Sem graça!

2052 Words
A brisa levemente quente nos dias de chuva, mesmo que haja sol que percorre o asfalto molhado das ruas do Rio de Janeiro, revelam que o inverno Carioca não é pra todos. Às tardes quentes escondem muitos sentimentos distintos, desejos sólidos e sonhos concretos. Perguntas sem respostas e lembranças preciosas. As promessas que insistimos em fazer durante este período, devem ser levadas mais à sério, as lembranças deste período sempre serão levadas em nosso peito. Embora as circunstâncias vão muito além do que imaginamos. Só o tempo dirá se o que fazemos durante às tardes irá se realizar de fato. Como sabemos, tanto Oliver quanto Anne, não são muito de falar, e isso os atrasa um pouco se compararmos a outros casais ou até mesmo outras pessoas, pois aquilo que fica oculto, permanecerá oculto. Mas parece que pelo menos dessa vez, eles decidiram conversar. — Então... — Então? Os dois se encararam tímidos com a conversa anterior. — O que vai fazer hoje a tarde? — perguntou Oliver. — Ir pra casa estudar escrita! "É sério que escrever é mais importante que eu?" — E você? Vai passar a tarde fazendo o que? — questionou Anne. — Vou pra Quadra Pública aqui perto, o time vai treinar, o professor organiza um time contra e nós sempre disputamos! "O futebol vem sempre em primeiro lugar? Os dois ficaram alguns bons segundos lendo livros enquanto a hora passava, aquela tediosa tarde começava a se formar, mas algo parecia sussurrar no ouvido deles. "Porque não a chama para o futebol?" "Porque não passa mais tempo com ele?" Os dois se encararam assustados. — Quer ir comigo no treino? Depois, voltamos pra cá e lanchamos, que tal? Oliver realmente parecia acreditar que Anne não iria para qualquer lugar que ele chamasse, como é bobo. — É óbvio que eu quero, né! Só não posso chegar muito tarde em casa, tá? Anne simplesmente não acreditava que ele havia tomado a atitude. Enquanto Oliver se arrumava com a tradicional camisa do time de futebol, Anne avisava sua mãe por telefone. Os dois saíram da casa dele como sempre, mas hoje, um pouco mais íntimos. Agora posso dizer que se o Brasil pode se orgulhar de seu destaque mundialmente conhecido no futebol, tendo mais de cinco mil atletas profissionais oficialmente cadastrados e espalhados pelo mundo, conforme indica a organização internacional Observatório para o Futebol, o mesmo não ocorre quando olhamos para dentro das quadras escolares. O aclamado Brasil que revela jogadores, reúne conquistas, persegue e lamenta a perda do hexa é o mesmo incapaz de proporcionar um espaço minimamente adequado para o desenvolvimento de uma Educação Física de qualidade em toda a sua rede pública de ensino. Segundo o Anuário da Educação Básica Brasileira, menos de vinte por cento das escolas públicas tanto do Ensino Médio quanto do Infantil, não têm quadra de esportes. A situação é ainda pior quando olhamos para o nordeste ou para o interior, pois os estudantes contam com mais de cinquenta por cento das instituições públicas que não possuem quadra. O quadro é grave. Sem oportunidade para a prática de esportes nas escolas, as novas gerações brasileiras deixam de utilizar um poderoso instrumento para trabalhar competências importantes para a vida, como trabalho em equipe, igualdade, empoderamento feminino e inclusão. Isso sem contar que ter atividades físicas orientadas por professores qualificados é um benefício em si mesmo, essencial para a reflexão sobre o próprio corpo e a própria saúde. A ONU, por exemplo, reconhece isso e listou uma série de benefícios para a vida do indivíduo e do País quando as escolas valorizam o esporte. Porque esse rodeio todo? É porque a escola de Oliver e Anne, por mais que seja uma tradicional, caiu no cunho público e tornou-se desvalorizada por boa parte da população e do governo. Logo, enquanto instituições maiores se orgulham do esporte, pois desfrutam do bom e do melhor, Oliver, o professor de Edução Física e seus amigos, tem que dividir uma quadra muito m*l feita pela município para trilharem o sonho de jogar futebol. — Chegamos! — É aqui? — implicou Anne. — É o melhor que podemos fazer, implicante! Os dois caem na gargalhada. — Tem um pessoal da escola ali, vou ficar por lá, ok? — Ok! Os dois nem ao menos deram um abraço de leve, nada, mas enfim, Oliver caminhou até o meio da quadra enquanto Anne beirou a quadra até a arquibancada. Não estamos numa das quadra poliesportivas que estamos acostumados em algumas escolas medianas, e nos encontramos bem distantes das quadras de tamanhos oficiais de colégios particulares maiores, mas está até que dá pra jogar. Esta é uma criada pela associação de moradores com o resto do asfalto que seria desperdiçado pela Prefeitura. No circuito estudantil, temos quadras de saibro, de grama e de carpete. O saibro também é conhecido como “terra batida”, pode ser feito de ** de tijolo se for na cor avermelhada ou de ** de pedra se for de cor acinzentada. Nosso pequeno time nunca jogou em outro além deste e nas quadras um pouco melhores que a Prefeitura disponibiliza. Eles estão bem distantes dos campeonatos estudantis das escolas particulares. Nosso time, assim como muitos em escolas públicas, é formado por dez garotos, uma secretária que normalmente é uma aluna mais velha e uma auxiliar que sempre é uma estagiária de Educação Física, além do próprio professor. Aqui, enquanto Oliver recebe a camisa de titular, Igor fica com uma das manchadas que simboliza a de jogador reserva. Nossos dois personagens tem objetivos diferentes no momento, pois Oliver está dando o seu melhor em quadra, mas Igor logo tratou de percorrer a arquibancada até onde está o grupinho de Anne, apenas para xaveca-la. — Veio me ver jogar? Que linda. Anne lhe encarou. — Eu nem te conheço, eu hem! — Então o que veio fazer aqui? — Vim com... — por alguns segundos, Anne admirou Oliver jogando futebol. — Vim com o Oliver. — Ah tá, você é aquela namoradinha dele! — Nós não somos namorados. — rebateu. — Então porque tanto anda com ele? Anne lhe encarou muito seriamente. Igor abriu seu sorriso incomodador. Já do lado de Oliver, preciso apresentar Angélica, uma linda ruiva de cabelos cacheados. A perfeita combinação de pecado e beleza com infantilidade e carinho. Tudo maravilhosamente alinhado com os olhos azuis no mais claro tom existente, bem como lábios tão delicados que desperta cobiça desde qualquer garoto de sua idade quanto os homens adultos que adoram meninas mais novas. Contudo, Angélica é cinco anos mais velha que Oliver e isso parece o incomodar um pouco, mas nada disso fizesse com que ela desistisse de ser amada por ele. — Tá jogando bem hoje, hem? — comentou ela. — E quando é que eu não jogo! — brincou. — Tempo de dez minutos gente, vamos nos preparar fisicamente para a temporada, ok? — esbravejou o técnico. — Sim Senhor! — gritaram os jogadores. Oliver passou o olho e percebeu Igor dando encima de Anne, mas esta era uma oportunidade que Angélica não poderia deixar passar. — Então, o que faremos esse final de semana? Oliver a encarou assustado. — Como assim? — Quero saber quando vai me chamar pra sair, porque se tu quiser, eu quero. Oliver realmente não sabia o que fazer, não estava pronto para aquela conversa. O técnico do time percebeu uma movimentação estranha do outro lado da quadra, bem próximo de onde o grupo de Anne e Igor estavam, pois quatro garotos apareceram para jogar futebol. Todos estavam muito bem arrumados, de calça, casaco e mochilas. "Estudantes de outra escola?" — pensou o técnico. Um deles chegou a puxar uma bola do time que estava por ali e começou a fazer embaixadinha. Igor que queria aparecer, implicou com o garoto que simplesmente chutou a bola em direção dele, Anne se assustou, mas Igor conseguiu pegar a bola com as mãos. — TÁ MALUCO? — gritou Igor. Oliver e os demais não sabiam o que aconteceu, mas foram ver. — Porque chutou a bola? — Se você fosse bom, teria dominado e jogado de volta. — comentou um dos garotos. Igor cerrou os dentes. — E se tivesse pego numa das garotas? — questionou Oliver. — Aí quem sabe eu pediria desculpas. — Tá bom gente, foi sem querer. — interveio o Professor. — Mas olhem, nós treinamos aqui quase que todos os dias, vocês podem jogar quando formos embora, ok? — completou. — Mas a quadra é pública. O professor encarou. — É, nós só queremos jogar um pouco, tem problema? rebateu um outro garoto. — Então faremos o seguinte, peguem um dos meus alunos como goleiro e jogamos cinco contra cinco, que tal? Um dos outros garotos começou a rir. — Jogaremos com um a menos, revesamos no goleiro linha, ok? — Vão jogar só com quatro? — Sim! — responderam juntos. O professor aceitou. — Me deixe jogar. — encarou Igor. — Oliver de pivô, ele é o nosso capitão, Igor será o recusado, o resto de vocês, sabe como jogar, certo? Vamos tratar isso como um treino amistoso. Cada um jogos garotos foi para seu lugar. "Vamos com tudo". — pensou Oliver. — Peguem leve, ok? — disse um dos garotos para os outros três. — A bola começa com vocês. — ofereceu o professor. — Vocês são os donos da casa, podem começar. — rebateu. No exato momento em que a bola rolou para o pé de Oliver, os quatro avançaram em sua direção. Oliver tocou, o outro jogar recuou para Igor que perdeu a bola. Um a zero para os quatro garotos. O professor ficou irritadíssimo com os risos e brincadeiras dos quatro. "Eles são rápidos e parecem mais entrosados, mas como vão lidar com um chute de longe?" — imaginou Oliver. Dessa vez, Igor quem saiu com a bola e tocou para nosso protagonista brilhar. Ele dominou com a esquerda e deu o seu melhor chute com a direita. Essa era a marca oficial do Armador titular do time. Infelizmente, um dos garotos dominou a bola de maneira rápida e de onde estava, chutou e fez o gol. Dois a um para os quatro garotos. — BRINCADEIRA HEM? VOCÊS VÃO ACABAR PERDENDO ASSIM! — gritou o professor. Oliver e Igor estavam cabisbaixos, não podiam imaginar uma situação dessas. — Então é aqui que vocês estão jogando? — questionou um quinto garoto. O rapaz chamava atenção por sua beleza, os cabelos loiros bagunçados, o olhar pálido e frio e o chamativo piercing chamativo na orelha esquerda no lugar de um brinco. — Quanto está o jogo? — Dois a zero pra gente. — Só? — debochou. — Ei, técnico, posso agarrar? — questionou. O técnico ergueu a mão direita com um sinal de positivo com a mão. O rapaz olhou para Anne e a arquibancada e logo imaginou. "Deve ser um time de escola do bairro e eles estão interrompendo algo sério". — Vamos jogar de leve, ok? — Mas você vai ficar no gol? — Não tem problema, toquem quando precisarem, ficarei como goleiro-linha, pode ser técnico? O professor repetiu o sinal. A bola rolou e desta vez, Oliver e Igor se juntaram num ataque massante entre eles, Igor fingiu chutar bem encima da hora e notou que os quatro jogadores não avançaram de propósito, mas Oliver não se mancou e deu outro de seus melhores chutes, mas o rapaz agarrou e pôs a bola em jogo para ele mesmo sair driblando Oliver, Igor e todo o time da escola, deixando o Professor extremamente irritado. O rapaz saiu do gol, fez tudo, usou e abusou, além de completar com um belíssimo gol. O destemido jogador aleatório tira o seu casaco preto que lhe dava calor, apenas para revelar o brasão do Instituto Imperial¹, dita como a melhor escola de todo o Rio de Janeiro com filiais em Londres, França e Portugal. — Eu me chamo Christopher! — se apresentou bem enfrente nossa querida Anne. — Chris? — Christopher Brooker, do Instituto Imperial. Prazer. Podemos sentir a ira e a raiva do professor de educação física, Oliver, Igor e dos demais adolescentes. O recém apresentado personagem não tão somente é um dos jogadores do atual time do Instituto Imperial como joga como ninguém.
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