A doutora Aline me observava com aquele olhar que parecia ler a alma. O silêncio dela me obrigava a falar mais. A cavar dentro de mim os cacos que eu escondia até de mim mesmo. Eu não sei por que continuei falando, talvez fosse o modo como ela me ouvia… sem julgamento, sem pena. Era como se ela quisesse apenas entender. E eu, pela primeira vez, queria ser entendido. — Eu sei que o que eu fiz… é imperdoável. Sei que não existe um cenário onde o que eu causei na vida da Helena possa ser consertado com flores, promessas ou viagens. Eu tirei dela o direito de escolher. Roubei isso. E é por isso que… tudo o que ela me dá hoje, cada sorriso, cada toque… eu recebo como se fosse um milagre. Como se não fosse pra mim. Minha voz estava rouca. Baixa. Meus olhos vagavam pelo chão da sala, como se b

