidar bem de você.
- Eu não a mereço. – Eduardo diz antes que eu possa falar algo. Ele descruza os nossos dedos e passa o braço pelo meu ombro me puxando suavemente para si. – Malia é linda e inteligente, meiga, gentil. Ela é perfeita e sendo sincero, ainda não existe homem que a mereça.
Não somente meu pai e irmão são pegos de surpreso, assim como eu.
- Esse é o cara. – Bryan fala sorrindo.
- Eu gostei, vamos adotar. – Breno faz piada.
- Clichê, mas só mostra que está apaixonado. – Bruno completa.
- é resposta certa rapaz, vamos nos sentar todos e conversar mais. – Meu pai fala apontando para a mesa de madeira na qual estávamos agora mesmo e nos acomodamos.
- Vocês já chegaram, que bom. – Minha mãe diz voltando com Sofia que come uma bolacha.
- Minha netinha, que saudade. – Meu pai fala a pegando no colo. – Filha como foi com Henrique? Ele aceitou bem a separação? Ou foi ele que terminou? Ele sabe sobre vocês dois? Como ficou as visitas de Sofia? Ele vai vê-la de 15 em 15 dias ou vocês tem um acordo? – meu pai vai perguntado e sei que essa é hora para dizer, mas meus olhos se enchem de lagrimas e eu não consigo falar.
continua....