O FILHO DO ALFA

Lembro-me claramente das noites em que encarava o céu estrelado, questionando quem seria o escolhido destinado a compartilhar o resto da minha vida comigo. Criada nos padrões de casamentos arranjados da matilha, sabia que era meu dever aguardar por uma união que trouxesse benefícios e estabilidade, alguém que se encaixasse nos critérios estabelecidos para mim. Minha mãe, uma mulher de mente aberta, me ensinou desde cedo a estar preparada tanto para aceitações quanto para recusas. Ela me mostrou que o amor pode surgir de diversas maneiras e nem sempre se alinha com os arranjos planejados. Por outro lado, meu pai, de natureza mais rígida, apenas me instruiu a ser educada e a compreender os valores morais, éticos e legais da matilha e até dos humanos. Ambos, de maneiras singulares, me ensinaram a confiar no poder da lua, que guiava nossos destinos de uma forma misteriosa e surpreendente. Os casamentos deles foram arranjados, tal como o meu deveria ser, e apesar de terem sido unidos por pactos e convenções, buscaram sempre transmitir a ideia de confiança e respeito pela escolha do coração. Sou a primogênita dos Folin. Eliza Folin. Meu pai, em particular, era um lobo habilidoso, rápido e próximo ao trono do nosso alfa. Ele guardava segredos e informações ocultas sobre a hierarquia que não eram compreendidas pelos humanos. Ele era um dos protetores, e viver sob essa sombra sempre foi algo que aprendi a aceitar como parte normal de minha vida. Ainda assim, entre os suspiros noturnos e os olhares para a vastidão do céu, questionava se algum dia encontraria alguém que não só se encaixasse nos parâmetros estabelecidos, mas que também compartilhasse uma conexão verdadeira comigo. Alguém que não apenas fizesse parte de um acordo estabelecido, mas que conseguisse vislumbrar a mesma lua que eu via, alguém que pudesse enxergar além das tradições e dos acordos preestabelecidos. Entender os mistérios da hierarquia da matilha e viver nessa dualidade entre a tradição e o anseio por algo mais, algo verdadeiro e espontâneo, tornou-se um fardo e uma curiosidade incessante que carreguei por anos. No entanto, a incógnita do futuro permanecia, e eu continuava a confiar no poder da lua para me guiar até o momento em que encontraria aquele que estava predestinado a compartilhar comigo não apenas um casamento, mas uma conexão única e autêntica. Hoje, eu soube que havia alguém. "Você deve ficar tranquila." "Eu estou tranquila. Só curiosa. De tantos rapazes o mais complicado ficou pra mim? Tenho medo." Eu não sei se devia reagir de outra forma ao saber que a lua tinha planos maiores pra mim. Papai estava orgulhoso e mamãe támbem. Destinada ao primogênito do nosso alfa. Era esse o desígnio que o destino traçara para mim: unir-me em matrimônio com o filho do líder supremo da matilha. Alexandre Wolfgang havia uma escolhida pela lua. O anúncio ecoou por entre os corredores da nossa comunidade como uma inevitável sentença. Eu fui escolhida para ser a futura esposa de Alexandre Wolfgang, o herdeiro do alfa. Um casamento que, ao invés de despertar alegria e expectativa, trouxe consigo uma mescla de insegurança e apreensão. É verdade que as histórias e rumores sobre Alexandre não eram exatamente abençoadas. Garotas se encantavam por ele, entregavam seus corações, apenas para tê-los despedaçados. Sua fama de playboy desencadeava desconfiança e incerteza em meu ser. Eu sempre me considerei forte e firme, mas lidar com alguém cuja reputação estava manchada por relacionamentos rompidos e desgostos amorosos? Ser o filho do alfa não apagava sua infame fama. Ele era visto como um lobo que não servia de exemplo, um retrato de conduta desonrosa. Não sabia ao certo como deveria me sentir. Meu coração, porém, batia descompassado, acelerado como se quisesse escapar dessa situação imposta sobre mim. A incerteza pairava sobre minha mente e meu coração. Como lidar com alguém que parecia trazer consigo uma aura de desilusão e desconfiança? Como confiar em alguém que era visto como um quebra-corações em nossa comunidade? O peso desse futuro iminente se instalou sobre meus ombros, e eu me encontrava num misto de emoções, onde o desconhecido e a desconfiança teciam um turbilhão de pensamentos. Enquanto meu coração pulsava freneticamente, meu íntimo ansiava por encontrar algo mais por trás daquela reputação controversa. Enfrentar essa nova realidade era como caminhar por um território inexplorado, onde o medo e a incerteza se entrelaçavam, mas a curiosidade e a esperança ainda persistiam. O destino tinha decidido, mas meu coração ainda buscava respostas e algum sinal de esperança nesse casamento iminente com um homem que parecia carregar consigo uma aura de desilusão e mistério. "Tire esse peso dos seus ombros. Há uma razão maior que os dois. Confie no destino, Eliza." "No destino eu confio, mãe. Não confio em um playboy com fama maligna." "Um dia ele vai substituir o pai. A lua sabe o tempo certo. As vezes um casamento pode fortificar um homem, fazê-lo amadurecer." Fico de pé e olho meu reflexo no espelho. Eu estou magestosa no vestido. Meu coração tem uma expectativa. O cabelo escuro está preso em um penteado e estou com sombras escuras e um salto mais baixo. " Bem, mãe, eu estou pronta. " " Estou orgulhosa de você." " Eu sempre vou honrar você e meu pai." Mais que isso. Eu gostava e amava minha família. Cresci com amor e carinho de todos e eu só podia seguir meu destino. Era hora de conhecer de perto a figura enigmática que a lua estava me colocando no caminho. " Senhora, eles chegaram. " Era o momento de encarar de perto a figura enigmática que o destino, personificado pela lua, havia colocado no meu caminho. O aviso do senhor Wolfgang, um homem de cabelos grisalhos e imponente, ecoou, marcando a chegada dos visitantes. Ele era alguém que, por alguma razão, me causava um certo temor. Por outro lado, a senhora Wolfgang, esposa do nosso alfa, irradiava uma expressão alegre, cheia de ternura e compreensão. Já havia tido encontros anteriores com o casal Wolfgang, mas a presença de Alexandre, o homem com quem eu estava destinada a me casar, permanecia um mistério até então. Ao descer as escadas, ao lado da minha mãe, os sons da risada do meu pai, o aroma do charuto e a energia do nosso rei alfa impregnavam o ambiente. Adentrei a sala, cumprimentando a todos com um sorriso, mas logo meus olhos recaíram sobre aquele homem que representava o meu futuro. Uma onda de sensações me invadiu. Por breves segundos, uma fraqueza percorreu minhas pernas, e a sensação de que o olhar dele sobre mim continha surpresa e talvez um toque de divertimento me atingiu. Surpreendentemente, naquele breve momento de contato visual, comecei a questionar se a fama que o precedia era tão verídica quanto se dizia. Seus olhos transmitiam algo mais, algo que escapava aos rumores e julgamentos que circulavam ao seu redor. Essa primeira troca de olhares era como um sinal, uma revelação que despertava dúvidas sobre a veracidade das histórias que ouvira. Será que havia mais por trás da fachada de playboy, algo que eu não esperava, algo que não se alinhava com a imagem que os outros pintavam dele? O coração pulsava acelerado, debatendo-se entre a incerteza do que estava por vir e a curiosidade que essa breve interação havia incitado. Em meio a esse turbilhão de sentimentos, a única certeza que surgia era que meu futuro e minha vida agora estavam entrelaçados com aquele homem enigmático que parecia guardar segredos por trás de sua fachada. A incógnita se desenhava diante de mim, e eu me encontrava no limiar entre o desconhecido e a possibilidade de algo inesperado.