Senhoras, senhores e criaturas insones que vagam pela madrugada procurando um bom pesadelo para chamar de seu, apertem os cintos, estiquem os lábios num sorriso desconfortável e preparem os ouvidos, porque eu, Palhaço Taquicardia, seu apresentador com tendências levemente psicóticas — mas sempre carismáticas —, trago hoje uma história que vai fazer seu coração bater fora do peito… ou parar de vez.
Ah, não se preocupem, isso é normal. Meu nome não é Palhaço Taquicardia à toa.
Hoje, no episódio especial de "Segredos que Engolem", vamos explorar um caso arrepiante que aconteceu numa casa aparentemente comum, num bairro aparentemente pacato, com uma família aparentemente normal. Mas como vocês bem sabem, aqui no nosso programa, nada é realmente aparentemente o que parece ser. E, meus queridos telespectadores, a história de hoje envolve duas palavras que vocês amam tanto quanto eu: segredos e dor.
Acomodem-se na poltrona, liguem a luz indireta, respirem fundo e… vamos começar.
CAPÍTULO 1 — O Clube dos Segredos (e dos Idiotas)
Desde a infância, Lucas e Gabriel, dois irmãos que tinham mais coragem do que bom senso — e menos noção do que coragem — fundaram uma pequena sociedade de jogos. Um clubinho secreto, daqueles que toda criança tenta criar, mas que no caso deles teria sido melhor nunca ter existido. Junto com alguns amigos desaparecidos… digo, ausentes… eles cultivavam um hábito um tanto peculiar: guardar segredos. Mas, ah, não se tratava de segredinhos inocentes.
Não, não, meus caros espectadores do medo! Eram confissões pesadas, daquelas que se você contasse a um padre, o padre mudava de igreja.
E entre os tantos joguinhos bizarros que inventaram, um se destacou — o mais perigoso, o mais repulsivo, o mais… divertido para mim, Palhaço Taquicardia: O Jogo da Memória.
As regras? Ah, simples como enfiar a mão num saco de cobras venenosas:
cada participante escrevia seu segredo mais íntimo, mais vergonhoso, mais proibido, num pedacinho de papel… e depois engolia o papel. Isso mesmo! Glu-glu. Um pacto silencioso, sujo, perturbador.
Sabe aquela sensação de que um segredo engolido vive dentro de você? No caso deles… era literal.
Numa noite chuvosa, daquelas em que até os mortos se recusam a sair do túmulo, os dois irmãos se reuniram no porão. Velas tremulavam, sombras dançavam, e o ar tinha aquele cheirinho gostoso de mofo e decisões erradas.
— Meu segredo é o mais sujo de todos — disse Gabriel, com aquele sorrisinho de quem já está a dois passos da insanidade. A vela fazia sombras no rosto dele e eu, Taquicardia, posso garantir: ninguém que sorri daquele jeito está bem.
Lucas, claro, engoliu o próprio papel com o heroísmo de um i****a e sentiu a tinta queimando na garganta, como se o segredo protestasse contra ser escondido.
— Duvido — respondeu ele, enquanto lutava para não vomitar o pacto recém-feito.
Ah, meus amigos… se arrependimento matasse, Lucas teria tombado ali mesmo, economizando boa parte da nossa história.
CAPÍTULO 2 — Acordando para o Pesadelo
No meio da madrugada, Lucas despertou com uma dor de cabeça que faria qualquer pessoa implorar por lobotomia. Parecia que alguém estava serrando seu crânio por dentro. E não um alguém qualquer… um alguém com um senso de humor bem parecido com o meu.
Sua pele formigava, algo rastejava sob ela. Ele correu ao banheiro cambaleando — e aí, ah… aí é que o espetáculo começou de verdade.
No espelho, Lucas viu… palavras.
Palavras vivas.
Pretas.
Brilhantes.
Pulsantes.
As mesmas palavras que ele havia engolido horas antes. Elas serpenteavam pela sua testa, descendo pelo rosto, pelo pescoço, como vermes tatuados.
Ah, o horror estampado no rosto desse menino foi digno de um Oscar. Eu, Palhaço Taquicardia, teria aplaudido de pé se estivesse lá!
Ele vomitou. E era tinta. Tinta que parecia cuspir vida. Tinta que parecia rir.
As palavras sussurravam. Chamavam seu nome. Mordiam sua sanidade, pedacinho por pedacinho.
E é claro que, nesse momento, quem aparece? Ela mesma. A mãe. Toda história de horror tem uma mãe desesperada, e esta não poderia faltar.
Helena entrou na cozinha e viu o filho coberto de segredos, quase um livro ambulante.
— Meu Deus, Lucas! O que é ISSO? — gritou ela.
Um clássico. A mãe sempre achando que pode resolver tudo com desespero e gritaria. Tão… humano.
Lucas tentou esfregar as palavras, mas elas só se moviam, vivas como parasitas literários, afiadas como lâminas.
— Foi o Jogo da Memória, mãe… — chorou ele. — A gente… engoliu os segredos…
Helena empalideceu. A compreensão veio como um t**a do destino: não eram brincadeiras. Nunca foram.
E enquanto Lucas tentava não enlouquecer, uma figura apareceu no corredor.
CAPÍTULO 3 — O Irmão Imune
Gabriel estava ali. Imóvel. Serene como quem acabou de tomar um banho morno depois de cometer um crime hediondo. A pele dele também exibia palavras. Mas, ao contrário de Lucas, nenhuma delas parecia machucá-lo.
Pelo contrário: ele parecia ABSURDAMENTE satisfeito.
— Eu disse que o meu segredo era o mais sujo — sussurrou Gabriel, com uma calma que faria até demônios desconfortáveis. — Agora todos saberão. Para sempre.
Ahhh, esse menino tinha um brilho nos olhos. Daqueles que você só encontra em gente que já desistiu de seguir as regras do mundo. Um brilho que eu, Palhaço Taquicardia, reconheço de longe.
Lucas sentiu a espinha gelar. Porque agora ele entendia: as palavras estavam vivas. Eram entidades. Sanguessugas simbólicas. Elas devoravam culpa. Se alimentavam de vergonha. Cresciam no medo.
Nas horas seguintes, Lucas mergulhou num torvelinho de dor e febre. As palavras queimavam, latejavam, gritavam. Era como se cada letra fosse um verme com dentes afiados, querendo mastigar sua mente.
Memórias enterradas voltavam como punhos.
Desejos nunca confessados vibravam como lâminas.
Vergonhas profundas dançavam ao redor de seus olhos como vultos.
Enquanto isso, Gabriel caminhava pelo quarto como um maestro do sofrimento alheio. E oh, que maestro talentoso! Onde ele passava, as paredes escreviam sozinhas, repetindo o segredo que ele havia engolido.
Ah, meus caros… esse era o momento em que vocês deveriam se perguntar:
Quem diabos engole um segredo sabendo que o irmão está sorrindo desse jeito?
Mas enfim…
CAPÍTULO 4 — A Mãe, o Horror e o Mapa de Carne
A pobre Helena tentava tocar o filho, consolar, entender, salvar — como todas as boas mães tentam fazer. Mas cada toque fazia as palavras se expandirem. Elas se multiplicavam como raízes famintas, cobrindo braços, ombros, peito.
Lucas se tornou um mapa vivo.
Um atlas de culpa.
Um pergaminho de carne.
A cada segundo sua mente era corroída. A cada segundo sua identidade se dissolvia um pouco mais.
Gabriel, então, aproximou-se com uma calma diabólica e encostou o dedo frio numa das palavras no rosto do irmão.
— Você nunca vai se livrar delas, Lucas… — disse ele, quase carinhosamente. — Elas são você agora. E eu sou a testemunha eterna do seu horror.
Se isso não é amor fraternal, eu não sei o que é.
CAPÍTULO 5 — O Nascimento do Horror
O Jogo da Memória, meus caros telespectadores, não era um jogo. Era um ritual de destruição. Uma maldição de exposição. Uma ferramenta para transformar segredos em monstros.
E naquela noite, naquele porão úmido, com cheiro de tinta velha e carne viva, algo novo nasceu. Algo que marca nossa história de hoje:
Segredos não desaparecem quando engolidos.
Eles só ganham um lugar melhor para crescer.
Lucas tornou-se um pergaminho vivo. Um relicário de sofrimento. Um depósito pulsante de tudo que tentou esconder.
Gabriel tornou-se seu guardião.
Seu carrasco.
Seu irmão…
e seu pior inimigo.
E eu, meus queridos, termino esta história olhando diretamente pra você aí do outro lado da tela…
O que aconteceria se VOCÊ engolisse o seu pior segredo?
Hmmm?
Pense nisso quando deitar hoje.
Eu sou o Palhaço Taquicardia, e esta foi mais uma edição de Segredos que Engolem.
Durmam bem.
Se conseguirem.