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16 anos atrás...
Camila gostaria de ter esperado Felipe chegar naquela noite, mas estava incapacitada após muita comemoração sobre a sua gravidez.
Felipe Freitas
A casa estava silenciosa, por alguns minutos enquanto vinha para casa desejei que Camila estivesse acordada me esperando, mas pelo jeito a conversa com sua melhor amiga não adiantou.
Após o banho tomado, deparei—me com minha mulher dormindo. Agradeci por tê—la ao meu lado e estava ansioso para o dia em que fosse nossa vez de aumentar a família, já começava a sentir inveja do Gabriel.
Para minha surpresa um prato farto de macarronada me aguardava no microondas, agora foi à vez dela de me deixar um bilhete.
"Boa noite. Se você está ledo isso agora é porque peguei no sono. Realmente a presença da Amanda nos fez bem. Como amanhã é sábado, espero que esteja em casa para conversarmos. Boa noite."
Não tinha nenhum eu te amo ou como foi seu dia, mas já significava alguma coisa. O meu medo maior era que ela estivesse planejando ir embora. Não sabia ao certo o que estava fazendo de errado.
Ao seu lado na cama, era inevitável não imaginar o que poderia ter causado todo aquele estresse e sua mudança de humor. O seu cabelo estava em cima do seu rosto, em um movimento simples o tirei e ela se mexeu. Por um momento pensei que ela acordaria, mas apenas encaixou uma das pernas por cima do meu corpo e um braço no meu. Estava tudo bem, ela só estava cansada.
[...]
A luz clara invadiu a janela do nosso quarto fazendo com que Camila resmungasse alguma coisa, mas não se deu ao trabalho de acordar. Resolvi que naquela manhã prepararia o café e levaria na cama, se ela estivesse com alguma ideia de me deixar iria se esquecer.
O dia estava limpo e o sol clareava cada canto da cidade. Esperei os pães que estavam prontos e comprei também os sonhos recheados com doce de leite que Camila amava. Apostei em frutas, mesmo sabendo que ela não era muito fã.
Alguns ruídos vinham do quarto e precisava ser rápido para poder encontrá—la ainda na cama. Camila esfregava seus olhos ainda adormecida, o rosto inchado e com marcas da mão que colocava em baixo para dormir.
— Amor da minha vida? — Talvez fosse um pouco meloso, mas fazia tanto tempo que não falava dessa maneira, talvez estivesse sentindo falta.
— Quero dormir. — Sussurrou no meu ouvido, ainda com os olhos fechados.
— Vai dispensar esse café da manhã com tanto amor que produzi? — Como sempre a comida vencendo qualquer barreira entre nós.
— Você fez isso tudo sozinho? — Estava admirada com a quantidade de alimentos na bandeja.
— Os pães e o sonho foram o padeiro. — Respondi brincando, recebendo em troca um olhar irônico. — Gostou?
— Fazia tempo que não fazia algo assim. — Seus olhos brilhavam e pude ver o quanto ela sentia por aquilo.
— Me desculpa por ter ocupado a minha vida e ter deixado a parte mais importante dela. — Desculpei—me com ela, que deixou uma lágrima cair.
Não sei bem se ela me ignorou ou estava faminta para tomar o seu café, a única coisa que posso afirmar é que seu silêncio mexeu comigo.
— Precisamos conversar. — Neste momento nós lavávamos a louça do café juntos.
— Sei que as coisas ficaram difíceis nessa última semana. — Concordei, mas a mesma me interrompeu.
— Me deixa falar, por favor. — Parecia ser difícil o que tinha para me contar. — Estou amando outra pessoa.
Não posso explicar como me senti naquele momento, era como se uma faca estivesse fincado meu peito e ainda estivesse lá. Seus olhos estavam lacrimejando, imagina os meus.
— Então é por isso que está me tratando m*l? — Estava tudo muito claro agora, ela assentiu chorosa.
— O seu lugar nunca será ocupado, mas preciso confessar que o amo mais. — Ela referia—se ao bebê.
Era impossível saber se ficava ou não. O que podia afirmar era não estar mais suportando ter que olhá—la nos olhos.
— Preciso te mostrar uma coisa. — Pediu, pegando minha mão e nos levando para o quarto.
Apesar de não querer segurar em sua mão por estar magoado, caminhei com ela até onde a mesma nos levava. Em cima da nossa cômoda havia uma caixinha pequena. Estendeu seus braços para que eu a pegasse. Não estava conseguindo entender mais nada.
Aos poucos após desmanchar o laço em cima, consegui ver três testes de gravidez, sabia que era porque havia visto os da Amanda. Camila estava grávida. Uma roupa amarela pequena demais para caber no meu braço, conseguia imaginar um filho meu.
Lágrimas saíam dos meus olhos rapidamente, Camila estava da mesma maneira, mas agora um enorme sorriso estava estampado em seus lábios.
— Isso é verdade? — A ficha ainda não havia caído.
— Você vai ser papai. — A primeira coisa que fiz foi abraçá-la da maneira mais forte, agora nada me impediria de fazer tudo por ela, nunca iria deixá—la ir embora. — Sou o homem mais feliz do mundo.
— Nós precisamos contar a novidade para todos. — Cochichou no meu ouvido. — Mas antes quero te pedir uma coisa.
Camila estava tímida de um modo que jamais havia visto antes, como se acabássemos de nos conhecer. Ergueu a blusa aos poucos, com muito cuidado e logo após que sua barriga estava amostra, percebi o porque. Estava escrito PAPAI EU TE AMO de batom vermelho.
Aquele dia foi de festa. Convidamos os pais dela, o meu pai, nossos melhores amigos Gabriel e Amanda. Como era o dia dela, sabia que faltaria alguém que ela sentia falta desde a época do colégio, pois nunca mais nos falamos, Thomas.
"LIGAÇÃO ON"
— Alô? — Perguntei logo após alguém atender no primeiro toque.
— Felipe? É você? — Provavelmente meu número estava anotado em seu celular.
— Esse mesmo. Temos um convite para você e a Aline. — Contei.
— Conte—me mais. — Sua voz era calma e atenciosa.
— Tem como vir para cá hoje? — Perguntei, mesmo sabendo que ele morava em São Paulo.
— Por sua sorte estamos no Rio de Janeiro em uns parentes da Aline. — Não parecia confortável em estar na casa deles, precisei dar risadas.
— A qualquer hora do dia pode vir, mas o horário certo é às 19h00min. — Avisei, sabendo que ele não recusaria o convite.
— Temos uma notícia para dar. — Cochichou baixo.
— Todos nós temos. — Não queria contar pelo telefone. — Até mais tarde.
"LIGAÇÃO OF"
O segredo estava bem guardado.
[...]
Camila administrava a cozinha com comidas e saladas. A minha participação era na sacada onde uma churrasqueira foi montada.
Ninguém chegou antes do horário.
Tudo estava em seu devido lugar. A comida no fogão e salada na geladeira. Carnes, frangos e linguiças em cima da grelha na churrasqueira.
Camila estava parada em frente ao espelho de lado com sua blusa levantava. Era engraçado como observava se sua barriga havia crescido alguma coisa, mas como a própria disse: provavelmente estou de um mês, ninguém irá notar.
Amanda foi inteligente em perceber, mesmo que para ela não fosse tão difícil já que sentiu e ainda sentia os mesmos sintomas da amiga. Não consigo imaginar como pude ignorar tudo isso, estava tão óbvio.
— Sabe quem eu gostaria que viesse essa noite? — Seus olhos estavam brilhando.
— O Thomas? — Perguntei, mesmo sabendo que o meu chute estava certo.
— Sinto falta dele. — Sussurrou como se me contasse algo muito importante.
Mal sabia ela que ele estava prestes a chegar à casa.