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2252 Words
CAPÍTULO 2 ANNA NARRANDO Duas lindas crianças ruivas nascem na maternidade de San Andreas, em Nova Iorque. Uma, foi amada por seu pai e sua mãe desde o ventre. A outra, foi amada por sua mãe profundamente, mas desprezada por seu pai por ser uma filha bastarda. Claire Davis, a amante, olhou para a bebê ruiva nos seus braços e chamou sua melhor amiga enfermeira com urgência. Ela trabalhava nesse hospital, então, tinha acesso a tudo e a todos. — Você precisa me ajudar, Joanna. — Ela disse, nervosa. — Minha linda filha irá crescer como uma bastarda! Por favor, me ajude! — Do que você precisa, minha amiga? Sabe que lhe devo minha vida. Faço o que precisar! — Pegue essa menina, pegue minha filha. — Ela entregou a filha nos braços da enfermeira, que a acolheu. — Coloque minha filha no lugar da filha dos Jones! — Mas... O que eu faço com a filha dos Jones? — Questionou. — Mate. — Claire Davis disse, com ódio. — Não! Isso não, me desculpa, eu não posso! Joanna fez menção de entregar a bebê ruiva nos braços de Claire Davis novamente, mas então, ela a interrompeu. — Não. Traga pra mim, então! Eu vou a criar como se fosse minha filha, juro pra você. Só... Troque as bebês! Por favor! Claire foi tão persuasiva que Joanna não conseguiu negar, e trocou as bebês de berço. Não foi difícil, porque as duas eram muito parecidas. Duas bebês ruivas lindas, porém, a bastarda agora seria criada como filha verdadeira... E a filha verdadeira, seria criada como bastarda. Existe uma expressão que se encaixa a situação de agora: Não esperaram nem o morto esfriar. É exatamente o que aconteceu. Eu, minha mãe e meu irmão mais novo Liam nos mudamos para a casa de Harold na manhã seguinte. Essa manhã foi marcada por um barraco enorme. Enquanto cada um se acomodava em um quarto, Harold observava a casa. Nos reunimos para o almoço na imensa sala de jantar. Harold está sentado em uma ponta da mesa, minha mãe está ao lado direito dele. Eu e Liam estamos do lado esquerdo, enquanto as funcionárias servem nosso almoço. — Estou feliz de estar aqui. — Minha mãe disse. Harold sorriu e colocou uma garfada de comida na boca, em completo silêncio. Eu não quis comer, fingia beliscar uma coisa ou outra, mas não estava com fome. Quem tem fome depois de descobrir que literalmente voltou no tempo? Eu, pelo menos, não tenho. Ouvi saltos colidindo com o chão, e vindo em direção à sala de jantar. Era Paola Jones e a filha Bella. — O que você está fazendo aqui? — Paola gritou. Eu cruzei os braços e suspirei. Minha mãe imediatamente se levantou, com ódio no olhar. — O que você acha? Estou no lugar que deveria ter sido meu há muito tempo. — Claire, minha mãe, disse. — Esse lugar não é seu! — Paola se aproximou de minha mãe e lhe acertou um tapa bem dado na cara. Me lembro do que fiz da outra vez: Eu voei no rosto de Paola e a agredi. Até quebrei uma das unhas. Mas dessa vez? Ah, dessa vez eu vou deixar que elas se virem. Paola e minha mãe entraram em luta corporal. Eu as observava com desprezo. Bella tentou ajudar a separar, e quando vi o olhar de Harold, meu pai, percebi que ele queria que eu fizesse algo também. Eu entrei no meio da briga, mas não para brigar... E sim para separar as duas. — Chega, mãe! — Gritei, a puxando para longe de Paola. — Chega! Vocês duas estão parecendo animais! — Concluí. — Eu acho ridículo ver mulher brigando por macho. — Meu irmão, Liam, falou. — Vocês duas precisam se entender e viver de forma pacífica. Você escolheu ir embora, Paola! Eu a trouxe para cá. Seria muito mais fácil se aceitassem que eu amo as duas! — Harold disse e minha mãe o olhou com ódio. — E não adianta me olhar assim, Claire, você sabe muito bem disso. Minha mãe ficou em silêncio. — Você me decepcionou demais, pai. — Bella disse. — Estou com muita raiva de você. Pegue sua empresa, e a comande sozinho. — Ele ergueu as sobrancelhas. Bella é o braço direito do pai na empresa. Como ela irá partir, as coisas ficarão mais complicadas. Temos um grande problema em mãos, porque a empresa está falindo e não conseguimos entender o motivo, Bella estava ajudando a solucionar o problema. — Faça o que quiser. — Meu pai disse, com desprezo. — Seu lugar estará disponível quando você perceber que minha briga é com sua mãe, não com você, Bella. Eu amo você, filha. Queria que meu pai me tratasse assim, também. Que dissesse um “eu te amo, filha”. Mas ele não diz. Minha mãe, Claire, também nunca diz isso. Isso me magoou durante uma vida, mas depois eu entendi o porquê. Quando vi Paola saindo ao lado de Bella, neguei com a cabeça. Estava começando tudo de novo... Eu vi a empresa se destruir uma vez, e não quero que isso aconteça de novo. — Já sossegou o facho? — Questionei minha mãe. — Agora que aquelas duas foram embora, sim. — Eu a soltei. — Eu vou dar uma volta. Não aguento essas palhaçadas de vocês. A gente podia ser só uma família normal, sabe, pai? — Eu falei para Harold. — Já disse para me chamar de Senhor Jones. Eu não quero que saibam que você é minha filha, não ainda. Desprezo. Foi isso que sempre recebi. Minha vontade, naquele momento, foi de chorar e jogar toda a merda no ventilador, mas eu não posso dizer isso a ele. Eu preciso mudar a forma como ele me vê. — Tá, como quiser. Suspirei e saí da sala de jantar. A mãe do meu pai, minha avó, costuma caminhar no jardim, e eu gosto dela. Já conversei com ela algumas vezes. Talvez ela tenha algum bom conselho. Quando saí da mansão, vi que ela estava lá, realmente, caminhando no jardim. — Nonna Jones? — Eles a chamam assim, pelo que sei, por ser descendente de italianos. — Oi, querida! É... Como é seu nome, mesmo? — Eu sorri de leve. — Estou sem meus óculos, não estou sabendo se é a Anna ou a Bella. Vocês duas são dois borrões ruivos da mesma altura, fica difícil reconhecer sem os óculos. — Ela riu. E tem razão, somos parecidas, mesmo. — Anna. — Falei, rindo. — Oi, Anna. Do que precisa? — Ela disse e eu ofereci o braço para que ela o segurasse enquanto caminhava. — Eu estou com medo de tudo que está acontecendo por causa do meu pai. Ele meio que decidiu... Trazer minha mãe para cá, sabe? Ele quer se casar com ela. A senhora sabe como ele passou a vida todo dividido entre a Paola e minha mãe. — Ela suspirou. — Seu pai é um escravo do próprio coração, minha neta. Sabe disso. — Ela é a única que me trata um pouco melhor que os outros. Até me chama de neta. — Agora a Bella vai embora, por causa de toda essa confusão, junto com a Paola, mãe dela. A empresa já está um caos, Nonna. Como vamos consertar isso? — Questionei. — Eu queria poder ajudar... Ajudar. Essa é uma coisa que jamais faria, na minha outra vida. Acontece que tudo que vivi foi um grande inferno, então, agora, eu vou fazer ao contrário. Se antes eu só me aproveitava do dinheiro do meu pai, agora, eu vou ajuda-lo a recuperar a empresa. — Por que não conversa com a família Moretti? Eles estão procurando um investimento no momento. Talvez seja uma boa ideia vender uma parte da empresa para eles. Ter pessoas experientes como eles, na liderança, pode ajudar tudo a voltar para os eixos. — Eu concordei com a cabeça. Terminamos o passeio conversando coisas aleatórias. Acho que a Nonna é a única pessoa dessa família que não me odeia, apesar de eu saber de sua preferência por Bella. Dormir nunca pareceu tão difícil. As coisas estão ocorrendo como não deveriam. Eu preciso ser mais reativa. Na manhã seguinte, a primeira coisa que fiz assim que entrei na empresa foi pegar o telefone e ligar para a família Moretti — Residência dos Moretti, como posso ajudar? — Uma funcionária atendeu. — É Anna, uma antiga amiga dos Moretti. Alguém se encontra? — Sim, sim, só um momento. Vou passar o telefone para Mattia. — Ela disse e em poucos segundos Mattia atendeu. — Alô? — Oi, Mattia. Lembra de mim? Sou Anna, filha do Harold. — Ele ficou em silêncio por alguns instantes. — Ah... Oi, Anna. Tudo bem? — Tudo, tudo sim. Eu queria saber se eu posso encontrar com você e com seus avós para conversar sobre algumas coisas. — Falei. Ele ficou em silêncio por alguns instantes, mais uma vez. — Claro, Anna. No sábado faremos um banquete. Você pode vir e convidar os Jones, claro, já que é funcionária deles. — Não, eu quero conversar com vocês sozinha. Eles não podem saber da nossa conversa, não agora. Tem algum problema? — Questionei, carinhosamente. — Não, claro que não. Venha no banquete no sábado sozinha, e eu arrumo um tempo para você com meus avós. — Obrigada, Mattia. Nos vemos no sábado. Meu coração pulou de maneira esquisita, ele sempre faz assim quando falo com Mattia. Eu deveria ter dado uma chance ao amor, mas estive tão obcecada por encontrar meu lugar na família Jones que não vivi minha vida, vivi uma vingança. E não é isso que quero, não dessa vez. Liam, meu irmão, entrou na minha sala com pressa nessa manhã, assim que desliguei o telefone. Parecia nervoso. Jogou alguns documentos em cima da minha mesa e bufou. — Não dá, não consigo resolver isso sem a Bella. Por favor, vamos chamar ela pra voltar! — Ele disse. Me levantei da minha cadeira e apoiei as duas mãos na mesa, o olhei no fundo dos olhos com muita raiva. — Eu quero que a Bella vá pro mais longe possível. Você vai aprender a fazer isso, e parar de ser um acomodado. Entendeu? Aprenda, e pronto! — Reclamei. Ele me olhou com ódio. — Ridícula! Quer saber por que eu quero que a Bella volte? Porque ela é minha irmã de verdade, é muito mais competente que você e muito mais legal. Ela é minha irmã, não você. É por isso que eu nunca gostei de você e nem a mamãe. A gente odeia você, porque você é filha da Paola! Você não passa de um estorvo na nossa vida assim como a Paola! Você é uma cretina, usurpadora como ela! Mamãe que devia estar casada com Harold, nós poderíamos ser felizes se a Paola nunca tivesse engravidado, mas não, ela conseguiu e teve você! E você era quem devia ter ido embora junto com a ex-esposa do papai! Você é uma inútil! Eu te odeio! Traga a Bella de volta, sua cretina! Arregalei meus olhos, fingindo surpresa. — Ah, eu não acredito! Como você pode falar uma coisa dessa? — Questionei. Talvez minha carreira deva ser de atriz, não de líder de empresa. — Mamãe trabalhava no hospital onde Bella e você nasceram, sabia disso? Ela conseguiu ajuda de uma amiga para trocar a Bella por você, assim, a filha de verdade da mamãe receberia uma verdadeira educação de qualidade e teria uma vida de rainha. Ao contrário de você, que ela fez questão de transformar em uma maltrapilha! Por que você acha que a mamãe nunca disse que te ama? Você nem é a filha de verdade dela! — Ele gargalhou. — E se você não trouxer a Bella, todo mundo vai ter ainda mais ódio de você, porque a empresa vai falir! — Não vou trazer a Bella! — Berrei. — Então, eu sou filha do Harold e da Paola? Pois ouça o que eu vou falar, agora: Se eu sou filha deles dois, eu sou a verdadeira herdeira dessa empresa, e eu vou lutar com unhas e dentes para desmascarar todos vocês e fazer essa empresa crescer de novo. Pode me desprezar o quanto quiser, Liam, eu vou vencer e você vai se arrepender de ter me maltratado tanto. Ele girou os olhos e saiu da minha sala, deixando os papeis para trás. Deve ter sido fácil para minha mãe trocar eu e a Bella de berço na maternidade. Nós somos realmente parecidas: Tenho um e sessenta, Bella tem alguns centímetros a mais, apenas. Nós duas somos ruivas como Harold, meus olhos são castanhos e os de Bella também. Bella me vence nas sardas, mas eu também tenho. O cabelo dela é mais liso que o meu, e seus traços são um pouco mais rígidos, como os de Claire, sua verdadeira mãe. Eu tenho traços delicados como os de Paola: Um nariz arrebitado, olhos grandes e boca carnuda. Quando éramos bebês, acho que nossas diferenças eram ainda menores. Bebês sempre tem uma carinha enrugada, não é mesmo? Quem devo chamar de mãe, agora? Minha mãe verdadeira, esposa de verdade de Harold, Paola... Ou minha mãe falsa, amante de Harold, Claire? Eu acho que a partir de hoje, vou chamar minha mãe falsa de senhora Davis, e minha mãe verdadeira de senhora Jones. É o melhor que posso fazer, para evitar confusões.
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