Capítulo 06

1301 Words
Alice Freitas Como não demonstrar que estava chateada com o Enzo? Por mais que ele tenha a vida dele e que cada um possa fazer o que sentir vontade, é irritante quando m*l chega a um lugar e já está trocando número de telefone com uma desconhecida, o pior de tudo é que era bonita.  Milena estava me encarando, talvez na tentativa de descobrir o que estava pensando. Amanhã seria domingo e não teríamos nada a fazer. Quem sabe também precisava conhecer pessoas novas, um menino ou outro, não faria m*l a ninguém. O meu celular não me deixava dormir, ainda com os olhos fechados o peguei de baixo do meu travesseiro, quem estaria mandando mensagens a essa hora da noite? "Querida, chegou bem? Pode nos contar um pouco do que tem aí? Sei que levou seu celular, embora tenha dito que não era. Mas na verdade prefiro assim, podemos manter mais contato. Mamãe e papai já estão morrendo de saudades. Amamos você." Adorava o fato de que às vezes tinham o seu lado de me tratar como desde pequena, apenas quando estava na frente dos meus amigos e parentes parecia errado. Meus olhos estavam marejados, sabia disso pois umas lágrimas ousaram cair. "Desculpe por não ter deixado o celular em casa, não iria conseguir aguentar. Estou bem e vocês? Tudo está lindo, o colégio passou por uma reforma, mas a estrutura ainda é a mesma. Estou com saudades também." O meu lado emocional foi acionado e com isso uma chuva de lágrimas. Outras mensagens haviam chegado, mas agora era do Enzo. "Como você está? Ficou zangada comigo?" "Não quero que fique brava, é só uma amiga. Seu lugar nunca será substituído!" Sabia que ele não tinha feito de propósito, mesmo porque ele nunca gostaria de me machucar. Precisava do seu abraço, embora sabendo que não poderíamos sair do quarto naquele horário, principalmente para irmos ao quarto de um menino. Bati em sua porta com calma, sabia que ele estaria acordado naquele momento. Minha blusa estava encharcada, seu olhar desceu até a mesma, olhou—me compreensivo, esboçando um sorriso fraco. Puxou—me para dentro e me manteve em seus braços. — Está tudo bem. — Cochichou no meu ouvido, tocando o meu cabelo com carinho, deixando—me mais calma. — Estou com saudade. — Confessei no mesmo tom que ele, não queria acordar seu colega de quarto. — Quer dormir comigo essa noite? — Perguntou, me cobrindo na cama. — Seria ótimo. — Respondi, mesmo já estando acostumada dormir junto a ele. Aconcheguei—me no seu abraço, sempre dormíamos assim desde pequenos, não havia nada estranho nisso, embora com certeza aos olhares de outra pessoa pensariam que éramos um casal. Sabia que era errado estar em seu quarto, mas mamãe e papai já haviam nos contado suas loucuras que sempre faziam isso. — Eles mandaram mensagem. — Sussurrei. — Enviei hoje à noite também. — Contou. — Será três anos longos. — Já me sentia sonolenta. Não vi o momento em que dormi, mas talvez não tenha demorado muito já que não me lembro ao certo o que conversamos naquela noite.  Senti que alguém passava a mão delicadamente ao meu rosto, como fazia desde pequena e sorri. Era a maneira que Enzo me acordava sempre. — Bela adormecida. — Chamou sorridente. — Nós temos aula em vinte minutos.  Seu amigo estava acordado nos olhando, senti—me envergonhado aos seus olhos. Não demorei para retornar ao meu quarto, onde Milena encarava minha cama desarrumada. — Onde você estava? — Perguntou curiosa. — Dormi com Enzo. — Respondi, recebendo em troca um olhar confuso. — Me conta todos os detalhes. — Correu para a minha cama, provavelmente entendendo tudo errado. — Não estou falando esse tipo de "dormir". — Expliquei tudo para ela, desde as mensagens dos meus pais, até ter passado à noite com Enzo. Ganhei um sermão sobre não ter aproveitado a oportunidade com ele em seu quarto, durante todo o caminho até a sala, ficou falando e me aconselhando a investir na minha amizade, dizendo que formávamos um casal perfeito.  Por sorte todas os nossos amigos estavam na mesma sala e também um menino que havia me chamado atenção no jogo de futebol. Sentado no fundo da sala como o imaginado, em volta cheio de meninas bonitas, inclusive aquela que estava passando seu telefone para o Enzo na noite de ontem. Por azar a única cadeira desocupada era em sua frente, onde precisei me sentar. Era inevitável não ouvir suas conversas sem graças, minha vontade era escolher outro lugar para sentar—me, mas não havia. — Qual vai ser a primeira da lista? — Um garoto perguntou, referindo—se a uma menina. — A Gabriele já foi, então vamos para a número dois. — O garoto respondeu, sua voz era interessante, seu corpo também, pena que o cérebro havia desaparecido. Senti alguém mexer em meus cabelos, coisa que odiava com todas as minhas forças. Quando virei—me para trás, já sabendo de quem se tratava. Seus olhos me encaravam com uma intensidade perfeita, porém seu sorriso cafajeste me incomodou. — Está mexendo em meu cabelo? — Perguntei incomodada. — Encostei sem querer. — Respondeu irônico. — Tudo bem. — Quando iria virar para frente, tocou meu braço. — Desculpe—me, mas qual é o seu nome? — Perguntou curioso. — Alice. — Respondi e virei—me para frente.  Não estava nenhum pouco interessada em saber o seu nome ou qualquer coisa que diz respeito a sua vida. O professor acabou passando tanta coisa no quadro, que acabei me atrasando. — Precisa de uma ajuda? — Era a voz do menino que sentava atrás de mim. — Não. — Respondi, vendo seu caderno totalmente completo com o assunto que estava no quadro. Antes de sair o professor apagou o mesmo, deixando—me pela metade. Acabei aceitando seu caderno emprestado e copiei enquanto uma professora de Sociologia apresentava—se para a turma. — Obrigada. — Agradeci e quando virei—me, percebi o olhar de Enzo sobre mim. Mesmo que não tivesse nada, principalmente porque o garoto só havia me emprestado o caderno, recebi um olhar interrogativo sobre mim. — Bruno. — O garoto passou sobre mim, talvez contando—me seu nome. Ao ouvirmos o sinal bater, todos fomos para fora. Estava faminta e a fila do lanche já estava imensa, como sempre outras turmas sendo dispensadas antes do sinal. Para minha surpresa alguém chamou meu nome. Era Bruno. — Está me chamando? — Perguntei, encarando—o. — Não vejo outra Alice aqui. — Olhou para os lados em busca de outra pessoa, esboçando um sorriso. — O que quer? — Perguntei. — Quer entrar na minha frente? — Perguntou sorridente. Algumas pessoas olharam com cara f**a, mas não dei bola. Entrei em sua frente, trazendo Milena comigo. Ela estava impressionada com a atitude de Bruno, assim como eu, já que nem o conhecia direito. Havia muitas comidas em cima do balcão, alguns lanches e outras frutas. Como sou gulosa, assim como a minha mãe, peguei dois pães com peito de peru e uma maçã. Milena ficou apenas com um pão com carne moída e uma pera. Em uma mesa onde os "populares" sentaram, estava o Bruno com seus amigos que ainda não havia decorado os nomes e a tal Gabriele com duas meninas. Evitei olhá—los, não gostaria que nos chamasse para sentarmos com eles. Enzo e Caíque encontravam—se em uma mesa no canto, a nossa. Ambos estavam dando risadas, mas assim que nos viram o rosto de Enzo se fechou, voltando sua atenção para o seu lanche. Estava cansada e não gostaria de brigar no momento, apenas ficamos em silêncio e nos alimentamos.
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