O Nome que Queima

1381 Words
Os dias seguintes foram um inferno que eu mesmo criei. Ela andava pela casa como se estivesse pisando em brasas, mas sem perder a pose. Passava por mim com a cabeça erguida, os olhos cortantes, os lábios firmes. Não dizia uma palavra, mas dizia tudo com o silêncio. Eu estava viciado. Não só no corpo dela. Mas na presença, no desafio constante, no veneno que ela colocava em cada gesto só para me ferir. E, diabos, ela conseguia. Na noite de terça-feira, houve um jantar com investidores da Holding Vilar. Uma noite de fachada, onde tudo precisava parecer perfeito. Família perfeita. Casamento feliz. E ela... ao meu lado. Minha mulher. Minha prisioneira. Minha obsessão. — Sorria, Helena — murmurei enquanto ela ajeitava o vestido preto justo, de costas abertas, escolhida por mim. — Você está maravilhosa. Todo homem aqui está te desejando. — Então talvez você devesse me manter trancada, não ao seu lado — ela retrucou, com um meio sorriso venenoso. — Ainda estou decidindo o que fazer com você. Ela se aproximou do meu ouvido, tão perto que sua respiração me arrepiou. — Vai me destruir como destruiu meu pai? Ou vai me amar como nunca conseguiu amar ninguém? — Amor, Helena? — ri baixo. — Isso não existe no meu vocabulário. Ela se afastou com aquele andar elegante e orgulhoso, como se fosse ela quem mandasse em tudo. Mas eu via. A raiva. A confusão. O mesmo desejo que queimava em mim, estava consumindo ela também. E isso... era o meu jogo. No jantar, ela era impecável. Inteligente, articulada, encantadora. Cada sorriso que ela dava era estrategicamente posicionado. Cada toque no meu braço fazia os outros homens do salão me odiarem. Mas havia um deles que me irritava. Gustavo Almeida. Jovem, ambicioso, dono de uma startup que eu estava prestes a comprar. Ele a olhava como se estivesse calculando a chance de tomá-la de mim. Idiota. — Seu marido tem muita sorte, Helena — disse ele, levantando a taça. — Não acredito em sorte — ela respondeu com naturalidade. — Acredito em prisões disfarçadas de luxo. As risadinhas ao redor da mesa cessaram. Gustavo arregalou os olhos, sem saber se ela estava brincando. Eu, por outro lado, forcei um sorriso e levei minha mão até a dela, segurando com firmeza. — Às vezes, as melhores coisas da vida são aquelas que a gente precisa prender para não escapar — falei, olhando nos olhos dela. Helena me olhou com fúria. E, pela primeira vez, me senti desafiado de verdade. No carro de volta para a cobertura, o silêncio pesava. Ela estava encostada na janela, olhando a cidade, e eu... tentando entender por que aquele olhar dela estava me rasgando por dentro. — Você quer mesmo continuar brincando com fogo? — perguntei. — Não sou eu quem está brincando, Nicolas. Sou só o brinquedo que você comprou. Pisei no freio e o carro parou no acostamento da avenida vazia. — Diga isso de novo — falei, virando meu corpo pra ela. Ela me encarou. Os olhos marejados, mas o queixo erguido. — Você me comprou. Assinou papéis. Transformou minha vida num contrato. Eu sou sua posse, não sua mulher. — Você é minha. Ponto. — Não. Eu sou de mim mesma. Mesmo dentro da sua jaula, eu ainda sou livre aqui. — apontou para a cabeça. — E aqui. — tocou o peito. — Você nunca vai dominar isso, Nicolas. Por um segundo, o CEO, o milionário, o homem arrogante e acostumado a controlar tudo... perdeu a fala. Ela me desafiava de um jeito que nenhuma mulher jamais ousou. Não havia medo. Só dor. E força. E aquilo… Me fascinava mais do que eu conseguia admitir. — O que vai fazer agora? Vai me beijar pra calar minha boca? Vai me lembrar que é você quem manda? — Não, Helena. — sussurrei. — Vou deixar você falar. Mas não se esqueça… Segurei o rosto dela com força e encostei a testa na dela, respirando fundo. — Cada palavra sua... me deixa mais obcecado. E você vai descobrir o que acontece quando um homem como eu perde o controle. Ela não respondeu. Mas pela primeira vez… ela teve medo. E eu tive certeza: Estávamos passando do ponto de não retorno. Aquela noite, depois do jantar e do embate no carro, ela entrou na cobertura sem dizer uma palavra. Subiu as escadas com seus passos leves e decididos, como se estivesse fugindo de algo — ou talvez de mim. Fiquei lá embaixo por alguns minutos, parado na sala de estar silenciosa, observando a taça de vinho meio vazia que ela havia deixado na mesa antes de sair. O batom marcado no vidro era a única evidência de que ela, de fato, estava ali. Subi com calma. Cada degrau que eu pisava parecia ecoar em minha mente a lembrança do que ela dissera: > "Mesmo dentro da sua jaula, eu ainda sou livre." Helena era uma contradição viva. Frágil, mas feroz. Prisioneira, mas indomável. Minha esposa... mas nunca verdadeiramente minha. Quando empurrei a porta do nosso quarto, encontrei-a de costas para mim, sentada na beirada da cama, tirando os brincos com movimentos lentos. O vestido preto havia deslizado até a cintura, revelando as costas nuas. A luz suave do abajur criava sombras em sua pele clara, como se cada curva fosse uma provocação. Fechei a porta atrás de mim. Ela ouviu, mas não se virou. — Não veio dormir na suíte de hóspedes hoje? — perguntou, a voz fria, cortante. — Esta é a minha casa. Meu quarto. Minha cama. — Engraçado. Eu achava que era "nosso casamento". Me aproximei devagar, sentindo a tensão no ar vibrar como eletricidade antes de uma tempestade. Quando parei atrás dela, passei a mão por seu ombro nu. A pele arrepiou. Ela sentiu. Eu também. — Você continua provocando um homem que não conhece limites, Helena. — Você continua achando que pode dobrar uma mulher que nasceu pra ser livre — ela rebateu, virando o rosto e me encarando. Os olhos dela estavam marejados, mas cheios de raiva. De orgulho. E eu... Eu estava afundando nela cada vez mais. — Por que ainda resiste? — perguntei, abaixando a cabeça até nossos narizes quase se tocarem. — Está claro que sente o mesmo que eu. — O que eu sinto não muda o que você fez. O que você é. Não apaga o fato de que destruiu minha família, comprou meu nome e me arrastou pra essa prisão de ouro. Você me colocou nessa gaiola e acha que eu deveria cantar pra você? — Eu só fiz o que era necessário. O que homens como eu fazem. Protegi meu império. Ela se levantou com um movimento rápido, ficando de frente pra mim. O vestido escorregou um pouco mais, revelando o início dos s***s. Ela não se importou. E eu... perdi o ar. — Isso não é um império, Nicolas. É um campo de guerra. E eu sou o troféu que você arrancou do inimigo. Aquelas palavras me acertaram como um soco. E, mesmo assim, eu a queria. Talvez por isso mesmo. Agarrei seu rosto, puxando-a para mim com força, mas parei a milímetros de seus lábios. — Você é minha esposa. E se não pode me amar... então me odeie. Mas continue olhando pra mim desse jeito. Continue me desafiando. Ela respirava rápido. Os olhos fixos nos meus. — Um dia você vai se cansar de tentar me quebrar, Nicolas. E quando isso acontecer... talvez seja tarde demais pra descobrir que foi você quem se perdeu. Ela se afastou, pegou a camisola de seda sobre a poltrona e foi para o banheiro, deixando-me sozinho no quarto, com a alma em ruínas e o desejo fervendo. Horas depois, enquanto ela dormia — ou fingia dormir — do outro lado da cama, olhei para o teto escuro e me fiz perguntas que nunca havia feito. Por que me importava tanto? Por que me doía não tê-la por completo? Por que eu, o CEO de um império bilionário, o homem mais temido e respeitado do setor, estava me sentindo refém da própria esposa? Porque Helena Vilar — mesmo sob meu sobrenome, mesmo vivendo sob minhas regras — não era minha. E talvez... Eu estivesse disposto a tudo para que ela fosse.
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